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Caderno de Cultura Caetiteense
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Cezar Zama - A Verdade
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
CEZAR ZAMA DE FAENZA
CEZAR ZAMA DE CAETITÉ
BIBLIOGRAFIA
Caderno de Cultura Caetiteense - Conteúdo de livre reprodução, desde que citada a fonte:
André Koehne - Site Cultural do Município de Caetité - Bahia - 2002-2009
  Durante a administração do marechal Floriano Peixoto (1892-1894), a mais agitada que tem tido a República, o Dr. César Zama foi o único deputado que, na Câmara, analisou, com desassombro, os seus atos, afrontando-lhe o poder discricionário.
   Mas receando qualquer violência da parte do marechal, só se apresentava na Câmara fardado, pois, tinha as honras de coronel honorário, distinção que lhe fizera o governo da República.
   Não obstante essa oposição, Floriano Peixoto que tudo podia, nada fez, acatando-lhe as imunidades do cargo.
   Essa atitude franca hostilidade ao poder valeu-lhe, no seu regresso à Bahia, depois do término da sessão parlamentar, a mais estrondosa manifestação popular de que foi alvo.
   Finda a legislatura o Dr. César Zama não mais voltou à Câmara, guerreado pela oposição, cujos desvairamentos combateu com altiva sobrançaria.
   Deixou no regime passado nomeada de tribuno arrojado, graças à extraordinária popularidade que soube conquistar, nesta terra, pela maneira superior por que se portara nas lutas políticas em que tomara parte ativa.
   No regime atual, como já dissemos, representou a terra natal na Câmara Federal, sempre cercado da admiração sincera e devotamento dos seus conterrâneos.
   Cultor inteligente da seleta literatura e polemista consumado, deixou na imprensa um nome feito, sobretudo nas pugnas políticas, pela concisão e lógica dos seus artigos de crítica.
   A sua colaboração na imprensa é uma obra valiosa, pois constitui subsídio altamente proveitoso à história política da nossa terra.
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  Nasceu em Caetité, aos 19 de novembro de 1837.Morto o pai, e sendo de família muito rica, o pequeno Aristides Cezar Spínola Zama tem na Capital a melhor educação então oferecida, certamente no Colégio Bahiano, do afamado Barão de Macaúbas, ou Pereira e São João.
  De fato, foi nestas escolas que estudaram seus conterrâneos e contemporâneos: Plínio Augusto Xavier de Lima, Aristides de Souza Spínola, Joaquim Manoel Rodrigues Lima. Era uma geração de homens ímpares. Plínio de Lima e Aristides foram colegas de Castro Alves e Ruy Barbosa!
  Na década de 1860 matricula-se na Faculdade de Medicina de Salvador, onde também cursa Joaquim Manoel. Estourando a Guerra do Paraguai, ambos seguem como voluntários para servir nos hospitais de sangue, quando a campanha havia se tornado mais ingente.
  Retornando, completa a Faculdade, e volta para Caetité. Mas não exerce a profissão, antes ingressando na política: Plínio de Lima morreu novo, mas a via política foi logo abraçada pelos demais luminares: Joaquim Manoel e Aristides, este nomeado pelo Imperador Presidente da Província de Goiás, e depois deputado provincial. E foi como deputado que Cezar Zama se projetou.
  Durante as legislaturas do Império, abraça a causa abolicionista. Em célebre embate, foi tripudiado pelo parlamentar mineiro Valadares (depois governador), por ser este escravocrata, ao ver criticada por Zama a proposta da Lei dos Sexagenários: "Vossa Excelência é médico, então certamente falacom a jurisprudência da medicina...", ironizou o escravagista um argumento de Zama, ao que este de pronto respondeu-lhe: "Não, falo com a jurisprudência do Cristo, que pregava serem todos os homens iguais"!
  Presidiu, junto a outro parlamentar, a última Sessão do Parlamento no Império, e atuou como constituinte na primeira Carta Magna da República.
  Exercia oposição a Joaquim Manoel Rodrigues Lima. Mas, mesmo assim, quando de sua indicação para a candidatura ao Governo do Estado, na primeira eleição a este posto da História, reconheceu o valor de seu conterrâneo. Eleito, o dr. Joaquim Manoel fez a Assembléia Estadual aprovar uma lei que obrigava a Imprensa Estadual a publicar suas obras!
  Sobre esta atuação política, e mais sobre sua vida, transcreveremos o registro de Pedro Celestino da Silva:
E prossegue, adiante:
  Admitir, no século XXI que o dono de tão grande obra e lapidar biografia, as confusões que se fazem em torno de seu nome, é negar a História e a Verdade. Aliás, é de Zama a profética frase que inscreveu no prefácio da edição oficial de "Os Grandes Oradores": Já estou velho, e não tardará encontre no túmulo o esquecimento dos vivos.
