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STEFAN KUPER

"Überlegungen zur Weltmeisterschaft 2006 aus deutscher Sicht" ou "O pensamento alemão na Copa do Mundo de 2006"

"Tschüß, wir sehen uns im Finale!"

Esta poderia ser a frase de Michael Ballack para Lúcio e Zé Roberto, seus colegas na equipe do Bayern de Munique, no final da temporada da Liga alemã, em maio de 2006. A tradução literal é: "Tchau, nos vemos na Final!"

De um lado, esta é a frase que os experts em futebol diriam, afinal o Brasil é a equipe "extra-classe" ou "meta-classe" no futebol mundial. Ou seja, já superou a chamada classe "A" futebolística. Do outro lado, a frase mostra a grande expectativa dos alemães de estar na final, apesar da seleção dona da casa não ter grandes estrelas e não ter realizado grandes partidas nos últimos tempos. Mas, ser o país sede da Copa do Mundo não é para qualquer um. E esta é a razão pela qual a expectativa dos alemães em ganharem esta Copa é tão alta.

Desde a última sexta-feira, o caminho para a "Traumfinale" (final do sonhos) já está definido. Em Leipzig, na ex-Alemanha comunista, a sorte dos oito grupos do campeonato foi selada numa grande cerimônia. Heidi Klum mostrou que pode fazer mais do que desfilar por uma passarela da moda: é capaz de moderar um espetáculo deste porte e ainda chutar a bola para o público no ângulo exato.

O outro moderador, o jornalista esportivo e talk-show-man Reinhold Beckmann, ficou tão fascinado com a performance da colega que quanto mais decorria o evento, mais oportunidades ele aproveitava para colocar a "mão boba" bem apertada na cintura da modelo. Chamou tanta atenção que até a neutralidade em pessoa, o suíço Markus Siegler, diretor de Comunicação da Fifa - que foi quem conduziu o sorteio das chaves com um charme peculiar em várias línguas, já que é poliglota - fez um comentário sutil ao entrar no palco, dando a entender que Beckman estava dando um "showzinho" a parte, o que era desnecessário.

Mas dentre os milhões de espectadores nos países participantes da Copa do Mundo, os iranianos com certeza não entenderam nada. Como nos Estados Unidos, que desde o "Nipplegate" - o caso do seio à mostra de Janet Jackson que foi exibido pela TV - a apresentação do Grammy e do Oscar é mostrada com "delay" (um atraso de alguns segundos), o mesmo aconteceu no Irã nesta cerimônia da Copa. Tempo suficiente para os "mullahs" cortarem todas as cenas com Heidi Klum, porque acreditava-se que ela estaria vestida de maneira mais comportada. Ao contrário, na Alemanha, todo mundo achou o longo azul da modelo extremamente conservador. E pensaram correto, já que ela usava, como de costume, uma mini-saia. Só que o diretor do evento, mandou Heidi Klum trocar de roupa pouco antes do espetáculo começar. Na Polônia também ninguém pode vê-la. Mas o motivo foi outro. Ninguém se preocupou a tempo com os direitos de transmissão. Mas todos sabem que a seleção polonesa não jogará desta maneira caótica no grupo A da Alemanha. Os poloneses passaram pela classificação de forma bem mais organizada e superior.

Apesar disto, a Polônia nunca ganhou um único jogo contra a Alemanha. A última vez em que as duas seleções se enfrentaram, os dois gols marcados na partida foram do time alemão: do agora técnico Jürgen Klinsmann e do empresário da equipe Oliver Bierhoff. Isto há quase 10 anos. Mas inesquecível mesmo, na Alemanha, foi o jogo chamado a "batalha na lama" em Frankfurt, 1974, quando o notável Gerd Müller, num campo completamente encharcado e praticamente impossível de se jogar, já que a bola mal rolava em campo, marcou o único gol da partida colocando a equipe na final contra a Holanda e mandando os poloneses de volta pra casa.

Os jogadores alemães de origem polonesa, como o jovem Podolski - talvez a revelação que traz mais esperança nesta nova geração sob o comando de Klinsmann - Klose e Sinkiewicz -, estão olhando além do jogo contra o vizinho, mas eles se sentirão orgulhosos se a Polônia conquistar a segunda posição no grupo. "Assim toda a minha família ficaria feliz", disse Podolski.

O técnico Klinsmann confessou: "Poderia ter sido pior!" Tirando a Polônia, a Alemanha tem pela frente Equador e Costa Rica. Para o Equador que ganhou do Brasil em casa na fase qualificatória, "os ares" da Alemanha serão outros. A equipe só vai encontrar ar rarefeito nos pés dos adversários. Já a Costa Rica nunca conseguiu chegar às Oitavas-de-final numa Copa do Mundo.

