Os Sistemas de Pron�ncia do Grego Antigo

Quando, durante o Renascimento europeu, a cultura cl�ssica foi revalorizada, a �nica maneira de aprender-se grego para ter acesso aos originais era atrav�s de professores gregos. Estes professores, no entanto, j� falavam Grego moderno e pronunciavam o Grego antigo seguindo as normas da pron�ncia moderna. Os gregos da Gr�cia atual continuam fazendo isso at� os dias de hoje, exatamente como os ingleses quando l�em Sheakspeare, que em sua �poca soava diferente (por exemplo, "knife", tem na pron�ncia inglesa atual o som naif, no entanto na pronuncia antiga era knaif).
Mas aos poucos percebeu-se uma s�rie de incongru�ncias ao utilizar-se a pron�ncia moderna. Talvez a mais conhecida e curiosa de todas seja que em um fragmento do autor c�mico Arist�fanes grafava-se o balido da ovelha por BEBE.gif , o que pela pron�ncia moderna deveria soar "vi vi"! Um grande humanista da �poca, Erasmo de Rotterdam (1467-1536), pesquisou e prop�s uma nova pron�ncia para substituir a moderna. Esse novo sistema de pron�ncia foi adotado pelos estudiosos de toda a Europa, com exce��o da Gr�cia, e foi tornado o padr�o com o nome de
Pron�ncia Erasmiana em sua homenagem. Na verdade o Grego antigo nunca foi pronunciado exatamente dessa maneira, mas acabou por tornar-se uma conven��o aceita por todos por ser pr�tica. No Brasil, a grande maioria dos helenistas, isto �, os estudiosos da cultura grega antiga, ainda usa esse sistema de pron�ncia.
No entanto, recentemente os especialistas se esfor�aram por aproximar-se mais do verdadeiro grego falado na Gr�cia antiga.
A partir de informa��es dos autores gregos e latinos, adapta��es de palavras gregas ao latim (ex: filo.gif = philosophia), compara��es com outras l�nguas, evolu��o dos sons no Grego bizantino e mesmo a partir de erros ortogr�ficos encontrados nas inscri��es, chegou-se a algumas hip�teses muito prov�veis, mas n�o definitivas, quanto � pron�ncia do Grego antigo. Esse sistema chama-se
Pron�ncia Recontru�da ou Antiga e � o atualmente utilizado na Europa e Estados Unidos no ensino do Grego antigo. Assim, estamos em um momento de transi��o entre duas pron�ncias. Enquanto os novos estudantes de Grego antigo aprendem diretamente a pron�ncia reconstru�da, muitos estudiosos e professores ainda usam a pron�ncia erasmiana, por for�a do h�bito.
Essa diferen�a n�o � t�o grande a ponto de provocar confus�es e as duas pron�ncias provavelmente ainda conviver�o por um longo per�odo em um processo de substitui��o natural. A pron�ncia reconstru�da ser� a que utilizaremos desde o in�cio, mas um certo conhecimento da erasmiana tamb�m ser� �til. No entanto, devemos ressaltar que a pron�ncia reconstru�da n�o se trata de um dogma. As pesquisas continuam e n�o � improv�vel que nos pr�ximos anos pequenas altera��es sejam introduzidas e os estudantes devem estar preparados para isso.
Voltando ao Grego antigo, devemos lembrar que n�o havia uma l�ngua nacional grega. O que chamamos de "l�ngua grega" � na verdade uma abstra��o ling��stica sujeita a diversos tipos de varia��o e conseq�entemente n�o havia tamb�m uma pron�ncia �nica. Podemos observar varia��es conforme os seguintes crit�rios:
a) varia��o geogr�fica: cada regi�o tinha o seu dialeto e cada cidade, sua forma espec�fica deste dialeto (dialeto local), mantido devido a sua autonomia pol�tica e cultural;
b) varia��o social: como em qualquer l�ngua, as classes ou grupos sociais nem sempre pronunciam as palavras da mesma forma;
c) varia��o liter�ria: alguns g�neros se associaram tradicionalmente a um dialeto;
Como seria imposs�vel reconstruir-se toda essa variedade de pron�ncias, optou-se pela pron�ncia da qual t�nhamos uma maior informa��o: o dialeto falado em Atenas nos s�culos V e IV a.C. Atenas ficava em uma regi�o chamada �tica e por isso este dialeto leva o nome de �tico.
Os s�culos V e IV a.C. constituem o apogeu da Gr�cia antes de seu paulatino decl�nio - o chamado per�odo cl�ssico - onde floresceu o teatro (tanto a trag�dia, atrav�s de �squilo, S�focles e Eur�pides, como a com�dia, atrav�s de Arist�fanes), a orat�ria (Is�crates, Dem�stenes, etc.) e a filosofia (S�crates, Plat�o e Arist�teles).
Dessa �poca e lugar vem tamb�m a maior parte das inscri��es que chegaram at� n�s.
Por esse motivo, tradicionalmente, o estudante � introduzido no Grego antigo aprendendo o
dialeto �tico do per�odo cl�ssico
, como dialeto b�sico.

 


Fonte: Professor Jorge Piqu� (UFPR) - [email protected]

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