Bullets In Blue Sky

Tiros No Céu Azul

Capítulo 1: O Nome é Goodspeed, senhorita Langley!


Ruas de Tokyo-3,

Uma figura alta vestindo uma capa escura caminhava em passos lentos pelas ruas da capital do Japão. Apesar da chuva forte seu cigarro mantinha-se aceso, o estranho deu sua última tragada e o jogou fora. Mais alguns passos adiante e ele avista seu destino.

A ruela a sua direita parecia estar vazia, mas a escuridão não o deixava ter certeza quanto a isso.

‘Só para ter certeza...’ A figura se arrasta lentamente pela parede até o canto e dá uma rápida olhada na pequena rua e apesar da escuridão confirma que não havia ninguém ali. ‘Vazio, ótimo! Sem violência por enquanto.’

Mesmo sabendo que estava sozinho ele andou lentamente tentando fazer o mínimo barulho possível. Até mesmo o som de sua bota pisando nas poças d’água conseguia ser inaudível. ‘Como dizem, as paredes às vezes tem ouvidos...’ Pensa sorrindo.

Chegando quase ao final percebe um monte de caixas empilhadas trancando a passagem e se esforça para não soltar uma risada. ‘Que truque velho.’ Ele diz pra si mesmo e se esgueira pelo único espaço vazio deixado pelas caixas. Após atravessá-las encontra exatamente o que procurava, uma porta, que o homem trata logo de analisar.

Era feita de metal fortificado, mas aparentemente não utilizava nenhuma tecnologia moderna e a prova disso era o buraco da fechadura.

‘Então... onde conseguirei a chave?’ Ele olha para os lados na inútil tentativa de achar algo para arrombar a porta ou até mesmo a chave. Como esperava acabou não achando nada.

‘Bom, eles não iriam se proteger apenas com uma portinha dessas...’ A figura reflete por um tempo e resolve arriscar a derrubar a porta. Ele pega certa distância, ainda que a largura do beco o atrapalhasse quanto a isso e se joga de ombros contra a porta, que sucumbe à força do estranho. O barulho da porta caindo no chão poderia acordar até o mais bêbado dos mendigos que encontrou pelo caminho. Mas não tinha importância, mendigos bêbados não se importam nem com tiroteios caso estejam no meio de um. Como suspeitava a sua frente estava mais uma porta, e esta realmente seria um desafio para ele. Um modelo desconhecido por ele - não que ele fosse um especialista em portas, mas esta era controlada eletronicamente e parecia ser fortificada o bastante para agüentar muitos explosivos.

Enquanto pensava em alguma possibilidade de abrir a porta - o que foi em vão, diga-se de passagem - o homem avista um tubo de ventilação a cerca de dois metros e meio do chão, mas que não seriam problemas para os seus mais de 1,80m de altura e seu preparo físico. Ele pula, arranca a grade do tubo de ventilação e começa a arrastar-se pelo mesmo. Fica ali por cerca de três minutos até chegar ao outro lado e agora com muita cautela desprende a grade para sair do tubo e senta no chão para descansar um pouco.

‘Estou ficando velho para isso...’ Nem um minuto depois ele se levanta e olha o ambiente a sua volta, bem a sua frente havia uma plataforma rolante. A direita era um beco sem saída, apesar de uma grande porta daquelas automáticas, mas ele sabia que aquela não era a direção certa. A única opção que lhe restava para seguir era a esquerda e para melhorar a situação não conseguia ver aonde terminava o túnel.

‘Parece ser longo. Então não vamos ficar aqui parados, não é?’ Põe-se a correr em direção ao fim do túnel, isto é, se houvesse um.

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Corredor de acesso ao Geofront,

Ele continua sua corrida quase às cegas. As lâmpadas do teto estavam completamente apagadas, em compensação as laterais que emitiam luzes vermelhas estavam todas acesas, o que ele achou um pouco perturbador.

Na sua cabeça contou pelo menos 800 metros já corridos e mesmo para ele isso iria se tornar cansativo logo. Mas não era apenas nisso que ele estava pensando, começou a se lembras das plantas e projetos que encontrou duas semanas atrás em armazém abandonado em uma área deserta de Nevada, Estados Unidos.

O que o tirou de sua tranqüila e fria residência no Alaska e o levou ao quente deserto de Nevada foi uma ligação anônima de alguém que nem sequer se identificou apenas deu a localização do armazém que segundo ele, poderia dar pistas sobre a localização de um dos “Patriots”.

Ele foi até lá e a única coisa que encontrou ao invadir o armazém foi um lugar totalmente vazio, tendo apenas uma mesa de madeira no centro com algumas plantas e projetos. E aquilo foi o bastante para fazer seu coração bater mais rápido. O que havia naquelas plantas eram nada mais nada menos que os projetos de todos os Metal Gears de que se tem notícia. Estavam todos lá, desde os modelos TX-55 e D, ambos construídos por Big Boss, até os recentes modelos Rex e Ray.

Mas o que o fez tremer foi a última planta que encontrou. Aquilo era diferente de tudo que já tinha visto, não lembrava Metal Gear nenhum, ao contrário, o que estava desenhado naquela planta não parecia com um robô, parecia com um humano.

-Um... humanóide? - Ouviu a sirene da patrulha do deserto e tratou de correr para o seu jipe, não se esquecendo de levar consigo todas as plantas.

Estava tão perdido em pensamentos que só voltou a si quando uma forte luz invadiu seus olhos e se deparou com uma imensa abertura a sua frente. Projetou seu corpo para trás e caiu de costas no chão, deslizou e girou no chão por alguns metros até a beirada da abertura.

Soltou finalmente a respiração e olhou para baixo. Era uma altura e tanto, talvez uns 900 metros de queda livre. Lá embaixo havia milhares de árvores e contou cerca de cinco lagos espalhados por aquela cratera que parecia ter uma circunferência perfeita. No centro de tudo, havia uma pirâmide cinza.

