:: L�nguas da B�blia ::

Texto: Pr. Pedro Apolin�rio

 

 

Quase todos os estudantes da B�blia sabem que o Velho Testamento foi escrito em hebraico, e o Novo, em grego, mas muitos desconhecem o fato de que h� uma terceira l�ngua na B�blia – o aramaico.

 

 1) Aramaico

O aramaico foi sem d�vida, desde muito tempo, a l�ngua popular de Babil�nia e da Ass�ria, cuja linguagem liter�ria, culta e religiosa era o sumero-acadiano. Documentos ass�rios mencionam o aramaico desde 1100 A.C. Durante o reinado de Saul e Davi, os estados aramaicos ou s�rios s�o mencionados na B�blia (I Samuel 14:47; II Samuel 8:3-9; 10:6-8).

      O aramaico foi trazido para a Palestina porque os ass�rios seguiam costume de transplantar os povos das na��es subjugadas, por isso depois de terem vencido o reino de Israel, trocaram as pessoas e as espalharam atrav�s de todo o seu imp�rio. II Reis 17:24 menciona explicitamente que entre os povos trazidos para Samaria a fim de repovoarem a terra devastada, encontravam-se aramaicos de Hamate.

Esta l�ngua dotada de grande poder de expans�o, tornou-se usual nas rela��es internacionais de toda a �sia, e na pr�pria Palestina propagou-se t�o largamente, que venceu o pr�prio hebraico.

O Coment�rio B�blico Adventista, Vol. l, p�ginas 29 e 30 apresenta-nos a origem do aramaico com as seguintes palavras:

"O lar original do aramaico foi a Mesopot�mia. Algumas tribos arameanos viviam ao sul de Babil�nia, perto de Ur, outras tinham seus lares na alta Mesopot�mia entre o rio Quebar (Khab�r) e a grande curva do Eufrates, tendo Har� como centro. O fato de os patriarcas Abra�o, Isaque e Jac� terem conex�es com Har� � provavelmente respons�vel pelo estatuto feito por Mois�s de que Jac� era "arameano". Deut. 26:5. Deste seu lar ao norte da Mesopot�mia o aramaico se espalhou para o sul de toda a Ass�ria."

Tudo indica que o aramaico foi preferido pelos ass�rios e babil�nicos por ser mais simples do que a complicada escrita cuneiforme. A prova de sua simplicidade est� relatada em II Reis 18:26, quando Senaqueribe invadiu Jud� no fim do VIII s�culo A.C. os oficiais judeus que dominavam t�o bem o hebraico quanto o aramaico, pediram ao general ass�rio que lhes falasse em aramaico. Esta ainda a raz�o por que durante os setenta anos do cativeiro babil�nico os judeus se esqueceram muito do hebraico, adotando em seu lugar o aramaico. Ao voltarem do cativeiro continuaram falando o aramaico, como se depreende da leitura de Neemias 8:1-3 e 8.

O aramaico era a l�ngua usada por Jesus (Mar. 5:41; 7:34; 15:34), pela maioria das pessoas na Palestina, bem como pelas primeiras comunidades crist�s. Segundo outros estudiosos entre os quais se destaca Robertson, Jesus falava aramaico na conversa��o di�ria, mas no ensino p�blico e nas discuss�es com os fariseus a l�ngua usada era o grego.

J� antes da Era Crist� suplantou totalmente o hebraico que se tornou a l�ngua morta e exclusivamente religiosa.

Na �sia Ocidental, a l�ngua aramaica se difundiu largamente, assumindo naquelas regi�es e naquele tempo o mesmo papel que assumem em nossos dias o franc�s e o ingl�s.

O aramaico, embora ainda utilizado em certas regi�es, vai cedendo lugar ao �rabe, e corre o perigo de desaparecer como l�ngua falada, pois hoje � falada somente em algumas povoa��es da S�ria. O aramaico desapareceu sob o impacto cultural do grego e do latim, j� que deixou de ser conhecido pelos crist�os.

Quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico, dadas as suas marcantes semelhan�as.

As partes do Velho Testamento escritas em aramaico s�o as seguintes:

1) A express�o "Jegar-Saaduta" de G�nesis 31:47;

2) O verso de Jeremias 10:11;

3) Alguns trechos de Esdras 4:8 a 6:18; 7:22-26;

4) Partes do livro de Daniel, entre os cap�tulos 2:4 a 7:28;

 

2) Hebraico

A l�ngua hebraica foi a l�ngua dos Hebreus ou israelitas desde a sua entrada em Cana�. A sua origem � bastante misteriosa, porque al�m do Velho Testamento s� possu�mos escassos documentos para o seu estudo. O mais prov�vel � que o hebraico tenha vindo do cananeu e foi falado pelos israelitas depois de sua instala��o na Palestina.

