RITMO E POLIRRITMO

Música Virtual
apresenta

RITMO E POLIRRITMO
Exercı́cios e Estudos

Filipe de Moraes Paiva

GTECEM – Grupo de Pesquisa “Tecnologias para Educação Musical”
Departamento de Física, Campus Humaitá II
Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, Brasil


Primeira versão do livro em: 2020/maio/29

Atualizado em: 2022/fevereiro/16
Esse livro finalmente começou a tomar forma, mas há ainda muita coisa a ser feita. Grande parte do que escrevi está em um estágio muito "cru", faltando o recheio de explicações e muitas figuras. Agradeço qualquer sugestão de assuntos a serem tratados e de melhoria do texto e anexos.
NOVIDADE: O segundo volume do Livro "Harmonia e Ritmo" está aqui dentro, ele é o capítulo 6 desse nosso livro virtual. Procure no índice a seguir.

Conteúdo

Prefacio do autor

Este livro surgiu da necessidade de compilar diversos exercícios de ritmo e polirritmo que usualmente faço com meus alunos. Pode ser utilizado por instrumentistas de percussão, de melodia e de harmonia. Serve tanto para músicos quanto para leigos, pois grande parte dos exercícios está escrita tanto em notação musical quanto utilizando-se outras notações.

Não é necessário saber a técnica de nenhum instrumento, pois quase tudo será feito com palmas e batidas nas pernas, ou com os pés. Entretanto daremos dicas de como realizar os exercícios em diversos instrumentos, desde tamborins, pandeiros e tantans, até piano e cavacos.

Exercitaremos tanto combinações simples de divisão do tempo em duas, três, quatro partes etc, quanto combinações de frases musicais complicadas de diversos instrumentos. Veremos como os diversos instrumentos conversam entre si e, veremos como um músico pode se preparar para tocar simultaneamente fraseados que parecem incompatíveis.

Vamos além da parte instrumental, e juntaremos também o canto. E, por que não, vamos juntar a dança também. Assim você poderá tocar dois fraseados simultaneamente num instrumento, cantar um terceiro e ainda dançar.

Inicialmente, em 2020/maio/29, início da pandemia, este livro estava sendo escrito em Latex para ser tranformado em PDF e seria acompanhado por arquivos de áudio interativo, semelhantemente aos livros anteriores. Porém, ao final do mesmo ano, em 2020/dezembro/17, resolvi transformá-lo em hipertexto. O arquivos de áudio e partitura interativos, e outros arquivos de áudio e video, aparecem naturalmente ao longo do texto na forma de hiperconexões. Para dar mais fluidez à leitura, aos poucos estou colocando as partituras diretamente no texto, na forma de figuras, ao lado da hiperconexão para o arquivo interativo; paciência, ainda não tive tempo de fazer isso com todas; entretanto, o capítulo 6, que corresponde ao volume 2 do Harmonia e ritmo, já está todo com as figuas incluidas no texto.

Algumas partituras ainda estão apenas no formato original do editor de partitura Musescore. Entretanto, saliento que é muito proveitoso poder acessar as partituras/áudios interativasos, pois permitem poder escolher que instrumentos escutar, variar o andamento e muito mais. Vale a pena instalar em seu computador o editor de partituras Musescore. Algum dia colocarei aqui as instruções para instalar e usar o Musescore, enquanto não faço isso, leia essas instruções em: "Harmonia e Ritmo - Uma aventura de Jongo e Samba, de Piano e Percussão".

Prepare-se para dar um nó nos neurônios de sua cabeça, e talvez, desatar alguns nós.

Agradecimentos

Vou escrevendo os agradecimentos a medida que for lembrando ... a cada atualização deste livro, podem aparecer agradecimentos novos.

Começo agradecendo a todos os meus professores. Por enquanto ainda não citarei os nomes ... quem sabe na próxima versão.

Um agradecimento especial para os meus alunos que pacientemente fazem os exercícios propostos e estão aprendendo muito bem.

Capítulo 1 - Introdução

Quando eu comecei a estudar bateria, certa vez aprendi a fazer três batidas com uma mão, para cada duas batidas com a outra. Mostrei logo para os amigos minhas novas habilidades. Um deles comentou, alguns dias depois, em uma conversa em grupo: ``- Nossa, o Filipe consegue bater qualquer qualquer coisa com uma mão e qualquer outra coisa com a outra''. Na hora eu aceitei o elogio, e até acreditei que aquilo era verdade. Porém, logo percebi que a única coisa especial que eu conseguia fazer era aquela combinação de duas e três batidas. Tentei fazer três com uma mão e quatro com a outra e percebi que não conseguia. Tentei outras combinações e também não consegui.

Porém, depois de treinar bastante, consegui combinar 3 com 4. Depois de mais treino, consegui fazer o telecoteco do samba com uma mão, enquanto a outra fazia a batida do surdo. Ao longo dos anos, fui percebendo que eu não tinha desenvolvido uma capacidade polirrítimica especial; o que eu conseguia, era executar as poliritmías que eu tinha praticado, e praticado muito.

