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  S O B R E _ W M  
 
     
 

JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO

"Valdo Motta não é um poeta. Valdo Motta é O poeta".

 
     
 

RAUL ANTELO

"Valdo Motta reabre a agenda modernista".

 
     
 

AMYLTON DE ALMEIDA

"Estamos anunciando o surgimento de um poeta maldito e lúcido".
(A Gazeta, Vitória, ES, 28.10.1981)

"Sem virar o rosto, o poeta desce ao inferno e registra a diferença".
(A Gazeta, Vitória, ES, 10.06.1984)

 
     
 

RICARDO ALEIXO

"Dona de todo o universo".

 
     
 

JAGUAR

"Parece coisa de viado. E é.".

 
     
 

MASSAO OHNO

"Valdo Motta é um poeta extraordinário que pode ser equiparado aos grandes poetas que temos atualmente e que podem ficar relegados sem uma editora".

(A Gazeta, Vitória, ES, 23.09.1990. Caderno Dois, p. 3)

 
     
 

LITERARUR BLATT MÜNCHEN
(jornal literário de Munique, Alemanha)

"Cientista das letras" ("Literaturwissenschaftler").

 
     
 

REVISTA SUI GENERIS

"Valdo é polêmico, obsceno, transgressor e o mais talentoso poeta de inspiração gay dos últimos tempos".

(Sui Generis, n. 25, Vórtex, p. 6, 1997.)

 
     
 

AMYLTON DE ALMEIDA

"Valdo:/ Tu, que és do rebolado-dado;/ Tu, que duvidas do poder/ monolítico da palavra; / Tu, que nunca dançaste sob/ o luar de Havana ao som / de "Recuerdos de Ipacaray";/ tu, que percebes o instante / do salto da pantera no escuro;/ Tu, que bebeste o sumo e o fel;/ Tu, que revistas as palavras / procurando métrica, sintaxe,/ ritmo e sentido;/ Tu, que pensas descobrir/ a dúvida e aceitas/ o fato de que ao dizer/ uma só palavra tua/ alma será salva/ do medo;/ Tu, que não ousas dizer/ "Eli, Eli, lama sabactani?"/ por medo da imitação;/ Tu, que não carregarás/ a cruz porque o/ gosto do suor é o/ mesmo da hóstia;/Tu, solamente tu,/ bolero latino".

(IMITAÇÃO DA VIDA, poema do crítico de cinema e literatura, cineasta e escritor Amylton de Almeida, escrito na casa de Lacy Bamby, isto é, a escritora Lacy Fernandes Ribeiro, em 18/03/1989, 20:30 h, conforme se lê na coletânea Transpaixão, de Valdo Motta))

 
     
 

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORREA

"(...) BUNDO É A ESCRITURA DE DEDOS/ PORTADORES DE VIBRAÇÕES CONCRETAS VIVIDAS/ NAS TÂNTRICAS PRÁTICAS DE VALDO MOTTA,/ ESTE BUDA AUTOR, IRMÃO DE SER O QUE ESCREVE,/ DO CENTENÁRIO ANTONIN ARTAUD/ (...) TUA BUSCA ATÉ INCONSCIENTE DE POESIA VITAL/ VAI ENCONTRAR O QUE PROCURA./ POIS É MESMO UM 'LIVRO INSPIRADO',/ UM EVANGELHO DO DEUS ANAL./NA CIVILIZAÇÃO BRAZILEYRA NEO ARCAICA,/ BÁRBARA E TECNIZADA QUE ESTAMOS INVENTANDO,/ QUASE BALBUCIANDO SECRETAMENTE,/ O BUNDO É UMA BELEZA QUE SE PRONUNCIA,/ ATREVIDA COMO NOSSO AMOR DE POVO PELAS ALEGRIAS DA BUNDA./ É PRÁTICO COMO SÃO OS LIVROS DOS VEDAS/ PARA ALTA MEDITAÇÃO, DEPHALAÇÃO, CANTADAS E CANTO, EVOÉ BUNDO".

(CORREA, José Celso Martinez. AURICULÁRIO. In: MOTTA, Valdo. Bundo e outros poemas. Campinas: EdiUNICAMP, 1996.)

