Relatório mai/out 1998

 

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PROJETO 0220.07.300.063 – CUSTOS EFETIVOS DE PRODUÇÃO DE CACAU

RELATÓRIO DO PRIMEIRO SEMESTRE : MAI-OUT-1998.

TÍTULO PARA PUBLICAÇÃO: CUSTOS EFETIVOS DE PRODUÇÃO DE CACAU: DESEMPENHO DE TRÊS FAZENDAS NA SAFRA TEMPORÃ 1998-1999.

( Versão em Discussão )

Hilmar Ilton Santana Ferreira 1
Luiz Brandão Freire2
Helga Dulce Bispo Passos3
Ana Paula Torres3
Gilberto Carlos Cerqueira Mascarenhas4
Alfredo Dantas Landim5
Luiz Henrique Azevedo Dias6

1-Professor do Departamento de Ciências Econômicas UESC,Mestre; 2.Eng.Agr-Prefeitura da UESC, BS; 3.Estudantes de Economia, UESC, Bolsistas de Iniciação Científica, PIBIC/CNPq e UESC, respectivamente; 4.Pesquisador do CEPEC/CEPLAC, Mestre; 5. Eng Agr, Mestre, Empresário; 6.Administrador, Mestre, Empresário.

RESUMO – O trabalho considera o processo de produção de cacau em amêndoas em três fazendas da Região Cacaueira da Bahia do ponto de vista dos custos efetivos de produção na safra temporã (MAI-OUT/1998). Registra o comportamento de variáveis relevantes para tal fim, considerando quantidade e preços dos insumos usados, quantidade produzida e preço do produto, com as respectivas distribuições no tempo . Faz considerações de avaliação econômica privada, comportamentos dos custos e da tecnologia posta em uso.

Palavras-chave: Lucratividade; coeficientes-técnicos de produção; planilhas de custos.

ABSTRACT – This paper presents the cocoa beans production process in three farms of Bahia’s Cacao Husbandry Region by the standpoint of effective production cost in the so called "safra temporã" (MAY-OCT/1998). It’s recorded behavior of important variables like quantities and prices of used inputs, quantities and prices of product, with their time distributions. It’s made private economic evaluation, behavior of costs and technology used.

Key-words: Profitability; production technical coefficients ; cost sheets. 

I-INTRODUÇÃO – Este estudo enfrenta o problema de registrar a tecnologia, o custo de produção e a avaliação econômica do processo de produção do cacau no mundo real. A tecnologia, por meio de coeficientes-técnicos. O custo de produção, pela montagem de planilhas de custos fixos e variáveis e a avaliação privada, pela obtenção de indicadores adequados. O trabalho busca responder à necessidade de se dispor de informes quantitativos sobre a atividade real no lugar das tradicionais informações tecnológicas subjetivas. O estudo se resume a trabalhar três fazendas da Região Cacaueira, Bahia, sendo uma da UESC e duas da iniciativa privada. Procede-se comparação dos resultados de cada uma. Para fins de preservar interesses, tais unidades produtivas são referidas neste estudo por números de identificação.

Trata-se de um projeto piloto que deverá passar de estudo de três casos para um outro com amostragem do setor produtivo, de modo a permitir a mensuração de erros ao se expandir para o universo.

É ainda um projeto básico, que gerará dados e informes para estudos de Economia da Produção para a atividade.

Evidentemente, a problemática que envolve a cacauicultura, bem mais ampla que o problema aqui estudado, está sentada, pelo menos, no tripé busca da agricultura sustentável e da sustentabilidade em geral, transição na economia e busca da eficiência e da efetividade. O problema aqui estudado parece restrito, mas fundamental, inclusive para a boa condução da problemática maior.

 

II- MATERIAL E MÉTODO – Durante todo o ano agrícola o projeto acompanha o sistema produtivo de cacau das três fazendas. Colhe informações semanais sobre emprego de insumos e produção, com os respectivos preços. A periodicidade semanal do levantamento dos dados permaneceu para a fazenda da UESC, mas teve de ser modificada para quinzenal para as fazendas privadas, por força de adaptação do projeto às características administrativas dos imóveis. As perdas de informação daí decorrentes se refletirão nos estudos futuros da sazonalidade do uso dos insumos que terão apenas vinte seis observações ao ano em vez de cinqüenta e duas. As conseqüências dessas perdas só o futuro estudo de estacionalidade avaliará. O ano agrícola cacaueiro brasileiro foi considerado MAI/ABR (safra temporã, MAI/OUT; safra principal NOV/ABR), conforme BRASIL-CEPLAC (1995; ). No futuro deverá voltar a ser considerado MAR/FEV (safra temporã, MAR/AGO; safra principal, SET/FEV ), segundo GRAMACHO et al. (1992; ) e que parece mais aderente à realidade.

Os dados colhidos são processados centralmente e elaborados relatórios sobre os objetos do projeto.

A coleta de dados retro-referida se refere aos insumos variáveis, que geram os custos variáveis. As informações pertinentes aos custos fixos são colhidas uma vez ao ano. Os valores em moeda são também expressos com poder aquisitivo constante.

 

II.1.CUSTOS DE PRODUÇÃO - De princípio cabe ter presente a especial dicotomia a que se submetem os custos: Equações de Custo x Funções Custo. Segundo nota de pé-de-página de HENDERSON & QUANDT (1971; 71), função custo é uma lei matemática que expressa como os custos variam em função da quantidade produzida do bem ou serviço cujo custo se calcula. Já a equação de custo expressa o custo em termos dos níveis de insumos usados e dos seus preços.

