TRILHOS DA MISSÃO

 

PADRE GASPAR, O PIONEIRO

 

Em entrevista ao Trem da Missão, o padre Gaspar Kuster, 68 anos, conta um pouco de sua história e compara o bairro de Plataforma com a Palestina. O diocesano da Suíça foi o primeiro pároco de São Brás e atualmente se divide entre as paróquias Nossa Senhora Mãe da Igreja e Santa Teresinha Doutora da Igreja.

 

Trem da Missão – Quando o senhor percebeu o seu interesse pela vida religiosa? Com quantos anos?

 

Pe. Gaspar – Desde pequeno a liturgia da Igreja sempre me atraía. Lembro que com meus oito para dez anos já pensava em ser padre. Mas isso cresceu devagar e só aos 37 anos me ordenei padre lá na Suíça.

 

Trem da Missão – Qual foi a sua maior dificuldade em trabalhar em Plataforma em 1965?

 

Pe. Gaspar – Quando cheguei aqui, São Brás era a única paróquia existente. A primeira dificuldade era a pobreza que me lembrou muito a Palestina. Recordo que antes de vir trabalhar na Bahia, visitei um acampamento de fugitivos com mais de 50 mil pessoas na Terra Santa. Era muito próximo da realidade daqui em 65. A outra dificuldade era o desafio de juntar o popular, pois a pessoas só iam às missas de finados e sétimo dia, com os sacramentos da igreja. Ou seja, incentivar o batismo e a participação ativa na paróquia. Por fim aqui só exista comunidade de base que logo se chocou com a vinda de um pároco.

 

Trem da Missão – E a questão da violência? Na sua concepção, com o passar dos anos ela aumentou, diminuiu ou continua semelhante a quarenta anos atrás?

 

Pe. Gaspar – A violência não era tão grande. Havia épocas de mortes, invasões isso já em 1975. Essas invasões foram as responsáveis pelo que hoje Plataforma é. Muitas pessoas se escondiam por aqui e com isso foi se formando um esconderijo de gente errada.

 

Trem da Missão – Como era a fé da comunidade naquela época? Havia novenas ou missas semanais?

 

Pe. Gaspar – Aqui era assim: Se o vigário fazia uma bela festa para o padroeiro, ele não devia realizar nenhum outro evento, pois o povo já estava feliz com um festejo ao ano. A folia era o mais importante. Com o tempo realizamos novenas, protestos pelas ruas. Certa vez pedimos um alto-falante a um político e o usamos para uma passeata pedindo melhorias para o bairro. Depois disso, o tal político nos tirou os benefícios e o alto-falante.

 

Trem da Missão – Sendo estrangeiro do norte da Europa, qual a diferença maior que existe entre as celebrações da igreja suíça comparando à brasileira?

 

Pe. Gaspar – Lá é mais organizada, com horários fixos, não se pode pecar em não cumprir suas tarefas. Aqui você faz o que acha melhor para si. Além disso, aqui tudo é feito com animação e na Suíça tudo é sério. Conheço uma moça que foi a um casamento suíço e me disse que no almoço parecia que estavam em um velório.

 

Trem da Missão – Como era a forma de locomoção no bairro de Plataforma?

 

Pe. Gaspar – Não tínhamos acesso à cidade. Isso só se fazia por meio de trem ou navio. Eu morava no seminário no bairro da Federação e para chegar aqui era muito difícil. Se você perdesse a locomotiva e o barco ficava sem poder chegar em casa.

 

Trem da Missão – Hoje na festa de São Brás a população faz a lavagem das escadarias. Na época como pároco de são Brás acontecia esse ritual?

 

Pe. Gaspar – A lavagem começou comigo aqui. Era moda, todos queriam festejar. Então decidimos também lavar a igreja de São Brás, com as baianas e a água de cheiro. O povo se encontrava na lavagem, os amigos se reviam e novas amizades surgiam.É igual ao carnaval. Todos brincam, abusam da bebida e tem violência.

 

 

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