SAIDAS PARA A CRISE

OS BASTIDORES DO II ENCONTRO

De 6 a 12 de dezembro realizou-se o "II Encontro Pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo" na cidade de Belém do Pará, do qual participaram cerca de 3000 delegados e entidades dos mais diversos países. Aqui vão algumas informações trazidas à nossa redação pelo Comitê Zapatista da Zona Leste de São Paulo.  

"A destruição de todo poder político é o primeiro dever do proletariado. Toda organização de um poder político, dito provisório e revolucionário, para conduzir esta destruição, só pode ser um engodo a mais, e seria tão perigoso para o proletariado quanto todos os governos hoje existentes. Repelindo qualquer compromisso para chegar à realização da revolução social, os proletários de todos os países devem estabelecer, fora de toda política burguesa, a solidariedade da ação revolucionária... Estes princípios nos mostram sempre qual é a via a seguir. Aqueles que tentaram agir, indo contra estes princípios, se perderam porque, de qualquer modo que os compreendamos, o Estado, a ditadura e o Parlamento só podem levar as massas à escravidão. Todas as experiências realizadas até hoje o mostraram, definitivamente. É óbvio, para os congressistas de Saint-Imier assim como para nós e para todos os anarquistas, que a abolição do poder político não é possível sem a destruição simultânea do privilégio econômico"
Resoluções do Congresso de Saint-Imier, 1872.

Pelo Comitê Zapatista da Zona Leste de São Paulo
SEGUNDO depoimento de alguns participantes, o II Encontro começou de fato a partir do dia nove de dezembro, quando, fartos da retórica vazia da filha do Miterrand, do Edu Velasquez, e do Sr. Magno e Cia Ltda., os participantes resolveram assumir o Encontro e realizá-lo em outro lugar perto dali.

Contudo, os problemas relativos ao II Encontro começaram na própria convocatoria onde nem sequer o local onde seria realizado foi discutido (1) democraticamente . Os "Encontros Preparatórios", na verdade, não preparavam nada, tudo era imposto goela (2) abaixo, e quem se manifestasse em protesto era qualificado de "sectário" (?).

O CENTRALISMO DA MESA

No primeiro dia, diante de uma plenária (cerca de 500 pessoas) o coordenador escolhido pelos organizadores pediu aos presentes que quisessem se inscrever para falar para que colocassem seus crachás sobre a mesa. Muitos se dirigiram à frente com seus crachás. A surpresa geral foi quando a coordenação da mesa, segundo seus próprios critérios, selecionou 20 crachás, a maioria de conhecidos cabos eleitorais do PT, o que provocou revolta nos presentes. Indignados pela sucessão contínua de fatos como esse, foi proposta alteração na metodologia que estava sendo aplicada, o que resultou em três longos dias de discussões sem fim com membros do Partido dos Trabalhadores os quais, pretendiam, como sempre, assumir a direção política do Encontro.

"Eles não vão voltar NO MEU ÔNIBUS,
vão ter que voltar a pé! Esses
anarquistas não acreditam no PT, então
porque que vêm no nosso ônibus?"
Neli. Uma das (des)organizadoras do Encontro

Com a atitude centralista e autoritária adotada pelos organizadores, aqueles que foram à Belém com os únicos intuitos aceitáveis: debater a problemática que afeta os povos do mundo e propor soluções, decidiram não continuar naquele local, onde só era discutido o que convinha ao PT e da maneira que impunham de cima prá baixo.

Tudo teria sido completamente inaproveitável, não fosse o instinto de liberdade humana presente na maior parte das pessoas que estavam ali, que fez com que muitos não se submetessem aos métodos de (des)organização dos partidários (políticos eleitorais profissionais) e decidissem continuar as discussões a parte. Aí sim, o Encontro aconteceu! Discussões produtivas se estendiam madrugada afora! Após horas e horas em reuniões, o estresse já se expressava no rosto de tod@s ali presentes, porém o cansaço e o calor sob o grande quiosque não impediram nada. Além do que foi discutido e das resoluções tiradas nesse Encontro, foi também de grande importância o intercambio e a amizade iniciada ali entre os grupos e pessoas.

"Não podemos deixar o espaço
livre para todos porque um pistoleiro
pode entrar aqui e realizar um atentado."
Co(des)ordenador

Além da experiência em organização, podemos também comprovar o que Bakunin já dizia há muitos anos: "... os partidos não desempenham nenhum papel no processo revolucionário..." ou como se dizia na Primeira Internacional: "a emancipação d@s trabalhador@s será obra d@s própri@s trabalhador@s".

INCIDENTE

No ultimo dia, um grupo de estudantes quis entrar pacificamente para ver o Encontro (foi bem divulgado pela TV local). Como nenhum deles portava o crachá distribuído pelos organizadores, sofreram agressão policial, tanto que um dos estudantes foi violentamente espancado.

TRANSPORTE

Porque não divulgaram os locais de saída dos ônibus da mesma forma que divulgaram o Encontro?

Fomos informados pelo Sr. Magno que para irmos a Belém teríamos que pagar R$ 180,00 (cêrca de US 90) por pessoa. Quem, de fato, pagou esses ônibus? Por que tanto gasto desnecessário com divulgação, enquanto @ trabalhad@r interessad@ em participar teria que pagar? Muit@s ativistas desistiram de ir a Belém por que não tinham o dinheiro da passagem. Ora, quem participa dos movimentos populares são desempregad@s, sem teto, sem terra, pais e mães de família, pessoas de baixa renda, enfim, excluídos. Primeiro, colocam os ônibus a disposição a R$ 180,00 por pessoa. Não divulgam o local de saída desses ônibus nas convocatórias. Como se não bastasse, fomos informados que a maioria desses ônibus acabou levando pessoas gratuitamente, e que um desses ônibus saiu com gente, inclusive burguesia, que não pagou nada, e com 10 lugares vazios!