Há uma ampla literatura sobre o emprego das funções custo de produção, especialmente agrícola. BRANDT et al. (1987) consideram as propriedades de subaditividade e convexidade transraio da função custo de produção agrícola. Inferem que tanto a escala como o perfil do produto agropecuário são importantes na formação dos custos de produção e que "o custo de produção tende a ser menor, no caso da produção múltipla, do que no caso da produção especializada". PRATTEN (1997) discute a Economia do Custo da Transação e o Novo Institucionalismo, destacando o debate destes novos enfoques com as tradições existentes. BALK (1997) discute a decomposição da eficiência nos custos em partes relativas à eficiência técnica no uso dos insumos e na obtenção do produto e ainda na eficiência alocativa dos insumos. Deriva formas canônicas para a especificação da função custo e segue outras linhas de pesquisas inéditas. DALEN & GOMEZ-LOBO(1997) apresentaram método para estimar funções custo sob informação assimétrica e outros aspectos ligados a incentivo e regulação.

Outra dicotomia não excludente da anterior mas que é inclusive combinável com ela é a dos Custos Fixos x Custos Variáveis. "Custos fixos totais são aqueles que não variam com a quantidade produzida (juros sobre o capital empatado, impostos fixos, seguros, a parte da alimentação que é utilizada na manutenção dos animais, as despesas de arrendamento etc). Custos variáveis totais são aqueles que variam de acordo com o nível de produção da empresa (adubos, combustíveis etc)" ( HOFFMANN et al, 1976; 8 ). O qualificativo "total" a que se referem os autores, remete aos custos de toda a produção de todas as áreas da fazenda. Contrasta com "por hectare", quando se refere ao custo de produzir um hectare da fazenda, parte alíquota do custo total e com "médio" ou "unitário", quando trata dos custos de uma unidade do produto.

É apresentada para cada fazenda uma planilha de custos fixos totais (CFT) para toda a produção da fazenda, tanto para o ano agrícola como para o semestre (a safra temporã). Apresenta-se também o CFT por hectare de cultura, por rateio. Ainda é mostrada o custo fixo unitário ou médio (CFMe) (este tipo de custo atribuível a uma unidade de produto, no caso uma arroba de cacau, obtido por rateio do custo fixo total entre as unidades produzidas).

Mostra-se uma planilha de custos variáveis totais (CVT) (para toda a fazenda). CVT para uma unidade de área plantada, hectare. E custo variável médio ou unitário (CVMe). Os dois últimos por rateio. Os CV, sejam os totais ou médios, só são calculados para a safra temporã, já que este é o tempo do relatório.

O somatório dos custos fixos com os variáveis se constituem nos custos totais (não confundir com o termo total na acepção anterior, relativa à produção total), sejam os totais (CT=CFT+CVT ) ou os médios (CTMe = CFMe+CVMe).

Enquanto o registro do custo variável é bem definido, de vez que resulta da anotação do que foi efetivamente praticado no processo produtivo, o do custo fixo é sujeito a controvérsias por envolver a estimação e rateio de alguns itens. Neste aspecto destacam-se MATSUNAGA et al. (1976) que criaram o conceito de Custos Operacionais para substituir os Custos de Produção, graças às dificuldades de cálculo dos custos fixos e aos altos valores obtidos para os custos totais; FERREIRA (1996), que contra-argumentou não aceitando aquela solução e MARTIN et al.(1994) que a usaram.

 

II.2. AVALIAÇÃO ECONÔMICA – Em tese, avaliação econômica é decorrente da necessidade de se obter dos recursos disponíveis aplicações que resultem nos melhores benefícios. Em princípio tal precaução surge quando da elaboração de projetos que buscam financiamento governamental. Entretanto tal prática também deve se aplicar em empresas já estabelecidas. Conforme MELNICK (1958; 209) "é preciso definir o que se entende por benefícios e dispor de algum padrão ou norma que permita demonstrar que o destino dado aos recursos empregados será o ótimo". A determinação de prioridades se constitui nas respostas às perguntas: o que, como e quando produzir? Há muitas formas de avaliar, existindo diferentes critérios que avaliam a favor de diferentes pessoas e instituições. Há a avaliação individual, privada, empresarial que contrasta com a avaliação social. Há ainda critérios parciais ou fracionários de avaliação, que funcionam mediante a combinação ponderada entre si e critérios integrais, que sintetizam a avaliação num só indicador. É preciso ter presente que mesmo um indicador de avaliação de um só insumo sofre influência de outros fatores.