No dia seguinte à cerimônia do sorteio, o Grupo A virou piada no "Wetten Das?", programa de maior audiência das noites de sábado na TV alemã. O apresentador, Thomas Gottschalk, ironizou o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2006:  "Com a República das Bananas de um lado (em alusão à Alemanha) e a Costa Rica do outro", isto não está cheirando muito bem, da mesma maneira que a recente contratação do ex-chanceler alemão Gerard Schröder pela Gazprom - uma das maiores empresas de gás da Rússia - com um salário milionário". É que em setembro último,  10 dias antes de perder as eleições, Schröder foi a Moscou assinar um grande contrato com a mesma empresa para a qual trabalha agora. A Gazprom vai implantar a tubulação de gás da Alemanha até a Rússia. No mínimo, suspeito!   

Klinsmann quer observar Equador e Costa Rica de perto. "Não é muito longe da minha casa", afirma o técnico com um sorriso. É que nos últimos meses ele vem sendo criticado permanentemente por viver na Califórnia e voar para a Alemanha só de vez em quando. Muitos jogadores da seleção brasileira também moram em outro continente, da mesma forma que o técnico alemão e ninguém se importa com isto. Talvez seja um sinal de que, tirando a euforia dos responsáveis pela DFB (Deutscher Fußballbund), a Confederação alemã de futebol, que tem à frente o onipresente "Kaiser" (Franz Beckenbauer), também existe um nervosismo de que a grande expectativa do povo alemão não se concretize.

"A vantagem dos jogos em casa pode acabar virando uma maldição", disse outro "exilado" nos Estados Unidos, o expert e campeão do mundo, Mario Kempes, autor de dois dos três gols da vitória da seleção argentina na final contra a Holanda, em 1978. Sobre os favoritos ao título, Kempes falou de forma cuidadosa: "A Alemanha nos últimos dois anos fez amistosos, mas não participou de jogos que exigissem maior empenho da equipe e a Argentina jogou sem medo, mas sempre perdendo quando se considerava favorita". Realmente, o Grupo C é provavelmente o mais difícil. A Argentina tem que jogar com a Holanda, Sérvia e Montenegro e Costa do Marfim. "Só o Brasil", disse Kempes, "joga num patamar acima das outras equipes e é o único favorito".

O Grupo F, infelizmente, não vai dar ao Brasil a oportunidade de mostrar toda a sua genialidade. A Croácia pode se dar por satisfeita de estar participando. A Austrália pode comemorar ter pelo menos ganhado do Uruguai e espera-se que Guus Hiddink, que ensinou os coreanos como correr, repita o mesmo sucesso com o "time do Kiwi". O Japão vai atacar sob a batuta de Zico e pode causar tensão com sua tática. Neste grupo, o jogo entre Brasil é Japão é o mais esperado pelo torcedor alemão: menos pelo time japonês que entra em campo, e mais por ver o duelo entre Zico e seu time do coração.

A globalização do futebol provocou outro conflito na alma dos técnicos, que têm que ganhar dos seus próprios países. O sueco Sven-Göran Eriksson, que treina o time inglês, vai ter que enfrentar a Suécia no Grupo B. O mundo do futebol na Inglaterra, apesar disto, tem outras preocupações maiores: "Como terminar a primeira fase como líder do grupo e evitar o confronto com a Alemanha nas Oitavas-de-final?". Desde Wembley, 1966, a Inglaterra perdeu todos os grandes torneios internacionais contra a Alemanha.

E assim, poderíamos ver o caminho para a "Traumfinale", a final dos sonhos, desta maneira: Brasil vence em seu grupo e ganha do agressivo time dos Estados Unidos. Em seguida, nocauteia a Espanha, que venceu a Suíça anteriormente. Na semifinal, Inglaterra (que saiu vitoriosa do enfrentamento com as equipes da Polônia e Holanda), faz sua última apresentação contra o Brasil. A Alemanha também sai campeã do seu grupo e tem depois disto uma viagem "latino-romana": primeiro, como em 2002, o Paraguai é eliminado. Depois, a etapa mais difícil: Argentina. Na semifinal, Itália, um time com características semelhantes, estará à espera.

E, finalmente, o sonho alemão - der deutsche Traum: Nove de Julho é o nosso grande dia! Mais uma vez Brasil e Alemanha na final. Mais uma vez, Kahn no gol, só que agora, sem fazer a "siesta do meio-dia". Desta vez, Ballack estará na final e a torcida completamente alucinada levará o time para além de seus limites - e, finalmente - Jürgen Klinsmann fará o que somente o "Professor" (Mário Zagallo) e o "Kaiser" (Franz Beckenbauer) conseguiram: levantar a taça de campeão do mundo como jogador e como técnico, respectivamente. Que sonho maravilhoso - Brasil, nós esperamos por você!
 
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Stefan Kuper, é jornalista alemão, PhD em Filosofia, Línguas e Literatura Antiga, correspondente internacional, especializado em Esporte, Política e Cultura

Tradução do alemão para o português: Júnia Turra
Revisão final: Persio Presotto

    


SEGUNDA
 12/12/2005

Stefan Kuper é
jornalista, PhD em
Filosofia, Línguas
e Literatura Antiga;
Correspondente
Internacional
















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