Por outro lado, desenvolvi uma capacidade de analisar polirritmos e criar para mim mesmo uma série de exercícios que me levassem a ser capaz de tocar, depois de muito praticar, quaisquer combinações a que eu me dispusesse a aprender. Pelo menos para mim, a polirritimia não era uma capacidade especial de tocar qualquer coisa com uma mão e qualquer outra coisa com a outra, como havia dito o meu amigo; a polirritmia era uma capacidade de analisar, sintetisar planejar e executar arduamente, durante dias, diversos exercícios que que levavam a cada polirritmo. Isso me lembra muito uma frase dita pela Luciana Rabello na primeira aula de Apreciação Musical que eu fiz na Escola Portátil de Música em 10 de agosto de 2019, que transcrevo aqui de memória: "Talento é a capacidade de surportar a árdua tarefa de estudar."

Então, nesse livro, vou mostrar uma série de exercícios para aprender ritmos e poliritmos. São exercícios que eu uso comigo mesmo e com meus alunos de percussão.

Vou supor que o leitor não sabe nada sobre o assunto. Ainda nessa introdução, vou mostrar brevemente os rudimentos da escrita musical básica, ou seja, pentagrama, compasso, claves, semínimas, colcheias, quiálteras etc. Não se preocupe em aprender tudo de uma vez, pois ao longo do livro, a medida em que for utilizando, vou explicar em mais detalhe. Além da notação musical tradicional, teremos também uma notação um pouco mais facilitada. Vamos utilizar alguns tipos de contagem de tempo, e de divisões do tempo, que não costumam estar nos livros tradicionais de teoria musical mas que são muito utilizadas por músicos no mundo todo.

Ao longo dos capítulos do livro, vou mostrando e discutindo os exercícios de ritmo e polirritimo e mostrando, também, aplicações desses exercícios em diversos instrumentos. Veremos também como instrumentos muito diferentes, como por exemplo, um cavaco e um reco-reco, ou um piano e um tantan, utilizam técnicas rítmicas muito semelhantes.

1.2 - Notação musical

Quase tudo nesta seção eu vou copiar do meu livro anterior: "Harmonia e Ritmo - Uma aventura de Jongo e Samba, de Piano e Percussão". Como ainda não escrevi esta seção, olhe a notação musical no Harmonia e Ritmo que eu acabei de citar; está em PDF e é gratuito.

Capítulo 2 - Notação de Percussão

Notação para diversos instrumentos de percussão podem ser encontradas em "Um Pandeiro na Mão, e uma Ideia no Pé - Apostila 2" e em "Harmonia e Ritmo - Uma aventura de Jongo e Samba, de Piano e Percussão". Aqui vou discutir a notação genérica que iremos utilizar.

Também para os instrumentos de percussão, utilizaremos o pentagrama usual, ou seja, com cinco linhas. Porém, enquanto o piano utilizará as claves de sol, 𝄞, e de fá, 𝄢, para a percussão utilizaremos a clave de percussão 𝄥. Com esta clave, as linhas e espaços do pentagrama deixam de representar as notas dó, ré, mi etc e passam a representar cada um dos sons produzidos por um ou por um conjunto de instrumentos de percussão. Desta forma, quem escrever uma partitura de percussão, deve colocar alguma legênda indicando a correspondência entre os sons do instrumento ou a técnica utilizada para produzir cada som com uma posição entre as linhas e espaços do pentagrama, já que infelizmente, não existe, nem na literatura, nem na prática, uma notação padrão para percussão.

O que faremos ao longo desse livro é utilizar, genericamente, as primeiras linhas e espaços, ou seja, os mais de baixo, para os sons mais graves e as linhas e espaços mais acima para os sons mais agudos. Além disso, as notas representando sons de pratos, platinelas etc não terão o formato redondo usual, e sim a forma da letra x, como é comum na notação da bateria de orquestra, como mostra por exemplo, Gene Krupa.

Capítulo 3 - Exercícios iniciais

Utilize um metrônomo em andamento bem lento, digamos: 30. Esse número, no caso 30, significa que o metreônomo está fazendo 30 batidas por minuto. De preferência, coloque o metrônomo no modo quaternário, ou seja, a cada 4 batida, a primeira é forte. Siga a sequência abaixo, descançando entre cada uma. Lembre-se que em todos os itens, as batidas do metrônomo coincidem com os números 1, 2, 3 e 4.

  1. Conte 1 para a primeira batida, a mais forte, 2 para a segunda, 3 para a terceira, 4 para a quarta. Novamente 1 para a mais forte e continue por cerca de um minuto. Ficará assim: 1 2 3 4 1 2 3 4 1 ...

  2. Faça como no primeiro item, mas diga a letra ``e'', pronunciando ``ê'', bem no meio entre cada número. Ficará assim: 1 e 2 e 3 e 4 e 1 e ...

  3. Faça como no segundo item, porém, bem no meio entre um número e o ``e'' seguinte, diga a letra ``i'' e bem no meio entre o ``e'' e o númeoro seguinte, diga a letra ``a''. Ficará assim: 1 i e a 2 i e a 3 i e a 4 i e a 1 ...

  4. Repita o item 1, porém agora por mais tempo. Essa repetição do item 1 é importante, para ``esquecer'' a divisão do tempo ao meio dos itens 2 e 3.