A atual escrita hebraica (chamada "hebraico quadrado") � c�pia do aramaico e entrou em uso pouco antes da nossa era, em substitui��o ao hebraico arcaico.

Os Targuns o denominam de "l�ngua sagrada" (Isa. 19:18); e no Velho Testamento � chamado "a l�ngua de Cana�" ou a l�ngua dos judeus (Isa. 36:13, II Reis 18:26-28).

Salmo 114:1 mostra a grande diferen�a entre o hebraico e o eg�pcio. Israel por estar cercado de povos que falavam uma l�ngua cognata – o aramaico – foi se esquecendo do hebraico, at� que este veio a extinguir-se como l�ngua falada. Era ainda a l�ngua de Jerusal�m no tempo de Neemias (13: 24), cerca de 430 A.C., mas muito antes do tempo de Cristo foi substitu�da pelo aramaico.

O alfabeto hebraico consta apenas de consoantes, em n�mero de 22.

O hebraico � escrito da direita para a esquerda como o �rabe e algumas outras 1�nguas sem�ticas.

Sua estrutura fundamental �, como em todas as l�nguas sem�ticas, a palavra raiz, composta de tr�s consoantes. � uma l�ngua bastante simples, seus melhores conhecedores sublinham sem hesita��o a sua pobreza, quando comparado com o grego ou com l�nguas modernas, como o ingl�s e o portugu�s.

De acordo com a Pequena Enciclop�dia B�blica o vocabul�rio hebraico na B�blia conta com apenas 7.704 voc�bulos diferentes. A Academia do Idioma Hebraico tem registrado o uso de cerca de 30.000 palavras.

Quase n�o possui adjetivos nem pronomes possessivos, por�m, � rica em adv�rbios. � uma l�ngua quase indigente em termos abstratos.

Quase sempre os pronomes pessoais s�o ligados �s formas verbais como se fossem sufixos ou prefixos.

Com raras exce��es n�o faz uso de palavras compostas.

O alfabeto hebraico possui letras com sons bem pr�prios, por isso n�o apresentam nenhuma semelhan�a com o nosso alfabeto. Os dois exemplos mais caracter�sticos se encontram no "alef" e no "ayin".

      Se l�ngua � um organismo vivo que se transforma, o hebraico quase pode apresentar-se como exce��o, como comprovam os escritos de Mois�s e de alguns profetas mil anos depois, cujas diferen�as ling��sticas s�o insignificantes. Este fato tem levado a "alta cr�tica" a dogmatizar que os escritos do Velho Testamento foram produzidos num espa�o de tempo bem pequeno.

Seus processos sint�ticos s�o muito simples, usando pouco as ora��es subordinadas, preferindo sempre as coordenadas, quase sempre unidas pela conjun��o "e" como ineg�vel influ�ncia do hebraico.

Os tempos do verbo, a exemplo do grego, indicam mais o "aspecto" da a��o, conforme ela seja moment�nea, prolongada ou repetida. Como l�ngua sem�tica n�o classifica os fatos em passados, presentes e futuros, mas em realizados ou de a��o acabada (perfeito), e n�o realizados ou de a��o inacabada (imperfeito).

Uma das peculiaridades da l�ngua hebraica com respeito ao sistema verbal � esta: a simples troca de um sinal voc�lico determina uma mudan�a nas formas verbais.

O SDABC, 1 volume, p�gina 26, elucida este aspecto com o exemplo do verbo cantar que indicaria o nosso presente, passado e futuro permutando suas vogais. O verbo escrever em hebraico evidencia este princ�pio. Ele � formado pelas consoantes: K, t, b que permanecem invari�veis em seu flexionamento.

ketob – escreve ou escreva (imperativo)

koteb – escrevendo

katub – est� escrito

katob – escrever

katab – tem escrito

N�o possui o verbo "ter", enquanto o verbo "ser" � ativo e significa existir eficazmente.

Quando os judeus sentiram que o hebraico estava em decl�nio como l�ngua falada, e que sua leitura correta ia perder-se, criaram um sistema de vocaliza��o. Este trabalho foi feito pelos massoretas, por isso o texto hebraico usado hoje chama-se massor�tico.

 

3) Grego B�blico

Georges Auzou, em seu livro A Palavra de Deus, afirma:

"O grego passa, com justi�a, por ser a mais bela l�ngua do mundo. De fato � um dos instrumentos mais aperfei�oados, dos mais delicados, extremamente harmonioso, ao mesmo tempo que preciso e sutil�ssimo, jamais forjado pelos homens. � ao mesmo tempo o fruto e o instrumento do g�nio grego, o g�nio da clareza, da ordem e do equil�brio."

