Samurai X-Men

Capítulo 3: Encontros e desencontros


Tókio - 30 de Setembro do ano 11 da era Meiji

No mesmo momento em que o clã Yoshioka está sendo atacado, do outro lado da cidade uma dupla caminhava aos tropeços pelas ruas desertas. Quem os visse naquele momento com certeza acharia graça daquela situação: um homem alto e robusto com um topete que mais parecia uma crista de galo sendo amparado por um ruivo magricela que tinha pouco mais da metade do seu tamanho.

- Sano. Uff porque você foi beber tanto?

- Foi mal ‘hic’ Kenshin. A fexta tava tchão boa que eu examinei.

- Você quer dizer “exagerei”. Francamente, é a última vez que te deixo me arrastar pra essas suas “festinhas entre amigos.” Como se não bastasse a jogatina semanal, agora vocês inventaram essas festas movidas a sake.

- Que mal há em xe divertchir um pouco de vex em quando? Voxe mexmo bebeu tanto quanto eu.

- ...A diferença é que eu tenho bem mais resistência. Você é muito fraco pra bebida Sano. E ainda foi inventar de experimentar aquela bebida estrangeira.

- O nome é cerveja. Coisa mutchu boa ‘hic’.

- Olha o resultado, nem se agüenta em pé.

- Que nada, eu extou firme como uma “broxa”. E fraco pra bebida é a vovoxinha. Se não tivexem me expulxado eu ainda taria lá.

- Também, você vomitou em cima do anfitrião. Nessa hora todo mundo concordou que era melhor este servo te levar para casa. Mas te carregar pela rua não está sendo nada fácil, não estamos nem na metade do caminho e olha a hora que é. Kaoru-dono deve estar preocupada.

- Deve extar uma fera ixo sim. Hoje de manhã falei pra ela que ia te levar na zona.

- ORO!!! - Kenshin e Sanosuke tropeçam ao mesmo tempo.- Porque Sano? É por isso que ela tem estado tão hostil comigo.

- É icho aí. Fix icho pra te ajudar. Quem xabe provocando ciúme ela não toma uma atitude? Xe voxes continuarem neche ritmo eche casório vai ficar é pro próximo xéculo.

- ... Sano, de todas as suas idéias absurdas essa com certeza foi a pior. Este servo dispensa a sua ajuda. Em vez de se preocupar comigo cuide da sua vida, pra começar você podia arranjar um trabalho... uff, não apoie todo o peso em min. Quando chegarmos você vai explicar essa história para Kaoru, entendeu?

- ...........

- Sano?

- ROOOOOOONC

-(suspiro) Mais essa agora.

Com todo o cuidado Kenshin Himura deposita o amigo adormecido na calçada e começa a dura tarefa tentar despertá-lo. Primeiro com delicadeza; sem resultado. Depois, fazendo uso de sacudidelas e tapinhas na cara; nada. Por fim, pegando pelo colarinho e sacudindo com toda a força; desta vez Sanosuke Sagara vira para o lado e começa a grunhir algo do tipo “me deixa dormir mais um pouquinho mãe”. Kenshin já estava pensando em arranjar um pouco de água para jogar na cara do companheiro quando o ruído de dezenas de passos em marcha acelerada chama a sua atenção.

Pelo barulho eram mais de 20 pessoas calçando botas. Estavam subindo a rua, e logo passariam pelo ponto onde Kenshin e Sanosuke estavam. Com efeito, não demorou muito para Kenshin avista-los, e imediatamente os reconheceu como um batalhão da polícia se deslocando a toda velocidade, certamente para atender alguma ocorrência. Com um suspiro de alivio, Kenshin afrouxou a pressão na bainha da sua espada Sakabatou.

Assim que viu Kenshin, o líder do esquadrão ordenou uma parada e se aproximou:

- Senhor Himura. Algum problema?

- Oro? Delegado Uramura, boa noite. Não, de maneira alguma.

O Delegado ajeitou os óculos enquanto limpava o suor do rosto com um lenço e olhou com mais atenção para Sanosuke, que agora roncava alto, de barriga para cima e com um fio de saliva escorrendo pelo canto da boca.

- O seu amigo está bem?