  Entretanto, outros informes obtemos em D. Helena, sobre esta ilustre figura, que os caetiteenses têm orgulho:
Episódio da vida de César Zama, em criança, contado por Antonio Marcelino das Neves:
"Dona Rita, novamente viúva, continuou a freqüentar a melhor sociedade de então, na cidade. Numa visita que fez a uma família de suas relações, levou consigo o menino César, seu filho único. Servida a certa hora da noite, profusa mesa de chá com finas massas, em rica baixela, como era de uso entre as famílias ricas, passou o pequeno César a servir-se demasiadamente de manteiga, com modos pouco próprios de gente bem educada. Sua mãe, percebendo o caso e o tendo ao seu lado, beliscou-o discretamente, com o fim, já se vê, de fazer cessar o mau modo. Ele, porém, aborrecido com o gesto de sua mãe, disse em voz alta: "ué, mamãe, beliscando a gente por causa de manteiga?!" Hilaridade geral, vexame de Dona Rita".
Em Salvador casou-se com Hermínia Faria Rocha, irmã do General Faria Rocha.
Não tiveram filhos. Ganhou e gastou muito dinheiro, vivia com grande aparato, com mesa farta e variada, sempre servida com requinte e para a qual admitia quem estivesse presente para as refeições, não importando posição social ou cor. Era um belo tipo de homem, alto, muito corado.
Residia na praça da Piedade, no correr da igreja, onde é hoje a Secretaria de Segurança Pública. Não clinicava.
Sua fortuna foi para um sobrinho de sua mulher, Cândido Leão, depois da morte de Hermínia.
  D. Helena Santos cita Pedro Celestino: "Historiador, era não só erudito como tinha intuição do passado". Hoje, infelizmente, esta intuição parece falhar. Zama foi, sim, um dos maiores caetiteenses de todos os tempos! Batia-se, na oratória, e com maior sucesso, com o imortal Ruy Barbosa (este sim, no Senado), e dentre as obras do Águia de Haia, encontramos uma "Resposta a Cezar Zama"...
  Seus opositores tentaram sempre denegrir-lhe a imagem. Daí o dizerem ser ele um jogador inveterado - aspecto que Ruy Barbosa, segundo contam, atribui-lhe como destinatário de seu discurso sobre "O Jogador".
  Acreditamos, então, ser hora de trazer a lume estas palavras de Zama, na biografia de Alexandre:
"quem, como nós, porém, escreve, não uma apologia, mas a história real de um homem, é obrigado a dizer aquilo que em sua convicção é a verdade, luz sempiterna e divina, que todos devem procurar ver."
  A verdade... luz sempiterna e divina. Ah, Zama, quem nos dera todos a procurassem. Teriam sobretudo descoberto seus ensinos morais, como neste mesmo livro, ainda hoje reeditado, passagens como esta:
"Bella matribus detestada! Flagelo horrível da humanidade, que a civilização moderna ainda não conseguiu extirpar, maldita guerra! Que chega até a inverter a ordem e as leis da natureza!"
  Ou ainda referindo-se a um castigo imposto pelo general macedônio aos descendentes de uma família de gregos: "Não se compreendem excessos tais, nem contra os pobres naturais daquela cidade, nem contra os descendentes da família grega, os quais não podiam nem deviam ser punidos pelos crimes de seus antepassados." Não parece atual? Não se assemelha àqueles que confundem o crime do pai e o imputam ao filho?...
  A Divisão de Cultura, da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, do Governo de Renovação, conseguiu obter, para o acervo da Biblioteca Cezar Zama, esta obra inigualável. E mais, dispõe de tudo, tudo mesmo, quanto o nobre tribuno falou no Congresso, quer nas legislaturas do período imperial, quer na República, reunidas em dezoito volumes.
Encerramos o presente Caderno com outras citações sobre Cezar Zama:
"A sua vida tem muita coisa de exemplo salutar à geração de moços que lhe devem imitar a altivez de caráter. (...) Evocar-lhe o nome é render homenagem ao seu civismo e aos seus ideais patrióticos." (Pedro Celestino da Silva)
"Como primeiros representantes descendentes desta seleção de espíritos cultos que faria de Caetité um lugar de vida tradicional respeitada, poderemos citar, em traços ligeiros, alguns dos ilustres cidadãos, verdadeiros paradigmas da cultura e do poder e que dariam à cidade natal ou adotiva, esses foros de civilidade que a tornam, reconhecidamente, ímpar entre outras e onde desejamos situar a história de nossos antepassados, dos quais, muitos membros fariam parte da constelação de homens ilustrados, probos e que valorizariam a sua terra. ARISTIDES CEZAR SPÍNOLA ZAMA... " (Marieta Lobão Gumes - Cezar Zama é o primeiro biografado por ela)
"Como já me havia referido antes, Caetité orgulhava-se de alguns filhos ilustres, já então desaparecidos, cujos nomes eram proclamados, em praça pública, em dias de gáudio cívico. Principalmente os nomes do poeta Plínio de Lima, do tribuno Cezar Zama e do político Joaquim Manoel Rodrigues Lima. Cezar Zama fora um tribuno destacado que no parlamento se media, algumas vezes, com o grande Ruy. Seu livro - 'Três Grandes Capitães da Antiguidade" = por muito tempo permaneceu como obra de grande prestígio."  (Flávio Neves, no Capítulo "Valores da minha terra")
  Ao caetiteense, vitimado por deturpações da História, promovidas por aqueles que têm interesse na pura confusão e inversão de valores, e ainda os que pura e simplesmente "ouviram dizer", cumpre este resgate. Muito ainda há para ser desvendado, sobre nosso mui rico passado. Mas é mister se corrigir os erros, se desvendar equívocos. Falamos de um homem que inseriu-se na História, como personagem ativo dela, não por erros, mas por acertos. Defendeu a Abolição da escravatura quando este crime era lei, defendeu a República em pleno Império; defendeu a democracia, quando o ditador fechava o Congresso Nacional.