-Então... esse é o famoso Geofront - Falou com a sua voz rouca pela primeira vez em horas. Tinha ouvido muito sobre ele enquanto ainda trabalhava como agente da Fox-Hound. Os cientistas de lá diziam que o Geofront era um dos três projetos mais ambiciosos da humanidade junto com a cidade-fortaleza de Tokyo-3, o terceiro ainda era desconhecido mas o boato que corria na época é que estaria ligado aos outros dois.

Estava paralisado com a visão da bela paisagem. Parecia com uma floresta de verdade, deveria haver até animais por lá. Foi nesse momento que ele caiu em si. Tinha sido advertido de que poderia ter de passar pelo tal Geofront e que precisaria de um equipamento de rapel. Por mais idiota que fosse a idéia do equipamento era inútil usa-lo no momento, não havia corda suficiente. Foi ai que percebeu que havia um trilho no teto pelo corredor inteiro, que a escuridão de antes o escondia, propositalmente talvez. E foi ali que viu sua saída.

- Certo, tenho duas opções. Posso me pendurar nisso e ir até a pirâmide, onde provavelmente é onde fica a central da Nerv, ou posso me sentar aqui e esperar os trabalhadores daqui e pego carona no veículo que eles usam para chegar lá - Ele parou um pouco para pensar. As duas opções eram arriscadas, em uma podia escorregar dos trilhos e na outra podia ser visto pelos funcionários. Ficou ali por um bom tempo analisando suas possibilidades até ouvir um barulho estranho. Era a esteira se movimentando, estava sobre ela e não percebera.

- E com isso... ficamos com apenas uma alternativa! - Ele diz com um sorriso no rosto. Olhando para o fim do túnel viu que as lâmpadas vermelhas se apagavam e as normais no teto acendiam, uma por uma em sua direção. O caminho ia sendo iluminado quando avista ao fundo um veículo estranho aparentemente com funcionários dentro. Pegou sua câmera digital e botou o zoom no máximo, viu na tela do seu aparelho os tripulantes do veículo.

- Sem tempo para isso - Tirou algumas fotos. Tratou de esconder-se e só havia uma forma de fazê-lo. Pôs seu corpo para fora da abertura e se pendurou ali, apenas com suas mãos suportando o peso do seu corpo e começou a contar. Estimou que o veículo passaria por cima dele em questão de um minuto. E foi assim que aconteceu, segurou em uma barra de metal.

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Central da Seele,

- De acordo com o roteiro original, um mecanismo S2 não poderia ser implantado em um Evangelion de forma alguma, estou certo? - Perguntou um homem que aparentava estar na casa dos sessenta anos, seu cabelo era branco e chegava até a altura do pescoço, o detalhe que mais chamava atenção nele era seu tapa-olho, o tornando facilmente alvo dos olhares dos que passavam por ele naquele corredor pelo qual caminhava acompanhado de um outro homem.

- Eu não usaria a palavra implantado, acho que o certo é dizer que o mecanismo foi ingerido... - Responde o outro homem, sentado em uma cadeira de rodas. Era um tipo estranho, usava um aparelho no seu rosto, mais precisamente nos olhos que mais parecia um protetor e se locomovia com a ajuda de uma cadeira de rodas. Seu nome era Keel Lorentz, comandante da Seele.

Keel era um homem condenado. Há dez anos atrás sofreu uma tentativa de assassinato enquanto descia as escadas da sede das Nações Unidas. Haviam dezenas de câmeras no momento fazendo a transmissão do evento que marcou o início do Projeto E, aprovado naquele mesmo dia pela ONU, nenhum dos câmeras, fotógrafos ou pessoas presentes viu de onde veio o tiro. Mas foi algo rápido. O homem simplesmente caiu no chão e não se ouviu barulho nenhum de tiro, talvez pelo fato do assassino provavelmente ter usado um silenciador, mas o uso ou não do acessório não influenciaria em nada devido ao barulho ensurdecedor feito pelas pessoas presentes. O tiro não foi fatal, mas deixou o homem paraplégico. Nunca descobriram quem foi o atirador.

- E isso de alguma forma irá prejudicar os planos da Seele daqui para frente, visto que isso já aconteceu uma vez? - O homem de tapa-olho volta a perguntar, desta vez lançando um olhar desconfiado ao outro.

- Vejo que o senhor é um pouco desconfiado - Lorentz responde.

- Talvez isso acabe quando o senhor me dizer qual foi o motivo da invasão da JSSDF à central da Nerv.

- Não sabemos, como o senhor disse, foi a JSSDF que invadiu e não nós.

- Escute Lorentz! 50 anos atrás eu aprendi uma lição que nunca me esquecerei, ela diz que confiar em gente do seu tipo significa problemas. Ou você me informa sobre TUDO, ou eu desisto dessa droga agora mesmo! - O velho senhor parou em frente a Keel.

- Certo! - Keel ficou calado por alguns instantes e levantou seu rosto em direção ao velho. - Fomos nós que mandamos a JSSDF invadir, queríamos os Evangelions de volta.

- Vocês tinham 5 unidades da Produção em Massa, não precisavam do protótipo nem do modelo de produção, apenas do modelo de teste. - O homem encarou Keel, este por sua vez apenas concordou. - Mas o que me intriga, comandante, é: por que deixar a piloto quase morta, se a unidade que ela pilotava não fazia parte dos objetivos da missão? Bastava desativar a conexão que fornecia vida ao vermelho e dançar um pouco com ele por 5 minutos.

- Como disse, a unidade 02 não fazia parte dos objetivos da missão. Era irrelevante - Kell sorriu maldosamente. Sabia que de alguma forma isso incomodaria o velho - Mas o que mais me admira nisso tudo, Big Boss, é logo você, "o exército de um homem só" estar achando isso errado.

