Sete Gatos e uma Louca!

Capítulo 17: Reconciliações


O jantar transcorreu tranqüilamente. Pouca foi a conversa entre o grupo, apenas um ou outro comentário sobre o desempenho dos rapazes na natação. Ibuki e Sayaka, que também jantavam com eles, elogiaram bastante o desempenho de Vegeta que, apesar de ser o mais velho, fora o que se mostrou mais preparado.

Após o jantar Shiryu foi até seu quarto para buscar um lençol antes que Sayaka e Ibuki fossem para lá e se acomodou na sala. Um após outro, o resto do grupo foi se retirando para seus quartos.

Devia ser em torno de uma da manhã quando Shiryu percebeu movimento no corredor dos quartos que ficava bem de frente para a sala. Ele levantou a cabeça e viu e ouviu baterem bem devagar na porta do quarto de Vegeta. Não estava muito escuro, pois as luzes que rodeavam a casa estavam sendo deixadas acesas durante a noite, por isso Shiryu percebera de quem se tratava.

Vegeta abriu a porta.

- O que você quer Mulder?

- Será que a gente poderia conversar, Vegeta?

- Mas agora?

- Eu estou sem sono...

- Ora, isso é problema seu! Não me culpe!

- Não... mas é que eu pensei que se você também estivesse sem sono a gente poderia conversar...

Vegeta revirou os olhos enquanto torcia o nariz, mas mesmo assim abriu passagem para Mulder.

- Entra, então!

Mulder o fez e Vegeta fechou a porta. Shiryu então voltou a baixar a cabeça para tentar dormir.

No quarto, Mulder procurou uma cadeira e Vegeta abriu um lado de sua janela procurando o parapeito para acomodar-se.

- Do que você quer falar? - perguntou o saiyajin.

- De você, de sua raça, seu planeta...

- Ah, isso!

- Te incomoda falar disso?

- No meio da madrugada quando eu estou com sono? - Vegeta ergueu uma sobrancelha - Às vezes! - Mulder só baixou os olhos e sorriu com a resposta - Mas, por que o interesse?

- Não faz idéia do que isso significa para mim, não é mesmo, Vegeta?

Vegeta apenas deu de ombros.

- No FBI, eu trabalhava com os chamados Arquivos-X, nome dado a casos sem solução, sem explicação lógica. Eu sempre fui fascinado, Vegeta! Fascinado por esse tipo de coisa! Ao contrário de minha parceira Scully, eu sempre soube que não havia maneira de explicar esses fenômenos como as pessoas esperavam, de uma maneira que fizesse sentido aos olhos céticos de cada uma delas!

Mulder ia falando e Vegeta não pôde deixar de notar que seus olhos brilhavam de modo diferente ao falar nos tais arquivos X, mas num determinado momento, Mulder ficou sério demais e o brilho a pouco mencionado perdera o resplendor.

- Contudo, Vegeta, existe uma conspiração alienígena na Terra... Eu ainda não sei quais os planos deles exatamente, mas sei que não se trata de nenhuma confraternização pela paz universal.

- Não sei nada sobre isso, Mulder. Não ando em bandos e não freqüento conspirações, se esse é o ponto.

Mulder semicerrou os olhos e continuou com semblante de seriedade enquanto fitava Vegeta.

- O que quer nesse planeta, Vegeta? - ele perguntou quebrando o silêncio que formou-se naquele instante no quarto.

Na sala, Shiryu quase dormia quando pressentiu mais uma vez movimento no corredor. Ele voltou a levantar a cabeça. Um outro vulto batia em outra porta.

Hotohori abriu a porta de seu quarto com ar de sonolência.

- Aoshi?!

- Hotohori... Posso entrar?

- Sim, claro...

Aoshi então adentrou o quarto do imperador de Konan rapidamente. Shiryu voltou a apoiar a cabeça nos acolchoamentos do sofá para tentar dormir.

- Algum problema, Aoshi? - Hotohori não estava entendendo a visita inesperada do outro.

- Isso depende. - ele respondeu sem alterar a voz.

- Depende? Não é de mim, é? - Hotohori questionou tentando entender o que Aoshi estava querendo dizer.

- É verdade que é um imperador?

- Sim... é verdade.

- Você tem uma presença forte e também luta muito bem... Deve ser um bom imperador.