  5. Faça como no item 1, porém diga entre cada número, a letra ``o'' (pronunciando ó) e a letra ``u'', isto é, ao invés de dividir cada tempo ao meio, você dividirá cada tempo em três partes iguais. Ficará assim: 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...

  6. Repita o item 1.

  7. Repita o item 2.

  8. Faça como no item 2, porém agora divida cada metade de tempo em três partes, dizendo ``o'' e ``u'' entre cada tempo e o ``e'' seguinte e entre cada ``e'' e o tempo seguinte. Ficará assim: 1 o u e o u 2 o u e o u 3 o u e o u 4 o u e o u 1 ...

Resumindo, ficará assim:

  1. 1 2 3 4 1 ...
  2. 1 e 2 e 3 e 4 e 1 ...
  3. 1 i e a 2 i e a 3 i e a 4 i e a 1 ...
  4. 1 2 3 4 1 ...
  5. 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...
  6. 1 2 3 4 1 ...
  7. 1 e 2 e 3 e 4 e 1 ...
  8. 1 o u e o u 2 o u e o u 3 o u e o u 4 o u e o u 1 ...

Faça muitas vezes esse exercício até se sentir bem confortável fazendo. Então passe para os seguintes. Em cada exercício a seguir, ao terminar um item, passe imediatamente para o seguinte e ao chegar ao final volte para o primeiro e continue. Procure se sentir bem confortável com cada sequência antes de passar para a seguinte. Utilize sempre o metrônomo, de preferência em um andamento lento.

Misturando 2 com 3:

  1. 1 e 2 e 3 e 4 e 1 ...
  2. 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...

Misturando 4 com 3:

  1. 1 i e a 2 i e a 3 i e a 4 i e a 1 ...
  2. 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...

Misturando 1 com 2, com 3 e com 4:

  1. 1 2 3 4 1 ...
  2. 1 e 2 e 3 e 4 e 1 ...
  3. 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...
  4. 1 i e a 2 i e a 3 i e a 4 i e a 1 ...

Misturando 2 com 6:

  1. 1 e 2 e 3 e 4 e 1 ...
  2. 1 o u e o u 2 o u e o u 3 o u e o u 4 o u e o u 1 ...

Misturando 3 com 6:

  1. 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...
  2. 1 o u e o u 2 o u e o u 3 o u e o u 4 o u e o u 1 ...

Misturando 4 com 6:

  1. 1 i e a 2 i e a 3 i e a 4 i e a 1 ...
  2. 1 o u e o u 2 o u e o u 3 o u e o u 4 o u e o u 1 ...

Misturando todos em ordem:

  1. 1 2 3 4 1 ...
  2. 1 e 2 e 3 e 4 e 1 ...
  3. 1 o u 2 o u 3 o u 4 o u 1 ...
  4. 1 i e a 2 i e a 3 i e a 4 i e a 1 ...
  5. 1 o u e o u 2 o u e o u 3 o u e o u 4 o u e o u 1 ...

Capítulo 4 - Ritmo Afro-Cubano em 6/8

Vamos fazer aqui um pequeno estudo de um ritmo afro-cubano em compasso 6/8. Dois aspectos são tratados: a mistura de uma marcação ternária com uma marcação binária; a adaptação do ritmo da bateria, para o derbaki árabe e finalmente para o pandeiro. Nessa adaptação, é interessante notar que o ritmo já foi em algum momento adaptado para a bateria, quando foi então aprendido por mim; e é curioso perceber que, quando o ritmo foi adaptado para o derbaki árabe, ele acabou ficando muito similar a alguns ritmos árabes.

Esse é um dos capítulo que ainda precisam do recheio de explicações e figuras. Por enquanto, quase tudo deste capítulo está nos arquivos de musescore.

O início desse estudo começa com um arquivo de musescore, Ritmo_afro-cubano_em_6_8.mscz. Lá você encontrará o ritmo na bateria, a mistura da marcação ternária com a marcação binária, e algumas dicas sobre como adaptá-lo da bateria para o derbaki e para o pandeiro.

O estudo completo com as adaptações para derbaki e pandeiro você encontrará nesse outro arquivo de musescore: Ritmo_afro-cubano_em_6_8_derbaki_pandeiro.mscz. Esse arquivo contém tudo o que está no anterior, mas apresenta as adaptações para o derbaki e para o pandeiro. Esse material foi retirado do livro: "Pandero Mane, Ideo Piede".

Para facilitar seu estudo, ouça os audios desse ritmo tocado por mim mesmo:

Capítulo 5 - Jongo em compasso de samba

Os compassos 4/4 e 12/8 são compassos quaternários, ou seja têm 4 tempos. A diferença está em que, no compasso 4/4, cada tempo é naturalmente dividido em 4 colcheias; enquanto que, no compasso 12/8, cada tempo é naturalmente dividido em 3 colcheias. O jongo é geralmente escrito em compasso 12/8. Mais adiante, veremos como tocar o samba 4/4 simultaneamente com o jongo 12/8, um em cada mão. Porém aqui, estamos interessados em fazer um pequena alteração no jongo, "empurrando" as notas para lá ou para cá, de maneira a escrevê-lo no compasso 4/4. Um pouco mais sobre esse assunto pode ser visto no livro "Harmonia e Ritmo - Uma aventura de Jongo e Samba, de Piano e Percussão"

Esse é mais um capítulo que ainda precisa do recheio de explicações e figuras. Por enquanto, quase tudo deste capítulo está nos arquivos de musescore.

