Resident Evil: Experimento X

Capítulo 3 - A Cobaia Perfeita


Carlos Blanka parou o carro a poucos metros do endereço marcado no panfleto da Umbrella, e saiu ansioso de dentro do veículo. Aquela era uma rua de Manaus pouco movimentada, e o militar achou estranho a Umbrella ter um escritório num lugar insalubre como aquele. De qualquer maneira ele entrou dentro do que parecia ser um galpão abandonado, seus passos ecoando pelo lugar.

Cruzando um pequeno corredor, Blanka entrou numa salinha onde havia um balcão vazio, sem nenhum sinal de qualquer recepcionista. Uma pequena porta levava a um amplo depósito cheio de engradados com o símbolo da Umbrella: um guarda-chuva vermelho e branco. Quando o militar ia perguntar se havia alguém no lugar, alguém lhe agarrou pelas costas.

– Hei, o que é isso?

Mas antes que pudesse reagir, um pedaço de trapo velho ensopado com um estranho líquido cobriu o rosto de Blanka. Ele foi perdendo as forças, seus olhos foram se fechando, e ele reconheceu a substância: clorofórmio.

– Vamos tirar esse cara daqui, Hunk! Acho que encontramos quem o senhor Deller queria!

Essas foram as últimas palavras que Blanka ouviu antes de perder a consciência.

 

Após o passeio pelo laboratório, Deller foi tratar de alguns assuntos particulares com o misterioso Bison, enquanto Wesker e Vincent seguiram para um dos laboratórios. Enquanto Goldman observava alguns relatórios de pesquisa, Albert perguntou, matando a sede num bebedouro:

– De onde você é, Vincent?

– Minha mãe é canadense e meu pai, britânico - respondeu o rapaz. - Nasci em Vancouver, e depois me mudei para Londres, onde comecei a trabalhar para a Umbrella. E você, Wesker?

– Eu sou de Maryland, mas depois que comecei a trabalhar para a Umbrella fiz algumas viagens pela África e fui parar em Raccoon. Meu pai também era biólogo, trabalhava para as Forças Armadas.

– É, parece que agora você e eu estamos perdidos no meio da selva...

Nisso entram dois pesquisadores dentro do laboratório, carregando dois ratos dentro de uma gaiola.

– Vamos iniciar algumas experiências - disse um deles. - O senhor Wesker já teve a oportunidade de conhecer nossas técnicas de mutação?

– Se forem melhores que as de Raccoon, Spencer me matará!

Todos riram e seguiram para uma sala anexa.

 

O helicóptero militar pousou às sete horas da noite no aeroporto de Manaus, trazendo Campbell e os demais combatentes vindos da Colômbia. Guile foi o primeiro a pisar em terra, seguido por Nash, Barry e Roy. Os quatro caminharam até uma pequena construção onde havia uma placa com a inscrição “Vôos baratos de helicóptero pela floresta”. Guile perguntou:

– É aqui?

– Sim, é aqui - respondeu Campbell. - Bem, façam seu...

Antes que o major pudesse completar a frase, Guile chutou a porta e entrou violentamente dentro do recinto, encontrando um surpreso sujeito de boné sentado atrás de uma mesa. Ele perguntou:

– Quem é você?

– Não importa! - berrou Guile. - Você é Diego Menezes, não?

– Sim, por...

Guile agarrou o brasileiro pelo colarinho e jogou-o sobre a mesa, apontando-lhe em seguida sua pistola calibre 45.

– Para onde você levou o Bison?

– Eu, eu... - balbuciou o piloto em inglês. - Não sei do que está falando!

– Não se faça de imbecil!

Nesse instante Nash e Barry também entraram no lugar, e o primeiro disse:

– Acalme-se, Guile! Não é matando o sujeito que terá suas respostas!

– Ele apenas me pagou para que o levasse até uma base no meio da selva!

– Uma base? - riu Barry. - Como suspeitávamos!

– O lugar é grande, parece ser um laboratório ou coisa assim...

– Um laboratório de drogas? - arriscou Guile.

– Não sei... Posso levar vocês até lá se quiserem!

Guile olhou para Nash com uma expressão de triunfo no rosto.