- Senhor Keel, eu sou um visionário e não um assassino, penso que inocentes não devem morrer para se alcançar os objetivos a não ser que seja extremamente necessário. Apesar dela pilotar aquele monstro, ela é apenas uma criança, e isso a torna inocente - O velho se vira deixando Keel sozinho. - Mais uma coisa: o objetivo da invasão era roubar o Evangelion 01. Então... onde ele está? - Com um sorriso que Keel não pode ver, Big Boss desaparece no corredor. ‘E eu não sou o único exército de um homem só. Trate de se cuidar aleijado, a raposa velha aqui sou eu.’ Big Boss pensa consigo mesmo.

Keel continuou ali parado por alguns momentos pensando no que acabara de ouvir de Big Boss. Ele sabia de muita coisa, coisas de que ninguém da Seele o informou. E quando fez as perguntas parecia já saber as respostas e queria apenas ouvi-las dele mesmo. O comandante da Seele sabia que seria perigoso ter um aliado como Big Boss, mas era melhor tê-lo ao seu lado do que contra ele.

Deixa-lo unir forças com os rebeldes sul-americanos e com os clones seria quase que o fim certo dos planos da Seele.

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Geofront,

O intruso calculou que o veículo entraria na pirâmide em cerca de segundos e isso significava que teria de agir rápido. Forçando os músculos de seu braço mais do que deveria, foi até o outro lado da barra de ferro que contornava toda a parte inferior do veículo. Ficou exatamente sob a parte traseira do pequeno e de frente para os trilhos que conduziam o veículo. A sua única alternativa era chegar ao teto do veículo, uma manobra maluca, mas não impossível.

Começou a pegar impulso indo para frente e para trás, balançou uma, duas, três, quatro vezes. Na quinta vez pulou. O corpo voou por de trás do veículo subindo cada vez mais alto e caiu no teto do bonde. Não teve nem tempo de comemorar e já se deitou para poder passar pela entrada da pirâmide.

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Hospital de Tokyo-3,

O quarto era todo branco, chão, paredes, portas, tudo ali era da cor branca, como qualquer hospital na tentativa de criar um ambiente sereno. Só que para a paciente daquele quarto as coisas não funcionavam muito bem. Ao invés de um ambiente calmo e tranqüilizante aquela brancura toda ajudada pela claridade vindo da janela já havia se tornado algo totalmente depressivo.

Soryu Asuka Langley era o nome dela. A garota não agüentando mais a tediosa situação resolve se levantar e olhar a janela. ‘Olhar o movimento...’ Ela pensa. Ao botar os pés no chão gelado e começar a caminhar sente uma enorme fraqueza que quase a põe no chão. Mas não é isso que faria Soryu Asuka Langley cair. Mesmo se esforçando mais do que deveria ela chega até a janela se apoiando na parede com a mão.

Mas não foram carros, pessoas, prédios ou qualquer outra coisa que ela viu, senão o seu próprio reflexo na janela. Ela viu seus cabelos ruivos, sua pele clara, seus lindos olhos cor de safira... ou não.

- Meu olho... - A jovem ainda não percebera as ataduras em seu rosto, cobrindo seu olho esquerdo. - O que... o que aconteceu? - Ela caiu de joelhos no chão, ainda confusa demais para saber a resposta que parecia voltar aos poucos.

As lembranças começam a surgir.

O ataque à central da Nerv.

Não sabia quem eram aquelas pessoas, mas sua missão era defender a Nerv e foi isso que ela fez...

...até chegarem as unidades de produção em massa dos Evangelions. A luta contra os Evas brancos foi violenta, mas também gloriosa. Asuka provou para si mesma que podia voltar a pilotar e deu o melhor de si naquela luta. Derrotou... não, melhor, massacrou os nove demônios brancos, mas de alguma forma arremessaram algo em sua direção. Era uma réplica da Lança de Longinus, o que não queria dizer que não tinha o mesmo poder da original, havia poder o bastante para romper o Campo-AT do Eva vermelho e acerta-lo.

A lança acertou a cabeça do Eva. Devido à elevada taxa de sincronização os danos foram reais tanto para o gigante vermelho quanto para a garota. Ela levantou seu braço tentando alcançar um dos demônios brancos que sobrevoavam o gigante vermelho como se fosse uma presa, e foi atingida por outra lança, partindo seu braço em dois. O resto ela não se lembrava perfeitamente, mas sabia que foi atingida pelas lanças restantes e que os Evas brancos despedaçaram a unidade vermelha.

- Desgraçados... - Ela se levanta forçando todo o seu corpo e com muito esforço volta para a cama. A ruiva deixa algumas lágrimas caírem de seu olho esquerdo.

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Dentro da Central da Nerv

Shigeru Aoba, Makoto Hyuga e Maya Ibuki saíram do veículo acompanhados de um pequeno grupo de cientistas. A jovem operadora do sistema MAGI estava cada vez mais receosa de viajar naqueles bondes enfrentando tamanha altura ainda mais depois de ter sentido o veículo balançar durante a viagem - sim, também havia o seu medo de alturas o que só piorava a situação. O grupo logo dobrou no corredor a frente e se dirigiram a suas respectivas áreas.

- Hora de sair da toca - O estranho pula de cima do bonde e cai no chão.

Ele leva sua mão ao ouvido. Ativou seu codec, um revolucionário e novo sistema de comunicação através das nanomáquinas injetadas no sangue das pessoas. A tecnologia era de uso exclusivo das Forças Armadas Americanas e da sua principal subdivisão de agentes secretos a Fox-Hound, foi lá onde começaram a utilizar a nanotecnologia no começo da década de 90 e como é de praxe a divulgação desses tipos de técnicas só foram dadas no começo do novo milênio poucos meses depois do Segundo Impacto.

