Bullets In Blue Sky

Tiros No Céu Azul

Capítulo 2: Bem vindos à Cidade dos Anjos!


Guess who just got back today
Them wildout boys, that’d been away
Haven’t changed, had much to say
But man… I still think them cats are great”

The Boys Are Back in Town, Thin Lizzy

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O Cafe Brazil mal tinha inaugurado e já era uma das maiores atrações de Tóquio-3. Localizado numa das principais avenidas da cidade, o estabelecimento já tinha se tornado popular e conquistado um grande numero de freqüentadores. O café brasileiro, que dava nome ao estabelecimento era a principal atração e o motivo do ganho rápido de popularidade, o que foi merecido, já que além do café servia também uma grande variedade de comidas típicas brasileiras tanto para a manhã quanto para o almoço e jantar. O som ambiente era basicamente MPB, a música popular brasileira e também samba. Era decorado com fotos de personalidades brasileiras e objetos e plantas típicas do país.

Já eram mais de onze e meia da manhã e poucas pessoas ocupavam as mesas a não ser alguns casais de idosos japoneses já almoçando e dois homens conversando em uma mesa mais afastada.

- Então, você precisa da minha ajuda? - Perguntou um deles.

- É, ultimamente eu venho precisando de muita ajuda... - O outro respondeu, com certa ironia.

- Eu como seria essa ajuda?

- Você está atrás dos Patriots, senhor Pliskin, ou melhor, Snake, e eu posso ajuda-lo - Disse e sorriu.

Snake parou a xícara de café na metade do caminho e olhou para o jovem a sua frente que tirou os óculos de lente verde-escura e botou sobre a mesa. Ficou impressionado com o fato de o rapaz saber sua identidade verdadeira e sobre seu interesse sobre os Patriots. Ryouji Kaji disse que ninguém saberia quem ele era na verdade, o que deixou o experiente agente mais tranqüilo para aceitar a missão, sabia que toda vez que o nome Solid Snake entrava em jogo as situações sempre pioravam e os problemas não paravam de surgir.

- Eu tenho a impressão de que se eu perguntar como sabe meu nome, você não vai me responder. - Snake disse enquanto via o rapaz sorrir novamente.

- Até responderia, mas isso não vem ao caso agora. O fato é que você quer acabar com os Patriots e eu com a Seele, a divisão japonesa dos Patriots.

- Hm, então a influência dos Patriots vai além dos Estados Unidos.

- Sim, e acredito que essa grande influência no cenário mundial nos possibilitou uma carta na manga.

- Que seria?

- Um contato meu falou que os Patriots andam um pouco irritados com as atitudes da Seele, que já tem motivos para estar preocupada.

- Conte-me sobre isso.

- Quer saber mesmo? É uma história longa...

- E eu sempre quis experimentar a comida brasileira.

O jovem olhou para os lados procurando algum atendente, encontrou uma garota loira e levantou a mão.

- Ann, traga um cardápio para nós!

- Já estou indo Mark! - A garota respondeu. Snake não entendeu o que eles falaram. Não era japonês nem inglês.

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Já havia passado do meio dia e os velhinhos já tinham ido embora e quem começava a ocupar os lugares do Café Brazil eram executivos bem vestidos e trabalhadores em horário de almoço. Snake e Mark ainda estavam almoçando, ou melhor, só Snake ainda comia, já estava no terceiro prato enquanto o mais novo apenas esperava dando rápidas olhadas no relógio de vez em quando.

- Seu amigo está demorando - Mark fala logo após beber um pouco de água.

- Que bebida é essa? - Snake ignora o outro e olha para o seu copo.

- No Brasil chama-se Caipirinha. Algum americano registrou a bebida alguns anos atrás mas não fez sucesso. Parece que fazer uma caipirinha decente se restringe aos brasileiros.

- Muito boa essa Caipirinha, a comida também. - O esfomeado diz sem conseguir pronunciar o nome da bebida corretamente.

- Legal, e parece que seu amigo chegou. - Mark disse olhando para o lado.

A porta do estabelecimento abriu e entrou um homem com idade por volta da casa dos quarenta. O cabelo era negro e liso, numa altura um pouco abaixo do pescoço. Usava roupas normais de civis: jeans e camiseta - apesar de desejar estar com o seu jaleco branco. Sabia que essa era uma mania um pouco estranha, mas não se importava com isso nem com que os outros pensavam sobre. Ainda usava óculos de grau de lentes retangulares e pequenas. Já dentro do estabelecimento parou por algum tempo e começou e olhar para os lados a procura de alguém.

- Quanta consideração sua aparecer, Hal - Snake fala sem desviar o olhar do prato.

