Por que me lancei à construção do Partido Republicano

 

Roberto Mangabeira Unger

 

1.      O Brasil precisa de alternativa. Quer alternativa. Não consegue vislumbrar alternativa, de rumo ou de governo.

2.      A alternativa de que o Brasil precisa está centrada em três grandes pontos.

          -- Fazer prevalecer os interesses do trabalho e da produção.

          -- Fazer uma revolução no ensino público.

          -- Fazer valer o ideário republicano, desfazendo os acertos entre governantes e endinheirados para em seguida aprofundar a democracia.

3.      O que predomina em vez disso é a escolha entre a linha tucano-petista -- conformismo, adocicado com compensação social -- e um esquerdismo pobre de proposta.

4.      Embora eu contasse no PDT com grande apoio para minha visão, não contava -- constatei após sondagens nos últimos dias -- com apoio suficiente para ganhar a batalha programática, muito menos a batalha da candidatura. Algumas das adesões recentes ao PDT confirmam o quadro inauspicioso. Não estou interessado em pertencer a um partido em que se vai discutir se se vai romper com a linha dominante ou se se vai mantê-la, suavizada pelo compromisso com a educação.

4.      As aparências contam em política. As realidades contam mais. Não estou brincando em serviço. Quero ajudar a virar a mesa.

5.      Surgiu a idéia de uma iniciativa audaciosa, nos moldes da Aliança Liberal -- uma ação que recrute gente do sistema para derrubar o sistema, dessa vez pelo voto.

6.      A base social mais importante é a classe média emergente, objeto frequente de minhas reflexões. Sustento que ela já está no comando do imaginário popular: a maioria popular quer segui-la e não consegue. A grande revolução brasileira hoje seria usar os poderes e os recursos do Estado para democratizar oportunidades econômicas e educativas. Com isso, permitir à maioria seguir os emergentes. E evitar que essa cultura de auto-ajuda e de iniciativa no Brasil afunde no egoísmo familiar e no descomprometimento com a república.

7.      Do meu ponto de vista -- falo, é claro, por mim, não pelo partido -- o Partido Republicano deve ser a expressão dessas preocupações e desses compromissos. Deve ser o instrumento da alternativa que descrevi, confrontando claramente tanto com a diretriz tucano-petista quanto com o esquerdismo tradicional. Em sua primeira intervenção política, deve focalizar a eleição presidencial, buscando alianças com outras forças e reivindicando delas apoio a nossa candidatura presidencial, em troca de apoio a elas nos Estados. Não deve atuar para fazer bonito. Deve atuar para mudar o Brasil.

8.      O melhor quadro para liderar esse processo como candidato do Partido Republicano à Presidência da República é o Vice-Presidente. Se por qualquer razão, entretanto, ele não for candidato, eu apresentarei meu nome.

9.      Não tem sentido dizer que o Partido Republicano participe da base de governo só por causa da posição especialíssima do Vice-Presidente. Ele precisa de um tempo para fazer a transição de maneira compatível com suas responsabilidades, não só políticas mas também morais. Nenhuma força será mais claramente de oposição à linha dominante do que o Partido Republicano.

10.    É mentira desqualificar o partido como braço de uma igreja. Os fundadores do PMR ofereceram as estruturas do PMR a um conjunto de lideranças políticas e intelectuais que jamais seriam instrumentos úteis de ninguém, muito menos de uma organização religiosa. Basta ver quem essas pessoas são. Minha impressão é que os evangélicos não querem ser marginalizados, mas entenderam que um "partido sectário" nasceria morto. Como o resto da nação, querem ter em quem votar. O Partido só prosperá se o movimento evangélico for apenas uma de suas várias bases nas forças reais da sociedade brasileira. A opção pelo republicanismo laico está inscrito na escolha do nome do partido e das pessoas que o dirigirão.

11.    Acordemos para a realidade do Brasil e tratemos de enfrentá-la, como ela é, cheia de obstáculos tremendos e de oportunidades ocultas.

 

Roberto Mangabeira Unger

1 de outubro de 2005

 

Folha de São Paulo

 

São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

 

Mangabeira Unger anuncia adesão ao novo partido

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O senador Marcelo Crivella (RJ), um dos fundadores do PMR, anunciou ontem que Roberto Mangabeira Unger, professor de direito na Universidade de Harvard, mandou dos EUA a sua ficha de filiação ao partido para que fosse abonada por José Alencar.
Filiado até recentemente ao PDT, Mangabeira Unger enviou uma mensagem aos novos correligionários, denominada "chamamento aos meus concidadãos", na qual diz que "o Brasil precisa, quer e ainda não vislumbrou uma alternativa que organize o nosso esforço nacional". Para ele, essa alternativa deve contemplar os interesses "do trabalho, da produção e da educação".
Outra adesão festejada pelas cerca de 700 pessoas que acompanharam o evento de ontem, em Belo Horizonte, foi a do cantor de pagode Netinho.
Crivella, em discurso, explicou aos presentes que, embora os evangélicos tenham tido "participação fundamental" na formação do PMR, a sigla "não é um partido evangélico".
"O partido também dos espíritas, dos católicos, dos umbandistas dos que não têm religião, mas têm amor no coração a este país e querem construir conosco uma mudança, uma transformação", afirmou.

