Oração do Gaúcho


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e com licença do Patrão Celestial.
Vou chegando, enquanto cevo o amargo de minhas confidências, porque ao romper da madrugada e ao descambar do sol, preciso camperear por outras invernadas e repontar do Céu, a força e a coragem para o entrevero do dia que passa.
Eu bem sei que qualquer guasca, bem pilchado, de faca, rebenque e esporas, não se afirma nos arreios da vida, se não se estriba na proteção do Céu.
Ouve, Patrão Celeste, a oração que te faço ao romper da madrugada e ao descambar do sol:

"Tomara que todo o mundo seja como irmão!. Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos outros o que não quero para mim".
Perdoa-me, Senhor, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana, de quando em vez, quase se querer, em me solto porteira a fora... Êta potrilho chucro, renegado e caborteiro...mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito!

Ajuda-me, Virgem Maria, primeira prenda do Céu. Socorre-me, São Pedro, Capataz da Estância Gaúcha. Pra fim de conversa, vou te dizer meu Deus, mas somente pra ti, que tua vontade leve a minha de cabresto pra todo o sempre e até a querência do Céu. Amém.

Autor: D. Luiz Felipe de Nadal
bispo de Uruguaiana

 

Ave Maria do Peão

Odilon Ramos

Ao reponte do sol que descamba no dia se aprochega para o arremate pelos campos e nos matos da querência no revoar da bicharada voltando ao ninho é hora de recolhimento

No rancho que há no interior de mim mesmo eu, gaúcho de fé me arrincono e medito

Despindo o poncho da vaidade e do orgulho, tiro o chapéu, apago o pito e me achego pra uma prosa com o patrão maior

Na sua presença meu sangue quente de farrapo se faz manso caudal entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha em busca do destino renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta e macio de tranco para dizer-lhe

Gracias patrão por tudo que me deste por esta querência Senhor que meus ancestrais regaram
com seu sangue e que aprendi a amar desde piá

Pelos meus parceiros nessa ronda da vida sempre de prontidão para me amadrinharem na campereada mais custosa ou para matearem comigo na hora do sossego

Reparte com eles, patrão esta fé que me deste e este orgulho pela minha querência

Ajuda patrão a manter acessa esta chama concede sempre ao gaúcho a força no braço
e o tino pra saber o que é correto

Dá-nos consciência para preservar a nossa cultura livre da invasão dos modismos conserva a essência e a beleza da nossa tradição

E agora, com licença patrão que vou aproveitar a olada para um dedo de prosa com
Nossa Senhora

Ave Maria primeira prenda do céu contigho está o Senhor, na estância maior tu és bendita entre todas as prendas e bendito é o piá que trouxeste ao mundo, Jesus

Maria, mãe de Deus E mãe de todos nós roga pela querência e pelos gaudérios
que aqui moram nesta hora e no instante da última cavalgada

Amém

 

 



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