Para esse estudo, preparamos dois arquivos de Musescore. No primeiro, Jongo-4-por-4-parte-1.mscz, mostramos o jongo em compasso 12/8 e em seguida, como podemos deformar ligeiramente a posição de cada batida para colocá-lo em 4/4. São construídas algumas possibilidades. No segundo arquivo, Jongo-4-por-4-parte-2.mscz, pegamos o jongo já escrito em compasso 4/4 e adaptamos para a técnica do pandeiro.

Dois tipos de adaptação são feitas. Na primeira, tocamos todas as 4 semiconcheias de cada tempo, obtendo uma forma semelhante ao "samba de caixa". Dessa maneira, para cada 3 semicolcheias do jongo no compasso 12/8, tocamos tocamos 4 semicolcheias no jongo adaptado para o compasso 4/4. Na segunda maneira de tocar, pegamos a maneira anterior e retiramos uma semicolcheia de cada tempo; assim, voltamos a ter apenas 3 notas em cada tempo, como no jongo original em 12/8. A diferença é que no original 12/8, as 3 notas são semicolcheias igualmente espaçadas, enquanto que na forma 4/4 as 3 notas são duas semicolcheias e uma colcheia, ou 3 semicolcheias e uma pausa. Nessa segunda maneira, podemos passar continuamente do 12/8 para o 4/4 apenas deformando aos poucos a posição de algumas notas, o que é bastante interessante de fazer.

Capítulo 6 - Claves e Samba de Roda - Harmonia e Ritmo, vol 2

A grande novidade, no dia 13 de outubro de 2021, é que o tão esperado volume 2 do livro "Harmonia e Ritmo - Uma aventura de Jongo e Samba, de Piano e Percussão" é agora um capítulo deste livro aqui; este capítulo que você começou a ler agora. Vamos dar continuidade aos assuntos vistos no volume 1. Na seção 6.1, vamos discutir aqui várias claves relacionadas ao samba; na seção 6.2 vamos ver como tocar o acompanhamento do jongo no piano.

Conteúdo do Harmonia e Ritmo vol. 2

6.1 - Harmonia e Ritmo, vol 2 - Claves e Samba de Roda

Vamos discutir aqui várias claves relacionadas ao samba. Em particular, vamos mostrar o samba de roda e diversas variações. Essa seção do volume 2 do "Harmonia e Ritmo" é dedicado ao tantan e ao piano. Lembre, coforme explicamos no "Harmonia e Ritmo", que o tantan e o piano tem uma grande semelhança; leia lá, se precisar, um pouco mais sobre a técnica para tocar tantan. No piano a mão esquerda cuida dos graves e médios e a direita cuida dos agudos. Segurando o tantan com a mão esquerda na pele, então a mão esquerda cuidará dos graves e médios na pele, e a mão direita cuidará dos agudos no aro. No texto a seguir, falaremos apenas em tantan, mas o pianista poderá aplicar tudo isso para o piano.

Antes das novidades, vamos recapitular algumas conclusões do "Harmonia e Ritmo", vol. 1.

  1. Vamos escrever o samba em compasso 4/4, porque grande parte dos fraseados do samba duram 4 tempos.
  2. Vamos tocar na pele do tantan com a mão esquerda, enquanto a direita tocará no aro. Assim, as mãos no tantan terão a mesma função que no piano.
  3. Escreveremos a mão esquerda em um pentagrama e a mão direita em outro.
  4. A notação utilizada está mostrada na figura abaixo. A mão esquerda tocará na pele o som grave e o som médio, enquanto a mão direita tocará no aro o som agudo.

No volume 1 do Harmonia e ritmo, falamos muito dos fraseados do samba. Os fraseados são os diversos padrões rítmicos que cada instrumento pode tocar. Lá no volume 1, nós não falamos em clave. Claves, aqui, nada mais são do que os padrões rítmicos tocados por um instrumento de percussão agudo, geralmente de apenas um som, como uma boca de agogô, um tamborím ou, especialmente para nós, o aro do tantan.

No volume 1 de "Harmonia e ritmo", há uma figura onde mostramos variados fraseados de samba, para surdo, tamborím, pandeiro e agogô. Os fraseados de tantan são excencialmente uma junção dos fraseados de surdo com os fraseados de tamborim. A seguir, reproduzo esta figura, para uma rápida análise e então seguirmos em frente com as novidades. Essa partitura está disponível também em Musescore, e pode ser ouvida e editada: Harmonia_e_Ritmo_vol-2-original.mscz

Nesta figura, a parte do tamborím deve ser tocada pela mão direita no aro do tantan. Observe que a notação variou um pouco da notação que informamos, para permitir que o musescore use sons diferentes para cada fraseado de tamborim. Após o tamborím, estão fraseados de agogô e pandeiro e depois os os fraseados do tantan na pele. Ao final aparecem fraseados de jongo, que também podem ser tocados na pele do tantan, e o preenchimento tradicional do samba em semicolcheias. A figura acima é o ponto alto do volume 1 do Harmonia e Ritmo. Vamos a partir daí, acrescentar novas claves de tamborím, que são tocadas também no aro do tantan, e novos fraseados na pele do tantan.

