Resident Evil: Experimento X

Capítulo 22 - Um reencontro pitoresco.


A temível figura de Bison estava acomodada numa cadeira estofada, imóvel atrás de uma mesa, mãos segurando firme os braços do assento. Atrás de si, uma rica estante de livros que dominava boa parte da sala. Os olhos do criminoso emitiam o brilho medonho e paralisante do Psycho Power, sua fonte de energia, a aura maligna responsável por ser tão forte e poderoso.

A porta do local foi aberta de repente, alguém entrando apressado. Era Sagat, semblante agitado. Informou imediatamente ao superior:

– Senhor, eles conseguiram entrar e estão subindo!

– Deixem que subam – ele respondeu sem precisar praticamente mover qualquer músculo da face.

– Mas eles...

– Está preocupado com algo? Acha mesmo que eles poderão nos derrotar assim tão facilmente?

– Bem, de qualquer forma... Há um helicóptero no terraço aguardando, se necessário!

– Falou muito bem, Sagat: se necessário. Agora saia, sim?

O outro lutador obedeceu calado, retirando-se do recinto. Bison, por sua vez, uniu os dois punhos sobre a mesa e, pressionando-os um contra o outro, fez com que uma esfera de energia roxa os envolvesse. Diante de tal demonstração de poder, abriu um sorriso e deu uma macabra gargalhada, imaginando que logo teria um pouco de diversão cuidando pessoalmente dos invasores...


O grupo infiltrado no condomínio ganhou o pequeno saguão do prédio, bastante iluminado por lustres adornados, decorado com móveis caros e aparentemente vazio de demais presença humana. Nash voltou os olhos para o início de um lance de escadas que por certo levava aos andares superiores, quando alguém gritou... Era mais um guarda armado, que se ergueu de trás de um balcão portando um AK-47 e já pronto para disparar contra os inimigos.

Sem demonstrar qualquer emoção, como de praxe, Decoy Octopus foi mais veloz, o agente erguendo sua pistola com silenciador e efetuando dois tiros quase simultâneos contra o oponente. As balas atingiram seu pescoço e a mão que portava o fuzil, este caindo ao chão ao mesmo tempo em que seu antigo dono tombava se engasgando com o próprio sangue. Morria meros segundos depois.

– Acredito que o perigo no térreo termina aqui! – observou Barry, sempre pronto para usar sua Magnum.

– O Bison está mesmo aqui, posso sentir o fedor do maldito a quilômetros! – murmurou Guile exercitando os braços. – Ele é meu!

– Espere! – exclamou Nash.

Foi inútil, porém: William já desaparecia correndo pelas escadas, apoiando-se na parede ou no corrimão para saltar a cada curva e encurtar ainda mais a subida. Seu melhor amigo deu um suspiro de conformismo e verificou tanto as mãos quanto a munição de sua pistola. Depois encarou brevemente os rostos dos colegas de equipe e falou:

– Vou atrás dele! Fiquem esperando aqui e reajam contra qualquer indivíduo hostil que aparecer. Subam para nos procurar somente se demorarmos vinte ou trinta minutos para dar sinal de vida!

– Está esperando um combate longo? – Raven indagou, seu espírito belicoso bastante perceptível em suas palavras e tom de voz.

– Nunca se sabe, não é?

Em seguida, rindo baixinho, Nash avançou pelos degraus no encalço de Guile e dos prováveis membros da Shadow Law com os quais teria que travar luta dentro em pouco. Fechando os olhos por um instante, concluiu que aquela acalorada noite poderia acabar se estendendo muito mais do que imaginara. Porém, se isso garantisse a derrota definitiva de Bison, então valeria muito a pena.


Silver Star.

Rolento investiu com seu bastão, porém Ken esquivou-se saltando por cima da cabeça do bandido. Tentou então atingi-lo no meio das costas com um dos punhos, porém o integrante da Mad Gear foi mais rápido e acertou o pulso do loiro com a arma, quase o quebrando. Masters retrocedeu gemendo, segurando o local ferido que doía como nunca. Ficaria incapacitado de usá-lo em qualquer ataque por no mínimo alguns minutos.

– Prepare-se para contar cada osso de seu corpo que eu irei partir! – ameaçou o homem de boina vermelha.

– Ah, não vai não! – alguém exclamou atrás de si.

Era Ryu. O japonês partiu com uma voadora contra o inimigo, mas este se abaixou e o atacante pousou de pé um pouco à frente dele. Rolento preparou-se então para dar um rasante com o bastão e quebrar algumas costelas de Hoshi, só não contando que ele desviaria a tempo, atingindo em seguida seus ombros com um tremendo chute. Foi suficiente para o adversário encolher-se de joelhos em cima do concreto, dentes cerrados. Sentira o golpe. Ryu, porém, tinha certeza de que aquilo não bastaria para vencê-lo.