O pretexto usado para as nações destinarem alguns bilhões para as pesquisas foi de que essa seria a mais revolucionária tecnologia para o tratamento de doenças, claro que propósitos como o de usar as nanomáquinas para sistemas de comunicações como o codec foram camuflados para toda a população mundial e grande parte dos líderes das nações do mundo todo, a própria ONU ficou de fora do grupo que saberia toda a verdade.

A idéia era de que apenas as forças especiais mais influentes do mundo e também uma nação líder em cada continente tivessem conhecimento da utilização da nanotecnologia para fins militares. Países menos influentes como México, Alemanha e Argentina progrediam rapidamente com as pesquisas para uso medicinal, às vezes até ajudadas financeiramente por Estados Unidos e Rússia para dar uma “disfarçada”, esses dois junto com Japão e China avançavam cada vez mais com pesquisas voltadas a comunicação e armamento bélico.

Ainda não se sabia o porquê dessa preocupação com o avanço nas pesquisas por parte dessas nações, algumas talvez nem soubessem o porquê e estivessem apenas em uma competição entre si, mas a desculpa dada por elas era a prevenção contra o terrorismo. Difícil imaginar uma situação de terrorismo em tempos como aqueles onde o mundo todo havia se unido por uma só causa, a reconstrução da sociedade abalada por uma tragédia de escalas mundiais, e com economias estáveis e agradando a grande parte dos países - claro que sempre há aqueles que são deixados de lado - uma ação terrorista não interessava a ninguém, pelo menos no momento. Até mesmo Israel havia se acertado com a nação Palestina, mas isso não quer dizer que o mundo todo passava por uma “belle epoque”, ainda haviam conflitos e hostilidade entre os países, ou as vezes até dentro deles.

“Aqui é Snake, consegue me ouvir Otacon?”

“Alto e claro”

“Entrei”

“Você sabe quais seus objetivos?”

“Conseguir evidência fotográfica da existência dos humanóides”

“Ceeerto...”

Snake percebe a mudança de voz em Otacon. Estranhou o amigo ter perguntado se sabia dos objetivos, mas isso era quase que um texto usado pelos dois a cada missão. A mudança de voz confirmou que mais uma vez Otacon esqueceu de um detalhe importante e só foi lembrar pouco antes da missão começar.

“Tem alguma coisa que não me contou?”

“Só um pequeno probleminha...”

“Que seria?”

“Hackeando o sistema deles descobri que hoje eles têm um teste de sincronização com os Evangelions, seja lá o que for sincronização...”

“Evangelions... então é esse o nome deles. Não se preocupe Otacon, o teste ocorrerá normalmente”

“É, espero que eles sorriam para a câmera!”

Snake preferiu ignorar o comentário de Otacon.

“Certo, vamos checar o seu equipamento!”

“Você sabe, preciso do básico: uma pistola, faca, granadas...”

“Uma pistola Beretta M9 convertida para dardos tranqüilizantes e granadas chaff e de luz... desculpe mas sem facas dessa vez”

“Mas como você quer que eu venha para uma fortaleza sem uma faca? E os guardas armados? Mamãe, sabe que eu odeio quando não prepara a lancheira direito”

Foi a vez de Otacon ignorar a piada de Snake.

“Eles têm poucos guardas armados cerca de 80 parece que houve uma diminuição considerável na segurança armada da NERV”

“O que aconteceu? Morreram?”

“Se demitiram...”

“Depois daquele dia?”

Otacon apenas confirmou e desligou. Snake fechou os olhos e suspirou.

- Começando a operação Evangelion. - Disse alto. Costuma fazer isso sempre que começava uma missão.

Clic.

Um barulho cortou o silêncio, e Snake sabia o que era. Alguém acabava de apontar uma arma para o agente, poucos segundos depois de “começar” a operação. Deve ser o recorde mundial, pensou Snake com ironia. Chegou a alcançar sua Beretta, mas quando estava prestes a erguê-la e girar em direção ao estranho sentiu a arma inimiga encostar-se à sua nuca.

- Vire, devagar - O inimigo disse com um tom de ordem, fazendo uma pequena pausa entre as duas palavras. Não precisou pedir para Snake soltar a arma, pois o agente já havia tratado de fazê-lo. - Lembra de mim, Solid Snake? - O inimigo perguntou.

- Não pode ser! - Snake deixou escapar surpreso e arregalou os olhos a ver quem lhe apontava a arma. Era um homem da mesma altura de Snake e quase o mesmo tipo físico. O cabelo negro e longo, preso em rabo de cavalo era o que mais chamava a atenção, junto com a barba malfeita. - Você morreu!.

- Você também - O homem respondeu a Snake. - Bem, vou direto ao assunto, domador de lobos. - Disse enquanto guardou a arma. Sabia que não seria mais necessária.

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Hospital.

Asuka estava prestes a dormir quando algo a faz voltar sua atenção para a porta do quarto. Um barulho. Dois. A porta que acabara de abrir bateu com força na parede e o impacto a jogou de volta para a tranca.

A ruiva estranhou um pouco a situação. Primeiro pelo estrondo da porta que poderia tranquilamente acordar qualquer paciente que estivesse dormindo por perto, e segundo pela pessoa que acabara de entrar, trajando roupas que contrastavam com o branco tedioso do quarto.

Era um homem não muito alto estatura talvez um pouco acima da média e um físico que poderia considerar-se forte, talvez resultado de alguma prática de esporte. Usava uma jaqueta de couro preta larga e grande, ao contrário das pequenas e apertadas que eram moda nos anos 80 do século passado e que recentemente voltaram a moda com a re-popularização do Hard Rock entre os jovens americanos, japoneses e europeus, talvez o estranho em questão até tivesse alguma influência dessa nova moda. Mas de alguma forma o motivo oitentista ainda parecia mais forte.

Por baixo da jaqueta estava uma camisa com listras verticais marrons e verdes, ambas escuras. A calça também era preta, mas de outro material que não era couro, talvez um jeans escuro, mas era difícil para Asuka identificar, sua visão ainda estava afetada pelas lágrimas de momentos atrás. Antes que a garota pudesse reparar no calçado do estranho o mesmo já havia puxado a cadeira ao lado da cabeceira da cama e sentado ao lado da garota.