6.1.1 - Variações na pele do tantan

Todas as variações a seguir podem ser vistas no arquivo de Musescore: Harmonia_e_Ritmo_vol-2-novos.mscz

Inicialmente, aos fraseados da pele do tantan, vamos acrescentar mais um, em andamento também médio. Além disso, acrescentamos ao final, o Cabula, que está na origem do samba. Quando, ao longo deste capítulo, apresentarmos todos os fraseados (e claves), você poderá perceber que muita coisa do samba, tanto dos fraseados de surdo quanto das claves, estão contidas no tambor do cabula e na clave do cabula.

Esses, acima, são alguns dos fraseados básicos na pele do tantan. Ou seja, são os fraseados que o percussionista toca durante a maior parte de um samba. Vamos acrescentar, a esta figura, algumas "viradas" ou "convenções". "Convenções", também chamadas de "viradas", são um conjunto de 1 ou mais compassos onde o percussionista toca um fraseado que pode ser uma variação do básico ou pode ser algo completamente diferente. Geralmente, as convenções, devem ser tocada apenas de vez em quando durante a música. A convenção que veremos agora é a que chamaremos de "surdo de terceira", porque é semelhante a um dos fraseados que os surdos de terceira de uma escola de samba costumam fazer. Essa convenção consiste "adiantar o grave do quarto tempo para o meio do terceiro tempo", acrescentando um novo grave logo após o quarto tempo, como pode ser visto na partitura a seguir. Para cada maneira de tocar tantan, acrescentaremos uma convenção de surdo de terceira que nos pareceu mais apropriada. Observe que para o tantan rápido e para o tantan médio-A, o surdo de terceira é igual; analogamente, o surdo de terceira do tantan médio-B e do tantan lento, são também iguais.

Nas convenções de surdo de terceira "rápido ou médio A", e "médio B ou lento", acima, existe uma pequena variação que fica bem interessante no tantan. Consiste em substituir o som grave logo após o quarto tempo por um som médio. O efeito é bem interessante, pois cria uma alternância entre graves e médios, que combina muito, especialmente, com a clave do samba de roda que veremos mais à frente. A seguir mostramos o conjunto completo de variações, incluindo essa variação, que chamaremos de "alternativa".

6.1.2 - Claves

Lembrando que Claves, aqui, nada mais são do que os padrões rítmicos tocados por um instrumento de percussão agudo, geralmente de apenas um som, como uma boca de agogô, um tamborím ou, especialmente para nós, o aro do tantan. Vou repetir agora as claves que aprendemos no volume 1 do "Harmonia e Ritmo". Mudei um pouco o ordenamento delas.

Vamos acrescentar algumas claves tradicionais: samba de roda, cabula e a primeira metade do samba de roda duplicada na segunda metade do compasso, que por falta de nome, no momento, chamaremos de "meia roda". Repetiremos a clave do cabula, para servir de referência para as outras.

O cabula é as vezes considerado a origem de todas as claves. Por isso foi repetido algumas vezes, para servir como referẽncia. O telecoteco e o samba de roda são, creio eu as claves principais do samba carioca. O samba de roda seria a clave principal do samba baiano. O samba chula é muito popular e serve também como batida de palmas para acompanhar quase todo ritmo brasileiro binário ou quaternário. A clave do maracatú e a do ilú também se adaptam bem ao samba. A clave que chamamos de "meia roda, é a primeira metade da clave do samba de roda repetida na segunda metade do compasso. Observe que o samba de roda é, então, formado pela clave do meia roda com a clave do samba chula.

Para sambas muito rápidos, fica muito difícil tocar o telecoteco, ou a clave do cabula, pois a primeira tem 8 batidas e a segunda 9. Nesse caso, a clave do samba de caixa é uma boa opção. A clave do samba chula e a do samba de roda também se adptam razoavelmente ao samba carioca, porém, as vezes parece que falta algumas coisa. Em particular, a clave do samba chula tem as duas metades iguais, o que a torna um pouco menos interessante; e a clave meia roda tem o mesmo problema, assim como o ilú e o maracatú. Pensando nisso, vamos explorar outras possibilidades de clave para o samba carioca rápido, além do samba de caixa.

Vamos agora acrescentar à figura acima, algumas claves novas. São claves que foram construídas fazendo-se pequenas modificações nas claves acima, especialmente no samba de roda. Essas modificações foram inspiradas no próprio cabula, no telecoteco e no samba de caixa. O objetivo é aproveitar a rapidez do samba de roda, mas tornando-o um pouco mais adaptado ao samba carioca. Em princípio, elas devem ser tocadas juntas com a batida rápida do tantan, ou algumas dessas claves novas, com a batida muito rápida; o que não impede de ficarem legais também com os fraseados médios e lentos da pele do tantan. Na próxima seção, iremos juntar algumas claves com algumas batidas da pele e comentar quais combinam melhor. Provavelmente, as 4 claves "novas", que acrescentei na figura a seguir, são tocadas por diversos percussionistas, em toda parte, porém, eu até o momento, não as vi escritas. Geralmente, em uma roda de samba, tocamos um ou alguns compassos de uma clave e vamos mudando para outras, de forma que muitas vezes nem conseguimos determinar que clave está sendo tocada.

