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Caderno de Cultura Caetiteense
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Cezar Zama - A Verdade
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
CEZAR ZAMA DE FAENZA
CEZAR ZAMA DE CAETITÉ
BIBLIOGRAFIA
Caderno de Cultura Caetiteense - Conteúdo de livre reprodução, desde que citada a fonte:
André Koehne - Site Cultural do Município de Caetité - Bahia - 2002-2009
  Diz a tradição: - Dr. Faenza Zama, em momentos de cólera mal contida, batera no rosto do velho Fiúza, carpina que estava a seu serviço.
   O paciente retirou-se, prometendo solenemente que o mataria.
   Nesse propósito, passou a caçar diariamente nas mangas situadas à beira da estrada. Tempo depois, o médico foi chamado para atender um caso urgente.
   Vem acompanhado do escravo que lhe servia de pajem. No meio do percurso da estrada, lembrou-se de haver esquecido um instrumento cirúrgico e manda o pajem buscá-lo. Pouco tempo esperou, porque foi assassinado por tiro certeiro, partido de emboscada, oculta pela cerca de pedras da manga fronteira.
   O velho Fiúza, nesse momento fatídico, estava caçando, ou talvez esperando a passagem da vítima. Ouvido o tiro, saiu da manga para ver quem o havia dado, trazendo, por caiporismo, a espingarda que descarregara momentos antes... Ao saltar a cerca, foi logo preso pelo pajem e por passageiros que já se encontravam no local.
   Era o flagrante! Interrogado, respondeu que prometera e desejara matar o Dr. Faenza, em desafronta a sua honra ultrajada, mas que infelizmente não tinha podido fazê-lo. Era inocente. Submetido a torturas, continua afirmando a sua inocência. Não resiste à ação do "garrote" e das "agulhas debaixo das unhas" e avoca a si a autoria do crime... Réu confesso, foi condenado por unanimidade à pena última. Ia ser enforcado um inocente, se a Providência Divina não tivesse vindo em seu auxílio. Conta ainda a tradição, que dias antes de sua morte, o Dr. Faenza havia castigado cruelmente o mesmo pajem, por crime de furto. Já próxima a execução do sentenciado, um menino surpreendeu o diálogo do pajem e sua velha mãe, também escrava, que se dava no sótão da grande casa do senhorio. A mãe repreendia o filho pela repetição da falta que dera lugar a justa punição de "SINHÔ MOÇO", quem ele malvadamente matou, observando-lhe que acabaria subindo ao patíbulo...
   Preso o pajem, submetido a interrogatório, a  tortura, confessou o crime.
   Esclareceu que, tendo voltado para buscar o instrumento, apanhou também o revólver do Dr. Zama e seguindo por dentro da manga até o local, conseguiu facilmente praticar o assassinato, servindo-se da cerca de pedras como seguro anteparo onde escondera a arma descarregada. Levado ao local foi efetivamente encontrada, já bastante enferrujada.
   Desfazia-se assim o maior erro judiciário cometido pela fragilidade humana.
   O velho Fiúza foi solto, depois de ter sofrido injustamente as maiores torturas que a crueldade judiciária podia infligir naquele tempo. Era tarde, porque ele se achava quase às portas da morte.
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  D. Helena complementa esta narrativa: "Poucos anos após o casamento, quando o pequeno Aristides César tinha dois anos de idade, seu pai foi assassinado no caminho do seu sítio do Lameirão, onde ia todas as tardes a cavalo, geralmente levando o filhinho.
   Segundo a versão mais corrente, foi tocaiado, várias vezes, até que um dia, como não levasse o menino, recebeu um tiro no peito.
   O escravo autor do disparo não negou o crime. Foi condenado ao enforcamento, o último realizado na cidade e teria declarado, "morro satisfeito porque tirei uma onça do pasto".
   Consta também ter ficado o cadáver do escravo para ser enterrado no dia seguinte. Dona Rita teria mandado tirar o coração do executado, ainda quente e mordeu-o com violência."

   Este fato porém é contestado e formalmente desmentido por sua parenta Celsina Teixeira Ladeia; toda a cidade conhecia Dona Rita como um modelo de piedade cristã.
   Sylvio Gumes complementa este episódio, narrando que foi a última execução capital executada em Caetité: a forca, armada na praça da Matriz, foi durante a noite incendiada, e junto a ela o pelourinho, marca antes do domínio português, que propriamente do império. Nunca mais voltou a ser erguido.
   O crime foi repudiado. Mas a cidade não concordara com seus descaminhos. Qual a certeza, ante métodos de tortura infamantes, sob os quais qualquer ser humano sucumbe? A confissão, então, era tida mais que uma prova normal, mas essencial em qualquer processo - muito longe dos tempos atuais, onde o Direito a sagrou como a
prostituta de todas as provas!
   Novamente viúva, D. Rita certamente viu-se constrangida pelo escândalo desta tragédia. Cumpria-lhe preservar o filho remanescente, o oitavo, e único fruto deste conúbio de tantas dores.
   Mudou-se, portanto, com o pequento
Aristides Cezar Spínola Zama para as Lavras Diamantinas e, depois, para Salvador.
  No primeiro quartel do século XIX muitos italianos viam-se, por razões políticas, compelidos a abandonar a pátria. Fugindo às perseguições, para o Brasil aportou gente como Giuseppe Garibaldi, o Herói de Dois Mundos.
   Nem todos o faziam por ingerência das opiniões que defendiam, pois a justiça daqueles tempos era, mais que a atual, tendenciosa e parcial. O certo é que para a cidade de Caetité veio um certo
Cezar Zama, oriundo da cidade italiana de Faenza. Conforme o costume local, incorporou a cidade ao seu nome, e isto ser-nos-á de muita importância para diferir pai do filho, que lhe foi homônimo.
   Diz a profª Helena Lima Santos que por motivos políticos o dr. Zama aqui se refugiou. Era, ainda segundo a mesma "muito atrabiliário e de gênio violento". De concreto temos que "
na Sessão da Câmara Municipal de Caiteté de 23 de Maio de 1834, apresentou o Dr. Zama de Faenza o seu deploma de Medico e licença de exame para exercer clinica no Brasil.", como registra Pedro Celestino da Silva.
   O dr. Zama foi chamado para tratar o Soriano, marido de D. Rita de Souza Spínola. O doente tivera com a esposa sete filhos - (a história local registra o falecimento de todos, o que não procede: em Lençóis, para onde mudou-se D. Rita, são vários os descendentes das irmãs de Zama, a quem este teria dedicado sua monografia, ao formar-se) Morto também este, a viúva, rica e de tradicional família, cede ao médico estrangeiro, dupla raridade no sertão, e com este se casa.
   A família da mulher, segundo ainda d. Helena, repudiou o casamento, hostilizando o italiano, por sua índole e temperamento.
  
Sylvio Gumes Fernandes, advogado radicado em S. Paulo, conta-nos que, pelo fato de ser médico e privando da intimidade dos lares, o dr. Zama de Faenza abusava da confiança que lhe era devida. E não é difícil imaginar-se tal situação engendrando inimizades, em especial numa época em que honra e casamento eram inatacáveis.
   Este nosso personagem estava fadado a um destino ruim: inimigos sem conta, até na família, e um comportamento dissoluto, granjearam a tragédia futura. Esta foi narrada, com detalhes até então suprimidos na historiografia, pelo sr. Antonio Vieira, em O Caetité, de 31 de julho de 1953:
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