A Jazida
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  Ainda hoje me pergunto o que teria acontecido naquele dia. Apesar de n�o passar de uma nuvem na imensid�o azul do meu pensamento,  a todos os momentos de cada dia aquela recorda��o me atormenta. Agora vivo nesta turba de pesadelos que se encerra em min, Deus tornou-me carcereiro do meu ser. Nestas quatro paredes vivo acorrentado por correntes de vidro, amorda�ado por esta morda�a que n�o vejo. O sil�ncio esmaga os meus ouvidos, que choram, choram de dor, l�grimas que me escorem pelo rosto, se pelo menos esta dor surda se calasse. Imagens aterradoras percorrem-me a mente procurando vencer-me pelo cansa�o e fadiga. Eu tinha tudo: um bom emprego, amigos, tudo... mas tinha de ser ambicioso, sentia-me s�, apesar de rodeado de amigo, sentia que me faltava algo, quando a noite chegava, eu sentia toda a sua for�a invadir-me, tornava-me melanc�lico, e na escurid�o chorava... Ent�o apareceu ela, quase perfeita, tal como uma anjo de morte. A sua beleza ofuscava a mais forte chama, a pr�pria lua parecia tornar-se p�lida perante a sua presen�a.

    Ainda me lembro, como se fosse hoje, o momento em que a conheci: o h�lito salgado do oceano soprava ligeiramente na minha face, os dourados gr�os de areia estendiam-se diante min, a lua esbo�ava um sorriso envergonhado. Tal vagabundo sem rumo vagueava pelas dunas, abandonado aos meus pensamentos, minha �nica companhia era a velha gaivota, que navegava nas ondas do vento, ao sabor da melodia que o mar entoava. Misteriosamente um semblante irrompe das ondas, uma deusa havia nascido, sua beleza inebriava os meus sentidos, mas a noite � caprichosa, e o luar que iluminava t�o esbelta figura, esvaneceu-se em escurid�o, ofuscando a minha vis�o, quando o luar regressou, a sereia havia voltado, com certeza, aos reinos de seu pai Neptuno. Desinteressado continuei meu passeio nocturno, afogando a minha solid�o nos meus pensamentos.

    Mas o maior desinteresse, � o maior interesses. Oh!! Que fogo era este que consumia as minhas entranhas. Hoje, v�s digo, o amor � dor, mas aquele que diz que n�o quer amar � louco, porque amor � viver, e quem nunca amou n�o viveu realmente, apenas vagueou angustiado na sua solid�o, afogando-se na m�goa do desespero, ardendo na dor da solid�o. Esta era a imagem no espelho que eu vivia todos os dias da minha vida, at� a conhecer, independentemente do que aconteceu, sinto que vivi, por aquelas escassas noites vivi... pois amei!! Depois... morri,,, morri para o amor, morri para a vida... Pouco me importa que hoje me chamem louco e que me persigam, pois por breves instantes fui livre, por ef�meros momentos vivi!!!

    Outro dia se havia passado, a noite renascia, cobrindo com o seu manto negro a luz do dia, o mar cantando belas can��es de embalar, adormecia os peixes que faziam dele seu leito. Passeava ensombrado pela minha solid�o, quando ao longe vejo sair das �guas a filha de Neptuno, qual sereia enfeiti�ada, e naquele momento meu cora��o tornou cativo. mas antes que me pudesse dirigir aquela Afrodite que cavalga as ondas na sua concha dourada, uma voz ao longe clamava pela minha presen�a... Mas o destino n�o perdoa, e na noite seguinte, finalmente, conheci a bela donzela de seu nome Isabelle Renoir, qual crian�a desajeitada percorri a praia em t�o apraz�vel companhia. O seu cabelo negro ofuscava o luar, caindo numa cascata celestial sobre os seus ombros, seus olhos verdes reflectiam o sabor salgado do mar, sua pele alabastro enfeiti�ava meu olhar, seu andar delicado como o orvalho matinal. Embriagado pelos sentidos, o tempo voou e em breve seria meia-noite, mas antes ela ria-se embora... Durante as pr�ximas noites encontramo-nos na praia e sempre � mesma hora ela ia-se embora, um pouco antes da meu noite... Apesar de curioso, nada perguntei...

    Mas a felicidade � ef�mera, e o meu cora��o ficaria de luto por minha tia. Nessa manh� fat�dica, a verdade revelou-se aos meus olhos, mas eu chamei-lhe mentirosa..., teria de ser engano... Ao lado da campa de minha saudosa tia, estava uma bela jazida de 1899, seu morador??? Isabelle Renoir... que havia morrido afogada. Mas n�o... n�o poderia ser a mulher que todas as noites eu tomava nos meus bra�os, devia ser uma coincid�ncia...

    A noite chegou e minha m�goa afoguei no rega�o de minha amada, mas uma vez mais ela iria embora � mesma hora, mas seria a �ltima noite que ela faria tal. na noite seguinte coloquei-lhe um tranquilizante na bebida, e num abra�o eterno ela adormeceu nos meus bra�os, a lua sorria desdenhosa, o mar embalava-nos com o seu doce sabor a viagens de mil aventureiros, no ar as gaivotas contavam ao vento contos de vi�vas e de sereias. L� longe o sino da igreja solta doze longas, fatais, badaladas, ent�o a metamorfose deu-se, onde antes jazia uma bela donzela, jazia, agora um esqueleto, acusando a passagem do tempo. A bela deu lugar ao monstro...

    Ainda hoje tento apagar esta imagem da minha mente, mas em v�o. Por vezes temos o suficiente, mas egoisticamente queremos mais, queremos tudo... para depois tudo perder... Devemos pagar pelos nossos erros, assim sou eu... A todos os momentos pago pelo meu, at� � eternidade. Tinha tudo, mas queria mais, agora nada tenho...



 

�Lord Raven

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