 

Quase simultaneamente, do outro lado do aeroporto, chegava um jato vindo da União Soviética, trazendo Nicholai, Zangief e mais dois agentes da KGB. A presença dos quatro russos em território brasileiro deveria ser um segredo máximo, já que o país, apesar de estar sendo redemocratizado, ainda tinha inúmeros agentes da CIA em seu território.

Eles caminharam para fora do aeroporto, sendo as malas de Nicholai e Zangief carregadas pelos outros dois agentes, e pararam na frente de um carro preto. De dentro dele saiu um homem magro e alto, parecia ser um tanto russo e um tanto alemão. Ele saudou os companheiros:

– Sejam bem-vindos ao Brasil, meus caros!

– Já arranjou nossas identidades falsas? - perguntou Nicholai.

– Tudo está pronto, doutores “Kerchevich” e “Askonov”.

Nicholai sorriu, entrando junto com Zangief dentro do carro. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser em como sua pesquisa evoluiria com o que roubaria da Umbrella. Os outros dois homens da KGB voltaram para dentro do aeroporto, enquanto o veículo partia velozmente.

 

Carlos Blanka abriu os olhos e suas pupilas encontraram uma intensa luz branca, que fez com que se retraíssem. Ele estava deitado sobre uma espécie de maca ou coisa do tipo, que era empurrada por dois homens vestindo jaleco e com máscaras cirúrgicas no rosto. Tentou levantar e correr, mas estava fraco, grogue e com os membros presos. Nem conseguia falar. Pôde ouvir um dos estranhos homens dizer:

– Chegou a hora de comprovar os resultados de anos de pesquisa!

– Espero que Deller não nos demita se isso não der certo...

A maca cruzou uma porta e logo parou, ao mesmo tempo em que os dois homens que a empurravam se afastaram. Blanka começou a respirar com maior facilidade, mas o medo tomara seu corpo. O que estariam fazendo com ele? Quem era Deller?

– Ele está acordado! - disse alguém perto da maca.

Subitamente, Blanka sentiu uma forte dor no braço direito, parecida com a picada de uma agulha, e foi novamente perdendo a consciência, até que a forte luz branca tornou-se trevas.

– E então? - perguntou Wesker. - O que esse vírus que vocês criaram faz? Conte-me tudo!

– O “Vírus Ômega” é um retrovírus que vem sendo desenvolvido neste laboratório há quatro anos - explicou Vincent. - Nós o desenvolvemos a partir do DNA de uma espécie de enguia que habita alguns rios aqui da Amazônia.

– Enguia?

– Exato. Nós criamos o vírus a partir de uma amostra do T-Virus que vocês desenvolveram em Raccoon. O que fizemos foi uma reestruturação dos cromossomos, e criamos o Ômega.

– OK, mas o que ele faz?

– Você nunca viu uma enguia, Wesker? São peixes serpentiformes carregados de eletricidade!

– Sim, isso eu sei. Mas você está querendo me dizer...

– Que nossa cobaia pode se transformar numa “enguia-humana”, Wesker! Um “soldado-elétrico”!

Nesse instante Deller e o sinistro Bison entraram na sala, e o primeiro disse:

– Venham, o experimento vai começar!

E os quatro deixaram a sala.

 

O helicóptero de Diego Menezes sobrevoava quase que cegamente a floresta, mergulhado na penumbra da noite. Nem ele conseguia se lembrar ao certo de onde exatamente ficava o laboratório para onde havia transportado Bison, mas os tais Guile, Nash e Burton acabariam com sua raça se não conseguisse levá-los até lá.

– Falta muito? - perguntou Guile, impaciente, enquanto engatilhava sua pistola.

– Bem, um pouco - respondeu o inseguro piloto, examinando um mapa da região.

Com tal resposta, Guile suspirou e olhou para os dois companheiros, que também estavam impacientes. Há um bom tempo tentavam pegar Bison e se demorassem mais, talvez tivessem que esperar ainda mais para deter o criminoso. Barry parecia o mais preocupado. Deixara a esposa grávida em Raccoon City para participar daquela operação, e sempre temia que não voltasse vivo.

 

Nicholai e Zangief, guiados pelo sujeito meio russo e meio alemão, entraram num amplo galpão abandonado nos arredores de Manaus, que estava servindo como base de operações da KGB. Vários agentes andavam pelo lugar, verificando relatórios e coletando dados. Súbito, um sujeito de bigode veio recepcionar os recém-chegados agentes, com uma das mãos ocultando algo sob o casaco.

