"A mediunidade mostra a existência do
mundo dos espíritos, ninguém morre"

Gérson Tavares - autor de "À procura do espírito"

Se o espírita Gérson Tavares parasse de falar abruptamente só se ouviria o silêncio, tal o grau de concentração da platéia que lotou completamente o auditório do Centro Municipal de Cultura na noite de ontem (segunda-feira 19 de Outubro). Ele foi o primeiro palestrante da XIII Semana Espírita de Torres que tem por tema "Mediunidade, comunicação entre dois mundos". O assunto não polariza apenas a atenção dos espíritas, mas apaixona também aos leigos. O homem tem essa eterna dúvida a equacionar, a saber de onde vem e para onde vai.

Gérson Tavares assegura literalmente que o mundo dos espíritos é um mundo concreto porque está provado que existe. Disse mais, que somos eternos e vivemos interlacando encarnações e desencarnações. Por vezes ocupamos o corpo físico tal qual somos, por vezes somos apenas espíritos ocupando outras dimensões e intervindo no mundo dos vivos para o bem e também para o mal. "Tudo vai depender de como vamos nos conduzir, nos deixarmos influenciar". Disse que somos todos médiuns em maior ou menor escala e que os espíritos estão constantemente se comunicando com os vivos, mas a maioria não se dá conta disso porque esse contato se dá através das denominadas comunicações ocultas.

"Todos nós passamos pelas comunicações ocultas. Todos nós... passamos e sofremos as inspirações boas e más... conforme as nossas inclinações morais. As nossas escolhas morais... as nossas decisões. Os espíritos muitas vezes dialógam com a gente, mente-a-mente, sem que a gente se dê conta que está dialogando. As nossas conversações, nossos raciocínios internos, os nossos raciocínios íntimos, as nossas conjecturas muitas vezes são marcadas por conflitos onde tradicionalmente se fala do anjinho bom e do anjinho mau... ou seja... ora inspiração boa... ora inspiração má. São as nossas tendências, nossas inclinações, o nosso jeito de ser... com as inspirações propriamente ditas. E conforme a nossa maior tendência... nossa maior inclinação por causa do nosso nível evolutivo... nosso nível moral... fazemos as escolhas e predominam as inspirações boas para fazer o bem e as inspirações más para fazer o mal".

O ex-presidente da Federação Catarinense de Espiritismo, advogado e escritor Gérson Tavares disse que o mundo dos espíritos é concreto na medida em que está comprovado cientificamente que existe. "Não é igual ao nosso mundo, mas existe". Gérson falou que os espíritos estão em permanente contato com todos nós, promovendo o que ele chama de inspirações. "As inspirações elas são corriqueiras... então, todos nós, no sentido amplo do termo, podemos dizer, somos médiuns porque todos somos inspirados. Mas, no sentido restrito do termo mediunidade, nem todos somos médiuns, porque há o que Alan Kardec chama de comunicação ostensiva".

"Inspiração ostensiva - segundo Gérson Tavares - é aquela em que a ação do espírito é mais objetiva, mas caracterizada pela escrita como Xico Xavier ficou bem conhecido pela mediunidade da psicografia. O espírito ou os espíritos comunicavam-se através de Xico Xavier pela escrita. Como pode ser pela fala, o que chamamos de psicofonia. Então nas comunicações ostensivas nesse sentido, nem todos somos mediuns. É através das manifestações ostensivas que a espiritualidade se manifesta de forma como o próprio termo diz, ostensivamente. Mas, com maiores características, mais definidas, para demonstrar, revelar e tornar de uma certa forma palpável o mundo dos espíritos".

"Digamos então, entramos aí num terreno importante: o por quê da mediunidade? Qual o seu objetivo?" Segundo Gérson Tavares são dois esses objetivos: "A primeira finalidade da mediunidade é demonstrar o mundo dos espíritos. Assim como a luneta e o microscópio revelaram dois mundos distantes das nossas percepções sensoriais, ainda que nesta dimensão; a mediunidade é a maneira como alcançamos o mundo dos espíritos. Porque os espíritos ao atuarem não diretamente na nossa dimensão não logram êxitos porque são de dimensões diferentes". Aí é que surge o médium que tem a faculdade específica de ser intermediário. O médium vive nesta dimensão em que nos encontramos mas possui recursos psíquicos específicos. "Exala fluidos específicos que permitem que os espíritos, utilizando desse recurso psíquico específico que determinadas pessoas são portadoras para atuar no meio corporal".

"Então eles (os espíritos) podem escrever através dos médiuns, falar através dos médiuns e até mesmo produzir fenômenos de efeitos físicos, como movimentar objetos e outros tantos recursos... materialização de espíritos. O primeiro grande objetivo é comprovar a imortalidade da alma, para que todos nós possamos crer e saber que ninguém morre. É o primeiro grande objetivo, a fim de que a fé encontre bases racionais, uma sustentação lógica, para que ninguém mais tema a morte e que as lágrimas que nós derramamos quando enterramos o corpo de um ente amado, não sejam as lágrimas que se transformam em ácido que corrói a esperança e a fé e a alegria de viver. Mas que sejam as lágrimas transformadas em orvalho, o orvalho da esperança, o orvalho do otimismo. Que não obstante o sofrimento, marcado pela saudade, jamais (haja) revolta e o desespero, porque a esperança é nutrida pela fé, pela certeza que o ente querido não morreu e que nós nos reencontraremos".

O segundo objetivo da mediunidade "é preparar as pessoas para a vida na Terra e nos educar para a vida no além. A mediunidade se propõe a espiritualizar a criatura". Serve também para reformulação do comportamento de espíritos perversos, com imperfeições e infelizes e se ela passa a desenvolvmaior quantidade de virtudes "vale a pena". "Precisamos reeducar nossos valores, estarmos sempre abertos para progredir espiritualmente e não estacionarmos na nossas limitações". Gérson falou que hoje muitas pessoas procuram os psquiatras em busca da pílula mágica que lhes dê a felicidade. Citou que quando o médico não lhes dá o remédio reclamam: "Eu não estou lhe pagando para conversar comigo, eu quero um remédio que resolva meu problema".

Segunfo Gérson, a pessoa deve ter consciência de que vive agora e continuará a viver depois da morte. E o que ela vai levar para o outro plano depende de como se conduzir aqui. "Nós só vamos levar o que conquistamos através do conhecimento e das virtudes, mas podemos também levar ódios e ressentimentos. Não vamos levar bens materiais, apenas nosso patrimõnio moral. "E patrimônio moral não depende de títulos acadêmicos e nem de status social, mas da vontade e deveres apenas morais". Para Gérson Tavares, Jesus Cristo foi o grande médium de Deus e reafirmou que os valores da doutrina espírita são os mesmos valores cristãos.