- Demorei a achar o lugar, e vocês também, esse restaurante está cheio. - Hal responde.

- Você é Hal Emmerich, o famoso Otacon? Prazer, Mark Goodspeed - O garoto de óculos exóticos perguntou e Hal assentiu, não se surpreendeu com o fato de o rapaz saber o seu codinome.

- Ele e Ryouji estão trabalhando juntos - Snake voltou a falar.

- O cara que te rendeu lá na Nerv? - Otacon perguntou.

- É. - Solid Snake respondeu secamente. Queria esquecer o ocorrido, afinal aquilo foi um erro de iniciante, deveria ter checado rapidamente o local antes de tentar falar com Otacon. Ele odiava pensar nessa possibilidade, mas talvez estivesse realmente ficando velho para esse tipo de trabalho.

- E no que podemos ajudá-lo, senhor Goodspeed? - Ao falar o sobrenome de Mark, Otacon o reconheceu de algum lugar. O jovem talvez tivesse tirado o nome, que aliás não parecia verdadeiro de algum boato na net. Ou talvez ele fosse o próprio boato.

- Como eu já disse a Snake, vocês querem acabar com os Patriots, e eu com a Seele. Acho que podemos nos ajudar nisso.

- Ele me disse que temos uma vantagem, Otacon. Os Patriots estão descontentes com essa tal de Seele, que parece ter saído da linha.

- E a Seele esta dependendo da Nerv para alcançar seus objetivos. Eles não conseguiram na primeira vez e estou certo que estão trabalhando na segunda, e não querem falhar desta vez. - Mark fez uma pausa. - O nosso trunfo é que se ferrarmos a Nerv, conseqüentemente ferramos a Seele, e a partir daí basta os Patriots ficarem sabendo do novo deslize para acabar de vez com eles.

- E como nós no beneficiamos nisso tudo? - Otacon perguntou, parecendo mais interessado do que Snake, que ainda não tinha acabado de comer.

- Sei lá, eu vou trazer os Patriots até perto de vocês, grampeiem telefones, sigam alguém, invadam o e-mail deles, coisa que vocês sabem fazer.

- Não sei, isso me parece loucura demais.

- Sempre é assim, Otacon - Snake fala após finalmente terminar de comer.

- Mas não vamos fazer isso sozinhos não é? - Otacon pergunta.

- Temos uma grande equipe de apoio.

- Grande apoio o Ryouji Kaji... - Snake diz com ironia.

- Teremos o apoio de alguns Fox-Hounds, amigos meus e Natasha Gurlukovich. Vocês podem chamar alguém se quiserem também.

- Gurlukovich? Droga, mais uma que vai querer me matar. - Snake comentou. É bem provável que a culpa da morte de Olga Gurlukovich caia sobre ele e a irmã tente mata-lo, como é de praxe.

- E esta é difícil... experiência própria - Mark ficou sério por um momento ao lembrar de quando encontrou com Natasha.

- E a equipe é boa? - Perguntou Otacon.

- Goodspeed já me passou a lista dos nomes - Snake entregou uma pasta daquelas de arquivos, para Otacon.

Otacon folheou página por página prestando atenção nas fotos e especialidades dos agentes. Mark tinha falado de que haveriam alguns Fox-Hounds e Otacon esperava ver um bom número desses, mas eram poucos, a maioria do grupo era de nomes que ele nunca tinha ouvido falar, pessoas vindo de países de pouca ou nenhuma tradição de agentes secretos/soldados. Ele achou isso um problema já que poderia pegar de cara uma equipe inexperiente. Estranhou Snake não estar preocupado com isso, ele e Goodspeed conversavam sobre mais alguns detalhes e Solid Snake não mostrava relutância em nada que era proposto por Mark.

Ele tinha de admitir que estava com medo e receio, principalmente pela equipe e sabe-se lá as condições dos equipamentos que trabalhariam. Voltou a pensar no nome Mark Goodspeed. Tinha certeza de já ter lido sobre essa pessoa em algum lugar, talvez em boatos e histórias perdidas pela Internet. Olhou para o jovem de óculos de lente azul escura, Ele mudou de óculos? Ignorou o fato e fez esforço para tentar se lembrar dele, o que foi em vão. Mas nada que um computador com acesso a internet não conseguisse responder.

Bem, se David está nessa, eu também estou, pensou Otacon. Fechou a pasta e voltou a atenção para os dois companheiros de mesa, que pareciam estar conversando sobre a comida servida no lugar.

- Ok, Goodspeed, você tem o seu hacker.

- Que bom - Mark sorriu. - O que acha de beber ou comer alguma coisa, Emmerich?

- Os dois, por favor.