Seu cabelo era curto e castanho escuro, o rosto era claro e de aparência jovem, não mais de 30 anos e tinha semblante europeu, mas era difícil identificar mais alguma coisa devido aos óculos que ele usava. Era um Ray-Ban Aviator de lente verde-escura e armação dourada, daqueles que foram moda do final dos anos 70 ao começo dos 90 e que fizeram uma rápida aparição no começo do século a uns dez anos atrás.

Asuka observou o homem por alguns instantes, que definitivamente não parecia ser um enfermeiro ou um médico. Ela estava prestes a perguntar quem era o estranho quando foi interrompida pelo mesmo, que tratou de se apresentar.

- Meu nome é Goodspeed, senhorita Soryu - Ele disse com certo sotaque, o que era a prova definitiva que ele não era japonês, e não parecia alemão pois não lembrava o de Asuka. Talvez fosse inglês ou americano.

- Langley - Ela corrigiu. Soryu era seu primeiro nome.

- Hmm, perdão, essa mudança de ordem dos nomes e datas sempre me pega. - Ele soltou uma risada rápida. - Senhorita Langley, eu tenho uma proposta a lhe fazer.

- Que proposta? Quem é você? Não parece trabalhar no hospital. - Ela desceu a mão em direção a um botão vermelho sobre uma base branca na lateral da cama, que servia para chamar a enfermeira caso o paciente precisasse de alguma coisa.

- Espere - Goodspeed segurou o pulso dela, mas sem força, na tentativa de acalmá-la e claro que isso não aconteceu.

- Me sol... - Ela tentou terminar, mas foi interrompida por Goodspeed, que começou a falar novamente.

- Não se lembra de mim?

O estranho tirou os óculos e revelou olhos também verde-escuros como as lentes de seus óculos, era realmente de traços europeus e ocidentais. Os seus olhos verdes encontraram os azuis de Asuka e a fitaram.

Asuka o reconheceu. Este homem, Goodspeed, que a salvou um mês antes depois do ataque do 15° Anjo, Arael. Ainda que a palavra salvar fosse um pouco relativa.

O “anjo das aves” chamado assim devido a sua semelhança a um pássaro de asas abertas, atacou do espaço, fora do alcance das armas militares convencionais. Atirou contra a Unidade 02 uma espécie de variação do campo AT original. O raio amarelo-branco não causava danos físicos, mas sim mentais. O anjo atacou psiquicamente Asuka, infectando sua mente, e começou a brincar com os pensamentos dela. Acabou por reviver lembranças passadas da jovem, lembranças que ela mesma tinha tratado de esquecer.

Mas o anjo não se contentou apenas com isso, fez com que Asuka encarasse a si mesma. Contra sua própria identidade, saiu derrotada. Tudo aquilo que criou, esqueceu e incentivou na sua mente desde a morte da mãe era complexo demais para ela. Percebeu que tudo que era não passava de uma máscara, que era mais insegura e complexada que o próprio Shinji, seu adversário como piloto, que era como Asuka se forçava a ver o garoto.

Isso tudo resultou num conflito emocional na mente da garota. Não podendo controlar sua própria consciência, sua taxa de sincronização com o Eva caiu drasticamente, chegando a menos do necessário para pilotar.

Então foi substituída por aquele garoto pálido de cabelos claros e olhos vermelhos, como uma versão masculina da Rei.

A gota d’água.

Era o fim de seus dias como piloto. Sumiu da vista de Misato, da Nerv e inclusive dos seguranças da Seção 2. Foi para a velha Tóquio, num conjunto de prédios abandonados e tentou se suicidar.

Só que alguém conseguiu encontra-la. Não conseguia se lembrar bem, estava prestes a desmaiar, mas se lembrava dos olhos do homem que a encontrou.

Os mesmos de quem estava ao seu lado no exato momento.

- Foi você que... me achou... - Ela não conseguia controlar as palavras. Não sabia se agradecia ao estranho pela chance que ele a deu de viver. Ainda não tinha certeza se queria isso ou se sequer valia a pena. - Me diga, como a Seção 2 conseguiu me achar lá?

- Eu não sou da Seção 2 - Respondeu um sorriso que parecia de satisfação surgiu no rosto dele.

- Quem é você então?

Mas ele não respondeu a pergunta de imediato. Levantou da cadeira e foi para o meio do quarto, de frente para os pés da cama. Botou as duas mãos e os óculos nos bolsos

- E se eu lhe disser que posso tirá-la daqui amanhã? - O sorriso dele cresceu mais ainda ao ver a reação da ruiva. - Pelo que sei, você só vai receber alta daqui a duas semanas. - Foi o bastante para conseguir a atenção da garota.

- E o que você quer em troca? - Ela perguntou.

- Que você me ajude - Foi a resposta rápida dele.

- Como?

- Pilotando a Unidade 2 para mim e me ajudando a entrar na Nerv - A resposta de Goodspeed deixou Asuka ainda mais confusa.

- Eu piloto para a Nerv e- - Ela foi novamente interrompida. O sorriso sumiu e no lugar surgiu uma expressão séria, virou o rosto para a janela.

- Por favor, senhorita Langley! Sabe que podem substituí-la a qualquer momento. Além de que não existem mais Anjos, seus serviços com a Nerv terminaram. Eu sei que não existe muita coisa para você além de pilotar, sei que viveu 14 anos de sua vida para isso, mas... - Ele olhou para a garota, parece que tinha conseguido a atenção dela.

- O que eu ganho com isso?

- A verdade. - A garota pareceu mais confusa do que já estava. - E 14 milhões de dólares, veja bem, um milhão para cada ano desperdiçado.

