A Lua Negra
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A noite chega e com ela recordações... recordações de dor, de ódio, de amargura, de medo... Enquanto todos dormem ele chora, encerado neste manicómio, nestas quatro paredes o enclausuraram, chamaram-no doido, lunático... lunático!? Se eles soubessem a verdade, a verdade que se esconde por detrás de um véu negro, visível aos nossos olhos durante a noite, rainha dos amantes... Tolos!!!... E chamaram-me louco...

    Os gritos rompem as barreiras de betão, ensombrando as noites, calando os seres da noite, fazendo reinar o silêncio, o seu coração sagrando pedia vingança!!! Sua alma ferida, implorava paz. Mas depois de tudo a paz era impossível, e antes viver eternamente na tortura, que na paz, vivendo em ilusão e mentira. Pois só ele sabia a verdade.

    Tudo começou no final do século XXI, quando um grupo de cientistas liderou um projecto para construir uma colónia espacial no lado negro da lua. Loucos... mal sabiam eles!! Todos os preparativos foram tomados ao pormenor, os colonizadores era um grupo de vinte homens e mulheres, escolhidos no seio das melhores forças armadas de elite do mundo. mas por melhores que fossem, nada nem ninguém os podia preparar para o que aconteceu...

    O dia da partida aproximava-se, ultimavam-se os preparativos. Por fim o dia chegou e os vinte soldados, partiram aventurando-se no que pensavam conhecer e ser seguro, mas uma vez mais o futuro veio demonstrar que tudo o que temos como dados adquiridos, dogmas seguros, verdades imutáveis, podem-se desmoronar, e o que é verdade torna-se mentira; a segurança insegurança, a justiça injustiça, o sonho... pesadelo. Tudo demonstra que não podemos confiar em nada, nem em ninguém, nem em nós próprios. E nem sempre o perigo mais devastador é visível e palpável... o mal escolhe estranhas e surpreendentes formas para nos torturar e destruir. Pobre mundo que enclausura as poucas mentes sãos e deixa em liberdade os loucos..., os lunáticos. Que mentira é esta em que vivemos?! Quem nos controla? Passaremos nós de meras marionetas manipuladas??

    A viagem foi curta, chegamos finalmente, a odisseia começara, a escuridão cobria tudo, a região estava envolta na penumbra das trevas. A quietude reinava, as crateras esculpiam esta face escura, as rochas soltas eram varridas pelos ventos que sopravam incessantes. Todas as peças se encaixavam neste puzzle desolador. Apesar da temperatura negativa que se fazia sentir sobre a face gelada da lua, os nosso fatos sufocavam-nos, sugando a vida ao pouco ar fresco que restava. Em pouco tempo todos estavam ocupados, tudo corria sem problemas, mas estes viriam... E eles começariam no dia seguinte: cinco pioneiros começaram a sentirem-se indispostos, mas todos pensamos que poderia ter sido uma intoxicação alimentar, tal como o médico. Por cada dia que passava eles enfraqueciam cada vez mais, definhavam cada dia que se escapava, aqueles corpos robustos pareciam esqueletos... Era como se algo lhes sugasse a vida, como se algo no seu interior os devorasse. Os dias deram lugar às noites, e a vida à morte, os cinco bravos haviam perecido às mãos da ceifeira negra...

    De acordo com as nossas ordens comunicamos ao comando na terra, que nos ordenou que continuássemos a missão. E assim fizemos. O médico continuava a não achar explicação para a morte daqueles cinco soldados, fazendo uma autópsia para determinar o que os tinha levado à morte. Mas o pobre médico nada encontrou, absolutamente nada. Apesar do choque os restantes mergulharam no seu trabalhos afogando a eventual mágoa e dor. Mas isto era apenas o começo, porque o pior estava para vir. E de facto não tivemos de esperar muito, o médico, subitamente começou a comportar-se de modo estranho, até que um dia, vimos algo que faria despedaçar o mais forte penedo, o médico efectuava uma autópsia, mas ao contrário do que se esperava o suposto cadáver não o era, ou seja, o médico fazia a autópsia num soldado vivo.... De imediato ele foi aprisionado e a sua vítima resgatada das mãos pérfidas do malvado médico, era o tornar realidade de um clássico, o médico tornara-se num monstro. A pobre vítima acabaria por sucumbir, enquanto o criminoso vivia. Logo cresceram no seio da colónia sentimentos de ódio, de imediato a base terrestre foi contactada, que nos mandou regressar de imediato. Mas antes que pudéssemos cumprir essa ordem, o inferno instalou-se na colónia, os treze soldados haviam linchado o médico e deliciavam-se num banquete do seu corpo como chacais deliciando-se numa carcaça capturada. Subitamente um deles fica-me, e os seus olhos... MEU DEUS!!! Os seus olhos... eram sangue, ódio dor... morte, e naquele momento, juro ter visto a essência do mal.

    Assustado liguei o mecanismo de autodestruição da colónia e fugi dali, fugi para a terra e só quando já me encontrava em pleno vazio cósmico, encontrei a paz e o descanso necessários para um sono sanador. Chegado à terra tinha uma escolta militar, que me levou ao comando, onde expliquei tudo o que vira, e que tinha acontecido. Mas tomaram-me por louco, louco???... EU??? Loucos são eles. Disseram que tinha enlouquecido e morto os restantes e destruído a colónia. Mas não compreenderam que o fiz para salvar o universo, pois naquele lugar ermo algo reside, e eu via a verdade. Só eu sei a verdade. A verdade... a verdade é tortura, dor. A verdade é uma loucura sã. E hoje aqui estou chorando, assistindo ao nascer de cada dia, lamentado não ter tido coragem para enfrentar o meu destino, fugindo. Hoje e sempre, assisto enclausurado e despedaçado à dança do dia com a noite, esperando o beijo frio da dama negra...



 

©Lord Raven

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