A avaliação aqui está expressa pelos seguintes indicadores, todos considerados segundo o critério do ano típico, que contrasta com o do horizonte de planejamento:

a) Rentabilidade – Trata-se de indicador considerado privado e microeconômico, expresso por

R = L / K ( 1 )

sendo R = rentabilidade, L = lucros totais, ou receitas totais menos custos totais e K = capital, podendo ser só o capital fixo, o fixo mais o circulante (capital total).

b) Velocidade de Rotação do Capital – Indicador considerado social ou macroeconômico, expresso por

VRK = VBP / K ( 2 )

sendo VRK = velocidade de rotação do capital, com considerações semelhantes às acima, VBP, valor bruto da produção ou receitas totais e K o capital investido. Tal indicador mostra qual a parte do capital total (fixo + circulante) que o processo produtivo recupera em termos brutos (i.e. antes do abate da depreciação do capital fixo sobre o resultado), por período produtivo. Se a VRK estiver expressa em percentual (VRK= (VBP/K).100 ) , então a partir dela pode-se calcular outro indicador complementar importante, Períodos para Retorno Bruto do Capital: PRBC = 100/ VRK%. Se VRK tiver expressão unitária (equação (2) acima), então PRBC=1/VRK. Ou seja, o PRBC representa o número de períodos produtivos em que "volta" o capital, desprezada a depreciação do ativo fixo.

c) Produtividade da Mão-de-Obra - Expresso por

PMO = VBP / MO ( 3 )

onde PMO = produtividade da mão-de-obra, mensurada na unidade (dimensão) unidade monetária / jornada, unidade monetária / equivalente-homem ( um equivalente.homem igual a 300 jornadas), ou unidade monetária/unidade monetária ( percentual ), conforme se tomem diferentes unidades de trabalho. VBP = valor bruto da produção ou receita total e MO = trabalho ou mão-de-obra.

d) Ponto de Nivelamento ou Break-Even-Point – Critério típico da avaliação procedida quando de estudos que consideram o horizonte de planejamento, tentar-se-á adaptá-lo ao caso. É a quantidade produzida para a qual se igualam receitas totais e custos totais. Tem a expressão:

PN = CFT / ( P – CVMe) ( 4 )

Pressupõe as funções Receita Total (receita em função da quantidade produzida) e Custos Totais ( custos totais em função da quantidade produzida) como lineares. Abaixo do ponto de nivelamento a empresa produz com prejuízo e acima, com lucro ( HOLANDA- s/d; 146; HOLANDA-1975; 245; FLANZER, 1974; 190).

Mostra-se por análise dimensional que o PN é expresso em massa (no caso, arroba (@) de cacau). Eis as dimensões das grandezas envolvidas na fórmula de obtenção do PN : CFT= $ ; P= $/@ ; CVMe =$/@ .

Logo, dimensionalmente

PN= $ / ( $/@ - $/@ ) = $ / ( $/@ ) = @

 

II.3. A TECNOLOGIA – As principais variáveis explicativas da produção agrícola estão intrínseca e profundamente relacionadas. Tecnologia, manejo, meio-ambiente e mais administração influem de modo acentuado na produção e, em geral, se apresentam de tal maneira imbricadas, que é difícil a separação da influência individual de cada uma delas. Em Economia da Produção se costuma apresentar e caracterizar uma tecnologia por meios de coeficientes – técnicos, ou, mais enfaticamente, coeficientes – técnicos de produção. Como no caso dos indicadores de avaliação, para os coeficientes – técnicos é preciso que seja lembrado de que coeficientes relativos a um fator sofrem a influência da dotação de outros fatores. Assim, coeficientes-técnicos de mão-de-obra, por exemplo, serão diferentes para diferentes níveis de capitalização.

Há ainda a considerar que a caracterização da tecnologia via coeficientes–técnicos de produção pode ser feita com vários níveis de agregação/desagregação. Pode-se relacionar, v.g., coeficiente–técnico insumo/produto de pulverizadores/ @ de cacau produzido, ou, capital/@ de cacau produzido.

Coeficiente–técnico será do tipo insumo/insumo quando expressa a relação entre a quantidade usada de um insumo ou serviço de fator e a quantidade de outro insumo, num dado processo produtivo. Na agricultura em geral se usa referir os quantitativos de cada insumo para cada unidade (hectare) de área plantada. Coeficiente–técnico insumo/ produto relaciona no processo produtivo as quantidades usadas do insumo por cada unidade de produto obtida. Há que citar ainda o coeficiente-técnico de produção produto/insumo, ligado à função de produção, que define quantas unidade de produto são obtidas por unidade de insumo empregada num processo produtivo estudado. No caso de relação técnica (função produção) linear, este último coeficiente é também o produto físico marginal do insumo ou fator. No atual estágio deste projeto este tipo de coeficiente-técnico não será usado.

Tais coeficientes são obtidos a priori (ex-ante) ou a posteriori (ex-post) do fato produtivo. No primeiro caso, estar-se a trabalhar com custos padrões de produção. No segundo, com custos efetivos de produção. Claro que o a posteriori implica no registro dos dados a partir da experiência produtiva. Este projeto trabalha desta última maneira. E se justifica porque a imensa maioria dos trabalhos da área são feitos de modo padrão, que não reflete o de fato ocorrido no mundo real, pois os coeficientes–técnicos do mundo real são influenciados por tantas outras variáveis, que mudam de ano agrícola para ano agrícola, se constituindo em verdadeiras variáveis aleatórias. Se este projeto tiver duração e expansão em número de fazendas acompanhadas suficientes, então poderá tratar os coeficientes via cálculo das probabilidades e desse modo proporcionar o tratamento de risco da economia produtiva do cacau.

Os coeficientes-técnicos podem se apresentar de forma determinística quando se apresenta apenas o valor do coeficiente ou probabilística, aleatória ou randômica, quando se conhece a distribuição de freqüência do coeficiente. Acumulando coeficientes-técnicos ao longo do tempo e tratando-os adequadamente pode-se chegar à obtenção dos coeficientes probabilísticos. A tanto aspira este projeto.