- Ann! - Mark levantou a mão e olhou para as mesas a procura da garota. Não encontrou.

- Aqui! - A jovem apareceu atrás de Goodspeed. Otacon olhou para ela e a reconheceu das fotos que viu. Ele desanimou. Mais ainda.

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Snake e Otacon caminhavam por uma rua movimentada. Iam em direção ao apartamento que tinham alugado para a investigação em Tóquio. Chegaram na frente do prédio e Snake sentou no segundo degrau da escada e acendeu um cigarro. Otacon ficou ao lado dele, só que encostado em uma parede.

- Tem certeza que podemos confiar nele, Snake? Isso me parece loucura demais.

- Eu gostei do garoto. E mais do que ninguém sei que confiar em alguém nesse meio tem seus riscos, mas foi assim desde que começamos com essa história de caçar Metal Gears pelo mundo.

- De qualquer forma vou procurar alguma coisa sobre ele na internet. O nome me pareceu familiar.

- Familiar? - Snake perguntou com curiosidade, apesar de parecer mais concentrado no cigarro do que interessado na conversa.

- Sim, esse nome, Goodspeed, tenho certeza de já ter lido em algum lugar na internet. Só não sei dizer se foi em sites de armamentos, banco de dados ou um boato ou história qualquer. Vou dar uma olhada na CIA, FBI, Fox-Hound e na Scotland.

- Algo me diz que ele não é um Fox.

- Goodspeed não parece ser um nome Fox, não é?

- Não, os Fox geralmente tem um animal no codinome. Snake, Raven, Mantis, essas coisas assim... codinomes sem animais geralmente se davam aos membros mais velhos e experientes, como o Big Boss. E aquele garoto é muito jovem para ter tanta experiência assim, não dou mais que 30 anos pra ele. Se é que ele chega a isso.

- E falando em Fox-Hound, os nomes da lista, algum familiar?

- Não sei. Eles não devem ser da minha época, ou se eram estavam em uma unidade superior ou inferior a minha. Ou então são de algum país daqueles presentes na lista. - Snake jogou o cigarro no chão e pisou em cima, logo em seguida se levantou e começou a subir as escadas. Otacon o acompanhou.

- Não gostei muito dessa história. Eles não me parecem fuzileiros nem agentes da CIA ou FBI, muito menos aparentam ter treinamento do tipo.

- Acho que trabalham sozinhos. A garota que nos atendeu, eu também reconheci a foto dela, percebi ao olhar mais uma vez pra ela depois de ver a lista. Um outro garçom também estava na lista e esse dava mais na cara ainda, andava desengonçado e segurava a bandeja com as duas mãos. Se duvidar a base deles é no restaurante, e ainda devem dormir por ali mesmo.

- E o sotaque dele? Não era americano nem japonês.

- Nem de nenhum lugar que eu já tenha visitado. Chegamos, vá procurar alguma coisa na net, vou dormir um pouco. Aquela comida me deixou cheio - Snake diz após os dois entrarem no apartamento.

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Dois dias depois,

Dois homens, ambos por volta de 1,80m, trajados de ternos caminhavam por um dos corredores da Nerv. Dobraram uma esquina e foram em direção a uma grande porta dupla de metal, algumas palavras japonesas escritas indicavam que aquela era a sala do comandante Gendo Ikari.

- Goodspeed, eu realmente gostaria de saber como você faz isso tudo.

- Haha, do que está falando?

- Olhe para nós. Conheço você a dois dias e já estamos trabalhando juntos. Exatamente no local do nosso objetivo. Isso é impressionante, antigamente eu demorava semanas pra descobrir uma forma de entrar nos lugares das minhas missões.

- E cá estamos nós, não é? Poderíamos simplesmente entrar aqui atirando que metade de nossos problemas estariam resolvidos. Mas nós vamos pelo caminho mais difícil, meu amigo. Agir como americanos idiotas nem sempre é uma boa alternativa. - Mark disse e Snake deu uma risada.

Os dois abriram um lado da porta cada. A luz do corredor invadiu um pequeno pedaço da sala logo nos primeiros metros, mas no resto ainda predominava a escuridão, apenas com algumas lâmpadas vermelhas espalhadas no teto e emitindo pouca luz. Elas chamaram a atenção de Solid Snake, as luzes não eram simplesmente espalhadas pela sala, elas seguiam um desenho no teto, que Solid demorou, mas conseguiu reconhecer.

Era o gráfico Sephirótico, também conhecido como a Árvore da Vida. Haviam algumas esferas contidas nele, assim como palavras dentro e fora delas e linhas ligando-as. Ele tinha de admitir que ficava bem naquela sala. Haviam ainda janelas na lateral esquerda que davam para o hangar onde ficava a Unidade 1, ainda desaparecida. As outras duas unidades ficavam em outro local.