 

 

Jornal do Brasil, 30/10/2005

Partido lança Alencar a presidente

BRASÍLIA - O recém-nascido Partido Municipalista Republicano (PMR) em pouco mais de dois meses mudou de nome para Partido Republicano Brasileiro (PRB) e já badala candidatura própria à Presidência da República. Ontem, integrantes do partido se reuniram para lançar o vice-presidente José Alencar candidato à presidência pela legenda em 2006. Alencar tentou diminuir a importância do ato dizendo que ainda é cedo para candidaturas. O vice-presidente votou a criticar a política econômica que, segundo ele deixa a população ao ''bel prazer dos experts do Copom'' e também fez ataque velado a Lula.
- Não vamos fazer discurso demagógico do tipo : Todo brasileiro tem direito a isso ou àquilo - em referência às falas de Lula sobre o Fome Zero em que repete que ''todo brasileiro tem direito a comer três vezes ao dia''.
Alencar foi questionado sobre a declaração e respondeu que tratava-se de constatação ''genérica''. Apesar do ataque velado, ele não descartou a possibilidade de aliança em 2006 com Lula. Porém, afirmou que todo partido deseja uma candidatura própria.
- Em política ninguém descarta nada - ponderou.
O objetivo da cerimônia era anunciar a mudança no nome da legenda para Partido Republicano Brasileiro (PRB), mas o clima de palanque eleitoral predominou nos discursos. O senador Marcelo Crivella (RJ) e o filósofo Mangabeira Unger teceram muitos elogios a Alencar e disseram que o vice-presidente não estava na sigla para ser ''candidato a governador nem a senador''.
O PRB nasceu de movimentos ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. No entanto, os fundadores fazem questão de repetir que a nova legenda é um partido laico.


Folha de São Paulo, 18/10/2005

ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Com que forças podemos contar?

Com que forças podemos contar os que queremos ver o país salvo, na próxima sucessão presidencial, da falsa alternância entre petistas e tucanos?
Quem define escolha de presidente no Brasil é o povão. Em eleição presidencial, o povão tenta penetrar a neblina das enganações e perceber quem é quem. Na falta de alternativa real, guia-se pela lógica do mal menor. Muito teria ainda de acontecer -a título de comprometimento do presidente nos escândalos e de revés econômico- antes que o eleitorado popular viesse a preferir um tucano que se apresente com o discurso careta do "choque de gestão" a um ex-operário que distribui ajuda a pobres ao mesmo tempo em que distribui juros a endinheirados.
O povão, porém, não está contente. E não hesita em correr riscos na busca, penosa e frustrada, de uma saída. No exercício desse esforço, procura informação e referência nas duas classes médias do país: a tradicional e a dos emergentes e, sobretudo, nas minorias mais informadas, organizadas e atuantes de cada uma delas. Muitos nessas duas classes médias estão hoje despolitizados pelo desalento. Alguns, porém, já passaram do nojo para a inconformidade e da inconformidade para a militância.
Há, na classe média tradicional, minoria com imensa influência: a do aparato de segurança do Estado -juízes, procuradores, promotores, policiais federais e oficiais das Forças Armadas. Pequena parte dessa minoria se deixou corromper. O resto, íntegro e exasperado, insiste em juntar a afirmação do princípio republicano -a defesa de um Estado que não atue a serviço de interesses privados- com a construção de outro rumo nacional. Rumo que ponha o país para trabalhar, subordinando os interesses financeiros aos interesses do trabalho e da produção, e que capacite os brasileiros, efetivando uma revolução no ensino público. Em torno desse grupo central está o círculo concêntrico maior dos funcionários públicos e do professorado, também inconformados com o ataque que os governos tucano e petista desferiram contra o Estado e contra a universalidade de sua prestação social.
Há, na nova classe média -a dos emergentes-, uma minoria com influência potencial até maior: a dos movimentos sindicais que surgem fora das centrais estabelecidas, a dos movimentos religiosos, evangélicos ou católicos, que querem politizar seus filiados e resguardá-los do egoísmo familiar, e a dos clubes e associações que formam o ambiente desconhecido em que se constrói nova cultura popular brasileira de auto-ajuda, iniciativa e cooperação.
Essas duas minorias, com papel liderante em uma de nossas duas classes médias, não compartilham o cinismo comodista dos que desesperam da política. Não aceitam que o país tenha de optar entre duas vertentes do mesmo projeto anti-republicano, antinacional, antiprodutivista, antitrabalhista e anticapacitador. E se dispõem a lutar para que o Brasil tenha, já, alternativa, de projeto e de poder. Aí estão as bases sobre as quais temos de construir. Aí está o caminho para dar à maioria popular o sinal que ela procura. Aí está a condição para providenciar em 2006 uma surpresa libertadora.

Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.
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Mangabeira Unger ingressa no Partido Republicano


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Para além da corrupção

Entrevista Mangabeira

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