Os coeficientes-técnicos são obtidos por rateio, dividindo-se as quantidades empregadas de cada insumo no ano agrícola (ou em outra unidade de tempo) pela área cultivada (insumo/insumo) ou pela produção (insumo/produto). O rateio significa uma simplificação do processo real. Pois não leva em conta a interação (complementaridade) dos insumos nem a dimensão temporal da incorporação dos insumos ao bem final. Tal incorporação pode se dar em quantidades diferentes em cada fase ou tempo do processo de produção. E algumas destas incorporações em algum tempo pode ser mais importante que outras. Por exemplo, a absorção da água do solo pela planta em certa época tem mais importância na produção do que a de outras épocas. Para alguns insumos é possível que por experimentação se conheça este aspecto temporal da produção. Mas será possível para todos os insumos?

Para superar de algum modo este desconhecimento, faz-se o dito rateio e o tratamento aleatório do uso dos insumos.

A constante repetição, para diferentes circunstâncias, de coeficientes padrões obtidos (muito embora perfeitos então e no entorno) alhures e em outros tempos tem levado à rejeição de tais coeficientes, a ponto de, e.g., CONWAY & BAY (1988) terem desenvolvido um método de trabalho para evitar seu uso(dos coeficientes).

Os coeficientes–técnicos obtidos neste primeiro semestre de observação são apresentados por fazenda estudada. O pequeno número de observações não permite ainda o tratamento aleatório.

Ao longo da execução do projeto, serão procedidos estudos de sazonalidade ou estacionalidade dos coeficientes-técnicos

Os coeficientes–técnicos e as práticas agrícolas a eles associadas caracterizam as tecnologias. A simples visualização de tabelas e gráficos dá uma boa idéia da tecnologia envolvida no processo de produção de onde vêm tabelas e gráficos.

 

III – RESULTADOS E DISCUSSÕES

III.1.RESULTADOS

III.1.1. CUSTOS DE PRODUÇÃO – Apresentam-se a seguir as planilhas de custo variável e de custo fixo para as três fazendas acompanhadas.

Os valores financeiros estão todos em moeda de MAI.1998.

A fazenda 1 usou tecnologia intensiva em trabalho, já que 100% do dispêndio (R$.13.092,16) se destinou a mão-de-obra. A fazenda 2, ficou em posição oposta, com 59% do dispêndio em pessoal e 32 % em material. A fazenda 3 assumiu uma posição intermediária, com 90 % dos gastos de capital circulante invertido em pessoal e apenas 0,75 % em material (Quadros 1,2 e 3).

Os quadros de 4 a 17 resumem as diferentes estruturação de custos fixos para as fazendas 1 e 3, de vez que os dados da fazenda 2 para tais custos se perderam. Foram estruturados diferentes custos fixos para as duas fazendas, cujos dados estavam disponíveis. Tal providência decorre da controvérsia que este tipo de ônus sempre provoca. Há a posição dos que propõem a mais rigorosa apuração destes custos, com o argumento de que o processo produtivo deve pagar o desgaste dos ativos fixos. Há outros, noutro extremo, que pressupõem o total relaxamento destes custos, já que dificilmente a agricultura pode pagá-los. Assim, foram estabelecidos custos fixos com os tópicos Depreciação (linear com valor de sucata zero), Manutenção e juros sobre o capital. Adicionalmente, fizeram-se estruturas com diferentes combinações destes três tópicos. As taxas de juros e de depreciação foram escolhidas quase que aleatoriamente. Por certo que tal estudo de sensibilidade poderia ser ampliado com valores diferentes para tais taxas.

Em termos de eficiência, a fazenda 3 produziu mais eficientemente do que a fazenda 1, produzindo a custo variável unitário menor, R$.9,63/ @ , enquanto a Fazenda 1 conseguiu apenas R$.11,61/@. Entre as duas, a de menor custo usou mais insumos modernos. A Fazenda 2, ficou com o desempenho pior (R$.25,19/@ de custos variáveis). Como os dados de produção desta unidade estão sujeitos a revisão, é possível que seu custo variável unitário nesta metade do ano agrícola (safra temporã de 1998/99) esteja sobrestimado. Foi esta fazenda a que mais investiu em material (vide acima).

A estimativa dos custos fixos também variou com a apropriação dos valores dos cacauais: se valores de mercado (merc.) ou se valores de implantação (impl.). Como se vê no quadro 18, o custo total médio da @ de cacau variou de um mínimo de R$.20,l0/@ para a Fazenda 1, tendo o custo fixos calculado só com a manutenção, que é um cenário de poucas possibilidades de ocorrência no mundo real, a um máximo de R$.139,07/@ para a Fazenda 3, com o custo fixo completo e tomado o cacaual pelo valor de implantação.

Acredita-se que com só um semestre de observação ainda não é possível inferir sobre generalizações neste campo, se é que em algum tempo o será.

 

III.1.2.AVALIAÇÃO ECONÔMICA – Com a precariedade decorrente da avaliação apenas da primeira metade da safra 1998/99 e da falta de dados, faz-se uma incursão nesta área.

a) Rentabilidade – Fica impossibilitado o uso deste critério para a fazenda 1, por falta do valor bruto da produção (VBP) ou receita bruta.