6.1.3 - Claves junto com o toque na pele: o tantan completo

Agora que já estudamos os fraseados na pele do tantan e as claves no cilindro, vamos ver alguns exemplos de junção das duas coisas, que ficam bem interessantes. Comecemos com as mais simples óbvias.

Telecoteco com tantan lento. É a forma mais usual, usada para samba lento e médio. Para o samba rápido é melhor usar as outras formas de toque na pele do tantan.

Cabula original. É o cabula usual, tocado por um tambor e um instrumento de clave; porém, aqui fazemos tudo no tantan. Pode ser usado como uma convenção durante uma música.

Clave do cabula com tantan lento. Para ser usado como variação do telecoteco.

Samba de Caixa com tantan lento. Alternativa ao telecoteco. Serve para samba em qualquer andamento. Como o samba de caixa tem apenas 5 toques, é mais conveniente para o samba rápido do que o telecoteco (que tem 8 toques).

Samba de roda e samba chula, e variações.

O samba chula e o samba de roda são tocados geralmente em andamento rápido, então vamos mostrá-los com o fraseado "rápido" do tantan.

Clave de samba chula com tantan rápido. Como as duas metades do samba chula são iguais, então é interessante usar uma batida na pele com as duas metades iguais também. É bom lembrar que a clave do samba chula é a batida de palmas mais comoum do público acompanhando uma roda de samba.

Samba de roda com tantan médio A. Muito legal para acompanhar samba de roda e também a maioria dos sambas cariocas. Substitui muito bem o telecoteco. Se o samba for um pouco mais rápido, podemos substituir o tantan médio A pelo tantan rápido.

Samba de roda com surdo de terceira - tantan médio B ou lento. Essa é uma excelente convenção para padrão anterior. Além disso, essa convenção pode ser usado como variação de qualquer outra das formas de tocar samba que estamos vendo aqui.

Variação D do samba de roda com tantan médio A ou rápido. Esta clave é uma mistura da clave do samba de roda com a clave do samba de caixa. Os dois primeiros tempos são do samba de roda e os dois últimos são do samba de caixa. Ou, podemos pensar que é o samba de caixa, com a batida do primeiro tempo atrasada. Essa clave, junto com o tantan médio A ou com o tantan rápido são duas interessante alternativas para o samba carioca nos andamentos rápidos.

No caso mostrado na figura acima, com o tantan médio A, talvez seja melhor trocar o quarto tempo inteiro pelo quarto tempo do samba de roda original. Pode-se também alternar entre essas diversas possibilidades.

No momento, para samba rápido, tenho gostado muito dessa clave junto com o tantan rápido. Uma característica interessante é que, neste formato, as duas mãos nunca tocam juntas, o que dá uma certa leveza e ligeireza à percussão. Fica muito legal, de vez enquando, fazer a convenção do surdo de terceira. Interessantemente, durante essa convenção, parece que fica mais interessante voltar à clave original do samba de roda, como mostrado na figura a seguir.


Talvez, fique ainda melhor não tocar a batida da clave no terceiro tempo, para manter a leveza.

6.1.4 - Alguns exemplos de músicas

Como exemplo de samba de roda, eu mesmo fiz uma música, onde podemos ouvir bem a clave, chama-se: Graciacitas Cariño. Graciacitas Cariño é um samba de roda em espanhol. Foi feito a partir da palavra "graciacitas", que eu acho que inventei. Há uma versão da letra em português também. Está no youtube.

6.1.5 -Tudo junto

Lembro que todas as partituras mostradas nesse capítulo estão no arquivo musescore Harmonia_e_Ritmo_vol-2-novos.mscz. Ele é um arquivo interativo, no qual vocẽ pode selecionar que fraseados escutar. Quem quiser saber o que tem lá dentro antes de abrir o arquivo ... é a figura a seguir.

6.1.6 - Andamentos

Como apêndice deste capítulo sobre samba, vamos rapidamente discutir os andamentos do samba, ou seja, a "velocidade" com que tocamos. Antes porém, o que é andamento? Andamento é a quantidade de tempos por minuto. Tempo é aquela contagem: 1 2 3 4 1 2 3 4 ... No samba, por exemplo, um andamento 60 são 60 batidas dos surdo por minuto, ou seja, uma batida por segundo.

Os andamentos do samba podem ser classificados, mais ou menos, assim:
- De 45 a 80 é samba lento.
- De 80 a 110 é samba médio.
- De 110 a 130 é samba rápido.
- De 130 a 150 é samba muito rápido

Exemplos:
- Samba lento: samba canção e outros sambas lentos. Folha Morta de Ary Barroso, na gravação do Jamelão está em andamento 46BPM: https://youtu.be/AkEs_mTHYmg
- Roda de samba: samba lento e samba médio.
- Samba muito rápido: geralmente samba enredo.
- Gafieira: de 70 a 100. Para o dançarino de gafieira, de 90 à 100 já é considerado rápido.

Numa próxima versão, vou detalhadamente comentar quais andamentos se adaptam melhor a cada um dos fraseados estudades, e vice-versa.

