Resident Evil: Experimento X

Capítulo 6 - Pânico na Vila


- Hei, Albert!

Wesker, que antes caminhava cabisbaixo pelos corredores do complexo, foi tirado de seus pensamentos assim que ouviu a voz de Vincent. Erguendo os olhos, Albert se conteve para não rir: Goldman usava um ridículo traje de safári, tendo em mãos um comprido rifle metálico.

- Aonde pensa que vai assim? - perguntou Wesker, ajeitando seus óculos escuros.

- Caçar o mutante! - respondeu o outro cientista, cheio de determinação. - Nós dois seremos enviados com uma das equipes de busca!

Dizendo isso, Vincent apanhou um dardo sonífero de um dos bolsos de seu uniforme, colocando-o dentro de um compartimento no rifle. Atordoado com o telefonema de Spencer, Wesker acabara se esquecendo das ordens de Deller. Todos deveriam auxiliar na captura da cobaia, inclusive os cientistas. Porém, ansiando pelo cargo de chefe de pesquisas em Raccoon, Albert atrapalharia ao invés de ajudar...

 

O cheiro não era dos melhores. Forte, nauseante. Mas a fome falava mais alto. Após mais alguns passos, afastando os arbustos com as mãos, Blanka avistou um casebre feito de palha e argila. Era de lá que vinha o odor. Algumas crianças brincavam alegremente próximas ao monstro verde, sem percebê-lo.

Cautelosamente, o mutante se aproximou de uma das janelas da moradia. Agarrou uma das bordas da abertura. Erguendo os pés, visualizou o interior do casebre.

Blanka fitou móveis rústicos. Num dos cantos da habitação havia um improvisado forno. O “soldado-elétrico” fungou, sentindo que o cheiro tornara-se mais forte. Olhando para uma mesa de madeira, o mutante encontrou a origem do odor: havia ali um grande peixe cortado em pedaços, cru, aguardando cozimento. Fora provavelmente pescado poucos minutos antes.

Como um verdadeiro selvagem, Blanka saltou pela janela, ganhando o interior da moradia. Mais que depressa, dirigiu-se até o peixe, enfiando na boca um grande pedaço de carne crua. Mastigou-a sonoramente, apanhando outro bocado sem nem ao menos ter engolido aquele que triturava. Pela primeira vez desde que fugira do complexo da Umbrella, o monstro verde sentia-se realizado.

- Ah!

O alto e desesperado grito feminino fez os ouvidos de Blanka latejarem. Surpreso, o mutante voltou-se para a entrada do casebre. Viu uma mulher de traços indígenas, longos cabelos negros. Ela o fitava com expressão de enorme pavor. Trêmula, deixou cair no chão uma peneira, enquanto corria desesperada em busca de ajuda.

Blanka estremeceu. Fora descoberto. Não era mais um humano comum, e aquelas pessoas não reagiriam de forma amistosa. Tinha que sair dali.

Atordoado, o ex-soldado saltou pela janela que havia usado para ganhar o interior da habitação. Novamente do lado de fora, Blanka ouviu os gritos da mulher se misturarem a vozes masculinas. Falavam em língua nativa, tom ameaçador.

O mutante correu numa direção desconhecida. As crianças que antes brincavam agora fugiam amedrontadas. Enquanto seguia por entre os casebres, o monstro olhou para trás. Inúmeros homens o perseguiam, armados com bastões e facas. Alguns deles tinham revólveres. Blanka não queria lutar contra eles. O pobre fugitivo não desejava ferir ninguém.

Correndo atordoado, a criatura esverdeada acabou subindo num improvisado ancoradouro de madeira às margens do rio. Olhando para a água, percebeu que uma jangada se aproximava. Estavam nela um homem e seu filho, o menino Carlos Oliveira, trazendo uma rede repleta de peixes.

- Pai, olhe! - exclamou o garoto, apontando para Blanka.

Tal gesto chamou a atenção de alguns pescadores que se encontravam próximos, os quais até então não haviam notado a presença do mutante. Este, imóvel sobre as tábuas do ancoradouro, percebeu que seus perseguidores estavam prestes a alcançá-lo. Pensou em saltar nas águas do rio e fugir a nado, quando um novo som, diferente dos gritos apavorados dos habitantes da vila, atingiu seus ouvidos.

Um helicóptero se aproximava rapidamente.

Dentro da aeronave estavam, junto com alguns soldados da Umbrella, Albert Wesker e Vincent Goldman. O segundo apontou seu rifle metálico para Blanka, enquadrando-o através da mira telescópica da arma.

- Só um disparo... - murmurou Vincent, prestes a apertar o gatilho.

Percebendo o perigo que corria, Blanka finalmente se moveu. Voltou-se mais uma vez para a vila, deixando rapidamente o ancoradouro num ágil salto. Não voltaria para as mãos dos homens que o haviam transformado naquela aberração.

O helicóptero seguiu o mutante, enquanto os atordoados moradores da vila não sabiam se olhavam para o monstro verde ou para a ameaçadora aeronave. Confuso, Goldman disparou, mas ao invés do dardo sonífero atingir Blanka, acabou alojando-se no ombro de um dos ribeirinhos, que caiu adormecido.

Vincent resmungou algo, enquanto colocava mais um projétil na arma. No chão, a cobaia que recebera o Vírus Ômega corria como nunca. Em meio a inúmeros gritos de fúria e desespero, o mutante embrenhou-se mais uma vez na floresta, ofegante. Atrás de si, o som da aeronave perseguidora era o emblema máximo do destino do qual deveria fugir. Todas as suas forças tinham que ser empenhadas nisso.