– Você é bom, moleque, dou meu braço a torcer!

– Cuidado com o que deseja! – outra voz determinada fez-se ouvir.

Era Fei Long que, tão veloz e corajoso quanto um dragão, partiu correndo na direção de Rolento, deixando algo como um rastro flamejante no ar, e aproveitou que ele baixara a guarda para agarrar-lhe o braço direito e torcê-lo com violência. O berro de dor do meliante foi simultâneo ao alto estalo do membro sendo quebrado. No final, fora ele ali o primeiro a ter ossos rompidos.

– Malditos! – praguejou. – Esta palhaçada termina aqui e agora!

Dito isso, atirou o bastão com força contra Ryu, a arma girando no ar e atingindo o nipônico no peito antes que pudesse se esquivar. Com os pulmões temporariamente comprometidos e sangue a escorrer-lhe pela boca, foi a vez de Hoshi abaixar-se ofegante, quase fora de combate. Todavia, o astro do cinema e Masters, este já parcialmente recuperado, preparavam-se para nova investida.

Fei Long tomou a iniciativa, avançando até Rolento com uma seqüência de socos. Ele conseguiu desviar-se de todos, exceto o último, que o acertou no abdômen e fez com que recuasse poucos passos, tomando fôlego. Com isso, todavia, deu tempo para Ken se concentrar e, quando percebeu o rapaz, este já estava a uma distância muito curta de si, correndo como nunca e erguendo um dos punhos, provavelmente o que não fora atingido pelo bastão pouco antes, junto com um salto.

– Shoryuken!

A mão do jovem foi dominada por repentinas chamas ao chocar-se em cheio com o queixo de Rolento, cujo corpo chegou a ser erguido alguns metros acima do chão, dado o poder do ataque. Ao pousar de costas sobre o concreto já não tinha mais consciência, a face estando machucada e a boina tendo voado de sua cabeça, desaparecendo em meio à desordem que se tornara o set de filmagens. Masters estava um tanto trêmulo ao término do golpe e, ao contrário do que julgara o agora desacordado oponente, ele conseguira efetuá-lo com o próprio punho ferido.

Sirenes da polícia tomaram a área. Havia chegado tarde, pois a ameaça acabara de ser controlada. E, enquanto Ken se aproximava do amigo Ryu para ampará-lo, concluíram, rindo, que fora ótimo os homens da lei terem se atrasado. Há tempos não participavam de uma luta tão boa.

– Será que vamos ser presos? – o loiro se divertia muito com a situação.

– Uma noite no xadrez não faz mal a ninguém! – brincou Fei Long. – No meu caso, não seria novidade uma celebridade sendo detida em Las Vegas por se meter em problemas... E além do mais, quem sabe não encontramos adversários melhores na cadeia?

Continuaram gargalhando enquanto eram cercados pelas viaturas e os policiais, saindo de dentro delas, coçavam as testas e cruzavam os braços sem entender patavina do que havia acontecido ali.


No condomínio, Guile continuava subindo pelos degraus das escadas rumo ao último andar, acompanhado, sem ainda notar, por Nash alguns metros atrás. Depois de vencer mais um lance, William finalmente parou diante de uma porta dupla de madeira diante da qual a subida terminava. Suado e quase sem ar, parou por um momento para recobrar-se e acabou alcançado pelo amigo, voltando-se para trás assim que ouviu seus passos.

– Veio participar da festa também? – perguntou a ele.

– E acha que eu ia perder?

De repente, a dupla percebeu o nítido som de um helicóptero decolando do local e se distanciando rapidamente. Guile bufou, Nash também demonstrando frustração com uma careta. O primeiro murmurou:

– Espero que não seja o Bison fugindo...

– Sabe que eu duvido?

E, erguendo os punhos e os olhos, prepararam-se para botar a porta abaixo e surpreender, ou não, o criminoso e seus asseclas...


A bordo da aeronave que acabara de deixar o alto da construção, o piloto Vega olhou de relance para os dois ocupantes, Sagat e Balrog, acomodados em dois assentos, cada um junto a uma janela. O homem de tapa-olho aparentava certo inconformismo, inquieto, movendo a face para os lados quase a cada instante. O boxeador indagou, logo depois de esticar os braços:

– O Bison dispensou mesmo a gente?

– Ele julgou que o helicóptero foi mesmo necessário... – resmungou o tailandês levando uma mão ao queixo. – Pra falar a verdade, pouco me importa...

– Vamos apenas encontrar um bom local para passarmos a noite – disse o espanhol. – Conheço um ótimo hotel em Reno.

– Certo... – Balrog colocou as mãos entre sua cabeça e o encosto da poltrona. – Pela manhã já saberemos se será preciso voltar para recolher os pedacinhos do Bison ou não!

– Eu diria que alguém terá mesmo é que recolher os restos dos militares... – finalizou Sagat, fitando as intensas luzes de Las Vegas aos poucos se distanciarem na paisagem.