 
     
 

ROBERTO SCHWARZ

"(...) há um ensaio audacioso e importante de Iumna Simon sobre a poesia igualmente importante e audaciosa, marginal até onde é possível, de Valdo Motta (revista Praga). Iumna revê a poesia brasileira recente à luz da produção de Valdo Motta, cuja posição estética, religiosa, sexual e de classe cria ângulos novos".

(SCHWARZ, Roberto. Por uma experiência brasileira. Entrevista de Roberto Schwarz a Eduardo Nasi. Zero Hora, Porto Alegre, 01.07.2000, Cultura, p. 3.)

 
     
 

ROBERTO SCHWARZ

"Um ponto de força novo, diferente na cultura brasileira. É uma poesia que toma o ânus do poeta como centro do universo simbólico. A partir daí mobiliza bastante leitura bíblica, disposição herética, leitura dos modernistas, capacidade de formulação, talento retórico e fúria social. O ponto de vista e a bibliografia fogem ao corrente, mas o tratamento da opressão social, racial e sexual não tem nada de exótico."

(SCHWARZ, Roberto. Um crítico na periferia do capitalismo. Entrevista concedida a Luiz Henrique Lopes dos Santos e Mariluce Moura. São Paulo : Revista de Pesquisa Fapesp, n. 98, abril 2004, pp. 12-19.)

 
     
 

JOÃO SILVÉRIO TREVISAN

"Valdo Motta chegou para ocupar um espaço vago por aqui: o de grande poeta de inspiração homossexual. E sua obra, descoberta pela Universidade de Campinas, mergulha nos mistérios eróticos da Bíblia e do corpo para desafiar o leitor a entrar num banquete escatológico, tão difícil quanto necessário. (...) Pois bem, no dia que conheci a poesia de Valdo Motta, dei urros de prazer e alegria. Confesso que há muito eu não lia nada tão belo, radical e transgressor. (...) Valdo Motta instaura-se na longa tradição daqueles místicos que amam Deus com tanta radicalidade que já não separam mais tesão do corpo e da alma. Isso se chama estado de fusão poética".

(TREVISAN, João Silvério. Enjôo poético. Trechos da apresentação de entrevista de Valdo Motta a João Silvério Trevisan. Revista Sui Generis, n. 23, 1997.)

 
     
 

FÁBIO DE SOUZA ANDRADE

"Religião e homoerotismo confluem em 'Bundo', do poeta Valdo Motta".

(ANDRADE, Fábio de Souza. Gozo místico. Folha de São Paulo, São Paulo. Domingo, Caderno Mais!, p. 13, 7 de setembro de 1997)

 
     
 

JOSÉ CARLOS BARCELLOS

"A poesia de Valdo Motta é um acontecimento. Possivelmente desde Adélia Prado, não surgia na literatura brasileira poeta tão original e inconfundível. Como a autora mineira, o poeta capixaba surpreende pela maneira como articula erotismo e sagrado. (...) A poesia que nos propõe é um escavar de significados, que visa a trazer à luz sentidos soterrados por séculos de sucessivas leituras 'espiritualizantes'".

(BARCELLOS, José Carlos. Poéticas do masculino: Olga Savary, Valdo Motta e Paulo Sodré. In: Mais Poesia Hoje, organizado por Célia Pedrosa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.)

 
     
 

CÉLIA PEDROSA

"Também em Valdo Motta, na antologia carioca [Esses poetas - uma antologia dos anos 90. Organização: Heloisa Buarque de Holanda. Rio de Janeiro, Aeroplano, 1998], a construção homoerótica da persona lírica vai ser fundamental para a definição de um lirismo dramático em que a visualidade contemplativa de efeito ascético - no que diz respeito à subjetividade e à estética - dá lugar à dramaticidade. E se nele não ressalta à primeira vista o uso recorrente de imagens ligadas à voz e à musicalidade, como nos anteriores, não deixa de ser significativo, no mesmo sentido, o uso de uma eloqüência de bardo pós-romântico - que, aliás, Mário de Andrade já propunha como antídoto ao excessivo teor lúdico e experimentalista de certo modernismo. Para alcançá-la Valdo manipula com habilidade uma sintaxe mais discursiva na qual imagens eróticas recarregam de novos sentidos uma tessitura híbrida de referências religiosas e mitológicas de origem judaico-cristã, budista e africana. E consegue, assim, entre outros efeitos, uma vigorosa atualização da postura rimbaudiana que inclusive figura com clareza no poema-viajante 'Revisitando o inferno da paixão', onde reencarna o famoso 'bateau ivre': 'Em águas tantas vezes navegadas,/ de dor em dor, no dia-a-dia, ser/ o bêbado batel entre os corais/ (arrais e co-arrais já enjoados),/ a navegar sem círculos, sem mais/ combustível além do desespero/ em águas tantas vezes navegadas'".

