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Caderno de Cultura Caetiteense
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OTTO KOEHNE E O
RESGATE DA CALDEIRA
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
A COMPANHIA DE LUZ
WILHELM OTTO KOEHNE
CONCLUSÃO E FONTES UTILIZADAS
Caderno de Cultura Caetiteense - Conteúdo de livre reprodução, desde que citada a fonte:
André Koehne - Site Cultural do Município de Caetité - Bahia - 2002-2009
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O RESGATE DA CALDEIRA
FIAT LUX - Caetité se ilumina
  Flávio Neves nasceu em 1908, em Caetité. No ano de 1986 lançou em livro suas memórias, pela Academia Mineira de Medicina. É ali, na sua obra Rescaldo de Saudades, que encontramos a seguinte passagem:
   "
Caetité, com seu espírito de progresso, havia de sonhar com a luz elétrica. E todos os esforços voltaram-se para este objetivo. Ainda menino, antes de vir para Minas, pude conhecer toda uma gama de material elétrico, adquirido bem antes que se dispusesse de geração de energia. Esta seria termoelétrica, com consumo de lenha. Uma caldeira foi adquirida no Rio de Janeiro, creio que já de segunda mão. Uma peça pesando mais de sete toneladas. Embarcada na "Central do Brasil" em transporte ferroviário, com baldeação obrigatória, dada a mudança para a bitola de metro, a partira de Lafaiete. Até Pirapora, quando desembarcada na estação teve de ser levada até a margem do Rio São Francisco, onde, a duras penas, foi reembarcada em um lanchão a rebocar-se por um "gaiola", rio abaixo, até atingir-se Bom Jesus da Lapa, mais de 600 quilômetros de percurso. É fácil avaliar-se o drama em que consistiu o transporte de tão pesada carga até a Lapa. Entretanto, o desembarque ofereceu o epílogo. O lanchão virou e a caldeira foi-se para o fundo do rio. Em tal situação permaneceu, por quase cinco anos, resistindo a todos os esforços em resgatá-la. Um homem forte, enérgico e decidido resolveu que a caldeira haveria de chegar a Caetité. Era ele o Dr. Mário Teixeira, irmão mais velho de Anísio Teixeira. Promoveu uma mobilização de meios e conseguiu deixar a caldeira em seco. O drama prosseguiu; haveria de carregá-la em carretão especial e vencer as trinta léguas que separavam do destino. Trechos de estrada foram abertos, no mato; dezenas de juntas de boi a arrastarem aquela mole. A empreitada coroou-se de êxito; o cortejo formado por cerca de 50 juntas de boi entrou triunfante e sob os aplausos da população pelo lado da rua do Progresso, onde uma única ponte, arcados de pedra, talvez construção portuguesa, tinha capacidade de suportar o peso da respeitável geringonça.
   Finalmente houve luz elétrica em Caetité; precária, pois sua qualidade dependia da lenha, se seca ou se verde e úmida. Das 6 às 11 da noite, com exceção de algumas noites festivas, como a do Natal, quando permanecia até ao amanhecer."

   A história não foi bem assim. O engenheiro Mário Teixeira, efetivamente, havia tentado resgatar a caldeira de sob as águas do São Francisco. Para tanto, esperou o período da seca, quando as águas do
Velho Chico recuam. Assim, com a máquina emergindo parcialmente, imaginou fosse possível arrastá-la, sob a força de muitos bois, até a margem onde, então, poderia deslizar suas imensas rodas de ferro, que ficavam nas laterais.
   O plano parecia perfeito, mas sucedeu que, pelo seu enorme peso, a caldeira mergulhara bastante no fundo lodoso do rio. Os bois atolavam, alguns chegaram a morrer ante o esforço hercúleo. Baldados os esforços, a empresa fracassou.
   Com a chegada a Caetité de dois alemães - Otto e Meyer - em fins de 1918, uma nova perspectiva se abriu. Os dois haviam ficado impossibilitados de retornar para a Alemanha em razão da I Guerra Mundial. Tinham vindo para Pernambuco, chegando na terça-feira, dia 04 de agosto de 1914. A empresa alemã para quem trabalhavam havia sido contratada para instalar a luz do Recife. Com a guerra, iniciada em 1914, o Brasil ficou isolado da Europa, rompidas as navegações intercontinentais.
   Ali em Recife os dois estrangeiros ficaram até 1918, quando, premidos pelas necessidades de trabalho, resolveram seguir para Guanambi e região, numa migração que já atraía centenas de pernambucanos.
   Sua chegada e passagem por Caetité é registrada por João Gumes, no seu jornal A Penna. Guardaram boa impressão nos moradores, que já conviviam com outros estrangeiros, a exemplo dos também alemães Ohlsen, ou os norte-americanos do colégio presbiteriano.
   Fato é que ambos acabaram se casando em Caetité, com duas irmãs, da família Rodrigues Lima: Otto, mecânico, com Alice; Afons Hoffmann Meyer, com Beatriz - ambas filhas do Tenente Coronel Otacílio Rodrigues Lima, um dos chefes políticos da cidade.
   Tendo feito amizade com ambos, o Dr. Mário Teixeira, que já havia mobilizado recursos para o resgate da caldeira, narrou ao Otto o fracasso de sua tentativa de resgate do maquinário adquirido anos antes pela Companhia fundada por caetiteenses.
   Otto engendrou um novo plano, desta feita capaz de superar os obstáculos. É a história deste resgate, muito diversa da que a memória de Flávio Neves foi capaz de relembrar, que narraremos, em especial da figura ímpar deste germânico que figurou na História de Caetité, como homem de proa, genial e muitas vezes visionário.
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