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Segunda-feira, 7 de
setembro de 1998 |
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Fogueiras,
no Brasil, têm idade de 50 mil anos |
Escavações de Niéde Guidon, no
Piauí, podem mostrar ocupação mais antiga que no Chile |
- por ULISSES CAPOZOLI
Como Tom Dillehay, que esperou duas décadas antes de ter confirmada a
antiguidade do sítio de Monte Verde, no Chile, a arqueóloga
brasileira Niéde Guidon está confiante em que seu trabalho também
acabará reconhecido. Ela fez descobertas interessantes, na década
passada, no Parque da Serra da Capivara, uma reserva de 1.300 quilômetros
quadrados, no sudeste do Piauí.
- As escavações feitas na base de uma estrutura rochosa de 150
metros de altura, a Toca do Boqueirão, revelaram a existência de
carvão típico de fogueiras, com 48 mil anos. Mas eles podem ser
ainda mais antigos.
- A teoria defendida pela arqueóloga é a de que o local já era
ocupado há uns 50 mil anos. As fogueiras, interpreta, foram feitas
por pequenos grupos de caçadores pré-históricos. Especialistas
norte-americanos, entre eles Betty Meggers, argumentam que esses carvões
são de incêndios naturais.
- Niéde Guidon disse ao Estado que o argumento de Meggers não pode
mais ser invocado: "Escavamos uma área imensa, além da base da
Toca do Boqueirão, e não encontramos um único sinal desses restos
de fogueiras". Se a arqueóloga norte-americana tivesse razão,
rebate Niéde , "então encontraríamos muito mais dessas formações
que só existem no refúgio da Toca do Boqueirão".
- Também David Meltzer, que participa das investigações em Monte
Verde, esteve em Serra da Capivara. Para ele, os seixos de quartzo
lascado encontrados na base do abrigo, que Niéde Guidon sustenta
terem sido esculpidos por mãos humanas, seriam formações
acidentais, produzidas por pequenos blocos rochosos que despencaram do
topo rochoso. A antropóloga brasileira refuta esse argumento com base
na gravitação newtoniana. Ela escalou a formação e, de lá, atirou
os blocos para demonstrar que eles não podem descrever uma curva e se
depositarem exatamente na base do bloco. A rocha é ligeiramente
arqueada e por isso mesmo forma um abrigo natural para agrupamentos
humanos. A teoria sustentada por Niéde é que pode ter havido uma
chegada por mar e não houve um ponto privilegiado para a ocupação
da américa, caso da ponte de gelo de Behing. A América, diz ,
"certamente foi ocupada de várias maneiras diferentes".
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