Mais a frente, no meio da sala havia uma mesa onde o comandante Ikari ficava na maioria das vezes sozinho. Mas agora havia mais pessoas ali por perto, Snake conseguiu ver de longe um outro homem que estava ao lado de Gendo Ikari, uma mulher e mais dois jovens.

O velho agente olhou para o lado. O sorriso de Mark já tinha sumido, talvez ao mesmo tempo que o de Snake, logo ao entrarem na sala. Deu uma boa olhada nos dois jovens e na mulher enquanto caminhava até o centro da sala e reconheceu os três das fichas que Goodspeed passou horas antes, mas não lembrava dos nomes deles. Os dois pararam ao mesmo tempo a poucos metros da mesa.

- Asuka Langley e Shinji Ikari, esses são seus novos guarda costas. Tendo em vista o incidente com a piloto da Unidade 02 no hospital, achei melhor reforçar a segurança de vocês dois. A partir de hoje eles os seguirão aonde vocês forem. - O comandante fala.

Asuka não tinha prestado atenção nos dois homens ainda. Estava pronta para abrir a boca e falar que não precisava de segurança nenhum, mesmo na frente do comandante Ikari. Naquele momento não importava mais pra ela o que os outros iam achar de suas atitudes, ainda mais um homem como Gendo Ikari, que não tinha moral nenhuma para julgar alguém.

O pensamento predominante na sua cabeça é que teria que agüentar o martírio de ser piloto por mais algum pouco tempo. Terminar a sua carreira de piloto assim, de forma tão súbita, nunca seria aceito pela ruiva há pouco tempo atrás. Só que tudo iria mudar, logo ela sairia de vez do Japão e voltaria para casa, ou para qualquer outro lugar que desejasse visitar, pelo menos ela apostava tudo que tinha nessa possibilidade.

O que calou a manifestação da ruiva, mesmo antes de começar, foi olhar para um dos seguranças, que até então estava com as duas mãos cruzadas atrás das costas, ele mexeu uma delas e arrumou os óculos. Asuka acompanhou todo o movimento e percebeu que o modelo dele era diferente do usado pelos outros agentes. Era de um modelo antigo, com as lentes mais curvadas, e de cor verde escuro. O agente sorriu para ela. E a garota ficou sem palavras.

- Estão liberados - Gendo disse e todos saíram, exceto Fuyutsuki, que esperou a porta fechar-se para falar com o amigo.

- O homem da direita. Você viu quem era? - Perguntou o ex-professor.

- Sim. - O velho Ikari respondeu. Deu uma risada diferente do usual, o que fez Kozo voltar a atenção para ele. - E o garoto, você sabe quem ele era, professor?

- Não. Conhece ele, Ikari?

- Ainda não havia conhecido pessoalmente, mas nosso agente duplo me falou dele. - Embora no momento ache que podemos classificá-lo como agente triplo, Gendo pensou consigo mesmo.

- Achei que ele estava morto.

- Ryouji não é alguém que morre facilmente. De qualquer forma professor, vamos esperar mais um pouco para escolher o nosso lado.

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Os dois seguranças pareciam dois armários seguindo Misato e os pilotos pelos corredores. Ninguém falou nada, Misato até pensou em quebrar o gelo com alguma pergunta sobre os dois, mas tendo em vista o histórico de sociabilidade do pessoal da Seção 2, achou melhor ficar quieta. Eles só se separaram ao pegar os carros para ir até o apartamento de Misato. Ainda que fosse difícil acompanhar uma exímia motorista como era a major Katsuragi, a caminhonete preta não desgrudou do esportivo azul um segundo sequer.

Misato estacionou o carro em frente ao prédio e os agentes pararam na vaga logo atrás. Os três já estavam fora do carro quando ouviram finalmente os seguranças falarem alguma coisa ao abrirem as portas do carro.

- Abaixa esse som, pelo amor de Deus! - Um deles disse ao sair do carro. Quem estava por perto pode ouvir um som muito alto vindo do carro.

- É Yes, cara! Um clássico do rock! - O mais jovem respondeu e logo percebeu o olhar de estranheza dos pilotos e da major e apontou para eles. O primeiro parou de reclamar e se virou para trás, voltando a atenção para os três.

- Ok, vamos parar com isso! Meu nome é Mark Goodspeed, prazer em conhecê-los major Misato Katsuragi, e pilotos Shinji Ikari e Soryu Asuka Langley. - Sorriu para Asuka depois de falar o nome dela certo.

- Meu nome é S- - Snake parou de falar e tossiu para disfarçar. - Iroquois Pliskin.