Para a fazenda 2 faltou informe sobre o Custo Fixo Total e sobre o capital fixo. Calcula-se a rentabilidade sem tomar em conta o custo fixo e sem considerar o capital fixo. Ou seja, do lado dos custos computa-se apenas o CVT e do capital só o circulante, que é o próprio CVT. Tudo em moeda (real) de MAI-1998.

Fazenda 2 : VBP=16.551,02; CVT = 13.034,66

R = L / K = (VBP-CVT)/ K = ( 16.551,02 – 13.034,66 ) / 13.034,66 = 0,2698= 26,98 %.

(a cada semestre a fazenda recupera 26,98 % do capital total).

Isto significa que a empresa cobriu seus custos variáveis no período e teve um rédito em relação a eles (margem para pagamento dos custos fixos) da ordem de 26,98 %. A sobra da receita quando se desconta os custos variáveis ficou neste percentual dos custos variáveis totais. É um índice para ser visto com cautela, pela faltas acima.

Fazenda 3 : Para tal unidade produtiva há dados completos, o que possibilita estudo adequado da rentabilidade. Para tanto consideram-se as situações extremas: a melhor e a pior para a saúde da empresa: a receita ou o valor bruto da produção mostra uma só estimativa. Para calcular o lucro são consideradas as duas estimativas extremas dos custos fixos, a se somarem aos custos variáveis de uma só estimativa para formar custos totais. As duas estimativas dos custos fixos são a completa (portanto a mais onerosa) e a que só considera a manutenção (a menos onerosa). Quanto à estimativa do capital da empresa, são tomadas em conta também a mais capitalizada (a que considera o valor dos cacauais pelo preço de implantação) e a de menor capitalização (considera o valor dos cacauais pelo valor de mercado da época). Para estimar o capital total, somam-se as duas estimativas acima de capital fixo ao valor único do capital circulante, igual ao custo variável total. Eis os dados básicos e as rentabilidades privadas conseqüentes (valores financeiros todos expressos em moeda brasileira com poder aquisitivo constante e de MAI-1998):

VBP = 6.058,04 ; CVT=2.900,02; CFTCOMP.= 30.548,30 ; CFTSÓ MANUT= 6.980,33 ; CTCOMP.= 2.900,02 + 30.548,30 = 33.448,32 ;

CTSO MANUT.= 2.900,02 + 6.980,33 = 9.880,35 ;

KFIMPL.= 242.437,63; KFMERC.=117.425,13 ; KV=CVT=2.900,02 ;

KTIMPL= 242.437,63 + 2.900,02 = 245.337,65 ;

KTMERC.= 117.425,13 + 2.900,02 = 120.325,15 .

LCOMP.= 6.058,04 - 33.448,32 = - 27.390,28

LSO MANUT.= 6.058,04 – 9.880,35 = - 3.822,31

RCOMP + IMPL= ( - 27.390,28)/ 245.337,65 = - 0,1116 = - 11,16 %

( a cada semestre a empresa perde 11,16% do capital total ).

RCOMP+MERC= ( - 27.390,28)/ 120.325,15 = - 0,2276 = - 22,76 %

(a cada semestre a empresas perde 22,76% do capital total)

RSO MANUT+IMPL= ( - 3.822,31) / 245.337,65 = - 0,0156 = - 1,56 %

(a cada semestre a empresa perde 1,56 % do capital total)

RSO MANUT+ MERC= ( - 3.822,31 ) / 120.325,15 = - 0,0318 = - 3,18 %

(a cada semestre a empresa perde 3,18% do capital total ).

Ao se considerar apenas os dispêndios com fatores variáveis, a Fazenda 2 mostrou rentabilidade privada alta (26,98%) para qualquer padrão de referência. Entretanto, ante tal indicador deve ser lembrada a ausência do ônus com os fatores fixos. É pois esta performance ilusória.

Quando se consideram os custos totais, como no caso da Fazenda 3,

a rentabilidade cai a níveis negativos, i.e., o negócio não consegue cobrir custos variáveis e fixos (custos totais) simultaneamente. Agora a empresa está na faixa de prejuízo e em cada exercício produtivo consume, sem possibilidade de recuperação, parcela do seu capital. Tal parcela é dada pelo indicador de rentabilidade. No caso da Fazenda 3, que possui todas as informações, no melhor dos cenários ela consume 1,56% do capital total em cada exercício produtivo, caso persista a situação verificada no período estudado. No pior, perde 22,76% do capital permanente mais circulante por cada período produtivo.

Tal avaliação remete à querela dos custos totais, discutida entre outros por MASTSUNAGA et al. (1976) e FERREIRA (1996). Para alguns autores, custos fixos altos e inviabilizadores do negócio são um problema de cálculo e estimativa (metodologia) de custos. Para outros são um problema de administração, que urge resolver via ganho de eficiência, por melhor tecnologia que incremente a produtividade e reduza o custo total médio e por boas práticas administrativas. Provavelmente desta característica da agricultura é que advêm o argumento da necessidade de se subsidiar o setor agrícola.

b) Velocidade de Rotação do Capital - Para a fazenda 1 fica impossibilitada a estimativa deste indicador, por ausência do VBP, valor bruto da produção ou receita total.

