Contribuição De Maria Fux



Tudo no universo se move, percorre caminhos, exercita trajetórias, assim o movimento apresenta-se o como princípio da dança.

Encontramos no contexto histórico do MEA, a artista e educadora argentina Maria Fux, como uma grande sistematizadora e difusora da dança na educação.

Salientamos o que diz Fux no jornal arte & educação (ano 3, n º 16) sobre o surgimento da dança em sua vida e da dança como princípio educativo:

"Da necessidade de expressar-me primeiro como artista. Sem dúvida, o caminho foi longo e trabalhoso. Tive que realizar muitos contatos com as pessoas para me dar conta da medida que meu trabalho de artista poderia me ajudar a ensinar. Eu desejava ensinar de maneira diferente da que me haviam ensinado, já que tive formação clássica. E desde muito jovem pretendia fazer outra coisa; assim nasceu a necessidade de aprender ensinando."(1974:4) (grifo nosso)

Notamos a partir da citação, o quanto a proposta de Fux adequava-se perfeitamente às proposições do MEA, pois ela defendia a dança como possibilidade de libertação com base no aprender fazendo. Neste sentido, ela afirma no artigo do jornal arte & educação (ano 1, n.º 16):

"Dançar no espaço é realizar minha própria existência." (1972:3).

Um outro aspecto ressaltado por Maria Fux que a identifica com a proposta do MEA é com relação ao manancial interno da criança, que acreditava-se poder ser liberto pelo trabalho de educação através da arte. Para que torne-se mais clara esta idéia, recorreremos ao que diz a própria, na entrevista do jornal arte & educação (ano 3, n.º 16):

"Tudo está no homem. O abstrato e o concreto; utilizo todas as possibilidades que minha própria sensibilidade me dá, pensando que o outro tem a mesma possibilidade de responder. O homem é um ser sensível, e todos os estímulos que possa receber são necessários. É preciso abrir as janelas, para que o ar fresco entre, para que o homem perceba que ele pode respirar por si mesmo. Usar cor, forma, imagens concretas ou abstratas faz parte da vida. Não me limito a usar certo tipo de objeto. O mesmo acontece quando escuto - as possibilidades são infinitas. E acredito que tudo tem uma resposta. Até o silêncio. Tudo isso eu considero absolutamente criador, sem necessidade de sermos artista. A criança pode ser o criador do seu próprio mundo através dos estímulos que lhe damos. Os estímulos têm que ser produzidos."(1974:4)

Podemos dizer sobre sua história pessoal, que Maria Fux, bem jovem, foi para os Estados Unidos estudar dança com a bailarina Martha Graham e, quando voltou para o seu país, seu ideal, como ela própria deixou claro, era ensinar dança de uma forma diferente da que aprendera. Por isso, resolveu enveredar pelos caminhos do ensino da arte e arte-terapia.

Em arte-terapia, ela trabalhou com crianças portadoras de necessidades educativas especiais (deficiência auditiva) e escreveu livros sobre este assunto. Este seu trabalho, abriu amplas perspectivas em favor da grande faixa da população portadora de deficiência que é descriminada na sociedade e no espaço da educação escolar em arte.

Sabemos que outra argentina, Patrícia Stokoe, criou a expressão corporal e de alguma forma, seu trabalho deve ter influenciado o de Maria Fux, conseqüentemente o trabalho em dança na educação (expressão corporal) desenvolvido no MEA.

Em nossa pesquisa, encontramos fotos de Maria Fux trabalhando com algumas crianças e outras fotos com adultos (professores), nas quais as legendas indicavam a denominação de expressão corporal. Ela trabalhou com essa modalidade de dança no âmbito do MEA, e sabemos que a Argentina é um país que tem tradição de ensinar a expressão corporal desde os primeiros anos da criança na escola formal.

O trabalho de Maria Fux teve suas conexões com a própria evolução histórica da dança na educação. Desta forma, temos que realçar o trabalho do alemão Rudolf Labam16 , que pesquisou os aspectos pedagógicos da dança, a princípio em seu país e mais tarde na Inglaterra onde introduziu a Dança Educativa nas escolas inglesas como parte do currículo. Existe uma citação em Courtney (Jogo, Teatro e Pensamento) que exprime a ligação entre as idéias de Labam e Fux, exatamente quando o primeiro, inspirado no livre fluxo do movimento, presente na dança de Isadora Duncan, tentou desenvolver em seu trabalho uma maneira de movimento que se fundamentava na: "(...) riqueza das formas livres de movimento, gestualidade e passos, assim como o uso dos movimentos que o homem contemporâneo utiliza em sua vida cotidiana." (1980:49).

A dança, como manifestação espontânea no espaço da educação, propõe a liberdade de expressão através do corpo que movimenta-se no cotidiano, oportunizando ao educando desenvolver sua personalidade de forma mais consciente, harmoniosa, livre e criativa.

E finalmente, devemos dizer que Maria Fux esteve varias vezes no Brasil difundindo o ideal da educação através da dança, tendo inclusive viajado para outras cidades com o intuito de ministrar cursos, como é o caso do que realizou na Escolinha de Arte do Recife nos anos 70. Até hoje, ela, ainda mantém ligações intelectuais e afetivas com o MEA.



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