- Então vocês falam - Misato sorriu. Aí está uma coisa que ela nunca imaginou fazer para alguém da Seção 2.

- Sim, e somos diferentes daqueles outros babacas que ficavam seguindo vocês dois. - Snake olhou para os dois pilotos. - Aliás, se preferirem, e acho que vão, podemos deixar os ternos de lado e usar roupas normais. Chama menos atenção, não é?

- Seria bom. - Asuka respondeu.

- Ficamos gratos.

- Ah, estava gostando do terno... - Mark disse.

- Você é um caso a parte Mark.

- Gostei de vocês rapazes, por que não sobem e almoçam com a gente? - Misato perguntou. - Aproveitem que hoje é o meu dia de cozinhar.

- Não! - Asuka gritou. Todos olharam para ela com espanto, exceto Shinji, que infelizmente já tinha passado pelo martírio de comer a comida preparada por Misato. - Shinji vai fazer a comida. Certo, idiota? - Asuka olhou para o garoto.

- S-s-sim...

Em outra situação Misato já estaria discutindo com Asuka, mas como ela fez o Shinji falar pela primeira vez no dia, resolveu esquecer a ofensa da ruiva. Afinal, ela cozinhava bem, não entendia como os dois jovens não gostavam da comida dela.

- Escute, é verdade mesmo que vão morar no apartamento ao lado do nosso? - Misato perguntou.

- Sim, o comandante achou que seria uma boa idéia. - Snake respondeu. Apressou o passo em direção ao prédio e os outros o acompanharam, só Asuka e Mark que ficaram um pouco mais para trás.

- Como conseguiu virar meu segurança?

- Eu lhe disse que bastava você aceitar minha proposta que o meu passaporte para a Nerv estava praticamente garantido.

- E quem é o outro? Ele sabe alguma coisa?

- Sim, Iroquois Pliskin sabe do nosso “segredinho”.

- Mas quem é ele? Algum tipo de agente secreto como você? - Ela perguntou e Mark sorriu para ela.

- Está começando a aprender, Soryu. Mas o interrogatório não vai adiantar de nada no momento. Posso lhe dizer qualquer coisa, ainda assim vai desconfiar de mim. Vamos esquecer isso por enquanto.

- Certo, mas ainda me deve explicações.

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Solid Snake era um verdadeiro herói. Poderia agir sobre as mais extremas condições e desafios impostos pelo destino que ele se saía bem. Matou terroristas, nocauteou outros, invadiu bases secretas nos mais variados lugares: da cidade-fortaleza de Outer Heaven há vários anos atrás até recentemente Tóquio-3, sem esquecer de Shadow Moses e Big Shell, e claro, em todas as situações saiu com vida e vitorioso, ainda que isso também fosse relativo - vitória, derrota, bem ou mal eram conceitos que ele ainda não era capaz de distinguir, sua cabeça andava muito confusa nos últimos anos. Mas nenhuma dessas aventuras exigiu tanto do lendário Solid Snake quanto a de agora.

Degustar a comida preparada por Misato Katsuragi era algo bem próximo do martírio de Cristo durante seus últimos momentos. A sensação de comer aquilo era a mesma de ingerir pedra ou areia, e isso era só o arroz que ela preparou como entrada. Nem as rações que ele estava acostumado a comer em suas missões eram piores que aquilo. Imagine o sushi que ela pode preparar? O peixe deve vir se debatendo ainda... Ele pensou enquanto encarava uma porção de areia... arroz.

Misato tinha deixado Shinji cozinhar, mas depois de alguns comentários de Soryu Asuka Langley, sempre ela claro, a major decidiu que a garota merecia um castigo devido ao seu comportamento desrespeitoso. O castigo foi da guardiã dos pilotos cozinhar. Só que ela não pensou em Shinji e nos dois seguranças, esqueceu que eles teriam de comer da mesma comida. Na verdade ela estava tão ocupada rindo e imaginando a reação da ruiva ao seu delicioso almoço preparado com tanto carinho e vingança que o bom senso passou longe, muito longe dela.

A dona daquele apartamento era um desastre na cozinha. E isso se tornou oficial no dia que os pilotos acordaram tarde depois de um teste de sincronização que durou a noite toda e Misato conseguiu se queimar preparando cereais para eles.

Snake também podia dizer que já tinha visto quase de tudo na sua vida. Pessoas e vilões estranhos, indivíduos com poderes paranormais, lunáticos, monstros gigantes chamados de anjos, robôs gigantes de igual tamanho, desde Metal Gears aos Evangelions. Mas um pingüim sentado a mesa para almoçar ele ainda não tinha visto, ainda mais um pingüim que bebia cerveja.