– Mas quem os ventos trouxeram para cá! - exclamou o anfitrião.

– E então, Ocelot? - riu Nicholai. - Ainda com aquela velha habilidade?

Como resposta, o sujeito tirou a mão de baixo do casaco, revelando um revólver Colt que ele girava com grande habilidade usando um dos dedos. Depois da pequena exibição, Ocelot guardou a arma num coldre preso à cintura, dizendo:

– Temos um problema!

Nicholai estremeceu. O que mais temia naquele momento era que algo colocasse a operação em risco.

– Do que se trata? - perguntou Zangief.

– Parece que alguns militares norte-americanos estão na região à procura do conhecido criminoso tailandês general Bison, ou coisa parecida. E o pior é que suspeitamos que esse tal Bison esteja no laboratório da Umbrella, ou seja, é possível que os ianques também tentem se infiltrar nas instalações.

– Isso não é um contratempo! - exclamou Nicholai. - Podemos roubar o que precisamos sem problemas, estaremos disfarçados como pesquisadores!

– Creio que não seja tão simples, Nicholai. Nossos superiores não querem que os americanos descubram que estamos aqui. Teremos que esperar até que esses militares não representem mais uma ameaça para agir.

– Não estou te reconhecendo, Ocelot! - exclamou Nicholai.

– Ordens são ordens, amigo!

Ocelot deu um tapinha no ombro dos dois agentes e foi cuidar de seus afazeres.

– Experimento iniciado às vinte horas e quarenta e nove minutos - disse um dos cientistas que cercavam Blanka, novamente inconsciente, sobre a maca.

Todos os cinco cientistas vestiam jaleco e usavam máscaras cirúrgicas, sendo observados por Deller, Bison, Wesker e Vincent, que presenciavam o experimento através do vidro de uma sala no andar superior.

– OK, injetando o Ômega!

Dizendo isso, um outro cientista injetou um líquido esverdeado numa das veias do braço direito de Blanka através de uma seringa. Enquanto limpava o local com um pedaço de algodão, disse:

– Ômega injetado às vinte horas e cinqüenta minutos.

Na sala superior, Wesker perguntou a Vincent:

– Quanto tempo esse vírus leva para agir?

– Sinto dizer, mas ele é bem mais rápido que o T-Virus, pois utiliza os impulsos do sistema nervoso!

– Bem, é preciso saber perder!

Nisso, a pele de Blanka começou a tomar uma leve coloração verde, que aos poucos foi se acentuando.

– Ele vai virar o “Hulk”? - riu Wesker.

– Calados! - exclamou Deller, enquanto o sinistro Bison observava o experimento com grande interesse.

Um dos cientistas ao redor de Blanka, injetando mais uma dose do Ômega na corrente sangüínea do soldado, disse:

– Fase um concluída às vinte horas e cinqüenta e quatro minutos. Nova dose administrada às vinte e cinqüenta e cinco.

Porém, um outro biólogo exclamou, olhando para um dos aparelhos ao redor da maca:

– Há algo errado! A atividade do sistema nervoso está aumentando muito rapidamente!

– Você tem certeza? - perguntou o cientista que injetara a segunda dose do Ômega.

– Veja você mesmo!

Mas já era tarde. Blanka abriu os olhos.

– Ele acordou! - exclamou outro especialista.

– Dose de alucinógeno, rápido!

Na sala superior, todos observavam a cena com apreensão, exceto Bison, que parecia insanamente se divertir, com um leve sorriso no rosto sem expressão. Blanka já estava sentado sobre a maca, olhando estranhamente ao redor. Sua pele estava totalmente verde, e agora seus músculos pareciam mais definidos.

Um dos cientistas se aproximou com uma seringa contendo alucinógeno para tentar dopar a criatura, mas quando ia injetar a substância no braço de Blanka, este agarrou fortemente seu pulso com uma das mãos, apertando-o sem piedade. A seringa veio ao chão, enquanto o desesperado biólogo gritava:

– Segurança! Segurança!

Vários combatentes usando roupa de proteção contra agentes biológicos já corriam pelos corredores na direção da sala da experiência, pois Deller os havia chamado antes do pobre pesquisador. Hunk os liderava. Ao mesmo tempo, sirenes de alerta começavam a tocar por todo o laboratório.

