Elomar

"(...)Pois assim é Elomar Figueira de Melo: um princípe da caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos reis-cavalheiros e menestréis errantes e que culminou na época de Elizabeth, da Inglaterra; e do cancioneiro do Nordeste, com suas toadas em terças plangentes e suas canções de cordel, que trazem logo à mente os brancos e planos caminhos desolados do sertão, no fim extremo dos quais reponta de repente um cego cantador com os olhos comidos de glaucoma e guiado por um menino - anjo, a cantar façanhas de antigos cangaceiros ou "causos" escabrosos de paixões espúrias sob o sol assassino do agreste.(...) É...quem sabe não vai ser lá, no barato das galáxias e da música de Elomar, que eu vou acabar amarrando o meu bode definitivo e ficar curtindo uma de pastor de estrelas..."
Vinícius de Moraes
abril de 73.
Biografia

Discografia

Elomar...das Barrancas do Rio Gavião - 1973 - Philips

 
Parcelada Malunga - 1979 - Marcus Pereira
 
Na Quadrada das Águas Perdidas "Alas qui foi um truvejo. in certa altura da labuta já quaji disurino. Tarei me apeguei cum Deus e cum o dijidoro dum bando de malungo muntemo o mundengo, fumo cunseguino e já cum água na capa da cela cheguemi lá. Nestes termos Zé Nandú, Zé Krau ou Quilimero resumiria o falatório, que se segue. Vendo os janeiros entrando, as canções chegando e sumindo e o encordoamento da goela cansando, me aviei em fazer logo um disco ou dois ou mais. E como fazer isto? Fizeram os gravadoras lá pelas bandas do Sul, muito longe da catinga, cidade grande barulhenta, apertucho muito regulamento elevados documentos na capanga, comida ruim... Não vou não. Resolvo, vou. E os quadros manchetes catidianos registrados pela imprensa? Vou ou não, me difini. Arranjo um "nagra" e vou gravar isto é lá em casa no Rio do Gavião junto dos bodes no meio do chigueiro. Não precisa estúdio; conversa de vaqueiro, cantinga de grilo, budejo de pai-de-chiqueiro se entrar na fita fica, faz parte. E mais cadê o nagra? Nessa enrola um ano se foi. Daí é que dando um pulo a Salvador para u'a cantoria ligeira de fim de ano, e sou que eu desse por fé. Carlos Pita, Alcivando, João Américo, Dércio Marques, Xangai, Fábio, Limonge, Gildásio e Vicente (um bando) já tinham armado a arapuca. Foi só puchar o cipó e de repente me vi enredado na trama de fios do estúdio do Seminário de Música da Universidade da Bahia, o que nos foi concedido pelo seu diretor o Prof. Ernest Wildmer ao qual nesta oportunidade faço meus agradecimentos.

Foram longas horas de studio; trabalho pesado, esgotante e o pior, o que dá raiva, são as tais fitas em rolo, é um rôlo, é um rôlo! Quando a gente pensa que "matou" 4 ou 5 canções, Alcivando e João, bradam: grava tudo de enovo (um tal de decapo). Que foi lá? Fitas defeituosas, defeito de fabricação isto é demais, custou muito, não vou gravar essa mundiça mais não. Grava, não grava, enfim ficaram prontos os rôlos. Rôlo brabo foi entrar num avião, cortar o céu e descer naquela galáxia em vias de explosão (S.Paulo)

Virgelino! Ali com o apoio do Sr. Marcus Pereira, conseguiu contrar a prensagem na fábrica de discos Copacabana. Por 8 dias no (S.Paulo) andei naqueles subterrâneos, gargantas e desfiladeiros de paredes verticais. Um mundo perdido carcumido por ventos maleitosos, mortíferas fumaças "estroncios letais", milhões de seres palidos macrobios, uma guerra telúrica. Geraldo um amigo catingueiro que ora sujegado naquele habitat e já portanto afeito ao elemento envenenado foi meu guia enquanto eu errava, me lembrnado do Rei Davi, na imensidão daqueles vales onde por vezes eu vi passar de largo a sombra da morte. E parados na sala grande do museu eu vi também os Retirantes de Portinari. No meio d'ua travessia, boquinha-de-noite, sinaleira fechada, uma aflição imensa com medo de não dar tempo; de salto armado e olhos semicerrados a grande alcatéia de monstros prestes desfechar o salto e esfarelar a gente. No meio da tribulação me lembrei de Remundo, no esfregas dos olhos vi no fim do mundo no êrmo as ruas desoladas e dos casarões entravam e saiam ratos, cobras, morcêgos e corujões... como disseram os profetas hebraicos.