Mark Goodspeed e Solid Snake acompanharam de olhos arregalados e boca aberta um pingüim sair de uma geladeira com uma cama e televisão e caminhar calmamente até outra geladeira, abri-la, pegar uma lata de cerveja e se aproximar de Shinji. O garoto abriu a lata para o estranho mascote que logo em seguida se sentou entre os dois seguranças. Parecia que eles estavam no lugar do pequeno.

- Pen²? - Mark perguntou ainda espantado ao olhar a espécie de coleira que o bicho usava.

- Ah, é o Pen-Pen! Bonitinho, né? - Misato gritou da cozinha.

- É um pingüim de água quente. No se preocupem ele é um bom... pingüim... Apesar de ser um pouco inconveniente de vez em quando - Shinji falou.

- Voltou a falar, “Terceiro”? - Asuka disse com o tom de provocação que sempre usava para provocar o garoto. Referiu-se a designação que cada um deles havia recebido da agência Marduk. Shinji era a Terceira Criança ou Terceiro Escolhido e Asuka a Segunda, a desaparecida Rei Ayanami era a Primeira. Ela sabia que Shinji não gostava de ser chamado assim, mas dessa vez o garoto não deu atenção. -Hmpf! Pelo menos está mais sociável. - Ela virou o rosto para o outro lado emburrada.

Misato chegou com a comida logo em seguida. Um peixe frito, que provavelmente ela pegou emprestado de Pen-Pen. Aliás, frito não, ligeiramente carbonizado. O desânimo e a lamentação foi geral, principalmente por parte do pingüim. Ele sabia que aquele era o último peixe da casa.

- Oh, senhorita Katsuragi, perdão, mas não como frutos do mar. - Snake se levantou e sorriu simpaticamente para a mulher. - Se me permitem, vou até a sacada fumar um cigarro.

- Ah, que pena. Mas tudo bem, só guarde um cigarro para mim, certo senhor Pliskin? - Ela falou e o homem assentiu. Depois disso ela sorriu. Só ela.

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O Cafe Brazil era maior do que aparentava, na parte da frente ficava o salão com as mesas, balcões e o caixa, numa área logo atrás do salão estava a cozinha, e atrás dela estavam vários quartos, cerca de 4 mais 3 banheiros e 2 salas não tão grandes quanto a da frente mas que de qualquer forma ficavam pequenas tamanho era o número de equipamentos em ambas. Os quartos pelo menos não eram empilhados de coisas e desarrumados, claro que haviam exceções.

- Hernandez, tire a droga da toalha molhada de cima da minha cama! - Um senhor de certa idade diz.

O nome do velho de estatura alta e cabelos curtos e grisalhos era James Black, antigo fuzileiro da marinha americana com várias condecorações nas operações do início dos anos 90 no Golfo Pérsico, incluindo a famosa “Tempestade do Deserto”. No período que se sucedeu a segunda invasão americana ao Iraque, James foi afastado de seu posto como comandante após alguns irresponsáveis de sua tropa serem pegos torturando prisioneiros. A culpa logo caiu sobre o velho senhor, acusado de não conseguir controlar sua tropa de forma disciplinar. Black foi convidado a fazer parte da Fox-Hound no ano seguinte como estrategista, uma das áreas que mais se destacava no exército americano. O ex-fuzileiro pediu afastamento da unidade Fox poucos meses antes para fazer parte da equipe de Goodspeed.

Tinha ouvido falar que o jovem pretendia acabar com a hegemonia dos Patriots, de quem James Black e alguns veteranos atribuíam a culpa de seus afastamentos do exército.

- Mil perdões, señor! - O tal Hernandez deu uma risada sarcástica e tratou logo de sumir do quarto.

O outro, cabeludo, era Carlos Hernandez, ex-policial argentino afastado por má conduta da polícia do seu país. Seria quase um exemplo para seus antigos companheiros se não fosse pelo seu comportamento relaxado e rebelde o que rendeu várias advertências que somadas a sua vontade incontrolável de bater em pessoas, principalmente civis em manifestações, resultou na sua expulsão da corporação há pouco tempo atrás. Goodspeed, Black e Axel, outro membro do grupo, acharam que um maluco como Hernandez seria de utilidade para as missões.

- Onde está o chefe? - Perguntou uma voz feminina.

Black virou-se e fitou a russa. Os comentários dos mais jovens eram verdadeiros, ela era realmente bonita. Os cabelos loiros e claros eram compridos, bem abaixo do pescoço e presos por um rabo-de-cavalo. Ao contrário de outras soldados em qualquer parte do mundo, ela se negava a deixar o cabelo curto, ao contrário de sua falecida irmã. Alguns de seus antigos superiores ou colegas viam isso como falta de comprometimento dela com o exército, outros consideravam rebeldia. Ela se defendia dizendo que se achava mais bonita assim, e que sua aparência não afetava em nada suas habilidades - que por acaso eram incontestáveis. Seus olhos azuis aguardavam a resposta do velho.