- Acha que esses dois quesitos são suficientes para se compor um bom imperador, Aoshi?

- Não, mas fazem a diferença. Contudo, sua preocupação para com os outros é a peça-chave.

- Eu não entendo... - Hotohori o olhou confuso.

- É simples, imperador. Você faz o possível para me salvar, depois me dá o prazer de uma ótima luta. E eu, o que faço? O trato mal e com ironias. Sei reconhecer quando estou errado... Um certo andarilho me ensinou isso...

- Parece engraçado um andarilho dar lições a um exímio espadachim feito você.

- É, eu sei que parece... é que você não faz idéia da força desse tal andarilho. - "Força tanto na espada quanto nas palavras!", pensou em paralelo - Mas, andarilhos a parte, eu vim aqui para... eu... eu peço desculpas, imperador.

- Não, Aoshi. Não é necessário. Falo sério.

- E eu também. Desculpe-me, Hotohori.

- Claro... - Hotohori só sorriu - Claro, amigo...

Movimento no corredor outra vez e Shiryu de novo percebeu, mas dessa vez, não levantou para ver. "Bolas! Não há de ser nenhum problema. Esse pessoal não dorme?". Mais batidas na porta do quarto de Vegeta. Ele abriu e deu de cara com Lex.

- Mas o que foi você também? - resmungou o príncipe dos saiyajins.

- Vegeta, eu posso entrar?

- Entra, garoto! Entra! O sono já passou mesmo!

Lex entrou e percebeu a presença de Mulder lá.

- Lex... - Mulder fez um sinal com a mão num tipo de cumprimento.

- Mulder? Você por aqui?

- É. Vim aqui ouvir sobre a fantástica biografia do nosso amigo saiyajin e que você já conhece bem...

- Fico feliz que esteja aqui, Mulder... Eu ia mesmo te perturbar um pouco também.

- Mas resolveu começar logo por aqui! - Vegeta ironizou de braços cruzados com o corpo recostado na parede.

- É que... - Lex virou-se de volta para Vegeta - eu queria que me desculpasse. Não sei bem em que momento te ofendi, Vegeta, mas sei que está chateado comigo, por isso seja lá o que tenha sido, me desculpe.

Mulder balançou a cabeça afirmativamente como quem gostara da atitude do rapaz, mas Vegeta permanecia imparcial. Seu olhar não mudara, sem semblante tão pouco.

- Não demonstre tanta fraqueza, Lex! - enfim ele disse - Se não tem força, pelo menos faça parecer que tem!

- Vegeta, eu só...

- Eu não terminei!! - Vegeta gritou e até Mulder assustou-se - Você vem até aqui pedir desculpas, mas não sabe nem porquê. Você não me fez nada! Absolutamente nada! Eu já disse e vou repetir! Não admito fraqueza! Não admito covardia! Não admito medo! Se quer ir embora, vá! Não me importa! Mas não pense que deixará comigo a melhor das impressões. Sempre vou lembrar de você como o fraco que você é!

- Espera aí, Vegeta! Eu não posso admitir que...

- Esperem aí os dois! - Mulder gritou percebendo que Lex começava a se exaltar. Ambos olharam para ele - Lex, Vegeta! Agora eu vou "traduzir" - e fez sinal de "entre aspas"t; com os dedos - o que disseram um ao outro, está bem? Vegeta, Lex chegou aqui e disse "Me preocupa o que você pensa sobre mim. Eu não sou uma pessoa ruim. Desculpe se o fato de eu querer ir embora não te agrada, mas isso não tem nada a ver com a admiração que eu passei a ter por você.". - Mulder olhou para Lex que não disse nada, apenas baixou os olhos - Bom, Vegeta então respondeu "Você não deveria ir embora assim, Lex. Você deveria ficar como todos os outros e esperar o final disso tudo. Não tem curiosidade de saber o que vai acontecer? Não acha emocionante o desconhecido? Eu gostaria muito que permanecesse com o grupo!".

Mulder explanara seu raciocínio improvisado de forma tão rápida que ficara um tanto sem fôlego, obrigando-se a respirar mais fundo para voltar à normalidade.

- Estou certo? - ele perguntou após tomar fôlego - Lex?

- É, está... Pelo menos da minha parte...

- Vegeta? - Mulder virou-se para o saiyajin.

- Mais ou menos. Tirando essa parte de que eu gostaria que ele permanecesse, você sabe, no grupo...