(PEDROSA, Célia de Moraes Rego. Políticas da poesia hoje. In: Luso-brazilian Review. Madison: University of Wisconsin-Madison, EUA, n. 36, 1999.)

 
     
 

ÍTALO MORICONI

"Para fazer o contraponto com a poesia atual, destacando algum nome dos anos 90 para juntarmos ao de [Roberto] Piva, creio que não há ninguém melhor que Valdo Motta, o sodomita místico do Espírito Santo, que teve lançada pela Unicamp em 1996 a coletânea intitulada Bundo e outros poemas".

(MORICONI, Ítalo. Pós-modernismo e volta do sublime na poesia brasileira,. In PEDROSA, Célia, MATOS, Cláudia e NASCIMENTO, Evando. Poesia Hoje. Coleção Ensaios, 13, p.13. Niterói: EdUFF, 1998.)

 
     
  CANDACE SLATER

May 8, 2002

To whom It May Concern:

This is to certify that Valdo Motta occupied the post of Distinguished Brazilian Writer in Residence in the Department of Spanish and Portuguese at the University of California, Berkeley, from April 15-May 15, 2002. In this capacity, Mr. Motta visited a series of Portuguese language and literature classes and offered a public recital of his poetry. He is the sixth such writer and only poet to ocuupy this post since its inception through and agreement between Berkeley and the Brazilian Ministry of Culture.

Yours sincerely,

Candace Slater

(SLATER, Candace
Marian E. Koshland Distinguished Professor
Director, Luso-Brazilian Program.)

 
     
 

CANDACE SLATER

"A variedade tem sido um elemento fundamental ao sucesso do programa Escritor Residente. Tivemos sorte em ter conosco durante a primavera de 2002 o poeta Valdo Motta, cuja obra se caracteriza por um elemento de oralidade acentuada e uma preocupação sintética que os nossos alunos não tinham visto antes. Agradecemos o apoio do MEC que possibilitou a presença dele em nossas aulas de língua e literatura luso-brasileiras".

(SLATER, Candace. Marian E. Koshland Distinguished Professor / Director, Luso-Brazilian Program University of California, Berkeley.)

 
     
  LÚCIA SÁ

"Quero agradecer-lhe pelo maravilhoso recital de poesia feito hoje no Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Stanford. Foi um privilégio tê-lo aqui conosco, e uma grande oportunidade para os nossos alunos poder ouvir (e ver) poesia de tão alta qualidade ser recitada com tanto talento. A combinação sui-generis de temática sagrada (de várias religiões) e homoerotismo, e a celebração da sexualidade como centro sagrado da vida tornam a sua poesia única na tradição literária brasileira. Espero que possamos continuar esse contato no futuro.".

(Lúcia Sá. Professora de Literatura e Cultura Brasileiras, no Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Stanford, Palo Alto, Califórnia.)

 
     
  GWEN KIRKPATRICK

May 9, 2002

"Dear Mr. Motta:

Your lecture and recital to my undergraduate Spanish class on Modern Latin American Poetry this week was a real success and an inspiration for the students. These students, advanced undergraduates, have a strong knowledge of the general outlines of Spanish American poetry and are familiar as well with some contemporary writers, but they have had few opportunities to meet in person some of the important Latin American poets of our times. Your visit and dialogue with them was a highlight of the semester, and many students have since commented on how exciting and rewarding they found your visit and readings. It helped them to make connections between Brazilian and Spanish American culture not just in literature but in cultural issues.

I specially appreciate your willingness to visit my class since it was not on the official roster of your duties as Visiting Writer and Residence. The students and I were delighted by the energy and thoughtfulness of your talk and were inspired and moved by the recitations of the poetry.

We hope that your future visits to the US will include a visit to Berkley.

