São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009
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Brasil, um país de todos... os amigos do Rei
Depois de ter justificado mensaleiros e congêneres, defendido o uso de passagens
pagas pelo erário público, Severinos, Renans, Jáders e outras barbaridades, o
presidente Lula, que outrora classificara os deputados como bando de picaretas,
arvora-se agora em defensor do senador José Sarney.
O revisionismo de Lula é espantoso, mas devemos reconhecer que o presidente está
fazendo escola e servindo de referência ao Sarney. Vejamos: Sarney não sabia que
recebia verba para moradia e entende que a crise é do Senado. Certamente também
não sabia que seu neto, sobrinhos, primos e outros aparentados trabalhavam na
Casa dona da crise, tal como Lula não sabia das ações dos aloprados do PT, nem
do mensalão. Qualquer semelhança não é mera coincidência, Lula é a referência.
Como as pessoas mudam. Há dez anos, Lula era um cordeiro e Sarney, um lobo. Em
1989, Lula alardeou para a imprensa a abusiva e impune grilagem da família
Sarney, mas ao longo do tempo os dois foram se ajustando. Em 2003, foi Lula quem
arquivou o Caso Lunus, com sete versões diferentes dos envolvidos, mas nada
convincentes. Em 2009, sob a bênção de Lula, Roseana Sarney, que perdera as
eleições, foi empossada governadora e José Sarney, o imortal da ABL, foi, pelo
presidente, mesmo à distância (estava no Cazaquistão), absolvido de qualquer
irregularidade no Senado.
Lula, ao longo dos mandatos, absolveu e defendeu todas as incontestáveis e
sucessivas irregularidades de assessores, correligionários e “ministros da
casa”. De onde se conclui, inequivocamente, que todos são farinha do mesmo saco.
Livramo-nos de uma ditadura opressora e vivemos sob outra, que também nos oprime
e nos faz passar por idiotas. Senadores e deputados abusam de nossa ingenuidade
(?) para perpetrarem toda sorte de saque aos cofres públicos. Onde estão a
classe artística, o movimento estudantil e as passeatas que lutaram pela
redemocratização do país? Por que não lutam pela remoralização desta democracia
mambembe? Ou somos coniventes com essa ditadura congressista, talvez achando que
maracutaia sob a égide do voto pode? Assim como se exigiu eleições livres e a
saída de Collor, deve-se exigir a saída desses congressistas imorais e de quem
os defende e apóia.
Senhores responsáveis e fustigados pela desonra e imoralidade que nos assola!
Será que teremos que ver todas as luzes de mais um baile de corrupção e
imundície sem declararmos a novíssima República? Será que teremos que recitar
mais alto o “Discurso aos moços” de Rui Barbosa? Será que teremos que nos
inspirar em Danton e Robespierre, mesmo sem o Guillotin? Acabemos com mais esse
baile da Ilha Fiscal! Onde está o nosso Marechal Floriano? Por muito menos o
país já gritou “Fora, Collor!”. Será que agora gritamos como gado, seguindo para
o abate que sofremos hoje? Enquanto alguns se beneficiam com a indecência, o
povo desgraça sua dignidade. Basta!
Com a
veemente defesa que o presidente Lula fez do amigo, homem incomum e presidente
do Senado, Jose Sarney, passei a entender o verdadeiro sentido do slogan
multicolor adotado pelo seu governo: “Brasil, um país de todos”. É claro, como
nada é perfeito, falta o complemento: “desde que sejam amigos do rei”.
Leia também:
Sábias palavras, Presidente
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Valter Bernat é advogado e escreve nesta
coluna às sextas-feiras e mantém o periódico
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