- Vegeeeeeeta.... - Mulder lançou-lhe um olhar torcido.

- Tá... isso também, bolas! - Vegeta reconheceu a contra-gosto, enquanto desviava o olhar para o lado oposto ao de Lex.

- Quer saber, Lex? - Mulder resolveu dar sua opinião pessoal no caso - Se você for, o grupo vai ficar desfalcado.

- Mas quem fez o grupo, Mulder? Não nos conhecemos por acaso! O grupo não foi formado por acaso! Quem dera tivesse sido! Mas não! Ele foi feito pela vontade de uma única pessoa!

- O que importa como nós nos conhecemos? Somos todos boas pessoas no final das contas, não é mesmo? Dane-se essa tal pessoa! Pelo menos para mim, estar vivendo uma "aventura" dessas com tantas personalidades diferentes está sendo realmente muito interessante. Pretendo levar boas amizades daqui. Uma delas é você, Lex... E você, Vegeta... - Mulder desviou o olhar para Vegeta enquanto citava seu nome, voltando a olhar para Lex depois - O Jack também... o Shiryu... A tia...

- Vendo por esse lado... - refletiu Lex.

- Mas é só por esse lado que eu vejo! - Mulder arrematou.

- Bem, eu tenho uma proposta... - pela primeira vez Lex sorriu com a costumeira segurança de outras situações vividas.

Shiryu cochilava quando ouviu passos e mais batidas em porta. Ele abriu os olhos num susto. Mesmo não acreditando que fossem problemas, resolveu olhar para se certificar.

Mais uma vez Hotohori atendeu às batidas na porta de seu quarto.

- Oi, Hotohori.

- Oi... Jack... sem sono?

- Isso. Será que eu posso falar com você?

- Falar comigo?

- Não vou tomar muito do seu tempo, por favor.

- Sim, claro... entre...

Os dois trocaram essas palavras seriamente, como se fosse uma conversa formal. Ao entrar, Jack viu Aoshi sentado no piso atapetado e recostado na parede. Uma perna esticada, a outra semi-flexionada apoiando um dos braços.

- Eu não sabia que estava ocupado. - o agente disse assim que viu Aoshi - Posso falar depois, então...

- Sei o que pensa sobre mim, Jack, mas eu e Aoshi estávamos apenas conversando. - Hotohori replicou ainda sério - Você não está atrapalhando nada.

- Isso mesmo, Jack. - Aoshi concordou com as palavras do imperador e completou: - Mas não me preocupo com o que está pensando, pois sei que está aqui pelo mesmo motivo que eu...

Jack o olhou sem dizer nada e depois virou-se para Hotohori.

- Hotohori, eu sinto muito pelo que eu falei! - disse de uma vez só, num impulso.

- Não se preocupe, Jack. Você falou o que pensa... E além do mais, de repente eu fiquei imaginando que muitas outras pessoas devem pensar o mesmo. Mas quem ousaria dizer isso ao seu imperador, não é verdade?

- Não é nada disso, Hotohori! O que eu disse não é o que eu realmente penso... Eu... eu só estava confuso com a derrota... Acho que a Éli estava certa... Me acostumei a pensar que preciso vencer sempre... Mas isso não é culpa minha, acredite!

- Acredito... - Hotohori o confortou.

- Acho que você é uma grande pessoa... E sei que você ama a Miaka... que não é a gatinha...

- Não, não é a gatinha... - Hotohori afirmou sorrindo - É uma bela e jovem garota.

- Bom, se é assim, não deixa de ser uma gatinha então! - Jack concluiu já também com um sorriso - E sobre você ser o mais bonito, bem.... isso eu nunca vou admitir, nem dizer... nem mesmo sob tortura. Tudo bem pra você?

- Tudo bem. Sei que está sendo justo com você e comigo. Não precisa admitir... - e riu - Nem dizer... Soaria realmente estranho... "Saber" já é o suficiente!

- Pois é! - Jack concordou com a afirmação estendendo a mão para o outro; Hotohori não hesitou em apertá-la.

Mais alguns minutos de conversa e todos voltaram para seus quartos. Enfim, Shiryu conseguiria dormir. E o resto da noite transcorreu em quase total silêncio, "quase" por que afinal havia o barulho das ondas do mar, mas este, para Shiryu, era muito agradável...


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Capítulo 16

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