6.1.7 - Cabula e samba de roda no pandeiro

Veremos agora algumas opções para se tocar cabula e samba de roda no pandeiro. Como transcrever tudo o que vimos acima para o pandeiro? Vamos aproveitar e comparar com o partido alto no pandeiro.

A figura a seguir mostra algumas possibilidades. Por simplicidade estamos representando apenas os sons mais relevantes no pandeiro; assim, os sons agudos das platinelas não estão representados, mas são a sequência comum de 4 semicolcheias a cada tempo. Note que a "variação D do samba de roda" está sendo chamada agora simplesmente de "roda-caixa". Todo o material desta figura se encontra também em um arquivo interativo de Musescore: Harmonia_e_Ritmo_vol-2-novos-pandeiro.mscz. Aguarde a próxima versão deste livro virtual, pois em breve escreverei mais detalhes à respeito deste assunto.

6.1.8 - A Clave Mágica

Considere o seguinte exercício.
Imagine um compasso de 2 tempos, tendo cada tempo dividido em 4 semicolcheias, ou seja, temos um total de 8 semicolcheias.
a) Represente todas as claves que podemos fazer com 3 percutidas, com as seguintes regras: i) Não pode haver duas batidas juntas; ii) Não pode haver mais de dois buracos entre duas percutidas. (Quem for bem curioso, poderá ver que a regra (i) é consequência da regra (ii), mas isso não é importante.)
b) Quantas claves podemos formar?
c) Quantos padrões podemos formar?

Vamos analisar esse problema. As duas regras são interessantes para que não haja percutidas nem muito próximas nem muito longe. Então, em 8 buracos podemos colocar 3 percutidas que não estejam nem coladas nem afastadas por mais de 2 buracos. Depois de brincar um poucos com esse problema, você verá que há apenas 8 possibilidades, mostradas na figura a seguir, disponível também em arquivo Musescore: Harmonia_e_Ritmo_vol-2-novos-8-claves-magicas.mscz. Observe que apesar do problema falar em dois tempos, representamos a solução em um compasso de 4 tempos, onde o 3º e 4º tempos são repetição dos 2 primeiros tempos. Fizemos assim para ficar mais fácil perceber algumas propriedades.

A letra (b) pergunta quantas são as claves. Existem apenas 8. A letra (c) pergunta quantos são os padrões. Observe que há apenas um padrão, que vai se deslocando uma semicolcheia para frente. Como são 8 semicolcheis, então há apenas 8 claves.

É interessante perceber que temos as claves do samba chula, da meia-roda e do maracatú. Há uma 4ª clave que chamamos de "nova", porque até o momento não fomos capazes de identificá-la. Observe que essas 4 claves se repetem começando pelo tempo dois. Resumindo: temos um padrão que, dependendo de onde comece, produz 4 claves: samba chula, meia roda, maracatú e clave nova.

6.2 - Harmonia e Ritmo vol. 2 - Jongo no piano

No Harmonia e Ritmo vol. 1, vimos, no final do capítulo 5, como tocar o acompanhamento do jongo na mão esquerda do piano, deixando a mão direita livre para fazer a melodia. Agora, aqui no Harmonia e Ritmo vol. 2, vamos ver como tocar o acompanhamento do jongo nas duas mãos, enquanto a melodia poderá ser cantada ou tocada por outros instrumentos.

Para começar, lembremos como é o ritmo do jongo nos tambores, e como fizemos a mão esquerda tocar sozinha esse ritmo. Isso tudo pode ser visto na partitura do "Bug Ug do Pianista Maluco"; mais abaixo coloco a música completa, mas inicialmente veja o trecho mais relevante. O compasso é 4/4, em uma época em que eu ainda não não sabia se devia escrever o jongo em 4/4 como tercinas, ou em compasso 12/8.

Na linha de baixo temos o tambor tocando 3 batidas médias, seguidas de 5 batidas graves. Na linha de cima, temos o piano tocando 3 notas médias e 5 notas graves. Veja novamente essa figura, agora em compasso 12/8, retirada no Harmonia e Ritmo vol 1.

A explicação que há lá é a seguinte: "Nos tempos 1, 3 e 4, utilizamos o primeiro grau da escala; no tempo 2 não há percussão. Utilizamos duas vezes o sétimo grau menor para caracterizar a escala mixolı́dia. A última semicolcheia fica mais interessante se for tocada mais suavemente que as demais notas, sendo apenas uma leve lembrança da 4ª variação de jongo que estudamos. O sı́mbolo abaixo da última nota indica que a nota em questão deve ser tocada com menos intensidade."

Agora queremos distribuir a percussão pelas duas mãos no piano. Um primeira ideia seria deirar a mão direita fazer os acordes junto com as 3 primeiras as batidas médias da percussão, enquanto a mão esquerda tocaria notas ou acordes graves junto com as batidas graves do tambor. Porém, isso não ficou interessante. Optamos por fazer a mão direita tocar também nos tempos 3 e 4; e fazer a mão esquerda tocar também no tempo 1. A figura a seguir mostra um compasso do jongo lento, "Amor e Luta", escrito em compasso 12/8.