- Claro. - respondeu Kenshin constrangido - Só exagerou um pouco na bebida. Estávamos justamente indo para casa quando ele dormiu.

- Assim que conseguir acorda-lo, vão direto para casa senhor Himura. Esta noite está muito perigosa. Eu sei que o senhor é plenamente capaz de se defender, mas seria prudente evitar conflitos.

Vendo a seriedade e o nervosismo com que o delegado proferiu aquelas palavras, Kenshin soube que algo realmente grave estava acontecendo.

- Senhor delegado, poderia explicar para este servo o que está acontecendo?

O delegado ponderou por alguns segundos se deveria ou não atender o pedido de Kenshin quando por fim falou:

- ... Bem, acho que os meus homens precisam de um pequeno intervalo.

Após dar algumas instruções para um subalterno, o delegado “bigodinho” volta a se aproximar de Kenshin e o puxa um pouco para longe de Sanosuke, que neste momento era alvo de gracejos e risadinhas dos policiais que certamente estavam achando graça da “bela adormecida”. Assim que o delegado se afastou com Kenshin alguns passos, começou a falar em tom confidencial:

- Nós estamos indo atender um pedido de reforço na zona leste, parece que uma guerra de gangues estourou por lá. Os informes dão conta de uma verdadeira batalha campal.

Kenshin resolveu ignorar por enquanto o comportamento estranho do delegado e perguntou:

- O senhor tem idéia de quais grupos estão envolvidos?

Mais uma vez o delegado hesitou por um momento antes de responder num tom de voz mais baixo ainda:

- O serviço secreto dá conta de que a família Yoshioka está sendo atacada por um outro grupo que se auto-intitula “O Tentáculo”.

- Os Yoshioka são uma das famílias yakusa mais poderosas do Japão, mas este servo tem ouvido falar muito a respeito deste “Tentáculo” ultimamente, o que o senhor sabe sobre eles?

- Muito pouco senhor Himura. É uma organização muito obscura, mas de alguns meses para cá tem aumentado a sua influência de maneira extraordinária, os Yoshioka são um dos últimos obstáculos entre eles e a hegemonia no submundo de Tókio. Além disto, temos informações de que se trata de uma irmandade “shinobi”.

- “Shinobi”, ninjas. Isto é estranho. Geralmente eles preferem agir nas sombras, a serviço de outros grupos, essa ambição não é uma atitude normal.

- Concordo. Mas as atividades deles não deixam dúvidas. Com certeza o objetivo do Tentáculo é subjugar ou eliminar a concorrência. Temo que se isso acontecer eles não vão parar por aí. Admito que não tínhamos como controlar a yakusa, mas pelo menos eles se mantinham dentro de uma certa “ordem”. Já o Tentáculo parece querer lançar o país no caos, só nos últimos meses o tráfico de drogas e armas aumentou em 50%.

- Isso é terrível. Este servo tem ouvido boatos sobre um assassino-demônio à solta em Tókio. Isso pode ter alguma relação?

- Bem, como se trata do senhor acho que posso falar. Até pouco tempo nós achávamos que isso era só um rumor infundado, mas nosso serviço secreto realmente encontrou evidências de um assassino fora do comum a serviço do Tentáculo. Ao que tudo indica ele é o principal responsável pela ascensão deles.

- Já tem alguma pista sobre ele?

- Não. Este indivíduo é muito cuidadoso, até agora não deixou nenhuma testemunha viva sequer. O pouco que sabemos é graças a suas vítimas. Os ferimentos fazem lembrar o ataque de um urso selvagem ou um tigre.

Nisto o delegado puxa de um relógio de bolso e depois de uma rápida olhada chama seu sub-oficial dando a ordem para a partida.

- Desculpe-me senhor Himura. Já falei bem mais do que devia, precisamos nos pôr a caminho. As informações que lhe passei são de caráter estritamente sigiloso, conto com a sua discrição. Tenha uma boa noite

O delegado se curvou e havia dado as costas para Kenshin quando este o detém segurando-o pelo braço.

- Um momento senhor delegado. É óbvio que este servo desconhece todos os fatos, mas não me agrada deixar um amigo se arriscar sozinho. Este servo gostaria de acompanha-los. Só peço que destaque um homem para levar o meu amigo para casa.

