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PAULA TOOTHS
A "minha" língua portuguesa
LONDRES (ING) -
O que você esperava de “hoje” no recreio do
primário?
Eu queria ser médica.
Minha irmã veterinária. As circunstâncias levaram-me à comunicação e ela para o
mercado financeiro. Nunca imaginei que cruzaria o mundo inteiro e conheceria
cada um dos oceanos.
Continuo orgulhosa por falar, ler e escrever em português. Idioma deveria ser
obrigação e não um prazer. Faz parte de nossa cultura. Faz parte de nossa
memória. Faz parte de nós.
Eu sonho em português.
Não acreditaria se alguém me contasse que os fascículos de “Conhecer” ou as
edições da “Barsa” sairiam de cena. Pior, chegaria uma tal de internet que nos
levaria a qualquer canto do mundo ou a qualquer informação. Mesmo que eu fosse a
mais preguiçosa das criaturas, teria o mesmo conteúdo nas mãos.
Se a “tia” Eloisa, já na primeira série do ensino fundamental adiantasse que não
precisaríamos aprender concordância ou acentuação porque os corretores do
computador fariam por nós, ficaria decepcionada. Teria estudado cada um dos
capítulos dos livros de gramática do mesmo jeito, mesmo que algum colega
enviasse um telegrama dizendo que esta mesma gramática seria “assassinada” pela
nova geração.
Hoje, mais de duas décadas depois, eu não teria nem o trabalho de abrir o
envelope. Seguramente, um e-mail teria sido enviado.
Provavelmente, a minha resposta seria: “Ok. Tks.”
A crise mundial teria atingido até a nossa língua?
E separação de silabas? Aprendi com o meu pai de uma forma diferente, mas que
sempre deu certo. Jogo das palmas. E hoje, futuro para aquele tempo, ninguém
mais separa sílabas.
Na minha casa era sempre divertido aprender gramática.
Minha mãe adorava zeugma:
- Você gosta de bagunça; eu, casa arrumadaa.
E na mesma frase, eu ainda buscava diversas outras figuras de construção.
Na minha época, os educadores ainda ensinavam a origem das palavras. Aprendiamos
o “porque” das coisas.
Estes porquês fazem falta e hoje encontramos uma geração perdida. Sem sonhos.
Sem esperanças.
Sem gramática.
Também, nunca esquecerei que Ipanema é palavra indígena e significa água ruim,
assim como Uberaba, água cristalina.
Talvez a analise morfológica tenha casado com a sintática. A Fonética tenha
ficado solteira. Porém, cada vez mais escuto que ela, a fonética, sofreu muitos
acidentes nas estradas dos últimos anos.
Será que apenas a estilística teria sobrevivido? Seria essa afirmação denotativa?
Não creio.
Observo que os adolescentes são conotativos e acham que estão na moda. As
palavras usadas de forma correta tem poder. Pena que eles não percebam no devido
tempo.
Até hoje, na cabeceira da minha cama tenho um dicionário bem gordinho, para que
a minha língua não seja perdida.
Mas os melhores presentes que ganhei dos meus pais, sem duvida, foram as
enciclopédias gramaticais.
Consoante minha experiência, falta educação para nosso país.
Que ressuscitem a nossa língua!
Que não façam morta a nossa gramática!
Termino com Litotes e outras figuras de linguagem e de estilo combinadas: Não
estou nada contente com a “nova” gramática distribuída nas bocas do Brasil.
Se líderes políticos enterram o idioma, o que devemos esperar da multidão?
E que ensinem o nome de nossa república federativa ao mundo. BraSil. Com S.
Sem antonomásia, mas antes de cobrarmos os gringos, deveríamos cobrar os gorilas
que nos representam. Pelo menos um trecho do hino deveria estar na ponta da
língua.
Se avaliada, a composição centenária gera muitas respostas para a atual
circunstância.
E assim, termino: “Dos filhos deste solo es
mãe gentil.
Pátria amada, Brasil.”
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Paula Tooths, é jornalista especializada em produção de cinema e TV em
Londres
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DOMINGO
22/10/2006
Paula Tooths é
jornalista
especializada
em produção de
cinema e TV em
Londres
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