O Modernismo
A ARTE REBELDE DO NOSSO TEMPO
As catástrofes sociais que abalaram o mundo na primeira metade do século XX mostraram o quanto era falso continuar fazendo música em termos de passado. Pesquisas rítmicas, o ressurgimento de formas musicais antigas para resultados modernos, o uso de várias tonalidades
(politonalismo) ou de nenhuma (anatonalismo) não constituem mero exotismo. Simplesmente refletem, com a força do real, a verdade da nossa época.
Quando Igor Stravinsky (1882-1971) estreou a sua
Sagração da Primavera, a 29 de maio de 1913, foi um escândalo. mas o escândalo passou e a influência do compositor cresceu sem cessar, a despeito de todos os ataques da crítica.
Uma corrente agressivamente nacionalista desenvolveu-se com
Béla Bartók (1881-1967) e Zoltán Kodály (1882-1967), na Hungria, fazendo com que os compositores de todo o mundo volvessem sua atenção para o interior de suas respectivas pátrias, revivificando o mesmo espírito que decênios antes levara à formação do Grupo dos Cinco, na Rússia. Nos Estados Unidos,
George Gershwin (1898-1937) valeu-se do "jazz", em busca das fontes originais da expressão musical de seu povo. Antes dele,
Edward Alexander MacDowell (1861-1908) pesquisaria o folclore indígena, estilizando-o em trabalhos de nítida influência alemã. No Brasil,
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) também buscou no folclore a inspiração para sua obra.
Alexandre Levy (1864-1892), Alberto Nepomuceno (1864-1934) e
Ernesto Nazareth (1863-1934) se haviam antecipado a ele, explorando os elementos indígenas, africanos e europeus que originaram a nossa cultura. Contudo, foi Villa-Lobos quem fez com que a música brasileira alcançasse sua expressão mais genuína, divulgando-se internacionalmente.
Uma outra corrente da música contemporânea busca inspiração nos barrocos ou nos clássicos, como Monteverdi, Pergolesi e outros. É o
Neoclassicismo ou o Neobarroco. Stravinsky passa por esta fase, em novo momento de sua diversificada carreira.
Erik Satie (1866-1925) contribuiu com um movimento também anti-romântico, desenvolvendo, na mesma época de seu compatriota Debussy, um idioma harmonicamente arrojado. Partindo de Satie, reuniu-se na França o
Grupo dos Seis - Francis Poulenc (1899 - 1963), Darius Milhaud (1892 -
1974), Arthur Honegger (1892 - 1955), Louis Durey (1888 -
1979), Germaine Tailleferre (1892 - 1983) e Georges Auric
(1899 - 1983), aos quais coube a implantação do Neo-Impressionismo, em têrmos de desligamento de Debussy.
Ao mesmo tempo, o alemão Paul Hindemith (1895-1963) e
Benjamin Britten (1913-1976), na Inglaterra, empenhavam-se em reconquistar o público, fazendo
"música funcional", mais habilidosa e acessível.
DODECAFONISMO
As investidas feitas por Wagner contra o sistema tonal foram retomadas por
Arnold Schöemberg (1874-1951) para realizar radical revolução. Schoenberg levou às últimas conseqüências o cromatismo wagneriano, provocando a superação da tonalidade, levando a música à atonalidade. Posteriormente, organizou um sistema para compor dentro da atonalidade: a Teoria do Dodecafonismo, que se baseia na escala dos Doze Sons (sete tons e cinco semitons). Sua grande novidade é pretender dar a cada um deles a mesma função numa obra musical. Vai formar novas séries ou escalas, empregando livremente os Doze Sons da escala cromática.
A ANTIMÚSICA PARA SALVAR A MÚSICA
Os austríacos Alban Berg (1885-1935) e
Anton von Webern (1833-1945) foram os seguidores mais destacados da "Escola de Schöenberg", deixando obras de extraordinária importância.
O francês Pierre Boulez (1925), por seu turno, levou às últimas conseqüências o
Dodecafonismo, explorando-o sob os aspectos do ritmo, da dinâmica, do timbre, etc. Em 1948, ainda na França,
Pierre Schaeffer (1910) introduz a Música Concreta. Esta se baseia na pesquisa de "sons concretos", como o barulho do avião, o tilintar de vidros, o canto das aves, etc., os quais são captados por gravadores e tratados em aparelhos eletrônicos.
Como decorrência disto surge a Música
Eletrônica, que emprega sons tratados em laboratórios.
Ao lado da Música Aleatória, que é organizada à medida que se processa a execução, esses gêneros constituem o fenômeno mais recente e mais controvertido de toda a história da música.
Guiados pela moderna teoria da comunicação de massas, e tendo como lema a "antimúsica para salvar a música", seus cultores se permitem total liberdade para chocar ou divertir o público.
A fúria, o desgosto, o estarrecimento e o entusiasmo provocados pelas apresentações dessa
Música de Vanguarda refletem com clareza o entrechoque de conceitos e a guerra de gerações que caracterizam o momento atual.
É certo que a Música Contemporânea não se esgota aqui. Os recursos hoje disponíveis para a criação sonora são muitos e variados. Largos horizontes se abrem e o mundo dos sons ainda tem muito a oferecer.
Mas os rumos que a expressão musical seguirá são imprevisíveis. Quanto a isso, não há dúvida. |