Na linha de cima temos um trecho da melodia, no qual a harmonia é o acorde de Dó maior: C. As duas linhas seguintes são as mãos direita e esquerda; observe que há o algarismo "8" abaixo das claves, indicando que o acompanhamento deve ser tocado uma oitava abaixo. A mão esquerda faz simplesmente os acordes. A mão esquerda toca a tônica na região menos grave, no tempo 1; já nos tempos 3 e 4, ela toca a tônica na região mais grave. Para a batida logo após o tempo 3, utilizamos o terceiro grau. Há ainda duas batidas mais fracas que devem ser tocadas, repetindos-se a tônica, antes dos tempos 3 e 1.

Tanto o "Bug-ug do Pianista Maluco" quanto o jongo lento "Amor e Luta" estão disponíveis em diversos formatos que listo a seguir. Saliento que equanto o "Bug-ug do Pianista maluco" é uma música bastante difícil ritmicamente, o jongo lento "Amor e Luta" é bastante fácil e foi composto para que iniciantes tenham um jongo lendo para tocar, tanto na percussão quanto no piano.

Bug-Ug do Pianista Maluco

Jongo lento "Amor e Luta". Disponível em diversos formatos:


Capítulo 7 - Dicas para aprender novos ritmos

Aqui vou juntando algumas dicas e sugestões que dou para meus alunos. Inicialmente estará tudo meio misturado. aos poucos irei organizando

Parar antes do erro

Vou falar de um recurso de estudo que eu gosto muito, que usamos em aula algumas vezes, mas eu nunca explicitamente falei dele. Trata-se de repetir bastante, seja um ritmo, uma melodia etc, até o ponto onde sentimos o primeiro erro e parar ali. Primeiro, identifique o primeiro erro. Em seguida repita bastante, do início até ANTES do erro. Em seguida tente avançar apenas um batida ou nota, atingindo aquela que costumamos errar e PARANDO nela. Geralmente, ao fazermos isso, acertamos essa última batida ou nota. Repita eese trecho PARANDO sempre nessa última nota. Quando estiver bom, procure avançar um pouco mais.

Rapidez

Quando aprendemos um ritmo novo, duas costumam ser as maiores dificuldades: 1) o cérebro assimilar o ritmo; 2) a musculatura conseguir executar o ritmo na velocidade desejada, no instrumento. Ambas dificuldades são resolvidas com muita prática, e quase sempre a mesma prática serve para resolver as duas dificuldades. Quando comecei a aprender tantan, a dificuldade era principalmente rítmica: conseguir tocar o padrão do surdo na pele e o padrão do telecoteco no cilíndro simultaneamente.

No momento eu estou estudando umas melodias no cavaco, que apresentam um padrão rítmico que é muito rápido. A dificuldade para mim, nesse momento não é rítmica, e sim muscular. Sinto que minha mente consegue pensar o ritmo, mas a palheta do cavaco não consegue se mover na velocidade necessária; no tamborim o ritmo sai facilmente, mas no cavaco, a musculatura ainda não está acostumada.; vou praticando um pouco todo dia e a cada dia a musculatura fica mais apta.

Isso me lembrou quando comecei a aprender a dançar lambada, há muitos anos. Primeiro levei um tempo para entender que movimento eu tinha de fazer. Depois que aprendi o movimento, aí começou um trabalho lento, de acordar bem cedo e praticar no banheiro, de frente para o espelho, o movimento bem lentamente. Aos poucos a musculatura foi se habituando e acabei ficando um excelente lambadeiro.

É impressionante que parece que nunca atingiremos a velocidade necessária, mas um dia de prática atrás do outro e vamos aumentando a velocidade aos poucos. É interessante, nesse processo, tentar perceber se a dificuldade é muscular o rítmica. Se não conseguimos tocar o ritmo em nenhum instrumento, então é porque, provavelmente, a dificuldade é ritmica. Nesse caso, é interessante praticar no instrumento onde for mais fácil, para superar a dificuldade rítmica, até que o ritmo esteja incorporado.

Por outro lado, se conseguimos tocar em um instrumento e não conseguimos no outro, então, provavelmente, a dificuldade é muscular. A melhor prática que conheço é tocar lento prestando bastante atenção na técnica e depois dobrar o andamento e em seguida voltar ao lento. Assim, praticamos técnica e rapidez alternadamente. Importante é praticar todo dia um pouco para a musculatura ir se habituando. Além disso, praticar muito tempo em um andamento lento, no qual toquemos confortavelmente.

Bibliografia

- Grupo Nômade, 2002, " CD Cairo", Azul Music.

- Filipe de Moraes Paiva, 2011, "Pandero Mane, Ideo Piede", versão mais recente na minha página pessoal.

- Filipe de Moraes Paiva, 2016, "Um Pandeiro na Mão, e uma Ideia no Pé - Apostila 2", Portal da Educação Musical do Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, Brasil; versão mais recente na minha página pessoal.

- Filipe de Moraes Paiva, 2019, "Harmonia e Ritmo - Uma Aventura de Jongo e Samba, de Piano e Percussão", Portal da Educação Musical do Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, Brasil; versão mais recente na minha página pessoal.

- Gene Krupa, 1940, "Gene Krupa, Método para Bateria”, Talleres Gráficos de Mattera y Palmieri, Argentina.



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