- Se mudou para o apartamento do lado dos pilotos. - Black respondeu. Logo virou as costas para a russa, não conseguia olhar para aquela mulher e disfarçar ao mesmo tempo.

- Axel? - Ela perguntou novamente.

- Dar uma volta de moto.

- Ann?

- Atendendo lá no restaurante.

- Ryouji?

O velho ficou em silêncio por algum tempo. Ah, sim, Ryouji é o tal de Kaji. Black não gostava muito do ex-agente duplo, agora triplo já que trabalhava com eles, exatamente pelo fato do agente estar trabalhando para três frentes diferentes. Mas pelo que ficou sabendo Kaji era o que tinha mais motivos para estar ali trabalhando para o grupo, o que o impedia de estar contra os já famosos rebeldes das nações do sul. Parecia que tinha assuntos inacabados em Tóquio-3.

- Não tenho a menor idéia...

- Obrigada. - Ela saiu e deixou o velho pensando sozinho. Na minha época mulheres assim não entravam no exército...

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- E então, o que achou Sr. Goodspeed? - Perguntou uma Misato alegre, levemente afetada pelo efeito da bebida. Claro, como toda boa festa e comemoração especial, ou mesmo todas as refeições diárias daquela residência, bebidas alcoólicas estavam sempre presentes.

- A senhorita é uma cozinheira de mão cheia, tenho de admitir! - Ele respondeu esboçando a melhor expressão de satisfação que conseguiu. Meu Deus do céu, que comida horrível. Ele pensou e olhou para os dois jovens.

Asuka estava com a cabeça deitada sobre os braços na mesa e murmurava alguns xingamentos e maldições em alemão. O prato quase intocado estava logo a frente da ruiva. Shinji por outro lado parecia mais conformado com o delicioso almoço, e parecia estar um pouco pensativo, talvez planejando alguma coisa para preparar de almoço - de verdade dessa vez, quando Misato voltasse para a Nerv de tarde.

A major se levantou da mesa e foi para a sacada fumar com o outro segurança, como tinha falado antes. A louça suja? Hoje era o dia de Asuka lavar, o que significava que ia sobrar pro jovem Ikari. Como sempre.

- Ok, eu admito, esse não foi dos melhores almoços que eu preparei - Misato pegou o cigarro ainda apagado da mão do homem ao lado dela. Ele nem comentou nada, apenas pegou outro cigarro da carteira e se encostou no parapeito.

- Não estava ruim... - Snake ouviu uma risada curta da mulher ao lado.

- Vocês dois parecem boas pessoas - Ela analisou o homem por algum tempo.

Iroquois Pliskin a fez lembrar de alguém em especial. O jeito que ele segurava o cigarro era igual ao de Ryouji Kaji, a camisa que o segurança usava por baixo do terno era igualmente desarrumada no “estilo Kaji”, até mesmo o cavalheirismo de estender o isqueiro e acender o cigarro para ela era parecido com o do antigo amante de Misato Katsuragi.

- Sabe, você me lembra alguém... - Ela voltou a falar.

- Alguém bom ou alguém ruim? - Snake perguntou.

- Ambos...

Os dois ficaram em silêncio. Por algum tempo observaram as pessoas tocando suas vidas nas ruas de Tóquio-3. O número de civis nas ruas da cidade parecia aumentar a cada dia. Eram tanto antigos moradores da cidade já sem medo da ameaça dos anjos quanto estrangeiros e pessoas de outras regiões do Japão voltando a capital e suas novas oportunidades de emprego. Alguns grupos de turistas chegavam todos os dias para visitar a “cidade dos anjos” e suas incríveis atrações turísticas como crateras imensas deixadas pelas destruições de anjos, prédios em pedaços e até algumas pegadas dos Evangelions. Para Misato o mais ridículo disso tudo era ver o governo japonês dando suporte a essa besteira toda.

- Pliskin, me faça um favor? - Ela falou e fez com que o homem voltasse os olhos para ela. - Não minta para mim, por mais idiota que seja a mentira, ok? É que eu odeio mentiras e pessoas mentirosas. E já que vocês dois vão passar muito tempo com Shinji e Asuka, e comigo, eu espero... gostaria que não ficassem escondendo as coisas de nós...

- Eu entendo major - Snake respondeu mesmo sem entender direito o que ela quis dizer, fez questão de anotar mentalmente que deveria perguntar mais sobre Katsuragi para Kaji.