Estas afirma��es se referem muito mais ao grego erudito, cl�ssico, do que ao grego coin� do Novo Testamento.

Como � do conhecimento geral, o Novo Testamento foi escrito na coin�, l�ngua na qual tamb�m foi traduzido o Velho Testamento hebraico pelos Setenta. O termo coin� significa a l�ngua comum do povo entre os anos 330 A.C. e 330 A.D.

Com exce��o da Ep�stola aos Hebreus e da linguagem de Lucas (Evangelho e Atos) que se encontram num coin� mais liter�rio, os outros escritos pertencem � 1�ngua mais comum ou coin� vulgar.

O insigne erudito Gustav Adolf Deissmann foi quem primeiro mostrou a identidade do grego do Novo Testamento, salientando que o grego da B�blia era o coin�, e n�o o grego erudito, nem a chamada "linguagem do Esp�rito Santo" ardorosamente defendida por alguns autores.

 

      Caracter�sticas da Linguagem do Novo Testamento

 

Se fosse poss�vel caracterizar o coin�, l�ngua em que foi escrito o Novo Testamento, sintetizando-a em uma palavra, a melhor seria "simplifica��o". Esta conclus�o � facilmente deduzida estudando-lhe as caracter�sticas.

1) Substitui��o dos casos pelas preposi��es;

2) Tend�ncia para simplificar a morfologia e a sintaxe;

3) Uso escasso de ora��es subordinadas, tendo prefer�ncia pelas coordenadas ligadas pela conjun��o "e";

4) Elimina��o do dual e uso parcimonioso do modo optativo, aparecendo apenas 67 vezes no Novo Testamento;

5) Uso mais freq�ente do artigo;

6) Simplifica��o das riqu�ssimas formas verbais do grego cl�ssico;

7) Mudan�a de sentido de muitas palavras do grego cl�ssico, por influ�ncia religiosa, tais como: batizar, justi�a, gra�a, amor, gl�ria, carne, cruz, mundo, crer, esp�rito, c�lice, dia, etc.;

8) As formas diminutivas se tornam mais comuns;

9) Emprego mais generalizado de constru��es perifr�sticas nos verbos;

10) Os adjetivos s�o mais usados no grau superlativo do que no comparativo;

11) Prefer�ncia pela ordem mais direta, pois no grego cl�ssico predomina a ordem inversa;

12) Emprego freq�ente dos pronomes sujeitos, em casos dispens�veis, por estarem eles subentendidos nas desin�ncias verbais;

13) Id�ntico valor fon�tico para as vogais gregas;

14) Emprego de v�rios latinismos, tais como: legi�o, centuri�o, den�rio, col�nia e flagelo;

15) Uso freq�ente do presente hist�rico nas narrativas;

16) Aparecimento generalizado da parataxe, com preju�zo da hipotaxe. Parataxe � uma constru��o mais simples da frase, como as ora��es coordenadas, enquanto a hipotaxe � mais complexa, isto �, formada de ora��es subordinadas.

17) Uso de palavras que s�o empr�stimos diretos do aramaico, a exemplo de: geena, Eli Eli, Hosana, lit�strotos (gabat�), Sat�, Talita cumi, Rabi, Maranata;

18) Freq��ncia de hebra�smos, sobretudo na sintaxe, fastidioso emprego da conjun��o "e", pois esta part�cula aparece muito no Novo Testamento, em express�es como estas: "e ele falou dizendo", "e disse", "e aconteceu que". As frases: "Filhos da luz'; "filhos da perdi��o" s�o eminentemente sem�ticas.

Quanto � linguagem dos escritores do Novo Testamento haveria muito que dizer, mas fiquemos somente com as seguintes observa��es:

Apenas Hebreus, Lucas e alguns trechos de Paulo s�o escritos num estilo mais liter�rio.

O vocabul�rio mais rico n�o � o de Paulo, mas sim o de Lucas, que emprega 250 palavras novas no Evangelho e, mais ou menos 500, em Atos.

Se a linguagem mais polida e mais erudita � a de Lucas, a mais pobre e menos aprimorada, quanto ao estilo, � a de Marcos e a de Jo�o, especialmente no Apocalipse.

O doutor Benedito P. Bittencour no livro O Novo Testamento, p�gina 67, chama-nos a aten��o para a linguagem pouco aprimorada do Apocalipse, onde h� viola��es flagrantes dos corretos c�nones da gram�tica.

 


Fonte: http://www.profecias.com.br/historia/linguasdabiblia.htm

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