Guile abriu a porta num chute, quase arrancando metade dela das dobradiças. Ganhou, junto com Nash, uma sala um tanto ampla e luxuosa, contendo sofás e cadeiras caríssimos, pequenas mesinhas portando vasos e esculturas raros, quadros ostentosos nas paredes e, sobre um carrinho de metal deixado ali, uma garrafa de champanhe fechada imersa num balde de gelo. Via-se também uma sacada anexa e uma outra porta que certamente levava a algum cômodo vizinho.

A dupla de invasores de início não viu ninguém no local, cogitando que o mesmo se encontrava realmente vazio e Bison debandara no helicóptero, até ouvirem uma risada maligna, seca, zombeteira, inconfundível. Viraram-se rapidamente na direção da mesma e avistaram o líder da Shadow Law, de pé, desafiador, com seu traje rubro, os braços cruzados e uma camada de estranha energia cercando-lhe o corpo.

– Você não tem mais para onde fugir! – gritou William. – Se entregue, Bison!

– Sua determinação é admirável... – afirmou o terrorista. – Pena que acabará levando-o à aniquilação!

– Só se for a sua!

– Nós preferimos resolver isto da maneira mais pacífica possível, Bison, se bem que com você isso é praticamente inviável! – falou Nash.

– Só terão paz depois de terem deixado este mundo... Pelas minhas mãos!

– Eu mal posso esperar! – Guile fez menção de efetuar o primeiro ataque.

– Mas antes... Há algo que quero que vejam.

O inimigo deu dois passos para o lado... Revelando, atrás de si, uma figura feminina, imóvel, corpo ereto, olhos bem abertos, porém como mortos, encarando o vazio num profundo estado de hipnose... Vestia um traje azul de aspecto militar, com ombreiras, botas marrons e algo como um pequeno quepe também anil no alto de seus cabelos loiros presos em tranças... Foi esse traço marcante que fez com que os dois recém-chegados a reconhecessem. Cammy White, desaparecida desde a operação na Amazônia.

– O que você fez a ela? – inquiriu William, já percebendo que a jovem não estava normal, principalmente pelo fato de ela aparentemente nem ter notado a presença dele e do amigo ali.

– Como me subestima! – Bison provocou-o. – E subestima ainda mais as possibilidades do Psycho Power!

– Mas de que sandice você está falando?

– Creio que visitaram o complexo de pesquisas no Brasil pouco antes de sua autodestruição, correto?

– Infelizmente! – rosnou Nash.

– Todos crêem que o motivo de eu ter me unido à Umbrella Inc. tem a ver com meu desejo de criar um combatente perfeito, capaz de vencer torneios de luta para a Shadow Law... A idéia é excelente, e não vou mentir que em parte esse é um dos desdobramentos do plano que me agradariam... Mas está longe de ser o objetivo principal.

– E qual pode ser? – riu Guile. – Saciar seu ego?

– O Psycho Power é minha fonte de energia, é o que me faz ser o que sou. Porém, meu corpo não conseguirá comportar tanto poder eternamente. Apesar da força e vitalidade que possuo, ele está sujeito às leis da natureza e envelhecerá, desgastando-se. Por isso resolvi pensar no futuro. Precisava de um outro corpo para o qual pudesse transferir o Psycho Power quando o momento chegasse. Acreditei que os cientistas da Umbrella poderiam criar tal organismo artificialmente, até que encontrei a senhorita White por acaso... E vi que ela é totalmente compatível com meu propósito. Está agora totalmente sob meu domínio, e não pensem que poderão danificar esse meu futuro arcabouço tão facilmente!

Era um intento vil, psicótico, repugnante. Cammy ser manipulada daquela maneira para um propósito tão torpe era algo que Guile e Nash não poderiam tolerar. Não esperavam reencontrar a agente de modo tão pitoresco, e pelo visto ela seria impelida a reagir contra eles caso tentassem tirá-la dali. No entanto, encaravam tal tarefa como extremamente necessária. Não se permitiriam simplesmente deixá-la para trás. Só vê-la naquele estado estático, longínquo, já os deixava muito angustiados.

– Nash, você consegue lidar com ela? – Guile perguntou baixinho ao parceiro.

– Não garanto, mas... Posso tentar. Terei de derrotá-la sem feri-la demais.

– OK, confio em você... O Bison é meu!

Os quatro personagens permaneceram se encarando pelos instantes seguintes, cada um aguardando aquele que realizasse o primeiro movimento, a primeira investida... Bison ria, deliciando-se... O som aumentando até se tornar uma gargalhada, quando então exclamou a Cammy:

– Acabe com eles!

A loira correu na direção dos ex-colegas de equipe e estes, em posição de defesa, tiveram certeza de que a batalha final havia realmente começado.


Capítulo 23

Capítulo 21

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