O Delegado estava prestes a responder quando uma voz bem conhecida se fez ouvir:

- Levar pra casa o escambau!

Depois de literalmente caírem para trás Kenshin e o delegado dão com a figura de um Sanosuke Sagara displicentemente apoiado numa parede próxima, de braços cruzados e inacreditavelmente sóbrio. Os policiais que até a pouco se divertiam às custas dele agora tinha se afastado expressando um misto de surpresa e medo nos rostos.

- Você é mesmo um traste, hein Kenshin. - falou o ex-lutador de rua enquanto se aproximava - Querendo a diversão toda só pra si.

- S-Sano. - Kenshin se levantava tentando se recuperar do choque - Desde quando está acordado?

- Já faz um tempinho. E aí delegado, tudo em riba? - quase derruba o pobre delegado com um tapinha “amistoso” no ombro - Na verdade acordei quando vocês começaram a conversa.

- Ma-mas e o seu pileque? - Kenshin ainda parecia não acreditar no que estava vendo - Você estava praticamente em coma alcoólico.

- Você me conhece. Não sou do tipo que fica perdendo tempo com bobagens enquanto posso estar me divertindo. Faz um tempão que a gente não entra numa briga de verdade. E toda essa história de cultos ninjas e assassinos misteriosos só serviu pra atiçar a minha curiosidade. Vambora negada, tô doido pra socar umas fuças. - enquanto dizia isto Sanozuke estalava sonoramente as juntas dos dedos com um sorriso quase diabólico no rosto.

Kenshin suspira e faz aquela cara de “só você mesmo Sano”. O delegado tentou disfarçar o constrangimento pigarreando e retomando o profissionalismo.

- AHAM, sinto muito senhor Himura. Nada me deixaria mais feliz do que aceitar o seu oferecimento, mas tenho orientações expressas para não envolve-lo e nem ao senhor Sagara neste assunto em particular.

- Nem vem com essa seu delegado - esbravejou Sanosuke - Por nada nesse mundo eu e o Kenshin....

- Por favor, Sano - Kenshin interrompeu com firmeza - Vamos respeitar a decisão do delegado.

Sanosuke decididamente não é um homem que se deixe convencer fácil, Kenshin é um dos poucos capazes de ter algum controle sobre seu gênio impulsivo. Por isso ao ouvir o amigo, Sano, ao invés de replicar, amarra a cara, enfia as mãos nos bolsos e se afasta resmungando e chutando algumas pedras. Kenshin observa o amigo com um pequeno sorriso no rosto antes de retomar o semblante sério e encarar o delegado mais uma vez.

- Desculpe o Sano delegado, faz muito tempo que ele não luta, e ultimamente anda meio agitado. Mas poderia explicar de quem veio esta ordem?

- Não sei ao certo. Tudo o que eu sei é que a orientação partiu do alto comando. Eu desconheço os detalhes. Bem, eu tenho que ir, boa noite, senhor Himura.

- Boa sorte na sua missão, delegado Uramura.

Os dois homens se saudaram amigavelmente, e logo a seguir o delegado e o seu batalhão se puseram em marcha rumo à zona leste deixando um inconformado Sanosuke e um intrigado Kenshin para trás.

Nem bem os policiais sumiram de vista e Kenshin é forçado a interromper suas conjecturas devido a um violento cascudo aplicado por Sanosuke.

- Aí!!! Essa doeu. O que deu em você Sano?

- Já que não posso bater nos ninjas você vai pagar o pato. Droga, era a minha chance pra desenferrujar os ossos. Desde o caso do Shishio que eu não brigo pra valer.

- Mas e a sua mão direita? A Megumi não te proibiu de lutar até que as lesões causadas pelo duplo extremo ficassem curadas. Ui! - leva outro cascudo.

- Como pode ver a minha mão está ótima. Aquela doutora raposa não sabe de nada. Mas, mudando de assunto, você não achou essa história de recusarem sua ajuda meio estranha? Nos casos do Jin-e e do Makoto Shishio não tiveram nenhum escrúpulo em pedir. E mais, se era pra não nos envolver, porque o delegado te contou essa história?