- Eu não vou trair a Nerv, eles vão me matar depois dessa. - Ela respondeu quase que automaticamente. Lembrou de Toji, que teve seu Eva infectado e foi massacrado como se sua vida não valesse nada para a Nerv. Apesar de que era uma quantia em dinheiro que valeria a pena se arriscar, pelo menos para ela. Só que no momento prezou pela sua vida, mesmo não sabendo o porquê.

- Não, eles não vão. A parte fácil da história toda é você me fazer entrar na Nerv, aceitando minha proposta já é o bastante. A parte difícil vai ser você pilotar por mim, mas isso será só daqui a algum tempo, e eu mesmo me comprometo com a sua proteção. Senhorita Langley, você não tem idéia da minha influência. Atrás dessa porta deveriam estar 2 seguranças, que não me deixariam entrar, mas eu estou aqui. Você enganou a Seção 2 aquela vez? Eu também, consegui encontra-la, leva-la ao hospital para ser tratada, e eles nem sabem da minha existência.

- Você vem aqui, me oferece dinheiro para trabalhar pra você, traindo a maior organização do mundo, que eu sei que pode se livrar de mim a qualquer momento... eu tenho de admitir, essa quantia me faria aceitar sua proposta, mas isso é loucura demais. Eu acho que você é um maluco ou alguém querendo se aproveitar de mim.

- Eu te salvei.

- Não sei se isso foi uma coisa boa ou não. - Ela respondeu dessa vez. Goodspeed sabia do que ela estava falando. Tinha lido a ficha da garota, a parte psicológica interessou a ele.

- Foi sim, eu estou vivo por causa de você, as pessoas andando na rua lá fora também. Se não fosse pela sua bravura naquela luta contra a Seele, seria o fim da humanidade.

- Não fui eu que salvei o dia, foi o - Ela tentou dizer mas foi interrompida por Goodspeed.

- O idiota do Shinji, você ia dizer não é? Asuka, eu vou lhe falar uma coisa, sua participação nessa história toda é maior do que pensa. Shinji é um herói? Sim ele é, mas o SEU heroísmo não é menor comparado ao dele.

- Não tinha pensado nisso...

- Você se diz melhor que os outros pilotos. Bom, pessoalmente, vou lhe confessar uma coisa... - Ele se aproximou dela novamente, chegou perto do rosto dela e falou - Eu acho que está certa. Você é melhor que qualquer um ali.

As bochechas da garota ficaram rosadas. Fazia muito tempo que alguém não a elogiava, ainda mais de tal forma que alimentasse tanto o seu ego quanto aquela. Parecia ser exatamente isso que o homem queria.

- Isso é um sim? - Ele perguntou já de volta no centro do quarto. A ruiva não entendeu. - Seu rosto, está vermelho. - E Goodspeed sorriu de novo. A garota não assentiu, mas também não se opôs. - Ok, e que tal se eu lhe mostrar isso? - Ele levantou a mão e tirou do bolso interno da jaqueta uma fotografia.

Asuka olhou para a foto e logo reconheceu sua mãe nela. Asuka também estava lá, ainda era pequena, talvez pouco antes do acidente com sua mãe. A direita das duas estava um rapaz, talvez beirando os 18 anos, um pouco diferente, mas com os mesmos olhos. Era Mark Goodspeed quando jovem. Kyoko Zeppelin e Mark estavam sorrindo, ao contrário de Asuka que parecia não ter gostado da idéia de tirar a foto.

- V-você conhecia minha mãe?

- Sim, mas essa é uma história para depois.

Eles não falaram mais nada por alguns minutos. Ele sentou na cadeira novamente e Asuka fechou o olho para refletir. Depois de pensar muito, deu a resposta para Goodspeed.

- Estou com você.

- Então... como prometi vamos para a verdade, ou parte dela por enquanto.

- Tenho o dia todo.

- Olha isso pode ser chocante para você, mas depois vai entender que não é nada perto das outras mentiras. - Ele parou por uns instantes e deu um longo suspiro. - Eles não estão fazendo nada para curá-la.

- Não estão fazendo nada? - Asuka tocou no curativo do seu olho esquerdo, e logo depois levantou seu braço enfaixado contra a luz. Ainda tinha várias bandagens na barriga, cortesia dos demônios brancos, que palpitava de dor todo dia.

- Não estavam, para ser mais exato. Mudamos os remédios que eles davam a você por outros eficazes, também dei um dinheiro para os médicos acertarem nas operações, do contrário eles errariam de propósito e você perderia a visão do olho esquerdo e comprometeria o movimento do seu braço direito. As injeções que estão te dando todos os dias são relaxantes musculares, a de hoje vamos substituir por um soro ou coisa parecida.

A garota ficou em silêncio por mais alguns momentos antes de esboçar alguma reação. Foi uma lágrima, que desenhou sozinha no seu rosto. A expressão dela logo mudou para uma de raiva e fechou os punhos, inclusive o do seu braço machucado, a contração resultou numa pontada de dor naquele membro, que foi ignorada.

- E como eu vou receber alta amanhã? - Goodspeed se surpreendeu com a reação dela, pelos arquivos que leu da ruiva a reação dela no momento deveria ser a pior possível, mas ela demonstrou um auto-controle que quase assustou ele. A voz dela estava normal como a da conversa toda. O rapaz pensou que os arquivos poderiam estar errados. Ou desatualizados.

- Vamos mudar os seus dados no hospital, um médico vai vir aqui amanhã por volta das 8 da manhã e vai te liberar. Eu vou me apresentar como seu tio e tira-la daqui.

- E o médico que está cuidando de mim? E se alguém que sabe que não devo sair amanhã me ver?

- O seu médico mal vai conseguir sair de casa e quanto aos seguranças... vou pensar numa forma de distraí-los.

- E pra onde vamos?