Fazenda 2 – Por falta do valor do capital fixo, dos ativos fixos da fazenda, conhecendo-se apenas o capital circulante, estima-se uma especial VRK, referida apenas ao capital circulante (como sempre, valores em R$.MAI-1998) :

VBP=16.551,02 ; KCIRC.= CVT= 13.034,66 ;

VRKCIRC= 16.551,02/13.034,66 = 1,270 = 127,0 %

(em cada período produtivo semestral retorna 127% do capital circulante, desprezada a depreciação)

PRBC = 100/127 = 1/1,270 = 0,79

(o retorno do capital circulante, não havendo dispêndio com o capital fixo, acontece em apenas 79% do tempo de um semestre).

Fazenda 3 – Há dados completos para tal unidade produtiva.

VBP=6.058,04 ; KFIXO MERC=117.425,13 ; KFIXO IMPL;=242.437,63 ;

KCIRC=2.900,02 ; KTOTAL(MERC)=117.425,13+2.900,02=120.325,15 ;

KTOTAL(IMPL)=242.437,63+2.900,02=245.337,65 ;

VRKMERC=6.058,04/120.325,15=0,0503=5,03%

(num semestre retorna 5,03% do capital total "bruto")

RBCMERC=100/5,03=1/0,0503=19,9

(em 19,9 semestres volta o capital total, consideradas a inexistência de depreciação e sua cobertura)

VRK IMPL=6.058,04/245.337,65=0,0247=2,47%

(num semestre retorna 2,47% do capital total, não considerada a depreciação)

PRBCIMPL=100/2,47=1/0,247=40,49

(em 40,49 semestres volta o capital total, não consideradas a depreciação e sua cobertura).

Assim, nas condições consideradas, tal atividade precisa de 19,9 semestres para ter de volta o capital total, estimado o cacaual pelo preço de mercado. E 40,49 semestres, se o cacaual for estimado pelo valor de implantação. Pela diferença entre os dois valores do PRBC (um é o dobro do outro), constata-se a importância de bem definir os valores dos ativos fixos.

Procede-se "análise dimensional", com o objetivo de mostrar as dimensões dos dois últimos indicadores:

VRK = ($/T)/$ = 1/T ® sendo as unidades: $: unidade monetária; T = tempo, no caso semestre.

PRBC = 1 / VRK = 1/(1/T) = T.

A dimensão da VRK é o inverso do tempo e a do PRBC é o próprio tempo.

c) Produtividade da Mão-de-Obra:

Fazenda 1 – Estimativa prejudicada por falta do VBP ou RT.

Fazenda 2 – VBP = R$MAI-1998.16.551,02 ( sujeito a revisão)

M.O. : jornadas: 1.589 ® Equivalente-homem= 1.589/300=5,30 E.H

PMO=16.551,02/5,30 = 3.122,83 R$MAI.98/ E.H

Nesta fazenda, na safra temporã, cada homem teria contribuído para a produção com R$.3.122,83, em moeda de MAI.1998, sujeito a revisão.

Fazenda 3

VBP=R$.MAI.19986.058,04 ;

M.O. : jornadas: 429,9 ® Equivalente.homem=429,9/300 = 1,43 E.H.

PMO=6.058,04/1,43=4.236,39 R$.MAI.1998/E.H .

Na fazenda 3 a produtividade do trabalho foi da ordem de R$.4.236,39, em moeda com poder aquisitivo de MAI.1998.

A produtividade de trabalho reflete o nível de capitalização da empresa. O trabalhador mais capitalizado, em termos de bens de produção, materiais ou imateriais, produz mais.

Para comparação, registre-se níveis de produtividade da mão-de-obra estimados em países desenvolvidos, no ano de 1995 (em dólar por trabalhador):

França: 21.529,00

Alemanha: 22.373,00

Japão: 21.269,00

Reino Unido: 19.925,00

Estados Unidos: 26.183,00

 

(PINDYCK & RUBINFELD, 1998; 188). Em países desenvolvidos o nível geral da produtividade da mão-de-obra se mostra mais elevado do que o verificado no setor rural cacaueiro local. Embora haja setores no Brasil com melhor desempenho do trabalho, tal confronto de indicadores mostra o desafio imenso que se tem pela frente.

d) Ponto de Nivelamento ou Break-Even Point – Considerando que permaneçam constantes, ao longo do horizonte de planejamento, preço do produto, custo fixo total e custo variável médio, pode-se estimar este indicador de eficiência. Para tanto tomam-se como preço do produto a média aritmética simples dos preços registrados. Como estimativas do CFT tomam-se o menor e o maior valor entre os vários cenários. Os cálculos ficam impossibilitados para a fazenda 1 (falta preço) e para a fazenda 2 (falta CFT).

Fazenda 3 – CVMe=9,63 ; CFTCOMPL=61.096,60 ; CFTSO MANUT=13.960,66

Preços verificados do produto (R$/@): 26,00; 24,50; 25,00. Média 25,17.

PNcompl=61.096,60/ (25,17 – 9,63 ) = 3.931,6 @

PNSO MANUT=13.960,66 / ( 25,17 – 9,63 ) = 898,37 @

Para o cenário mais oneroso, a empresa entra em equilíbrio quando produza

3.93l,6 @ por semestre. Para o cenário mais favorável, quando produza 898,37 @ por semestre. Como a fazenda 3 produziu neste semestre 236 @, ficou numa produção que é 26% daquele ponto em que receitas se igualam às despesas totais, incluídos os gastos invisíveis dos custos fixos. E isto para o caso de menor custos, o cenário em que os custos fixos se resumem à taxa de manutenção.