- De fato. - Kenshin ainda coçava a cabeça - Essa história toda me parece muito estranha. Essa guerra no submundo parece ser bem mais séria do que os boatos faziam acreditar. E ainda tem este assassino misterioso. O que você sabe sobre isso?

- Ué? O mesmo que você, só boatos. Desde que eu deixei de ser lutador de aluguel cortei as ligações que tinha com o submundo. Mas a coisa tá feia mesmo pro lado dos Yoshioka, ouvi um dos guardinhas comentando que estão sendo chamados reforços de toda a cidade pra poder entrar lá. O que faz mais estranha a recusa do bigodinho.

-O delegado citou várias vezes o setor de inteligência, talvez...

Mais uma vez Kenshin se fecha num silêncio pensativo. Com sua perspicácia característica Sanosuke acaba por entrever o sentido nas palavras não ditas de seu amigo.

- Você acha que tem o dedo “daquele” cara nessa história?

- Não podemos ter certeza de nada no momento. - respondeu Kenshin - Vamos investigar melhor amanhã. Agora vamos embora.

Kenshin e Sanosuke começam a caminhar.

- Fazer o quê né, você já conseguiu estragar a minha noite, e duas vezes.- Sanosuke ao que tudo indica ainda estava um pouco desgostoso com Kenshin - Às vezes essa sua panca de bom moço me deixa muito irado.

- É mesmo? - respondeu Kenshin sorrindo - E você nunca deixa de me surpreender Sano, aquela sua “recuperação relâmpago” foi incrível. Bom, pelo menos isso poupou este servo de carrega-lo até em casa.

- Ré ré, muito engraçado você. Pode esquecer aquela história de eu me explicar com a Kaoru. Se vira.

- ...Vamos deixar isso pra depois. Quero chegar logo no dojô.

Sanosuke não pode deixar de sorrir ante as últimas palavras do amigo.

- Preocupado com ela, é? Desencana, por mais doida que seja, aquela menina nunca sairia na rua numa noite dessas.

- É. Tem razão.

 

 

Enquanto Kenshin e Sanosuke conversavam, o caos havia atingido o seu ápice na zona leste. A batalha entre os Yoshioka e o Tentáculo a princípio tinha se restringido às imediações da mansão do clã. Mas assim que o fogo tomou conta da mansão e a morte de Matsuo se tornou uma certeza, os combatentes dos Yoshioka, que até aquele momento lutavam ferozmente, se dispersaram tentando salvar as próprias vidas. Ninjas do Tentáculo os perseguiam promovendo inúmeras escaramuças que acabaram por espalhar o conflito por todo o bairro.

Os ninjas tinham ordens para não deixar nenhum membro do clã vivo fosse homem ou mulher, criança ou idoso. A destruição do clã Yoshioka deveria servir como exemplo a todos que ousassem se opor ao poder do Tentáculo no futuro.

Victor Creed já havia cumprido a sua missão e a esta altura já deveria estar de volta prestando um relatório aos seus mestres. Mas um imprevisto o mantinha a poucas quadras da mansão em chamas, num pequeno bosque.

Sozinho, sentado no chão, de braços e pernas cruzadas, o gigante canadense parecia adormecido. Foi o que pensou Shiro ao se aproximar cautelosamente do seu chefe. O ninja se movia com a sutileza de um gato, mal ousando respirar. Sua intenção era surpreender aquele gaijin arrogante e quem sabe fazê-lo entender que não era tão bom assim.

- Já estava quase indo atrás de ti, Shiro.

A voz rouca de Creed não foi mais que um sussurro, mas foi o suficiente para fazer o pobre Shiro estremecer da cabeça aos pés. O pensamento: “Como ele faz isso” passou pela sua cabeça, assim como uma resolução de ser mais cuidadoso dali por diante.

- De-desculpe a demora senhor Tigre.- Shiro em vão tentou controlar o tremor na voz - Suas ordens devem estar sendo executadas neste momento.

Ao ouvir isso Creed se vira para o subalterno e o encara com um semblante obviamente contrariado.

