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Informações retiradas do Trabalho Guimarães Rosa A língua do sertão.

Obras

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Sobre as Obras

Magma João Guimarães Rosa, morto em 1968, ainda mantinha uma última obra inédita: Magma. Trata-se de seu único livro de poemas, vencedor de concurso realizado pela Academia Brasileira de Letras em 1936, que o autor nunca publicou. Depois de sua morte, a despeito das diversas manifestações de intelectuais e da imprensa, a família manteve a mesma disposição de Guimarães Rosa. Hoje, finalmente, a Editora Nova Fronteira obteve autorização da família para a publicação de Magma em edição delicada e especial. A obra traz, em nota editorial, uma reprodução do discurso proferido por Rosa por ocasião do recebimento do prêmio da Academia Brasileira de Letras.

As ilustrações de Magma foram feitas por Poty, primeiro e único ilustrador de todas as obras de Guimarães Rosa, que se emocionou ao reconhecer, nos poemas inéditos, o estilo inigualável do amigo de juventude. Para os leitores de Rosa é um privilégio a publicação desse livro, por tanto tempo intocado e por muitos até mesmo ignorado na sua existência. Magma apresenta, de forma poética, o esboço do que seria a prosa roseana, que encanta pessoas do mundo inteiro com a sua peculiaridade e qualidade narrativa.

Divulgação, Editora Nova Fronteira

 

Sagarana Um ano depois de regressar da Colômbia, retoma os originais dos Contos com os quais concorrera ao prêmio Humberto de Campos e, após "cinco meses de reflexão e lucidez", refaz inteiramente o livro, submetendo-o a uma verdadeira depuração e suprimindo duas estórias. O volume é publicado em 1946 pela Editora Universal com o título Sagarana, esgotando-se, no mesmo ano, duas edições. A palavra sagarana, de formação híbrida, foi cunhada pelo próprio autor e resulta da justaposição de saga, substantivo comum de proveniência germânica, aplicada genericamente a narrativas históricas ou lendárias, e rana, adjetivo tupi que significa "parecido com, mal feito, tosco". Os contos de Sagarana, num total de nove, seriam, pois, parecidos com lendas, lendas toscas, rudes; ou, conforme os via o próprio Guimarães Rosa, "uma série de histórias adultas da Carochinha"

 

Corpo de Baile Em 1956, dez anos depois da publicação de Sagarana, Guimarães Rosa comparece novamente no cenário da literatura brasileira com as novelas de Corpo de Baile – longos poemas em prosa, de feição barroca –,13 em dois volumes (824 páginas). A partir da 3ª edição o livro se desdobra em três volumes autônomos, figurando Corpo de Baile como subtítulo; os três volumes são, respectivamente, Manuelzão e Miguilim, no Urubùquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão.

Um mundo de constantes descobertas "Campo Geral" e "Uma Estória de Amor" são duas novelas que compõem a obra Manuelzão e Miguilim.

Narrada em 3ª pessoa, Campo Geral é apresentada como uma biografia do mundo infantil, sob a perspectiva de Miguilim, menino inteligente e sensível que mora com a família na mata do Mutum (MG). A narrativa é organizada segundo a vivência e as experiências desse jovenzinho que está constantemente observando as pessoas e as coisas situadas no universo sertanejo. Diversas personagens vão sendo apresentadas ao leitor: a mãe; o pai suicida; o padrasto e tio Terez; os irmãos, principalmente o Dito, que morre de tétano; a avó ranzinza Izidra, entre outros. O leitor vai desvendando a cada passo o mundo afetivo de Miguilim, transbordado de alegrias e de tristezas, misturando-se nele as reflexões e os deslumbramentos. Todas as seqüências tempo-espaciais vão sendo extraídas da captação do pensamento infantil e culminam com a descoberta da miopia e com a ida de Miguilim com o doutor forasteiro para longe do ambiente em que fora criado. Obra de rara poesia, é, certamente, uma das mais belas produções da literatura roseana.