  Exemplo digno, sim, como diz Pedro Celestino. Paradigma, no falar de Marieta Lobão. Motivo de orgulho, é o que diz Flávio Neves.
  Em tempos onde alguns deputados são meros capatazes do senhor feudal, falar de Zama na verdade certamente há de ferir suscetibilidades. Mas a nossa gente tem o direito, o supremo direito de saber que nem sempre foi assim. Que Caetité, terra de cultura, produziu homens como CEZAR ZAMA.
  Apesar de pessoas como o Vereador Edilson Batista, que oficialmente eternizou a lembrança de Paulo Jackson, e Eudes a  de Zama, toda Caetité fala ainda do passado com receios, com receios de descobrir, ao invés de algo ruim, o quão possível era o sertão lapidar gemas de tão elevada pureza e valor.
  Valores que somente a esmerada educação pode produzir, ao contrário daqueles ignorantes que, tendo na mão o poder, menosprezam os livros, sucateiam as escolas, suas inimigas...
Renovar, assim, mais uma vez, se apresenta como RESPEITO AO PASSADO, pois só assim se constrói o RUMO AO FUTURO.
  O dr. José Gonçalves da Silva havia aplaudido o ato do marechal Deodoro da Fonseca, de 3 de Novembro de 1891, ordenando a dissolução do Congresso Nacional, o que levou a oposição a tramar a sua deposição de governador da Bahia, a que, felizmente, para as suas tradições de bravura e altivez, não cedeu; a sua resitência salvou o seu partido.
   Assim, "na manhã de 24 de Novembro, o deputado Cezar Zama, que exercia a maior sedução sobre o ânimo popular, colocou-se à frente de cerca de três mil pessoas para exigir a renúncia do governador.
   Contava esse tribuno com simpatia das forças federais e com a cumplicidade do batalhão de polícia, então comandado por um oficial do exército. O governador havia se dirigido para a Secretaria de Estado, no edifício em que também funcionava o Senado, à praça da Piedade, para tratar de sua defesa, mas as suas ordens não foram cumpridas pelo comandante da polícia que mandou fechar os portões do quartel.
   Um oficial, porém, o tenente Machado, que comandava a guarda do bairro comercial, soube cumprir o seu dever. À frente de 20 soldados dirigiu-se para a chefatura de polícia, na mesma praça da Piedade, para defender a autoridade ameaçada.
   Atacado pela massa insurgida, esse tenente resistiu enquanto teve munição, só abandonando o edifício quando ele começava a ser incendiado.
   Desse tiroteio resultaram vários mortos e ferimentos.
   Aos enviados de Cezar Zama e dos seus companheiros, respondia o governador que não renunciaria o seu cargo; que não cederia a nenhuma imposição."
   Assim, terminou o movimento sedicioso, havendo, pouco depois, o Dr. José Gonçalves apresentado a sua renúncia ao Senado Estadual, passando o governo ao seu substituto legal, Almirante Joaquim Leal Ferreira que convocou o eleitorado para eleger novo governador.
   Nos últimos anos de sua agitada existência, o Dr. Zama entregou-se ao ensino do latim, em que era provecto, como provam os seus discursos na Câmara Federal.
   No Rio de Janeiro, escrevia diariamente num jornal, de cujo nome não nos recordamos no momento, interessante sessão em latim macarrônicoque teve grande sucesso.
   É autor dos seguintes trabalhos:
  
Traços biográficos e políticos dos 3 grandes oradores da antiguidade - Péricles, Demóstenes e Cícero; História dos 3 grandes capitães da antiguidade - Alexandre, Aníbal e César; Os Reis de Roma, estudos históricos; Prosadores e Poetas latinos e o Libelo Republicano- comentários sobre a campanha de Canudos, sob o pseudônimo de Wolsey.
   Eis aí, em traços gerais, o passado do Dr. César Zama que, cheio de destaque, deixa aos pósteros uma fé de ofício brilhante e extraordinária de combatente e patriota.
   Eis aí, em traços gerais, o passado do Dr. César Zama que, cheio de destaque, deixa aos pósteros uma fé de ofício brilhante e extraordinária de combatente e patriota.
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