III.1.3.A TECNOLOGIA – Para este primeiro período semestral de execução do projeto estão colhidos os dados que permitem estimar os coeficientes técnicos insumo/insumo e insumo/produto, determinísticos por enquanto, para as três fazendas acompanhadas (Quadros 22 a 27). O quadro 28 seleciona alguns desses coeficientes para as unidades produtivas acompanhadas. Aí foram consolidados em um só coeficiente dados que estão em mais de um tópico, a exemplo de "Embandeiramento", "colheita/quebra", "quebra de cacau com Vassoura-de-Bruxa", para a fazemda 2 e "Embandeiramento", "Embandeiramento e Colheita", "Embadeiramento e Quebra", para a fazenda 1, todos agrupados no item "Colheita/Embandeiramento/Quebra" no quadro 28. Fica evidente a necessidade de se sistematizar no futuro a notação dessas práticas entre as fazendas acompanhadas.

Tanto o quadro 28 como os anteriores mostram a variabilidade presente nos coeficientes técnicos de produção. Os aqui apresentados são da safra temporã 1998/99. Posteriormente serão obtidos os da safra principal e de todo o ano agrícola.

A variabilidade dos coeficientes com respeito às fazendas pode ser retratada no valores insumo/insumo para, por exemplo, "Controle da Vassoura-de-Bruxa- Jornadas/hectare, 1,9, 2,7 e 4,9 , para cada uma das fazendas e em jornadas/@, 0,2, 0,3 e 0,7. Só com o passar das safras, com a captação da variabilidade dos coeficientes dos dois tipos (insumo/insumo e insumo/produto), tentar-se-á definir medidas de tendência central, dispersão e outras características (curtose e assimetria, v. g. ) de tais elementos descritores da tecnologia. E isso é tarefa para tempos posteriores. Hoje dispõe-se apenas da variação espacial (um para cada fazenda) para os coeficientes. No futuro, juntar-se-á a variação temporal, quando houver suficiente número de subsafras e anos agrícolas observados e registrados. Estudos de sazonalidade, de tendência histórica e de ciclos poderão então ser procedidos.

Tecnologia está associada com produtividade física. E também a resultado econômico. A boa tecnologia otimiza os resultados físicos e econômicos da empresa. A boa administração zela para que a empresa trabalhe maximizando seus resultados. Na agricultura ocorre um complicador, com o clima se constituindo em fator de risco decisivo para a produção. Especialmente a variável chuva. Sem água no solo na quantidade e na época certa, há prejuízos para a produção, salvo nos casos em que se disponha de instalações para irrigação, o que não é o caso das três fazendas objeto de estudo. Como aqui não foi acompanhado o comportamento da dotação de água às lavouras, as considerações sobre tecnologia e produtividade associadas ficam prejudicadas. No caso, há ainda outra dificuldade: A doença Vassoura–de-Bruxa (Crinipellis perniciosa(Stahel)Singer) introduzida há dez anos na Região reduziu a produção de modo drástico. Ao que tudo indica, a ausência de técnica de controle do ataque do fungo à almofada floral da planta tem sido responsável por muito das perdas. Não obstante, pode-se afirmar que o desempenho das fazendas (nesta safra temporã) no que tange ao item produtividade, deixou a desejar:

Fazenda 1: Produção: 1.128 @; área total de cacau: 127,87 ha

Produtividade: 1.128 @ / 127,87 ha = 8,82 @/ha

Fazenda 2: Produção: 636 @ ; área total de cacau: 76,69 ha

Produtividade: 636 @ / 76,69 ha = 8,29 @/ha

(Dados de produção da fazenda 2 sujeitos a revisão)

Fazenda 3: Produção: 236 @ ; área total de cacau: 34,25 ha

Produtividade: 236 @ / 34,25 ha = 6,89 @/ha

Sem dúvida o rendimento físico das lavouras nesta safra temporã foi muito sofrível. Entre 9 e 7 @/ha para uma meia safra é desempenho baixo, compatível com a fase atual da cacauicultura, da vassoura-de-bruxa, dos preços não remunerativos, da especulação acima de tudo.

Certamente que tais índices podem ser melhorados. Se a safra principal tiver desempenho igual à temporã, os seus níveis serão dobrados para entre 18 e 14 @/ha no ano agrícola, o que ainda é um desempenho medíocre. A performance das lavouras poderão ser melhoradas se considera apenas a área safreira. Se só a área produtiva (cacaual safreiro, fora os jovens) for tomada em conta a produção por hectare produtivo será maior. É provável que a área total não seja mais que o dobro da área produtiva. Em assim sendo, o desempenho físico do semestre tem o que melhorar, pois a produtividade anual ficaria entre 36 a 28 @/ha, desempenho baixíssimo, antieconômico, como alias, fica evidente nos casos em que se pode fazer avaliação de desempenho privado. Vale lembrar, entretanto, que este era, aproximadamente, o desempenho médio das lavouras regionais na década de 1980, pouco antes de surgir a vassoura-de-bruxa. Embora empreendimentos considerados bons apresentassem de 100 a 150 @/ha.