Sincerely yours,

Gwen Kirkpatrick

(KIRKPATRICK, Gwen. Professor at Department Of Spanish and Portuguese - University of California, Berkeley)

 
     
 

GILMAR DE CARVALHO

"Capixaba, Valdo Motta se inscreve como uma das vozes mais contundentes da poesia brasileira contemporânea. O autor de Bundo e outros poemas (Campinas, Editora da Unicamp, 1996) faz uma poesia com temática homossexual e uma força epifânica: (...) Ele pode ser citado como uma das vozes mais vigorosas de uma certa dicção da poesia brasileira marcada pela diversidade, que vai da experimentação - que tem em Glauco Mattoso (Jornal do Brabil, SP, edição do autor, 1981, e Manual do pedólatra amador, SP, Expressão, 1986) e Roberto Piva (Antologia poética, Porto Alegre, L&PM, 1985) seus arautos homoeróticos - ao cordel de Frank e Salete Maria da Silva (da Sociedade dos Cordelistas Mauditos de Juazeiro do Norte)".

(CARVALHO, Gilmar. Alteridade e Paixão. Dossiê Cult. Literatura Gay. Cult, n. 66, p. 38, fevereiro 2003)

 
     
 

JOÃO SILVÉRIO TREVISAN

"Para além da presença precursora e excepcional de Roberto Piva, só a partir da década de 1970 começaram a emergir de maneira mais significativa poetas (homens e mulheres) envolvidos diretamente com a erótica homossexual, no eclético grupo da 'geração marginal'".

"Na década de 90, a grande revelação de uma poética de inspiração homoerótica foi o capixaba Valdo Motta. Atrevido, sem receio de parecer sacrílego, ele trabalha com inversões e deslocamentos de sentidos".

"Valdo Motta instaura-se, assim, na longa tradição dos místicos 'sensuais' (como Santa Tereza de Ávila e São João da Cruz), que amam Deus com tanta radicalidade a ponto de não separar mais o erótico e o místico. (...) Negro, homossexual confesso, Valdo sofreu 'o vexame de várias segregações'- segundo a professora Iumna Simon, responsável por sua descoberta. Ungido dessa vivências de marginalidade, ele adotou a postura de um profeta-bicha e, nessa condição, fustiga os fariseus da sexualidade".

"Trata-se, não por acaso, de inventar uma poesia terminal, relacionada com as entranhas e o cóccix - ou região anal, por ele considerada epicentro de todos os fenômenos sagrados e pedra fundamental do nosso corpo. Assim, para este místico subversivo, o cu é o 'lugarzinho por onde/ o espírito entra nos ossos,/ é neste lugar terrível/ a casa do Deus dos deuses/ e a entrada dos céus'. Inimigo da pusilanimidade, Valdo Motta busca o ideal de uma poesia apocalíptica e escatológica - no sentido tanto de fim de ciclo histórico quanto de ligação à fecalidade".

"Mesmo quando agredido por sua arrogância temática, será difícil ao leitor/a esquivar-se do seu apelo poético legítimo, cuja mistura indigesta faz da obra de Valdo Motta um caso raro de "cosmovisão homoerótica", na moderna poesia brasileira - em tudo contrário àquela "irreverência banalizada" e digestiva, que visa a apenas um novo consumo no mercado da sexualidade. Através de suas inquietudes religiosas e homossexuais, Valdo 'ousa uma meditação sobre o contemporâneo e suas contradições', no dizer de Iumna Simon. E o faz como ninguém".

(TREVISAN, João Silvério. Essas histórias de amor maldito. In: Devassos no paraíso : a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. 3a ed. revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Record, 2000.)

 
     
  IUMNA MARIA SIMON

"Olha, eu penso que a poesia de Valdo Motta tem muitos lados de novidade. (...) A começar pela riqueza e variedade formais, raras hoje em dia, que revelam uma capacidade poderosa de incluir mundos e experiências as mais particulares, desde a gíria até referências míticas, religiosas e sexuais, ampliando a experiência existencial de um escritor que procurou entender sua homossexualidade por vias inusuais. (...) Bundo é uma síntese desse aprendizado e do diálogo com as principais tendências contemporâneas da poesia brasileira".

"Mas você está certo em ter constatado a inesperada força transgressiva dessa poesia, que responde altiva e agressivamente à cultura evangélica de massa, aos shoppings pentecostais da fé, aos esoterismos que proliferam por aí e que constituem a única experiência espiritual que restou para muita gente".