 

Grande Sertões: Veredas Para surpresa geral, ainda em 1956, no mês de maio, Guimarães Rosa apresenta o romance Grande Sertão: Veredas, causando enorme impacto; devido, sobretudo, às inovações formais, a crítica e os leitores se dividem entre louvações apaixonadas e ataques ferozes. O fato é que ninguém lhe fica indiferente. Enquanto alguns colocam o livro no pináculo da criação literária nacional, outros não conseguem ir além das primeiras páginas, considerando-o "um matagal indevassável". Em matéria publicada na revista Leitura (outubro, 1958) e intitulada Escritores que não conseguem ler Grande Sertão: Veredas, o poeta Ferreira Gullar alegou que não conseguira ir além das 70 primeiras páginas do romance o qual, a essa altura, começou a lhe parecer "uma história de cangaço contada para lingüistas". Por sua vez o escritor baiano Adonias Filho, também ouvido na ocasião, afirmou: "A obra de Guimarães Rosa, apesar do interesse que possa oferecer, constitui um equívoco literário que necessita ser imediatamente desfeito." Passadas quatro décadas da publicação do livro, a razão parecia estar mesmo com Afonso Arinos de Melo Franco que, já em 1957, "no calor da hora", sentindo o cheiro de obra-prima, advertia, mineiramente:

Cuidado com este livro, pois Grande Sertão: Veredas é como certos casarões velhos, certas igrejas cheias de sombras. No princípio a gente entra e não vê nada. Só contornos difusos, movimentos indecisos, planos atormentados. Mas aos poucos, não é luz nova que chega; é a visão que se habitua. E, com ela, a compreensão admirativa. O imprudente ou sai logo, e perde o que não viu, ou resmunga contra a escuridão, pragueja, dá rabanadas e pontapés. Então arrisca-se chocar inadvertidamente contra coisas que, depois, identificará como muito belas.

O romance recebeu três prêmios: O Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; o Carmem Dolores Barbosa, de São Paulo e o Paula Brito, da municipalidade do Rio de Janeiro. As edições de Grande Sertão: Veredas se sucederam mas, ainda hoje, fica a sensação de que a maioria das pessoas que se referem ao livro não o leram, pelo menos da forma como deveriam ler, de acordo com a recomendação do próprio autor: "Minha literatura é para bois, não é para ser engolida de vez".

"O sertão está em toda a parte... O sertão é do tamanho do mundo"

 

Enredo - Riobaldo, seu narrador-protagonista, agora um velho e pacato fazendeiro, faz um relato de sua vida a um interlocutor, um "doutor" que nunca aparece na história, mas cuja fala é sugerida pelas respostas de Riobaldo.

Assim, apesar do diálogo sugerido, a narração é um grande monólogo em que Riobaldo traz à tona suas lembranças em torno de lutas sangrentas de jangunços, perseguições e emboscadas nos sertões de Minas, Goiás e sul da Bahia, bem como suas aventuras amorosas.

Ao mesmo tempo, Riobaldo vai relatando as preocupações metafísicas que sempre marcaram a sua vida. Dentre elas, destaca-se a existência ou não do diabo. Para ele essa questão é primordial, porque, pelo que se depreende da obra, provavelmente fizera um pacto com o demônio a fim de vencer Hermógenes, chefe do bando inimigo. Portanto, desse fator depende a sua salvação e daí advêm as inquietações da personagem.

O amor e suas ambigüidades - Riobaldo conhece e relata três amores na história; o envolvimento com Otacilia, moça recatada que conheceu numa fazenda; o amor sensual de Nhorinhá, uma prostituta; e o amor ambíguo e envolvente de Diadorim. Desses três, o último é o mais importante e, ao mesmo tempo, o amor impossível.

Diadorim é o nome íntimo (que só Riobaldo conhece) de Reinaldo, valente jangunço e melhor amigo de Riobaldo que entrara na guerra porque queria vingar a morte de seu pai, o chefe Joca Ramiro.

A descoberta do amor por Diadorim surpreende Riobaldo, que nunca tivera nenhum traço homossexual. Apesar disso, o amor crescia incontrolável:

Mas Diadorim, conforme diante de mim estava parado, reluzia no rosto, com uma beleza ainda maior, fora de todo comum. Os olhos - vislumbre meu - que cresciam sem beira, dum verde dos outros verdes, como o de nenhum outro pasto. [...] De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações?! Me franzi. Ele tinha a culpa? Eu tinha a culpa?

No término da obra, depois que Diadorim mata Hermógenes e é morto por ele, no encontro final, os corpos são recolhidos para serem lavados. Então é que se descobre: Diadorim era uma mulher (Diadorina, seu verdadeiro nome) que se fizera homem apenas para ser aceita no bando e vingar a morte do seu pai. A revelação leva Riobaldo ao desespero: "Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher como o sol não acende a água do rio Urucuia, como eu solucei meu desespero".

A travessia - A travessia está presente em vários momentos da obra: uma difícil travessia que certa vez Riobaldo faz do rio São Francisco; a travessia do sertão, do amor e do medo; a travessia da morte e do diabo. E também a travessia de sua própria vida, que Riobaldo faz, ao repassar a memória e contar sua história ao interlocutor.

