Sete Gatos e uma Louca!

Capítulo 25: Mais Verdades no Quarto


Quando Shiryu deixou o quarto de Lenore, percebeu muito movimento na casa. Todos já tinham acordado. A maioria das meninas estava de biquíni. Pareciam estar se organizando para irem à praia.

- Botan! Você ainda não pôs o biquíni?! - Naru perguntou, irritada.

- Mas por que não, Botan? - Kate sorriu para ela. - Você é uma garota tão linda.

- Não levem a mal, meninas, mas é que eu prefiro ir assim como estou.

- Tudo bem... - disse Mina. - Mas assim você não vai tomar banho de mar.

- Não tem problema, não!

- É bom que ela toma conta da Gatinha pra mim quando eu quiser tomar banho! - Tomoyo surgiu de biquíni e agarrada ao pesscoço do pobre felino, que tentava sem êxito libertar-se da garota, provavelmente para poder correr por aí.

- Viu? Já tenho função! - disse Botan, abraçando-se à Tomoyo.

Shiryu procurou pelos companheiros e avistou Mulder, Jack e Hotohori observando as garotas de um outro ponto. Resolveu juntar-se a eles.

- Onde estava, Shiryu? - Mulder perguntou assim que o viu.

- Por aí... E vocês? Não têm nada melhor pra fazerem que ficar espionando belas garotas de biquíni?

- Não! - responderam os três.

- É uma pena que a Botan, que se interessou pelo Mulder, não tenha colocado um biquíni também - Jack observou.

- Eu gosto assim.... - Mulder rebateu, malicioso. - Uma santa na frente dos outros... E o resto é por minha conta...

- Onde estão Aoshi, Lex e Vegeta? - Shiryu perguntou.

- Lex e Vegeta estão lá fora na piscina... - respondeu Hotohori. - Mas o Aoshi eu não sei.

- E por que será que não estão aqui, babando com vocês?

- Porque eles são tontos! - Jack exclamou.

- E porque Lex está apaixonado por Lenore... - completou Hotohori.

- Como é? - Shiryu piscou surpreso com aquela afirmação.

- Foi o Aoshi quem me disse... - Hotohori tratou de se eximir de toda e qualquer culpa ante aquela afirmação.

- O Lex? Apaixonado? - Mulder também se surpreendeu. - Pela piloto? Que estranho... Já teve tempo pra isso?

- Não pode ser... - Shiryu disse baixinho, fitando o chão. - Assim fica tudo mais difícil...

- O que é que fica mais difícil, Shiryu? - Hotohori, que estava atento a tudo que Shiryu dizia, perguntou.

- Hã? - Shiryu ergueu a cabeça e voltou-se para Hotohori, surpreso por ele ter ouvido seu comentário. - Fica mais difícil... deixar o lugar... Você não acha?

- Pode ser, mas não é coisa para tanta preocupação... - Mulder afirmou, semicerrando os olhos na direção de Shiryu. - Ou será que é, Shiryu?

- Não! Não é... Você está certo, Mulder. Estou me preocupando à toa.

Num outro ponto, à espreita, havia alguém. Alguém que sentira a falta de Shiryu no começo daquela manhã. Alguém que vira quando o cavaleiro de dragão saiu sorrateiro do quarto de tia Nastácia, aliás, do quarto dela... de Lenore...

Aoshi estava parado em frente àquela porta. Bater ou não bater? Hesitou por duas ou três vezes, até que resolveu. Com certa suavidade deu dois toques rápidos. Silêncio. Mas ele sabia que ela estava lá. Tinha certeza disso. Apenas Shiryu tinha deixado o quarto. E Aoshi precisava saber o que ele tinha ido fazer lá. Pôr as cartas na mesa? Sim, era o mais provável... mas até onde Shiryu teria ido? Teria contado sobre ele? Tinha que saber. De novo deu mais duas batidas na porta.

E ela se abriu.

Do outro lado, alguém com os olhos vermelhos. Mau sinal. Estava claro que a garota havia chorado. Ela o olhou por um longo tempo para depois perguntar bem baixinho:

- O que você trouxe? Teorias ou certezas?

Aoshi não respondeu imediatamente. Seus olhos mergulharam nos dela e um silêncio quase mórbido caiu sobre eles. O que antes era dúvida passou a ser certeza na mente do espadachim. Shiryu tinha mesmo falado o que sabia. Mas aquela pergunta - áspera, porém em genuíno tom de pergunta - deu-lhe a convicção de que o cavaleiro de Dragão havia atendido o seu pedido de não contar a ela que ele, Aoshi, também conhecia a verdade.

- Nem uma coisa nem outra... - respondeu depois do que julgou ter sido um interminável e silencioso momento.

Ela afastou-se, dando espaço para que ele adentrasse. Mas Aoshi continuou parado do lado de fora.

- Entre, por favor... - Lenore pediu. E só então ele entrou. A porta foi fechada.

Lenore seguiu em direção à cama que dormira e sentou-se numa das extremidades, deixando um bom espaço para que outra pessoa sentasse ao seu lado. Mas Aoshi pareceu não entender o recado, permanecendo de pé.

- Por que veio até aqui? - ela indagou, séria, porém gentil.

- Eu vi Shiryu saindo daqui e não entendi - ele respondeu, solícito.

- Estávamos conversando um pouco sobre a Éli.

- Imaginei isso. Por isso vim. Gostaria de conversar sobre ela também.

- Desculpe, mas eu não. Sente-se... - ela apontou para o lugar vazio ao seu lado. - Que tal se conversássemos sobre outra coisa?

- O quê, por exemplo? - ele ignorou o oferecimento.

- Você... Vamos conversar sobre você, senhor Shinomori.