- Como assim “devem estar”? Eu encarreguei você e aqueles outros três patetas de um serviço simples, qual é o problema?

- Problema nenhum senhor - Shiro recuou um passo - Eu só achei que Yamada, Hiko e Debushi eram mais do que suficientes para o trabalho. Dei instruções para eles voltarem diretamente para a base assim que acabassem.

- Pro teu bem espero que tu esteja certo. - falou Creed enquanto se erguia - Aquelas informações não podem vazar de jeito nenhum, e seria um péssimo negócio eu ter minha cara espalhada em cartazes pela cidade. Agora vambora, já me demorei demais por aqui.

- Sim senhor.

Os dois começaram a caminhar pela trilha que os levaria de volta à base secreta do Tentáculo. Creed resolveu deixar de lado a recente preocupação, aquela mulher nunca conseguiria escapar de três assassinos treinados.

- Shiro, mais uma coisa.

- Hai?

- Da próxima vez que tu tentar se aproximar daquele jeito traiçoeiro, eu te mato, entendeu?

- Ha-hai.

 

 

A alguns quilômetros dali barricadas foram erguidas por policiais em cada rua que dava acesso à zona de conflito. Os homens da polícia metropolitana de Tókio estavam tendo trabalho para acalmar e organizar a multidão em debandada. Todos eram cuidadosamente revistados antes de poder passar. Essa atitude estava gerando protestos por parte da população que só queria sair daquele lugar o mais rápido possível, muita gente acabou sendo presa por tentar passar à força pela barreira. Alguns cidadãos verbalizavam claramente a sua revolta.

- Isso é um absurdo.- protestou um homem aos berros - Vocês deveriam estar aqui para nos proteger.

- Ao invés de nos barrarem deveriam é entrar lá e acabar com essa bagunça - berrou outro.

Em vão os delegados responsáveis tentavam acalmar os ânimos. A situação estava especialmente tensa no acesso norte, onde o delegado Mitsuda tentava controlar uma multidão de mais de cem pessoas com um efetivo de vinte policiais.

- Tenham calma gente! - pedia o delegado aos berros. - O que estamos fazendo é para sua própria segurança, tenham paciência.

Na verdade o delegado não estava gostando nem um pouco daquela triagem. Ele era um homem baixo e atarracado, com braços e pernas de estivador e uma vasta barriga, um homem experiente que participou ativamente de muitos combates na época do bakumatsu. Por isso mesmo preferia mil vezes enfrentar uma boa luta a lidar com uma turba enraivecida. Vendo que a situação estava prestes a sair de controle, o delegado resolveu tomar uma atitude.

- Atenção! Liberem a passagem para as mulheres e as crianças.

- Mas senhor. - retrucou um subordinado - As ordens são para checar todos.

- E as minhas são para deixar passar as mulheres e crianças. Algum problema, cabo?

- N-não senhor.

Cumprindo as ordens do delegado Mitsuda em pouco tempo a situação se acalmou. Em menos de meia hora acabaram as vistorias sem maiores problemas. O cabo voltou a se aproximar do superior que estava sentado num banco limpando o suor do rosto com um enorme lenço.

- Está feito senhor. Não encontramos nenhum suspeito.

- Como era de se esperar. Isso foi uma enorme perda de tempo.

- Quais são as ordens agora senhor?

- Manter a posição e aguardar novas instruções. Humf. Por min nós teríamos entrado com tudo sem perder tempo. Sabe-se lá quanta gente inocente pode ter morrido enquanto estávamos bancando os porteiros aqui.

- Impaciente e afobado como sempre, hein Mitsuda?

A voz veio de algum ponto atrás deles. O delegado pulou do banco como se impulsionado por uma mola, e sacou a espada antes de encarar o estranho.

- Quem é você? - gritou o delegado - Identifique-se.

O homem cujo rosto estava nas sombras pareceu não dar atenção à explosão do delegado. Por isso não falou nada enquanto acendia calmamente um cigarro. Só depois de tirar a primeira baforada dá um passo à frente indo para a área iluminada. Ao reconhecê-lo o delegado embainha a espada e amarra a cara mais ainda.

- Fujita. Odeio quando você faz isso.