"A novidade da poesia de Bundo para mim está em responder ao desinteresse profundo da poesia brasileira hoje. Não se pode pensar a questão da forma e da linguagem sem experiência contemporânea; não se pode pensar a expressão da sexualidade, das emoções, dos sentimentos, sem considerar os problemas da composição e da forma. Em suma, comparada à poesia de nossos plantonistas da vanguarda, ao sublime de copa e cozinha, aos lobistas da metáfora e da pureza da língua, a poesia de Bundo não faz concessões e não está nem aí com a oficialidade".

"Na minha maneira de sentir, quando se joga com uma experiência poética de modo radical, ela interessa a um grande número de pessoas. É o caso desta poesia. Embora a exposição pessoal seja máxima, não há exibição biográfica nem mero registro da experiência, pois sempre que fala de si o sujeito se despersonaliza e se pluraliza em "alheios eus", como diz um poema".

(SIMON, Iumna Maria. Sobre a poesia de Valdo Motta. In: Dossiê 30 anos sem Guimarães Rosa. Revista USP, n. 36, São Paulo: Universidade de São Paulo, Coordenadoria de Comunicação Social. Dezembro/Janeiro/Fevereiro 1997-98.)

 
     
 

IUMNA MARIA SIMON

"O trabalho literário de Bundo e outro poemas nasce pois de uma consciência de exclusão social que pode revirar as categorias poéticas tradicionais e solicitar a reconsideração de atitudes e soluções literárias no quadro recente da poesia brasileira".

"Se comparado ao tradicionalismo afetado e superficial em voga desde a década de 80, o experimento lírico de Waw não se limita ao culto de gêneros e alusões, mas constrói uma imediatez com o máximo senso das adversidades românticas. Posta lado a lado com a poesia marginal, esta é uma poesia formalista que elabora uma espontaneidade estudada, cuja espessura mítica e simbólica não se rende ao cotidiano banal".

"(...) o leitor reconhece a força da dicção poética, que é obscena, às vezes sacrílega, sempre herética, mas não libertina".

"A despeito do contexto apocalíptico, a poesia não tem aqui [em Waw] o caráter revelatório de Bundo; o destino e a salvação do sujeito colocam-se no plano mais realista de quem se situa na sociedade contemporânea e enuncia os conflitos subjetivos e desajustes existenciais representados por temas comuns à modernidade, tais como solidão, carência, desespero, busca do outro, perda da identidade, falta de lugar".

"(...) a assunção gloriosa da própria fraqueza é uma ação afirmativa que pode unir os que vivem nas mesmas condições".

"Sem qualquer sentimento de piedade, sem mistificação demagógica do sofrimento ou apelo barato à retórica da vitimização social, o trabalho formal, desimpedido de preconceitos literários e morais, conquista o poder da generalização poética. Registra uma experiência social acumulada por largos setores da sociedade brasileira, a qual não tem sido traduzida em linguagens artísticas exigentes, antes servindo como espetáculo para a Indústria Cultural, imagem para portfólios do antigo mundo do trabalho, matéria para teses e papers, ou objeto de exploração de religiões e seitas evangélicas".

"(...) o tema da Aids é abordado como um dos elementos que constituem o campo de forças contemporâneas a que o poeta se contrapõe. Numa seqüência de poemas de temática explícita, a anagramatização e o trocadilho - Hades, dias, Id, ida, hás de ir - identificam a "peste" como um desafio que o sujeito lança às suas forças interiores, como se a descida ao próprio inferno encontrasse poder para combater o mal, sobrepondo-lhe um mal maior, que é a poesia. A espiritualidade poética não se intimida diante dos aspectos mais baixos, mórbidos e antagônicos, para que sua materialidade adquira as forças do que lhe é oposto".

"O vate de Bundo é filho do arlequim, e isto tem a ver com a relação entre sagrado e comédia, ou deboche, que perpassa os poemas dos dois livros".

"Assim é que de Waw a Bundo acompanhamos a dramatização literária de uma experiência de vida e de poesia que não se detém na simples exposição biográfica ou na exibição da técnica poética, antes sustenta uma tensa figuração do processo sofrido de autoconhecimento e busca de superação. Sobressai a formulação poética que, mais centrada no experimento de formas no primeiro e na pesquisa simbólica no segundo, generaliza a circunstância existencial de um escritor que não dissocia sua homossexualidade da sociedade a que se opõe, nem a Aids da poesia que pratica".