Dai, veio o rôlo derradeiro, foi um tumba, a capa, dos discos. Foi com menos sofrimento já estavaa na Bahia. Com um grande lãinna pesada a Planus Propaganda meou e finalizou a arte. Um bando de malungo, realmente, mil vaquêro internado nos serrado de jurama campiano trem alevantado.

Nunca pretendi fazer disco adereçado de altos requintes tecnicos tão somente a pura e simples documentação de meu trabalho sem que turbe o espirito das coisas e do lugar donde ele saiu. Este disco foi feito a facão, no Nordeste, com o digitoro de muitos amigos, o sacrificio meu e de minha mulher e sobre todas as coisas, com o consetimento de Deus.

Estes cantares e estes falares são lembranças que a catinga agradecida manda para o amigo Henfil"

Elomar - Apresentação de Na Quadrada das Águas Perdidas
 
Fantasia Leiga para um Rio Seco - 1981 - Rio do Gavião
 
 
 
Cartas Catingueiras - 1982 - Rio do Gavião

Disco 1

Disco 2
 
Consertão - 1982 - Kuarup
 
Auto da Catingueira - 1984 - Rio do Gavião

Disco 1

Disco 2
 
Cantoria 1 - 1984 - Kuarup
 
Cantoria 2 - 1985 - Kuarup
 
Elomar em Concerto - 1990 - Kuarup Árias Sertânicas - 1992 - Rio do Gavião "Num certo dia do saudoso 91, pensamos em escolher um bom punhado de canções dentre as óperas que compomos e as que ainda estão sendo partituradas. Seriam então gravadas em disco nas vozes qualificadas de cantores convidados, líricos e populares, com orquestra e tudo, conforme as partituras originais. Mas, é que iria ficar tão bonito, tão caro, tão difícil..., tão duro, tão sem bufunfa que estou e portanto, tão impossível pelo tão duro que estou que até passei a admitir decisivamente, que se foram para sempre e para nunca mais a quadra das vacas gordas. Povoadas de bens na grande fartura de valores que sustentavam a inteireza do cimento que por muito tempo estruturou a sociedade dos homens, ora apodrecia... Eh! dêxa pra lá. pois diante desta verdade e de outras saudades, nem dá pra chorar!

Fomos então á Bahia Grande ou melhor, ao Baião, segundo o saudoso menestrel e Rei deste, eu e o querido João Omar. Ali nos studios do cavaleiro Cacalieiri eu e ele, vozes e violões, se me nos viramos em baixos barítonos, tenores, contraltos e sopranos e gravamos estas árias do sertão com a precípua e quase que única finalidade de levar até aos malungos que acompanham nossa peregrinação, uma pequena amostra de nossa música mais nova. E mesmo porque tenho muito me preocupado com o fato de que hoje, só consegui registrar em disco cerca de 15 por cento da música composta. Pelo que, só ficam os cúmplices privados de ouvir o grosso de um trabalho terrivelmente pobre-paupérrimodestituído de toda e qualquer inhaca de coisa de gringo, como também me aflijo e na maior das solicitudes desmanchando o tempo e assassinado as horas e se me virando pra vender um pedaço da lua de mais ou menos um quilo e meio que caiu bem no terreiro de casa. Todo esse rôlo objetiva em 93, a gravação maciça de pelo menos duas óperas: A CARTA e O RETIRANTE, cinco ANTÍFONAS e dois GALOPES E ESTRADEIROS. Todo este rôlo redunda também em pelo menos nove longuepleis. Me arreceba, serão muitas arrôbas de pedaços de celenitas que terei de achar caídos no terreiro daqui de casa.

E, para que não fique pairando no ar, cara a cara com cada récem aterrissada ária, e ainda sustentado o velho estilo, uma a uma ao ruflar das asas e a medida em que vão pousando em vossos ouvidos, vo-las apresentemos: Ei-las:"

Introdução assinada por Elomar, contida no encarte do Cd Árias Sertânicas
 
Cantoria 3 - 1994 - Kuarup
  • A Donzela Tiadora
  • Canto de Guerreiro Mongoió
  • Ecos de uma Estrofe de Abacuc
  • Corban
  • Calundú e Cacoré
  • Seresta Sertaneza
  • Cantiga do Estradar
  • Duvê Esse Chão Quêma Meus Pé
  • Faviela
  •  
    Saiba mais sobre Elomar lendo um trabalho escrito sobre ele (clique aqui)
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