Gorou Fujita se aproximou. O subdelegado do serviço de espionagem da polícia estava envergando como de costume um uniforme azul marinho simples, e trazia sua inseparável katana presa ao cinto. Sua figura alta e magra combinava perfeitamente com os traços alongados do rosto onde se destacavam os olhos estreitos e perversos e o quase perpétuo meio-sorriso cínico.

- Que cara de desgosto é essa Mitsuda? Cabo, nos dê licença, por favor.

- Sim senhor.- respondeu o cabo batendo continência e se afastando em seguida.

- Eu devia adivinhar que você estava envolvido nessa história.- comentou Mitsuda - Tudo isso tem a sua cara; Hajime Saitou.

Sem ninguém por perto, o delegado podia tratar o interlocutor pelo seu verdadeiro nome. Pouca gente dentro ou fora da polícia sabia que o subdelegado Gorou Fujita era na verdade ninguém menos que Hajime Saitou, ex-capitão da terceira divisão do Shinsengumi, a temida tropa de elite do extinto shogunato.

- Feh. Você acha? Se estiver se referindo a nossa estratégia nessa situação acertou. Fui eu que ordenei o cerco e a revista na população.

- Ordenou!! Quem você acha que é pra ordenar alguma coisa?

- O responsável. Toda esta operação está sob o comando do setor de inteligência. Vocês só estão aqui para nos apoiar.

Foi com prazer que Saitou observou o colega ficar vermelho como um tomate.

- Calma Mitsuda. Afinal estamos do mesmo lado. Eu sei o que estou fazendo.

Mitsuda teve de fazer um grande esforço para movimentar as mandíbulas travadas.

- Então o que estamos fazendo aqui ainda?

- Você preferia entrar no meio de uma verdadeira guerra envolvendo yakusas armados até os dentes e ninjas fanáticos? Não seja tolo.

- Ora seu...

- Pense bem. Não é muito mais cômodo esperar que eles se matem enquanto nós só reunimos nossas forças até podermos ir à caça dos que sobrarem, e sem o inconveniente de civis amedrontados nos atrapalhando?

Ante a esta lógica irrefutável, Mitsuda foi obrigado a engolir a raiva, por mais que odiasse admitir, Hajime Saitou era um homem formidável, sua inteligência e perspicácia só não eram maiores que sua habilidade com a espada. Pondo de lado o orgulho resolveu dar um voto de confiança ao arrogante colega.

- Muito bem. E o que faremos agora?

- Reúna os seus homens, vamos avançar. Todos ou outros esquadrões já estão se movendo. Vamos fechar o cerco e tentar prender o máximo possível de suspeitos.

- Ótimo. Mais alguma outra orientação?

- Sim. A força letal está autorizada. Se alguém tentar resistir, pode matar. E mais uma coisa.

- Sim?

- Se qualquer homem avistar um indivíduo totalmente fora do comum entre os ninjas, quero ser informado imediatamente. Agora vamos.

Com um berro o delegado Mitsuda reuniu os seus homens e deu a ordem de partida. Finalmente teriam um pouco de ação. Pena que tinha que aturar aquele Lobo de Mibu lhe dando ordens.


versão pré leitor, última revisão 24/05/04

Comentários:

Finalmente o pessoal de Rurouni Kenshin da as caras no fanfic. Espero que eu tenha conseguido apresentar os personagens de forma fiel. E aí? Quem será a garota de quem o Dentes-de-Sabre estava falando? Só posso dizer que ela será um ponto chave na história. Mais esclarecimentos no cap. 5.

O próximo capítulo foi um dos que me deu mais trabalho até agora, só pra vocês terem uma idéia ele tem quase o dobro de páginas deste aqui. Resumidamente ele vai abordar a trabalheira e as voltas que o Logan teve que enfrentar para conseguir um jeito de voltar no tempo. Apesar do tamanho, o texto ficou bem interessante, por isso POR FAVOR, LEIAM.

Mais uma vez meus agradecimentos ao Dack e ao Worm por estarem me ajudando na revisão e ao pessoal do Afas por me dar esta oportunidade. Caso alguém queira entrar em contato o meu e-mail é: [email protected]

 

Capítulo 4

Capítulo 2

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