- Sobre mim? Duvido que haja algo de interessante para conversar sobre mim.

- Ainda não vi o seu sorriso desde que cheguei aqui.

Aoshi a olhou com certa surpresa. Que tipo de observação era aquela afinal?

- Eu dificilmente encontro motivos para sorrir... - respondeu.

- Ah! É isso. Falta de motivos.

- Sim.

- O que seria, para você, um bom motivo para abrir um belo sorriso?

De novo surpreendeu-se. E seus olhos entregaram isso.

- Eu... não sei. Nunca... - foi dizendo devagar, tentando encontrar as palavras - pensei a respeito...

- Claro. Você nunca pensou a respeito.

- Contudo... - quis dar prosseguimento ao raciocínio - conheço bem o que não é. Conheço bem, senhorita Lenore, alguns excelentes motivos para não sorrir de jeito nenhum! Conheço vários ótimos motivos para morrer em prantos! Ainda que o choro fique atravessado na garganta, fazendo assim com que todos continuem acreditando que você é alguém muito, muito forte, pois nunca derramou uma lágrima sequer! Esquecendo todos que nunca chorar para fora não é o mesmo que simplesmente nunca chorar.

- Entendo. Mas não foi isso que perguntei.

- Como é?

- É isso que ouviu. Acabou de me explicar algo que não perguntei. Não preciso ouvir o que já sei. Preciso, sim, entender os mistérios daquilo que ainda não conheço.

Aoshi ficou calado. Como aquela mulher ousava insinuar que queria descobrir os seus segredos?

- Mas não se preocupe... - ela continuou. - Nunca precisei que me esclarecessem nada. Eu sempre fui atrás e descobri. E agora não seria diferente.

- O que a faz pensar que tem o direito de se meter assim em minha vida? Eu nem sei quem você é!

- Por que está aqui, Aoshi?

- Aqui nesta ilha?

- Não. Aqui neste quarto.

- Eu... não sei.

- Pois eu vou lhe dizer. Veio aqui para conversar comigo. E conversar significa compartilhar. Compartilhar, senhor Shinomori! Sejam sensações, situações, sentimentos... não importa! Compartilhar é tentar não se entregar à solidão que a vida, ordinária e traiçoeira como sabemos que é, nos impõe a cada segundo que respiramos.

- Do que você está falando? - ele franziu as sobrancelhas. Estava confuso com toda aquela conversa.

- Estou tentando dizer que você é um ser humano. E como todo ser humano, precisa das pessoas. Você não é auto-suficiente!

- Eu não estou dizendo isso! - ele quase gritou.

- Está! Não com palavras, mas com o olhar! - ela também elevou a voz.

- De fato não sei o que estou fazendo aqui - disse, dirigindo-se à porta.

Lenore levantou-se num ímpeto e o segurou pelo braço.

- Nós ainda não terminamos... - murmurou, mudando assim drasticamente o tom de sua voz.

- Não se pode terminar o que nem sequer se começou - respondeu.

- Fique... - Ainda segurando-o pelo braço, ela se aproximou mais. Era bom senti-lo. E percebeu que queria um pouco mais daquele superficial, mas muito agradável contato. Tomou-lhe a frente e inesperadamente o abraçou.

A diferença de altura entre eles era notável - o espadachim era muito mais alto. Aoshi não esperava por mais aquela atitude e ficou totalmente sem ação. Lenore permaneceu assim, agarrada a ele por um bom tempo. E ele sem nada dizer ou fazer. A única coisa que queria era deixar aquele lugar o mais rápido quanto fosse possível para nunca mais cair na maldita tentação de demonstrar carinho por alguém. Quase passou as mãos pelos cabelos dela, mas, quando enfim considerou a possibilidade, ela se afastou com os olhos no chão.

- Desculpe-me.... - murmurou ela. - Não estava muito bem quando você chegou aqui.

- Eu percebi... - ele disse, sério.

- Mas eu já estou melhor o suficiente para perceber que não deveria ter feito isso. Por favor, me desculpe.

- Se já está bem, então eu vou sair.

- Não precisa ir se não quiser.

- Mas eu quero.

- Se é assim, está bem. Até uma outra hora.

Aoshi não respondeu. Dirigiu-se à porta e saiu rapidamente de lá.

****

Minutos depois Lenore surgiu na sala. Parecia tranqüila agora. Passou pelas meninas e lhes deu um suave bom-dia, sendo retribuída da mesma forma. Teve o mesmo comportamento ao passar pelo grupo de quatro rapazes formado por Shiryu, Jack, Mulder e Hotohori. Desejou-lhes bom dia, sorrindo. Eles também sorriram, enquanto alguns aproveitaram para avaliá-la melhor:

- Até que o Lex tem bom gosto - Jack comentou após ela sumir de vista. - A garota é bem bonita.

- Pelo menos é mais bonita que a ruiva mandona que o escolheu. Acho que ele saiu ganhando na troca - Mulder completou.

- Os cabelos dela são muito bonitos - Hotohori, distraidamente, observou.

Os outros automaticamente olharam para ele.

- O que foi? Por que estão olhando para mim assim?

- Escuta, Hotohori... - Jack passou o braço pelos ombros do imperador e foi dizendo: - Você só reparou no cabelo, foi?

- N-não.... - Hotohori respondeu, vermelho. - Reparei em outras coisas também, mas...

- Mas nada! Fale das pernas, fale da bunda, fale dos seios, Hotohori... mas, por favor, não fale do cabelo!

Todos riram. E Hotohori ficou completamente sem jeito e ainda mais vermelho.


Nota final: Bem, bem, bem... Estamos bem perto do final, sabiam? É verdade... Acho que temos apenas mais uns três ou quatro capítulos pela frente agora.

Capítulo 26

Capítulo 24

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