O Amor é um Cão do Inferno

Dividido em quatro partes, o pequeno livro de bolso nos traz reflexões de situações que quase sempre deixamos passar despercebido. Como poeta marginal que sempre fora, Charles Bukowski orgulha-se por ter começado a escrever suas poesias aos 35 anos. Isso é notável em seus poemas, que quase sempre trazem em si uma menção da passagem do tempo e dos aprendizados da vida. Sua poesia é carregada de sua arte e de seu cotidiano regado a mulheres, amores mal correspondidos, sexo, cigarro e bebida.

Embora escrito em versos, seus poemas apresentam diálogos bem-elaborados e carregados daquele tipo de humor que só se obtém quando se vive uma situação extremamente crítica. Isto nos faz perceber a essência da alma do autor e o quanto podemos ter em comum com ele, mesmo que vivamos de modos e em lugares tão diferentes. A leitura torna-se, então, extremamente prazerosa, ao mesmo tempo em que é crítica em relação ao texto, às relações interpessoais e ao mundo.

Como a prosa, cada poema de Charles Bukowski corta como aço de navalha. Ele expõe as vísceras da realidade, revolve o cotidiano, e, de onde nem se pensa que sairá um poema, brotam versos de pura genialidade. Algo como um saxofone gemendo na noite fria. As ruas molhadas refletindo o brilho feérico do neon. Fantasmas da madrugada buscam um gole da bebida mais forte que encontrarem. Bares fechando; a luz amarelada, o odor acre de suor misturado com álcool e muito tabaco. Poucos souberam, como Charles Bukowski, arrancar versos de quartos sórdidos de hotel, becos imundos, mulheres de todas as formas, bocas vermelhas demais, madrugadas longas, solitárias. É o bepop dos marginalizados, dos perdedores, pensadores de sarjeta, filósofos encharcados de uísque vagabundo.