Como resultado econômico vale destacar que o menor CVMe (R$./@ de cacau) esteve com a fazenda 3 (R$.9,63/@), o segundo ficou com a fazenda 1 (R$.11,61/@) e o mais oneroso com a fazenda 2 (R$.25,19/@ de cacau pronto) (quadro 18). Pelos quadros 1,2 e 3 verifica-se que a fazenda mais eficiente neste aspecto não usou insumos modernos. Só empregou trabalho. A mais ineficiente, a 2, foi a que mais empregou insumos materiais, tanto em diversidade de uso, como em dispêndio (absoluto e relativo) com este item por área plantada. Empregou R$.54,41/ha. A Segunda mais dispendiosa inverteu R$.17,12/ha. Com um dispêndio por hectare de materiais triplo conseguiu um rendimento físico semelhante e um custo variável unitário muito maior. Se as fazendas estiveram submetidas às mesmas condições de solo, clima e fitossanidade, então parece óbvia a necessidade de se rever a tecnologia em uso, pois aparentemente a eficiência em custo variável unitário se mostrou associada negativamente ao emprego dos materiais. Quanto menos material, menor o CVMe. De qualquer modo, há que reestudar a tecnologia de produção, vez que mesmo quando consegue cobrir (com o preço de venda) os custos variáveis, não o fazem com os custos fixos e totais.

III.2.DISCUSSÃO – O projeto em tela pode dar muito mais subsídios do que os apresentados neste primeiro relatório. Para tal basta que passe o tempo e haja acumulação, ordenamento e manejo adequado dos dados quantitativos colhidos por este projeto e outros similares a serem implantados, todos vinculados aos temas próprios da Economia da Produção. Tal conjunto de projetos e atividades deverá se estruturar num Programa de Economia da Produção. Em assim sendo, serão perseguidos estudos de séries tempo-espaciais, com ensaios sobre sazonalidade, tendência histórica ou secular, ciclos, tudo isto aplicado em uso dos insumos, quantidade produzida, preços dos insumos e do produto. A transformação dos insumos em produtos via funções produção, que proporcionará outro rico filão de conhecimentos específicos sobre a cacauicultura: a produtividade dos fatores, a substitutibilidade entre os mesmos, os programas de produção que otimizem os ganhos econômicos, o desempenho técnico-econômico da atividade. Os custos enfocados hoje apenas como equações de custo, sê-lo-ão no futuro como funções custo, o que é um tratamento muito mais prenhe de conseqüências.

A estimativa dos custos de produção aqui feita será certamente objeto de discussão, como sói acontecer. Os valores obtidos para os CVMe provavelmente serão aceitos sem restrições. Não só por serem de difícil refutação os seus procedimentos, mas também porque os valores alcançados são bem menores do que o preço de mercado (R$.11,61; 25,19 e 9,63 para as três fazendas respectivamente), exceto para a fazenda 2 (vale lembrar que os dados de quantidade produzida desta fazenda estão sujeitos a revisão). Entretanto a estimativa dos custos fixos, pelas muitas escolhas feitas; pela própria natureza destas escolhas, que envolvem elementos arbitrários até certo ponto, fica esta estimativa sujeita a controvérsias. Por isto se fez estudo de sensibilidade , fazendo variar os procedimentos do método. Como se vê no quadro 18, Para a fazenda 1, só o cenário que considerava como custo fixo só a manutenção (quadro 9), conseguiu ficar em equilíbrio de longo prazo, i.e., cobrir seus custos totais ao preço de mercado vigente (comparação feita com preços auferidos pelas outras duas fazendas, já que faltaram informes sobre os preços da faz.1- ver quadros 20 e 21). Ainda o outro cenário da fazenda 1 que considera compondo os custos fixos a depreciação (quadro 8) também cobriu seus custos totais. Para a fazenda 3 nem um cenário sequer o fez. A fazenda 2, sem os dados respectivos, não deu esta contribuição.

Em resumo, os custos fixos oneram decisivamente este processo de produção. Não parece prevalecer o argumento de que tais custos são superestimados. De fato, mesmo nos cenários mais leves (só depreciação; só manutenção) há problemas de desequilíbrio de longo prazo, i.e., a empresa produz – pois cobre os custos variáveis – mas ao longo do tempo vai comendo seu capital, pois não consegue capitalizar para remunerá-lo e promover substituição futura do capital desgastado. Além disso, a composição dos custos fixos considerou apenas aqueles bens que se desgastam na produção. Não incidiu ônus, v.g., pela remuneração da terra (juros sobre o capital imobilizado na terra), o que foi uma condescendência. Como também não se considerou manutenção e depreciação da terra, porque as despesas com conservação do solo típicas da agricultura são consideradas nos custos variáveis. O conjunto de critérios para o estabelecimento destes custos que nortearam este trabalho podem ser lidos em FERREIRA (1996).

Salvo melhor avaliação, é preciso mais acuidade no exame deste problema a nível de política econômica, junto e por parte dos "policy makers"ou planejadores. Talvez por esta razão seja a agricultura uma atividade subsidiada, menos em alguns países exóticos que preferem subsidiar algumas indústrias de ponta, possivelmente rentáveis.

Cabe tocar na dicotomia custo de oportunidade, alternativo ou econômico x custo contábil ou privado, tão discutido na literatura como em BILAS ( 1970 ; 165 ) e PINDYCK & RUBINFLED ( 1998; 206). Embora o trabalho vise os custos privados, para alguns fatores de produção -- mormente

os fixos -- , foram tomados os preços sombra ("shadow price"), como sói acontecer, sendo esses evidentemente elementos dos custos de oportunidade.

 

IV.LITERATURA.

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BILAS, A. B. (1970) – "Teoria Microeconômica: uma análise gráfica" – Rio de Janeiro – Forense – 357 p.

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