- Vamos conversar por algum tempo, vou falar melhor sobre o que vai fazer e depois vou deixá-la em casa. - Ele olhou para a câmera que vigiava o quarto. - Tenho que ir embora agora, a câmera deve voltar a funcionar em instantes. - Ele se levantou e caminhou em direção a porta, chegou a abri-la e voltou a olhar para a garota que o acompanhava com o olhar. - Até amanhã! - E fechou a porta

- Até... - Ela respondeu, ainda um pouco confusa com tudo aquilo que acabara de acontecer. Deitou a cabeça no travesseiro e começou a pensar em tudo que foi dito.

- Você sabe, ainda que o peão vire uma rainha, ele ainda assim continua a ser apenas a peça de um jogo - Disse uma voz feminina. Goodspeed não se virou para a mulher que estava encostada na parede, apenas parou por instantes e botou os óculos novamente.

- Um peão pode ganhar sozinho um jogo, tudo depende do jogador. - Ele se virou para o lado oposto da mulher e dobrou o corredor. A mulher por sua vez, apenas cruzou os braços e fechou os olhos.

-Sua autoconfiança me assusta...

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Nerv, dia seguinte,

- O QUE!

Era a voz de Gendo Ikari, comandante da Nerv. Não era do feitio dele se alterar daquela forma, quanto mais gritar. Kozo Fuyutsuki, velho amigo de Gendo e também subcomandante da Nerv, sabia bem disso, dos vários anos que trabalharam juntos nunca viu o amigo nervoso quanto aquele dia. A frieza e calma sempre foram o cartão de visitas de Ikari.

- Já deu o recado, pode retirar-se - Kozo apontou para a porta.

O jovem rapaz que veio repassar a mensagem dos seguranças do hospital em que uma das pilotos estava internada não entendeu o que estava acontecendo, e também não queria saber, tratou logo de sair da sala escura do comandante a passos rápidos. Antes de fechar a porta olhou mais uma vez para o teto, onde estava uma imagem estranha, mas ao mesmo tempo interessante. Eram alguns círculos ligados entre si através de traços, havia também algumas palavras dentro e perto deles.

- Foi um erro do hospital Gendo, acalme-se - Fuyutsuki botou a mão no ombro de Gendo.

- Eu ouvi!

- Ele disse que foi culpa de uma pane do sistema

- Eu ouvi o que ele disse, droga!

- E o que vai dizer aos velhos?

- O que me disseram. - Gendo respondeu já recomposto.

Uma pane no sistema do hospital resultou na troca de algumas fichas e relatórios, a de Soryu Asuka Langley que tinha alta prevista para daqui a duas semanas acabou por sair do hospital no presente dia. Como estava acertado com o hospital, logo após a garota se recuperar alguém do hospital entraria em contato com a Nerv, que providenciaria alguém para buscar a garota e leva-la para casa, já que a major Misato Katsuragi, tutora de Langley, estava impossibilitada de dirigir devido a um ferimento no braço. O estranho da história foi o médico que estava encarregado de cuidar da piloto não ter intervindo e corrigido o erro, já que era para ele estar no hospital naquela hora. Parece que os quatro pneus do carro dele estavam furados. O celular e o telefone da casa dele foram estranhamente cortados por falta de pagamento.

- Eles não vão acreditar você sabe disso...

- Nem eu estou...

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Hospital, pouco tempo antes.

Já fazia quinze minutos que Tomoyo Matsushita, uma das médicas do hospital tinha vindo liberar oficialmente Asuka. Disse para a garota esperar cerca de 20 minutos que um tio dela estava a caminho.

Asuka estava assistindo TV, ou melhor, passeando pelos canais, quando o aparelho pisca e logo apaga, seguido da luz. Não que isso mudasse em alguma coisa já que era dia e tinha amanhecido fazia quase duas horas.

Ela sabia o que era. Fechou os olhos e parou para pensar um pouco.

’É agora, espero ter feito a escolha certa’. Mesmo não conhecendo Goodspeed a muito tempo, ele conseguiu ganhar a confiança dela em poucos minutos, poderia ter inventado aquela história toda, ou ela até poderia ser verdade, mas as intenções dele poderiam não ser boas. Só que de alguma forma conseguiu ver verdade e confiança em Mark Goodspeed.

Ouviu um grito rouco e impossível de identificar. Logo em seguida alguém abriu a porta e entrou no quarto. Era Goodspeed. Trocou o figurino preto por uma camiseta amarela e um jeans azul escuro.

- Bom dia! - Mark disse com um sorriso e jogou uma sacola sobre a cama, fechou a porta e se virou em direção a mesma. - Tem trinta segundos para se vestir, não se preocupe que não vou olhar.

Em qualquer outra situação Asuka teria gritado e tirado a força o estranho do quarto. Mas isso nem passou pela cabeça dela, pensou em tirar aquela camisola de uma vez e voltar a andar, desde que acordou se sentia um pouco diferente, os reflexos pareciam ter voltado ao normal.

Tratou logo de se vestir. Era uma calça jeans, um moletom vermelho, um par de tênis e óculos igual ao de Mark, mas de lente escura. O moletom disfarçava as ataduras no braço, mas os óculos não faziam o mesmo com o curativo no olho.

- Está horrível - Ela tocou no ombro de Mark. Ele olhou para a ruiva e deu uma risada.

- Achei que gostasse de vermelho - Ele disse e abriu a porta, olhou para os lados e não viu ninguém por perto. Pegou na mão da garota e apressou o passo.

- Cadê os seguranças da Seção 2? - Asuka perguntou. Mark não respondeu, apenas apontou para a direção oposta com a mão livre.

Asuka não conseguiu conter a risada ao ver os dois agentes da Seção 2 tentando agarrar um mendigo bêbado que acabara de entrar correndo no hospital. O indigente parecia ter virado um grande problema pros dois agentes do órgão especial da Nerv que cuidava da segurança dos pilotos, mesmo com a ajuda de uns enfermeiros que passavam pelo corredor, os dois grandalhões de terno ainda não tinham conseguido parar o mendigo quando Asuka e Mark chegaram as escadas. Bom, ele merecia algum crédito, conseguiu entrar correndo e subir dois andares sem ninguém segura-lo.