"Incapaz de encontrar um lugar para si e para aqueles com quem compartilha suas próprias carências, o poeta-vate de Bundo inventará um universo à sua imagem e que pode controlar por força da imaginação artística".

"Forçando um pouco a nota, eu diria que a passagem de um livro [Waw] ao outro [Bundo] põe em discussão o esgotamento do repertório de recursos disponíveis ao poeta contemporâneo, como que assinalando a impossibilidade da renovação contínua e convidando à meditação das formas anteriores. Seja como for, a báscula da plenitude e carência nessa passagem mostra que a poética do orgulho homossexual tem muitos lados: paixão, renascimento, instabilidade e mutabilidade, cujo dado literário notável é que a figura moderna do arlequim será superada pelo vate, as inquietudes individuais por uma 'cosmovisão homoerótica'. Cabe perguntar se estas 'mutações' são uma crítica conjuntural do que é poesia e sua integração no mercado hoje, ou uma recusa do paradigma moderno da poesia".

"(...) a doutrina de Bundo, que não deixa de ser um descobrimento: o país é terra, rochedo, monte, pedra, Terra Santa, epítetos do venerável objeto da descoberta, o santo 'fiofó'. Seguindo-se a 'Descobrimentos' vem uma série de sete poemas dedicados a cantar os poderes extraordinários das mãos e dos dedos para a gnose anal".

"Depois de 'Descobrimentos', revelação do Deus vivo, e dos poemas que tratam das funções dos dedos nos rituais sagrados, alternam-se em Bundo cânticos e loas ao Esperado, exercícios de exortação e peças doutrinárias da gnose anal em estilo bíblico".

"Bundo pode ser lido como a invenção de um estilo que conjura a impotência do sujeito e a precariedade da vida com a assimilação de grandes símbolos, mitologias e tradições milenares, nos quais o poeta desencantado encontra meios novos de objetivar a experiência individual e contemporânea".

"A de Valdo Motta é uma poesia de enfrentamento heterodoxo do repertório de procedimentos disponíveis que, utilizados sem preconceito, se mostram capazes de formalizar a experiência do sujeito no mundo com o sentimento esclarecido de quem apura a forma mas reconhece a impotência do trabalho formal, se ampara numa doutrina inventada mas admite o teor de regressão dela".

"Este é um poeta que tem, noutras palavras, um grau de exigência radical: pela maneira pouco convencional de incorporar a situação contemporânea, a partir de um foco que exige a indignação e a crítica, os poemas expõem os limites das rupturas modernas e suas continuidades ou falsas superações pós-modernas, provando como boa parte dessas manifestações tornou-se ideologia da forma ou tecnicismo sem matéria".

(SIMON, Iumna Maria. Revelação e desencanto: os dois livros de Valdo Motta. Praga (estudos marxistas), São Paulo: Hucitec, n. 7, p. 69-99, março 1999.)

 
     
 

SAPE GROOTENDORST

"Ao lado dos escritores que estão a favor de uma função emancipativa da 'literatura gay', também há escritores que acham que qualquer tipo de literatura - inclusive a 'literatura gay', se existir - tem que propor e descrever situações não apenas para e sobre homossexuais".

"Outros acham que a 'literatura gay' tem uma 'vida própria', tem razão de existir, mas ao lado da confissão e das experiências do homossexual teria que propor algo para todo mundo. Teria que procurar descrever uma temática universal através da condição gay".

(GROOTENDORST, Sapê. Literatura gay no Brasil? Dezoito escritores brasileiros falando da temática homoerótica. Tese de qualificação entregue ao Departamento de Português da Universidade de Utrecht, Holanda, setembro de 1993.)

 
     
 

WALDO MOTTA

"Acho legítimo existir, acho que deve existir uma literatura gay. Mas não concordo que falar sobre homossexualidade, falar sobre os desejos homossexuais, deva ser a única finalidade da literatura gay. Ela deve oferecer algo mais. E esse algo mais é oferecer uma luz, uma compreensão, uma visão de mundo onde todas as coisas estejam resolvidas.".

(MOTTA, Valdo. In: Literatura gay no Brasil? dezoito escritores brasileiros falando da temática homoerótica. GROOTENDORST, Sapê. Tese de qualificação entregue ao Departamento de Português da Universidade de Utrecht, Holanda, setembro de 1993, p. 55.)

 
     
 
     
     
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