Há pouco mais de um ano, Enzo Perondini Filho ouviu dos médicos que tinha apenas mais três meses de vida. Ele estava com 34 anos, 158 quilos, 180 troféus guardados, como registro de anos e anos de glória, nódulos no fígado, degeneração dos rins, vesícula biliar deteriorada e, fechando o quadro, completamente careca.
O que aconteceu?
Ele se entupiu de anabolizantes.
O sonho que perseguia, de maneira obcecada, era ser campeão mundial.
Ele conseguiu, mas, como reconhece, por um milagre não pagou com a
própria vida:
"Eu comecei a treinar um pouco por vaidade. Tinha 17 anos era magro
e fazia judô. Queria ficar mais bonito, mais atlético, queria
mais força. Comecei com musculação e, logo surgiram resultados.
Aí, fui me dedicando mais e mais. Minha mudança era visível
na forma física. Todos diziam que eu tinha uma predisposição
genética a ficar musculoso e em três ou quatro meses, fiquei
musculoso. Passei a fazer levantamento de peso, participar de competições
e, em cinco meses era recordista em diversas categorias. E tudo sem usar droga
nenhuma.
Só que dentro do esporte existe uma rivalidade muito grande, principalmente
nas competições internacionais. Quando eu perdia para a Argentina,
por exemplo, ficava em segundo lugar, sentia muito e eu sabia que os atletas
de lá usavam muita droga. Na época eu estudava Biologia e comecei
a pesquisar e resolvi usar anabolizantes. Mesmo sabendo muito bem os riscos.
Não eram doses exageradas, mesmo porque, era difícil conseguir
a droga no Brasil, mas em pouco tempo comecei a ver os resultados positivos
e negativos.
Em 1989, com 25 anos, comecei a competir no Fisiculturismo. Aí, a coisa
se complicou. Como eu sempre tive o corpo bem definido, todo mundo falava
que eu tinha de partir para o Fisiculturismo, só que o esquema é
bem diferente de levantamento de peso. No levantamento de peso você
usa pouco anabolizante porque a competição não tem finalidade
estética. No Fisiculturismo, é pura estética, e aí
tome anabolizante. E para estimular mais, tem a mídia que dá
muita cobertura ao Fisiculturismo, o que facilita na hora de conseguir um
patrocinador. Conclusão: quando parti para o Fisiculturismo, me aprofundei
no uso de anabolizantes.
Em 1991, tive minha primeira experiência ruim, foi uma obstrução
intestinal após uma temporada de competição. Fiquei muito
mal, daí resolvi ir para os Estados Unidos para aprender a usar anabolizantes
e me profissionalizei mais, quando voltei, não perdi mais nenhuma competição.
Só que, em 1994, voltei a ter problemas com a saúde. Mesmo assim
não parei com as drogas até 1998, quando exagerei mesmo, fiquei
muito mal e quase morri."
De frente com a morte, Enzo Perondini Filho, no auge da carreira, resolveu
abandonar o Fisiculturismo e os anabolizantes.
Hoje, ele é professor de duas academias badaladas de São Paulo,
se mantém em permanente dieta alimentar, malha 4 horas por dia e começa
a recuperar não só a saúde, mas também os cabelos
que havia perdido.