Logo o grupo de elite parou na frente da porta de entrada da sala, enquanto gritos desesperados vinham lá de dentro.

– Mas o que é isso? - espantou-se Hunk.

Blanka havia torcido o pulso do cientista e o arremessado sobre uma das máquinas ao redor da maca, matando-o instantaneamente. Depois agarrara um outro pelo braço e o jogara contra o vidro que separava a sala daquela onde estavam Deller, Bison, Wesker e Vincent. A janela não se partiu, pois era reforçada, por isso o pesquisador bateu a cabeça com violência e voltou para dentro da sala, caindo já sem vida no chão, após ter deixado um rastro de sangue sobre o vidro.

– Vamos sair daqui! - gritou Deller, correndo junto com Wesker e Vincent para fora da sala.

Bison, porém, permaneceu imóvel, observando sorrindo o massacre. Seu guerreiro estava enfurecido. Seu guerreiro estava se vingando.

A equipe de Hunk entrou na sala quando restava apenas um pesquisador vivo, encurralado por Blanka num dos cantos. As submetralhadoras dos combatentes começaram a agir contra o experimento da Umbrella, mas o monstro parecia não sofrer nada com os disparos. Carlos Blanka não era mais humano.

E algo bizarro começou a acontecer. Aos gritos, Blanka abaixou-se com os braços cobrindo o rosto, enquanto seus cabelos transformavam-se numa grande onda laranja arrepiada, e pêlos da mesma cor surgiam em várias partes de seu corpo. Havia se tornado corcunda, suas unhas transformaram-se em garras cortantes, e seus dentes ficaram tão afiados quanto os de uma fera selvagem.

Depois de encerrada a metamorfose, a criatura fez o pesquisador desmaiar com uma pancada em seu rosto, as garras deixando um rastro rubro sobre a pele. Os tiros continuavam, mas Blanka, numa demonstração de força, correu na direção do grupo agressor. Quando estava próximo o suficiente, rolou pelo chão e os atingiu como uma bola de boliche, envolvido numa esfera elétrica. Quase todos os combatentes começaram a se contorcer no chão, eletrocutados, enquanto Hunk e os demais que permaneceram de pé perseguiam a criatura, que fugia pelos corredores.

– Fechem todas as saídas, rápido! - ordenou Hunk.

Enquanto isso, na sala superior, Bison começava a gargalhar, batendo palmas.

– Encontrei! - gritou Diego, apontando para um lugar iluminado no meio da floresta. - É ali!

Guile, Nash e Burton se aproximaram para ver. Aquilo era de fato um heliporto, escondido no meio da selva, mas as luzes brancas o haviam denunciado. De repente, outras luzes misturaram-se a aquelas, numa convulsão de tons amarelos. Logo o som de disparos fez as suspeitas de Guile se confirmarem:

– Parece que está havendo um tiroteio lá embaixo! - exclamou.

– Querem pousar mesmo assim? - perguntou Diego, temeroso.

– Mas é claro que queremos! - sorriu Barry, apontando sua Colt.

O helicóptero foi se aproximando do heliporto, o som dos disparos tornando-se cada vez mais próximo, figuras humanas tomando forma sobre o concreto. Guile franziu a testa ao ver um estranho sujeito sendo alvejado por estranhos soldados usando vestes de proteção. Era corcunda, verde e tinha cabelo laranja arrepiado. O norte-americano espantou-se ainda mais quando o pitoresco ser humano lançou uma espécie de descarga elétrica contra os agressores e desapareceu no meio da selva, enquanto aparecia mais um sujeito usando roupa de proteção seguido por um jovem de jaleco e óculos escuros, ambos armados.

– Mas o que está acontecendo aqui? - indagou Nash, confuso, que também presenciara a cena.

Wesker desesperou-se ao ver Blanka desaparecer no meio da floresta, enquanto os combatentes atingidos pelo ataque elétrico do experimento se levantavam zonzos. Era um dos maiores investimentos da Umbrella que estava indo embora, algo bem mais poderoso que o T-Virus, Wesker tinha que admitir. Bem, talvez não tão poderoso...


Capítulo 4

Capítulo 2

Index

Hosted by www.Geocities.ws

1