- E o elevador? - Asuka perguntou.

- Alguém pode te reconhecer - Desceram um lance de escada e ele se virou para Asuka. - Não se sente tonta?

- Não - Ela respondeu. Mark assentiu e eles continuaram a descer as escadas.

Eram apenas dois andares até o térreo que eles fizeram em menos de meio minuto, mesmo com Asuka estando sem andar a alguns dias.

Chegando ao térreo diminuíram o passo e Mark soltou a mão de Asuka. Os dois saíram pela porta automática e desceram um lance de escadas que dava direto na calçada. Um pouco a direita de onde desceram estava um conversível amarelo estacionado, os dois foram até ele e Mark abriu a porta para Asuka, era o máximo que sua gentileza permitia no momento, correu até o outro lado e pulou sobre a porta. Ligou o carro e em menos de dez segundos já tinham virado a avenida.

- Até que foi fácil. - Mark disse e ligou o som do carro na rádio. Com a pressa tinha esquecido de levar os CDs. E os mp3’s daquele carro não eram de seu gosto - Hmm, Born To Be Wild. Adoro essa música. - Disse ao ouvir o som da banda sessentista Steppenwolf.

- Coincidência, não? - Asuka disse enquanto analisava o carro. Abriu o porta-luvas e viu um espelho e maquiagem.

- Antes que pergunte, o carro não é meu. - Mark disse e a ruiva sorriu.

O sorriso logo sumiu quando viu no espelho o curativo no seu olho esquerdo. Tirou os óculos e deslizou a mão sobre o curativo. Uma dor começava a latejar por baixo das ataduras do seu corpo inteiro. Talvez efeito de algum dos remédios trocados.

- Você tem que me agradecer. Tive que pagar mais de 400 mil dólares para os médicos não errarem de propósito nas suas cirurgias.

- Me deve uma explicação melhor sobre tudo isso... - Asuka olhou para o motorista.

- Eu sei... - Ele disse ao passar um sinal vermelho. Olhou para o relógio e fez uma expressão de desapontamento. - Achei que teríamos mais tempo, vou ter que leva-la direto para casa.

- E quando vamos ter nossa conversa?

- Está ansiosa, hein? - Ele pegou em um dos bolsos da calça e tirou uma caixinha de remédios. - Tome um desse a cada 6 horas, a dor vai sumir em 2 dias. Amanhã vou ver como esta.

- E como vai fazer isso?

- Surpresa. - Ele disse e o carro parou segundos depois. Estavam em frente ao apartamento que Asuka dividia com Misato e Shinji. - Até amanhã.

- Como eu vim parar aqui? - Ela perguntou.

- Você não se lembra, acordou no elevador - Ele respondeu e Asuka assentiu.

- E provavelmente não te conheço.

- A partir de agora, não. E Asuka, não se preocupe com nada por enquanto.

Asuka saiu do carro e caminhou em direção ao prédio. Ouviu o barulho do carro arrancando e se virou para ver apenas as marcas de pneu deixadas pelo conversível. Andou um pouco, chegou na entrada e parou. Precisava do cartão de identificação para a porta poder abrir, botou a mão no bolso sem esperanças e se surpreendeu ao sentir um volume ali. Pegou o cartão e abriu a porta.

‘Ele pensou em tudo...’ Chegou no elevador e entrou, a porta se fechou e em segundos já estava no andar certo.

Caminhou em passos lentos até a porta do apartamento de Misato e parou frente a porta. Suspirou. E então tocou a campainha.

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Misato Katsuragi estava preocupada, fazia dias que não ia para o trabalho. Não que isso fosse ruim, ao contrário, podia ficar em casa dormindo e bebendo o tempo que quisesse, inclusive sua reserva de cerveja na geladeira já estava quase no fim, talvez restassem umas 2 caixas. Mas não seria algo tão banal que a deixava preocupada - ainda que em outras épocas essa situação seria desesperadora.

O problema, ou melhor, os problemas de Misato eram dois. A situação de Asuka no hospital. A garota não corria risco de vida o que já era um alívio, o problema era que o olho esquerdo e o braço direito da piloto do Evangelion 02 poderiam ficar comprometidos inclusive com a garota perdendo a visão, e Misato sabia que isso poderia ser tão ruim quanto a própria morte para a jovem narcisista.

O outro problema de Misato era o estado de Shinji, que estava mais deprimido que o normal - o que ela achava não ser possível. O convívio com o garoto estava difícil, a dias não falava nada a não ser um ou outro “bom dia” ou “boa noite”. Para fazer Shinji comer tinha que ir até o quarto dele e empurrar até a cozinha.

- Hm? - ela deixou escapar ao ouvir a campainha.

Foi até a porta e abriu.

- Asuka?


Notas do autor: Agora comecei com a história de vez. Bom, pra começar, Asuka é minha personagem preferida em Evangelion e qualquer outra obra que eu já tenha visto, incluindo filmes, livros e jogos. A narrativa vai na maioria das vezes focar mais nela do que em outros personagens, mas não vou esquecer deles, muito menos da Rei, apesar dela ter sido sempre coadjuvante quando eu escrevia a uns 3 anos. Os Patriots são os inimigos de Snake na série Metal Gear, ainda que eu ache que chamá-los de inimigos não seja bem certo, bom, vocês vão descobrir porque mais pra frente. Botei eles na história pois se parar e analisar um pouco Patriots e Seele da para ver que eles são muito parecidos. Mais pra frente vão ver por que.

Disclaimer: Não possuo Evangelion, Metal Gear Solid e seus personagens são de propriedade da Gainax e Konami respectivamente.

Capítulo 2

Prólogo

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