Somente quando Riobaldo chega ao final de sua história é que as coisas fazem sentido para ele. E o sentido da vida também fica claro: "Porque aprender a viver é que é o viver mesmo". E chega a uma conclusão sobre sua dúvida inicial: "O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia".

 

Primeiras estórias Após outro longo período de silêncio, Guimarães Rosa reaparece em 1962 com Primeiras estórias, uma coletânea de 21 pequenos contos. É um livro sem a vastidão e o caráter sinfônico de Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas, embora estejam presentes, e talvez em grau até mais acentuado, aquelas surpreendentes pesquisas formais. Em carta dirigida ao tradutor J. J. Villard, assim se expressa o escritor a respeito do novo livro (o qual chamava, carinhosamente, de "o amarelinho", numa referência à cor da capa da edição da Livraria José Olympio Editora):

Só aparentemente e enganosamente é que ele se finge de simples e livrinho singelo. Muito mais que uma coleção de estórias místicas, Primeiras estórias é, e pretende ser, um manual de metafísica, e uma série de poemas modernos. Quase cada palavra nele assume pluralidade de direções e sentidos. Tem de ser tomado de um ângulo poético, anti-racionalista e anti-realista.

Acredita-se que o autor tenha escolhido tanto o formato quanto a temática do novo livro após os distúrbios cardiovasculares de que foi vítima a partir de 1958 e a inevitável crise existencial que se seguiu. Assim, 1958 seria um marco, um divisor de águas; teria havido, a partir de então, uma mudança de perspectiva por parte do escritor que, vendo a saúde periclitar, não mais se permitiu elaborar projetos tão arrojados quanto Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas.

 

Tutaméia - Terceiras estórias Em 1967 Guimarães Rosa publica Tutaméia -Terceiras estórias, um conjunto de 44 narrativas curtas das quais 4 desempenham também o papel de "prefácios" ("prefácios travestidos", na visão de Lenira M. Covizzi). Tutaméia é uma espécie de "livro testamento", um texto decodificador da obra rosiana ou, ainda, a chave estilística de sua obra, um resumo didático de sua criação.

Tutaméia é um exercício de síntese realizado com excepicional habilidade. O espaço limitado de que dispunha o autor - os contos foram escritos originalmente para publicação em revista - ele concentra numas poucas páginas uma ação e uma observação intensas. O cenário, o estilo e os personagens são os mesmos da grande maioria das obras de Guimarães Rosa: a região Centro-Oeste, o sertão mineiro, as velhas fazendas, as grandes boiadas e seus vaqueiros, tudo isso integrado num todo que forma o mundo de Guimarães Rosa, dotado de uma linguagem marcante, que é o aproveitamento literário da fala popular do sertanejo.

Nos 4 "prefácios travestidos", através de rodeios e circunlóquios, por meio de alegorias e parábolas, o autor analisa o seu gênero, seu instrumento de expressão, a natureza de sua inspiração, a finalidade de sua arte, de toda a Arte. As estórias propriamente ditas, em número de 40, primam pela excessiva concentração. Na visão de Paulo Rónai:

são episódios cheios de carga explosiva, retratos que obrigam o leitor a reconstruir os dramas que moldaram os traços dos originais, romances em potencial comprimidos ao máximo. Fiel ainda desta vez ao cenário das obras anteriores, isto é, aos de sua infância, Guimarães Rosa faz caber neles a angústia existencial dos personagens e a sua própria. É naquele ambiente de agreste e dramática beleza que o inexistente entremostra a sua vontade de encarnar-se, que aquilo que não é passa a influir no que é, que o que poderia ter sido modifica o sentido do que houve. Isso num estilo que tira dos processos da fala sertaneja, propensa ao lacônico e ao sibilino, ao pedante e ao sentencioso, ao subentendido e ao elíptico, ao enfático e ao colorido; que vai buscar seu léxico num enorme estoque de regionalismos, arcaismos, latinismos, plebeismos e brasileirismos, completando-o por criações de cunho individualíssimo; e que se inova, sobretudo, por ousadias sintáticas e capazes de sugerir o que não é dito num jogo de anacolutos, reticências e omissões.

 

Após sua morte foram publicados, respectivamente em 1969 e 1970, os livros Estas Estórias (contendo a obra-prima Meu Tio, o Iauaretê que trata, de forma exemplar, da extinção da cultura indígena e de suas trágicas conseqüências) e Ave, Palavra (com páginas antológicas como Uns inhos engenheiros, De stelle et adventu magorum, Circo do miudinho, Minas Gerais e As garças).

 

Bibliografia na edição do trabalho Guimarães Rosa A língua do sertão.

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