- E por favor, me chame de Misato. Sem formalidades fora da Nerv. - Ela sorriu para ele e entrou em casa, tinha de tomar um banho e voltar para a Nerv ainda no mesmo dia. Solid Snake fumou mais um cigarro antes de entrar.

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Poucas horas depois,

Misato chegou mais cedo em casa do que costumava. Já havia voltado a trabalhar fazia alguns dias e por conseqüência também à velha rotina de horários, apesar da Nerv já não estar mais tão movimentada quanto a época dos ataques dos Anjos.

Ela entrou correndo em casa e se a porta não fosse automática, teria esquecido de fechar. Procurou por Asuka e Shinji e encontrou os dois na sala estando o garoto assistindo TV e ruiva falando ao telefone. Daí o motivo de Misato não conseguir avisa-los antes.

- Vocês dois! Um minuto para se arrumar! - Ela tira o telefone de Asuka e desliga. - AGORA! - E a ruiva nem teve direito a réplica.

Exatamente um minuto depois Shinji já estava na porta de casa esperando por Misato e Asuka. A primeira apareceu em seguida com uma lata de cerveja na mão. A alemã demorou mais um pouco para aparecer. Misato mandou os dois para o carro enquanto foi ao apartamento ao lado chamar os dois seguranças.

Misato tocou a campainha e segundos depois a porta abriu, Iroquois Pliskin saiu de lá como um tufão, mas sem se esquecer de cumprimentar a major com um sorriso rápido. O outro ocupante daquela casa apareceu logo em seguida, como se não estivesse a par do que estava ocorrendo, Mark Goodspeed estava vestindo uma roupa qualquer de andar em casa, pantufas de coelhinho e óculos escuros, desta vez de lentes amarelas. Mark olhou para a cerveja de Misato.

- Bebeu e vai dirigir? - Ele perguntou.

- E você, vai sair dessa forma? - Respondeu instantaneamente enquanto olhava as pantufas do homem.

Mark deu uma risada e entrou no apartamento, pouco tempo depois e ele já apareceu novamente na porta todo trajado, exceto pelo terno que botou enquanto os dois desciam pelo elevador.

Iroquois já esperava na caminhonete preta quando Mark entrou no banco do motorista e ligou o carro. Olhou para frente e viu o esportivo azul cantando pneu e cortando a frente de um ônibus.

- Meu Deus, nunca vi alguém tão louco na direção. - Mark disse, Snake pensou exatamente a mesma coisa.

No meio do caminho Mark viu várias pessoas entrando nos abrigos e as ruas ficando mais vazias, pouco antes de chegarem na Nerv os dois eram os únicos carros na rua e provavelmente as únicas pessoas também.


Notas do autor: Mais um capítulo terminado, prometo que o próximo não vai demorar tanto quanto esse, ele já está uns 60 por cento pronto, e só posso dizer uma coisa: a ação finalmente vai começar. Mais Anjos? Metal Gear? Bom, só prometo tentar fazer algo que não devem ter visto ainda.

Já li muitos fanfictions de Evangelion, principalmente os escritos em inglês, e quem já leu sabe que é comum nos de Ação/aventura ou qualquer história com pilotos novos, o escritor homenagear o seu país de origem, daí vemos uma grande quantidade de pilotos americanos, franceses, ingleses, irlandeses, italianos. Bom, resolvi fazer uma homenagem também, daí criei o Cafe Brazil, já que não gostei de como ficou um possível piloto brasileiro. Ainda vou fazer algum personagem brasileiro, mas duvido muito que seja um piloto.

Sobre os personagens novos só posso falar de Natasha por enquanto, criei ela baseada em Olga Gurlukovich que aparece em Metal Gear Solid 2 Sons of Liberty. A morte dela foi uma das mais chocantes e inesperadas que já vi e ela acabou se tornando uma personagem memorável exatamente por isso e pela história dela no jogo. Natasha Gurlukovich é uma homenagem a ela.

A idéia de The Boys Are Back in Town veio logo antes de escrever essa nota, estava ouvindo a música e achei que combinava um pouco com a chegada desse pessoal todo na história. Quem viu Coração de Cavaleiro, essa é uma das músicas da trilha sonora.

Escrito(rapidamente revisado) ao som de Main Offender, álbum do senhor Keith Richards e também Bat Out Of Hell II - Back Into Hell, álbum do Meat Loaf. Aprendi a gostar de ópera Rock

07/05/06

Revisado: 11/05/06

Disclaimer: Não tenho direitos sobre Evangelion ou Metal Gear Solid, eles pertencem respectivamente a Gainax e Konami.

Capítulo 3

Capítulo 1

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