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DINIZ NETO
A impunidade que nos Pertence - das
rinhas às bengaladas - o sonho não acabou!
“'La
vida es sueño’, disse Calderón. Quem
sabe se os que mais sonham não são os que mais acertam!” - Maria Amália Vaz
de Carvalho - livro "Ao correr do tempo" – 1906
O Brasil é um país legal. Não nos faltam leis, a começar por uma constituição
que, talvez não por acaso, tenha um dia sido chamada de “cidadã”.
Por mais paradoxal que possa parecer, o Brasil é o campeão mundial da
impunidade. Se houvesse uma Copa do Mundo da Impunidade, com certeza teríamos
participado de todas elas, sem precisar de eliminatórias, e também com
certamente, teríamos ganhado todos os canecos – hexa seria muito pouco nesse
esporte.
Leis decorativas, absurdas, num país que reconhece a sua vocação para a
malandragem. No país do “jeitinho” todos vão lembrar dessa pergunta: -
“Será que essa lei ‘pega’?” Pode uma coisa dessas?
Talvez essa pergunta demonstre bem a falta quase absoluta de credibilidades dos
nossos legisladores e legislativos, das câmaras municipais ao Congresso
Nacional.
Na verdade quem são esses nossos representantes? Como são eleitos? Como chegam
aos plenários onde votam as leis dos nossos municípios, estados e união?
A classe política brasileira sempre foi desacreditada. Para Pelé o povo também,
o povo não sabe votar. Leitura simplista para a falta de atitude de uma gente
condenada à ignorância pela sombra das leis, a nossa conhecida e reconhecida
impunidade.
A falta de educação é pelourinho perfeito para a dominação econômica, de
todos os tipos, até aquela disfarçada de ideológica.
Vivemos um histórico círculo vicioso, no qual a cada eleição, em qualquer nível,
a maioria dos eleitos é de políticos profissionais, que chegam ao poder
premeditados a agir em defesa de seus interesses pessoais, familiares e de seus
grupos de apoio e financiamento.
Sim, eles farão leis de acordo com esses interesses, muitas leis, leis que vão
pegar e não vão pegar, mas, certamente, leis ocasionais, casuísticas, que
logo serão apenas papéis em arquivo, esquecidas, descumpridas, pelo menos
pelos poderosos de plantão.
A coisa começa pela Carta Magna. Título I, “Dos princípios fundamentais”,
artigo 3º: “- Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o
desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.” Não resisto a escrever: (sic).
Lei correta, mas parece que não “pegou”.
Vamos ficar apenas com “o promover o bem de todos”, nesse país de todos.
Vemos na TV, lemos nos jornais, revistas e Internet, ouvimos no rádio notícias
sobre trabalho e prostituição infantil, salário mínimo abaixo do mínimo,
desemprego, fome, tráfico de drogas, crime organizado, insegurança total.
Essa semana jogaram gasolina num ônibus no Rio, onde estavam pessoas comuns,
jovens e crianças, voltando pra casa. As autoridades já abriram seus santos
inquéritos, o governo de Brasília ofereceu ajuda da Polícia Federal, tudo
muito conveniente, certinho, legal e repugnante.
O Brasil aqui fora dos palácios de Brasília é um reflexo de um país onde as
leis não são cumpridas, um país de joelhos diante das suas contradições, da
realidade que os seus poderosos construíram e consolidaram.
Pior, o Brasil dentro dos palácios de Brasília também é assim, podre. Exala
mau cheiro, enoja, revolta, agride aos cidadãos de bem – sim, por incrível
que pareça, apesar do sofrimento, apesar das desigualdades, apesar da
impunidade, a grande maioria dos brasileiros pode ser de ingênuos, puros, fáceis
de se enganar mas é feita de gente de bem, que até tenta cumprir a lei.
Gente que levanta de madrugada para trabalhar ou procurar emprego. Gente que
estuda à noite e se arrisca nos metrôs, ônibus e trens, nas ruas sem luz, nos
becos das favelas onde resistem com uma coragem capaz de transformar as suas
dores, carências e misérias em dignidade.
