Boletim Mensal * Ano VI I *  Julho de 2009 *  Número 72

           

 

 

COLUNA DOS VINHOS

Ivo Amaral Junior

 

   

         

 

            Chuva! Muita chuva! É isso mesmo caro compadres, esse inverno está invernal, como diria um grande amigo meu, fazendo uso de uma licença poética que ele buscou nalgum lugar.

            Esses meses estão sendo perfeitos para esquentar o corpo com bons vinhos e comidas quentinhas e gostosas; claro que uma boa companhia também é de bom grado.

            E é justamente sobre os vinhos de inverno que eu gostaria de tecer alguns parcos comentários, harmonizando os mesmos com pratos da nossa culinária.

            Antes de adentrar no assunto em si, fiz uma divagação para escolher qual vinho seria típico do inverno. Bem, se eu tinha escrito sobre o vinho verde durante o verão, porque não falar sobre o vinho do Porto no inverno? Desta feita, tendo resumido minhas opções literárias-enológicas, resolvi dedicar uma coluna do boletim aos vinhos do Porto.            

            Outras estarão por vir, se os leitores concordarem com meus ruminados comentários. Nesse momento sei que alguns vão ter a sensação de deja vu, pois já falei sobre o tema, mas tentarei aprofundar mais o assunto e tentar satisfazer a todos, sem o tom professoral. Vamos lá!

            De início, mister se faz destacar que o legítimo vinho do Porto é produzido da região vitivinícola demarcada do vale do rio Douro e nessa região ainda são feitas descobertas arqueológicas que atestam a existência de cultura vínica, ou seja, há muitos séculos o cultivo das vinhas vem sendo realizado no Douro.

            No século XVII, em virtude de desavenças entre as potências marítimas, os ingleses estabelecem tratado comercial com Portugal para o comércio de vinhos, em contrapartida, os ingleses encaminhavam tecidos britânicos com isenção de vários impostos. Passado um século desse comércio, a ganância, as fraudes e os interesses conflitantes quase causaram o débâcle dos produtores de vinho do Porto que, felizmente, recuperaram-se com a demarcação da área (pouco mudou de lá para cá), que veio quase um século depois, mesmo enfrentando crises comerciais e pragas.

            Mas o grande impulso veio apenas no início do século XX, com o estabelecimento de regras e normas mais claras em defesa da marca comercial, protegendo os bons produtores e fiscalizando as práticas vitivinícolas, qualitativas e comerciais. Hoje, institutos e associações contendo agricultores e comerciantes, além de estudiosos têm feito excelente trabalho de engrandecimento e pesquisa do vinho.

            As uvas mais conhecidas na produção do vinho são nativas da região, entre elas destacam-se as touriga (nacional e francesa), tintas (cão, roriz e barroca) – isso para produção dos tintos. Já os brancos utilizam a arinto e malvasia, entre outras.

            O Porto é um vinho doce, mas bastante alcoólico e passa por barris de carvalho. Por isso, muita gente acha que o mesmo somente deva ser consumido com a sobremesa, mas ele é muito mais versátil e harmoniza com a culinária portuguesa, brasileira, italiana, entre outras, tamanha a complexidade dos seus aromas e sabores. Seguem algumas dicas...

            Porto Branco – os secos são extremamente deliciosos como aperitivo, acompanhados de um bolo de Natal ou de queijos brancos. Alguns gostam de acompanhar na fondue de queijo gruyere, o legítimo (nunca provei, mas Bruno Braga, advogado amigo, disse ser ótimo lá em Gravatá no Chateau Alpino, do lendário Truan – mas leve sua garrafa).

Porto Tinto – são os clássicos! O Ruby é o mais simples, passa pouco tempo nas pipas e vai ao mercado. Os brasileiros são consumidores vorazes e apreciam no inverno com fondues de chocolate ou frutas flambadas (banana ou pêra portuguesa, huuum!).

            Já o Tawny é mais amadeirado, estagia em barricas por um período maior e é mais claro que o Ruby. Ademais, os sabores são mais complexos, distanciando-se das frutas frescas, passando mais para especiarias, compotas ou frutas cristalizadas. Os mais ousados fazem combinações que – aparentemente – são estranhas, com bacalhau, carne com molhos de frutas (eu experimentaria uma delas nesse inverno, ainda não tive a oportunidade).

            Tive a experiência gastronômica de degustar um Tawny na reunião da Associação Brasileira de Sommeliers de Pernambuco, presidida pelo sommelier Cláudio Vieira, acompanhado de um queijo roquefort e de salame (já comentei em coluna anterior), foi sensacional, vale a pena, principalmente pelo fato de que queijos fortes e embutidos encaixam, como uma luva, nesse tipo de vinho. Não sei se é o teor alcoólico, a madeira, a sensação gustativa! Sei que foi bom! Muito bom!

            Para não me alongar – já que falarei mais sobre o assunto em uma outra oportunidade – vai aí uma dica: quando abrir uma garrafa de um bom Porto não a guarde por muito tempo, ele deve ser bebido num curto espaço temporal, senão perderá suas qualidades. A única garrafa que não deve ser bebida assim é a de um Porto Vintage: esse deve ser bebido todo, no dia da abertura, certamente num momento especialíssimo. Mas aí é assunto para a próxima... Bom inverno e aproveitem para bebericar - assistindo filmes, num carteado, proseando ou jantando, o que importa, como sempre digo, é a boa companhia, de amigos e vinhos...

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