Alguém nos pediu para perguntar se a TAM tem algum convênio com o PT.

GASTOS DESNECESSÁRIOS

Se a imprensa de Belém divulgou massivamente a realização do Encontro, inclusive convidando a população para participar, por que essa distribuição de folhetos, cartazes, brochuras de impressão de luxo, material de custo elevado, informando sobre o Encontro. Porque tanta ênfase em divulgação e tanto desinteresse em transportar trabalhadores para Belém?

PERGUNTAS aos Zapatistas do México

Porque vieram apenas dois delegados do exército zapatista, justamente os que entendiam pouco espanhol e menos ainda português?

Edu Velásquez tem algum vínculo com partidos eleitorais no México?

REDE ANARCO-FEMINISTA OBERIN ONIJÁ INTERVÉM NO ENCONTRO

Em determinado momento durante o Encontro, foi proposto que a Rede participasse da Mesa, o que foi aceito. Contudo a manifestação da Rede se deu através de uma encenação onde as componentes se vestiram como mulheres do Oriente. Em seguida, desnudaram-se, mostrando seus corpos pintados e cantaram uma música em Iorubá (lingua afro). Depois uma companheira reivindicou que as mulheres tivessem de volta seus corpos. Numa alusão às centenas de milhares de mulheres, principalmente no Norte da África, que são obrigadas a mutilar o clítores para serem aceitas na sociedade. A Rede também levantou uma crítica contundente aos partidos de esquerda e alguns movimentos sociais onde muito se fala em libertação das mulheres mas que na prática a discriminação se dá dentro desses próprios partidos e associações.

"Sou professor! Ganho um salário de miséria. Sou casado, tenho filhos! Vim aqui achando que sairia alguma proposta Revolucinária e dou de cara com esta bosta bosta feita pelo PT!" Participante do Encontro

CONCLUSÃO

Encerrado o II Encontro, fica no ar as seguintes questões:

Quem estaria interessado, e o que acontece quando alguém se envolve, na participação de um evento como o de Belém? A nosso ver, dentro da ótica zapatista "tudo para todos, nada para nós mesmos", os maiores interessados seriam os excluídos e aqueles que buscam soluções para os problemas sociais e econômicos fora da política burguesa da esfera político-partidária.

O interessado naturalmente procura os meios próprios de informação junto aos companheiros de movimento.

Dentro dessa visão, produzir cartazes de luxo que em poucos minutos vai para o chão ou para o lixo, se torna um desperdício, aliás, muito comum nas organizações partidárias. Com o que foi gasto poderia se criar grande quantidade de material de conscientização política (comunicados zapatistas, p.e.) que circularia de mão em mão entre trabalhador@s e estudantes.

"Primeiro se anuncia que quem quiser ir ao
Encontro em Belém tem que pagar R$ 180,00,
depois, descobre-se que a passagem é gratuíta, mas nem todos sabem de onde os ônibus vão sair."
Estudante paulista que não pode ir à Belém

Teria os organizadores algum interesse em que uns participassem e outros não? Acreditamos que sim. Principalmente quando sabemos que as pessoas que fazem parte de qualquer movimento social popular, em sua maioria, não dispõem de verba para bancar uma viagem tão distante. Acreditamos que a presença (indesejável para eles) de excluídos com coerência e ética revolucionária contraria os objetivos e interesses daqueles cuja prática egoística revela o lema: para nós tudo, para todos nada.

POLEMICO II ENCONTRO PELA HUMANIDADE E CONTRA O NEOLIBERALISMO BELEM/BRASIL

Entre os dias 6 e 11 de dizembro, teve lugar em Belém/PA (Brasil), o II Encontro pela Humanidade e contra o Neoliberalismo.
Esta edição do Encontro, ao contrário dos 2 anteriores (Chiapas, Estado Espanhol) foi ter sido organizada pela camara municipal desta cidade brasilera, governada pelo Partido dos Trabalhadores.
Por extensão, esse fato se refletiu em uma maior burocratização e desumanização do encontro. Iste se converteu em um circo de partidos politicos em disputa por ver quem conseguia sacar mais bandeiras, com um grande aparato de meios (funcionários e infraestrutura) tão ostentoso quanto desnecessário, inclusive com a presença constante da policia municipal...
Dentro deste clima, os movimentos sociais de base ficaram totalmente relegados a simples espectadores.
No segundo dia se propôs uma mudança na metodologia dos debates, por parte de um amplo setor descontente com a ínfima possibilidade de participação. Esta proposta/protesto foi passada por cima em um vergonhoso ato de manipulação democrática. Este fato provocou a definitiva ruptura do Encontro, que se dividiu en 2 encontros paralelos.
A nota final foi marcada pela policia municipal, plantada nas portas do recinto para evitar que as pessoas sem credenciais entrasse ao concerto de clausura. Dois participantes que havian esquecido suas credenciais foram expulsos a empurrões entre muit@s assistentes que, fart@s do que estava acontecendo, se dirigiram ao palco para explicar todos estes ocorridos, o que produziu por parte dos militantes do Partido dos Trabalhadores e membros da segurança, o definitivo encerramento do encontro.
Contra-Infos 14/12/99

CONVITE

O Comitê Zapatista da Zona Leste de São Paulo convida tod@s interessad@s a participarem das discussões para os encaminhamentos relativos à caminhada para o México, a preparação para o III Encontro no Canadá, e a criação aqui em São Paulo do Comitê de Apoio às Comunidades Zapatistas.

Maiores informações escreva para Travessa do Anfiguri, 47, São Miguel Pta., cep 08010-971 São Paulo-SP, ou railtong@g.com

voltAr

 

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