O Brasil também é o país dos mágicos. Os dudas que fazem o povo chorar na TV
diante de um metalúrgico semi-analfabeto, de “brimos” bonzinhos que fazem
tudo, de garotinhos, rosinhas e
outras espécies de candidatos picaretas que se elegem.
Assim nascem os zés, os luízes, que promovem delúbios, que se associam aos
valérios que “conquistam” contas públicas e privadas e movimentam milhões,
bilhões, sem registro, sem pagamento de impostos, sem nada a não ser uma
enorme e deslavada sem-vergonhice criminosa.
Necessário é dizer que os partidos políticos, que legalizam a eleição dos
seus candidatos escolhidos, também não cumprem a lei. As últimas revelações
de Brasília levaram praticamente todos os dirigentes de partidos a afirmarem
que eles praticam caixa dois ou utilizam dinheiro não registrado (que coisa
inacreditável!!!).
Melhor é não lembrar o que acontece no boteco da esquina quando o comerciante
deixa de pagar impostos. É fiscalizado, multado, punido, com toda a dureza e a
frieza da lei.
O Brasil é um país onde o marqueteiro-mor que fez um ex-metalúrgico vagal
presidente da República, tem como hobby a “briga de galos”, proibida pelas
nossas leis. Pior, os policiais que fizeram a ocorrência e o prenderam,
inclusive o delegado federal, foram transferidos para o interior, para longe,
onde não são menos empecilho a mais uma cota de impunidade.
O marqueteiro-mor e seus colegas valérios merecem também umas bengaladas, bem
como aqueles que transferiram os policiais federais do Rio para o c do Brasil.
Mas eles são coadjuvantes nessa tragédia.
Há um grande responsável nesse momento da história. Alguém que passou os últimos
30 anos pregando mudança, falando de esperança, que ganhou a eleição
prometendo gerar empregos, combater a corrupção, cumprir a lei.
As bengaladas no Zé Dirceu não pertencem só a ele, assim como seu mandato que
ele perdeu nos descaminhos do Planalto e da Câmara dos Deputados. Pena que o
companheiro presidente não honre as calças e prefira dizer que não sabe de
nada, que não viu nada, que não ouviu nada, que não disse nada. Um cego,
surdo e mudo na chefia do estado e do governo, algo que só um presidencialismo
ultrapassado poderia criar e permitir.
As bengaladas no Zé são a prova de que a revolta com a impunidade está a flor
da pele. Nem todos compreendem exatamente o que está acontecendo, nem todos
conseguem medir o grau de culpa do presidente e dos seus companheiros cúmplices
e apaniguados, mas a maioria é capaz de entender e compreender que há algo
muito errado no país das proibidas permitidas protegidas “brigas de galo”.
Deve ser o olfato. Por mais que se queira encobrir e esconder, a malandragem
ganhou contornos de crime e a corrupção misturada com covardia, ilusionismo e
impunidade cheira mal em todo o país e além das nossas fronteiras.
Fico aqui pensando, onde estará soprando a brisa ligeira e urgente da mudança.
De onde vamos tirar forças para essa virada, para essa reação cidadão, para
o cumprimento das leis já!
Enquanto penso em um Brasil solidário, percebo que esse sonho é o caminho que
podemos caminhar juntos. Apesar de tantas maracutaias, apesar de tanta opressão,
desigualdades, apesar de tantas injustiças, crimes e indignidades, o sonho do
bem é o que sucede as bengaladas no Zé, muito das além dos 293 votos (seriam
293 bengaladas?) da sua cassação.
Ao desabrigo das leis, no desalento da corrupção quase generalizada, na sombra
da impunidade, ainda brilha o sonho de reinventar o país e a crença de que
sonhar é o caminho para acertar mais.
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Diniz Neto, 50, é jornalista e
dirige a RB Sul Propaganda em Maringá-PR.
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SEXTA-FEIRA
02/12/2005
Diniz Neto é
jornalista e diretor
da RB Sul
Propaganda,
em Maringá, no
Paraná
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