 

Guile arregalou os olhos. Aquele que estava diante de si parecia mais um grande e resistente guarda-roupa do que um ser humano. Impressionado com as proporções do indivíduo, William ergueu a visão, fitando a face do sujeito, que sorriu.

- Esse é Vulcan Raven. - explicou Campbell, se aproximando com as mãos cruzadas atrás da cintura. - O combatente mais forte da Fox-Hound!

O gigantesco homem careca, que possuía pele escura e inúmeras tatuagens pelo corpo, caminhou até um de seus companheiros mercenários, o qual encontrava-se encostado a uma das paredes do armazém. Sua pele era excessivamente pálida, expressão facial fria, cabelos bem curtos. Era como se aquele indivíduo fosse apenas um manequim ambulante, um ser desprovido de alma.

- Aquele é Decoy Octopus, mestre do disfarce! - apontou Roy, enquanto Guile, Nash e Barry contemplavam o soturno membro da Fox-Hound. - Quando transformado em outra pessoa, é praticamente impossível reconhecê-lo! Dizem até que, de tanto assumir a identidade de outros homens, ele acabou perdendo sua própria personalidade...

O terceiro mercenário era uma mulher. Bem jovem e bela, por sinal. Ela estava um pouco afastada dos demais, sentada sobre algumas caixas de madeira, tendo em mãos a boina vermelha que lhe ocultava os cabelos loiros por quase todo o tempo. Como os outros integrantes da Fox-Hound, trajava uniforme camuflado para a selva.

- Senhorita White, queira vir até aqui - disse Campbell, voltando-se para a combatente.

A jovem veio. William examinou-a de alto a baixo. Possuía no máximo vinte e dois anos de idade, mas mesmo assim aparentava grande experiência. Assim que ela se aproximou o suficiente, Roy apresentou-a:

- Esta é Cammy White, recém-recrutada pela organização. Ex-integrante das Forças Especiais britânicas, e com certeza apoio indispensável para esta missão!

Foi a vez de Burton fitar o rosto de Cammy. Ela de certa forma lhe lembrava Kathy, sua amada, com quem se casara havia três meses. Pouco antes de partir para a operação na Colômbia, Barry recebera a notícia de que sua esposa estava grávida. Depois que deixasse a Amazônia, o membro do S.T.A.R.S. pretendia pedir transferência para a unidade do serviço em Raccoon City, uma pacata cidadezinha dos EUA, onde estabeleceria sua tão sonhada família.

Campbell cruzou os braços, observando atentamente cada membro de sua equipe. Faces e habilidades distintas. Sorriu satisfeito. Eles com certeza dariam conta do recado.

 

Blanka continuava avançando rapidamente pela densa selva. Já havia percorrido no mínimo cerca de dois quilômetros. O helicóptero da Umbrella prosseguia em seu encalço, com Vincent observando atentamente a floresta através da mira de seu rifle. O mutante não podia escapar. O progresso no desenvolvimento do Vírus Ômega dependia de sua captura.

- Acho difícil conseguirmos pegá-lo desta maneira... - afirmou Wesker.

- Preciso apenas de um espaço aberto... - murmurou Goldman, concentrado na caçada. - Um lugar onde eu possa enquadrá-lo na mira sem problemas...

O desejo de Vincent tornou-se realidade. Após mais alguns metros, Blanka viu-se na nascente de um rio, onde havia bonita cachoeira. A água deslizava de forma harmoniosa sobre as pedras, correndo em seguida suavemente pelo início do curso fluvial, emitindo som leve e relaxante. Local digno das lendas de Iara, onde qualquer turista não pensaria duas vezes antes de banhar-se no líquido da vida.

Depois de contemplar o belo ambiente por um instante, o monstro verde deu continuidade à sua fuga, correndo sobre as rochas escorregadias. De repente, viu surgir no céu, diante de si, algo que lhe deixou incrivelmente alarmado: um helicóptero da Umbrella, e não era o mesmo que o perseguia. Enquanto a nova aeronave se aproximava, o mutante olhou ao redor, coração aos pulos. Estava cercado.

Súbito, um indivíduo saltou do helicóptero que surgira de frente para Blanka, caindo de pé diante do mutante, a poucos metros de distância. Descalço, trajava apenas um calção azul com listras vermelhas, possuindo um sinistro tapa-olho na face. Era careca, e em seu tórax havia uma enorme cicatriz.

O misterioso homem olhou para Blanka e sorriu. O monstro pensou em voltar para dentro da floresta, mas percebeu que a aeronave a qual antes o perseguia se encontrava próxima demais. O mutante observou os soldados a bordo dos dois helicópteros, incluindo um rapaz de roupa de safári com um rifle metálico em mãos. Apesar de terem suas armas apontadas para a cobaia, não disparavam. Pareciam aguardar algo.

Blanka voltou a olhar para o sujeito careca. Ele parecia se deliciar com a situação na qual o fugitivo se encontrava. Rindo sarcasticamente, uniu os dois braços lado a lado e estendeu-os na direção do mutante, punhos fechados. Em seguida gritou, impulsionando seu corpo para frente:

- Tiger!

O atônito monstro verde não teve tempo de reagir. Uma potente onda de energia lançada pelas mãos do careca atingiu seu peito em cheio. Blanka foi empurrado violentamente para trás, ao mesmo tempo em que o agressor gritava:

- Venha me enfrentar, aberração!

Recuperando-se do ataque, o mutante fitou o indivíduo mais uma vez, tomado agora por enorme fúria. Blanka não tinha opção. Teria que lutar contra seus inimigos pela primeira vez desde que fugira das instalações da Umbrella. Sua liberdade dependia disso.


Capítulo 7

Capítulo 5

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