Resident Evil Experimento X

Capítulo 21 - O avanço dos confrontos.


Um quarto de hotel.

Alguns homens arrumam malas apressadamente. Colocam nelas, além de roupas e objetos de uso pessoal, armas e equipamentos bélicos. Não são indivíduos normais, e sim guerreiros. Mercenários. Homens dispostos a servir a quem pagar mais.

– O avião está nos aguardando no aeroporto, senhor - informou um russo ali presente, Revolver Ocelot.

– Eu sei... - resmungou o sujeito de tapa-olho, utilizando um isqueiro para acender um cigarro em sua boca. - Hoje a noite rendeu consideravelmente... Consegui arrancar bastante dinheiro desses jogadores idiotas!

– Para onde vamos agora? Aquele bazar de armas no Caribe?

– Sim. Temos de investir nosso capital na concretização de nosso sonho, aquilo pelo que lutamos há anos. Uma nação se erguerá contra a ordem vigente, contra os donos do poder, contra o sistema... E eu finalmente poderei fazer justiça por ela...

– “The Boss”...

O misterioso soldado, chamado Bigboss, pareceu profundamente tocado por aquele nome. Abaixou a cabeça num suspiro e, contemplando o chão com uma mão no queixo, voltou a pensar nela. Sua mentora. Sua mestra. Aquela que dera a vida não por honra, mas por ele... A grande combatente que encontrara a morte ao servir de joguete para os interesses de uma superpotência... A batalha no campo de flores brancas, o respeito entre os oponentes apesar do ardor da luta...

Bigboss desvencilhou-se subitamente de suas lembranças, endireitando o tronco e marchando até uma escrivaninha. Sobre o móvel havia uma maleta aberta contendo muitos papéis, a maioria deles representando esquemas e projetos extremamente detalhados e técnicos. Depois o mercenário voltou-se novamente para o eslavo que fora responsável pela perda de seu olho nos anos 60. Era e sempre seria característico das relações humanas as pessoas mudarem de lado. Depois o antigo membro da “Fox Unit” tornou a girar o pescoço na direção dos esboços, bateu continência solenemente e por fim fechou a maleta, sem antes que a luz do quarto pudesse destacar de leve dois nomes escritos num dos papéis que traduziam melhor que qualquer previsão os confrontos que aquele bravo homem travaria no futuro:

 

Outer Heaven

Metal Gear

 

O disparo do canhão por pouco não fez vítimas no jardim do condomínio. Atordoados e com a visibilidade prejudicada devido à nuvem de poeira, os invasores só tinham como sinal do blindado o som causado por seu pesado movimento.

Não seria nada simples dar cabo daquela fortaleza ambulante. Eles precisariam de uma abertura na blindagem para ser possível danificar o interior, mais precisamente os guardas que nele estavam. Pior: o grupo tinha de pensar rápido num modo de agir antes que o veículo o aniquilasse.

Guile resolveu botar a memória para funcionar e tentar recordar alguma situação que já vivera semelhante àquela. Lembrou-se que uma vez, numa de suas primeiras operações especiais para a Força Aérea, ele e Nash haviam sido encurralados por dois tanques inimigos na selva de uma república da América Central. A diferença é que na ocasião eles haviam se refugiado numa cabana para aguardar o apoio aéreo, que não tardou a chegar. Mas agora estavam praticamente desarmados diante daquele monstro bélico.

Foi quando o soldado estadunidense se indagou... Será que os agentes soviéticos, que trabalhavam para o outro lado da “Cortina de Ferro”, costumavam passar por apuros como aquele?

 

O tão sisudo e frio capitão Nicholai Zinoviev, agora aparentemente tão domado quanto um felino doméstico, encontrava-se sentado num banco dentro de um dos alvos, compridos e bem iluminados corredores do maior hospital de Las Vegas. Frustrado, constatou que a missão, junto com sua titânica ambição, haviam redundado em completo fracasso. O cabo Zangief, que já se gabara muitas vezes de ter vencido ursos das planícies siberianas em embates corpo-a-corpo, perdera para o mutante da Umbrella sofrendo graves ferimentos. Pior: enquanto Nicholai poderia ter saído em perseguição à cobaia, recebera ordens de Ocelot para que acompanhasse o colega incapacitado até o hospital... Parecia ser piada.

Pensando em muitas coisas, Zinoviev lamentou a falta de sorte que o vinha afligindo desde que aceitara aquele trabalho em Moscou. Quando não chegava tarde demais para obter dados ou amostras, as circunstâncias de alguma forma interferiam visando seu fracasso. Sabia que sua amada União Soviética, sua idolatrada Mãe Rússia, estava mal das pernas. As reformas de Gorbatchev faziam com que a praga do capitalismo penetrasse na nação comunista de modo praticamente irreversível. Poderia a decadente nação voltar a se erguer e finalmente superar seus oponentes ocidentais militarmente?

Até que, erguendo os olhos, Nicholai teve uma grande surpresa. Viu de pé, bem diante de si, a pessoa que ao mesmo tempo mais admirava e menos esperava encontrar em solo norte-americano. As feições rígidas, o porte forte como uma muralha, a farda repleta de medalhas adquiridas nas mais diversas campanhas... Ele estava bem ali, um dos grandes heróis do povo soviético, porém conhecido por poucos: o coronel Sergei Vladimir.

– Boa noite, capitão Zinoviev - cumprimentou ele em russo.

– Boa noite, senhor! - respondeu Nicholai prontamente, colocando-se de pé e batendo continência.

– Soube da fatalidade envolvendo o cabo Zangief... Conversei com um dos médicos e ele me informou que felizmente nosso camarada está fora de perigo.

– Fico contente em saber, senhor... Mas, se me permite a pergunta, o que faz aqui em Las Vegas?

Sergei girou os olhos, fitou brevemente o piso e então replicou:

– Há muitas verdades que desconhece, capitão... Ou ignora... Queira me acompanhar!

Sem entender, Nicholai pôs-se a seguir o oficial superior pelo corredor. Passaram por duas enfermeiras de corpo bonito, um doutor idoso e então atingiram o final da passagem, ficando de frente para uma parede cinza.

– Eu confesso que ainda não compreendo, camarada... - balbuciou Zinoviev.

Erguendo uma mão, Vladimir pediu que o capitão se calasse. Logo depois aproximou o outro punho da superfície aparentemente ordinária e, após olhar rapidamente ao redor, deu cinco discretas batidas no concreto num ritmo definido. Isso fez com que um pequeno painel contendo um leitor de retina fosse revelado na parede. Nicholai ficou espantado com a sofisticação do equipamento, enquanto um dos olhos de Sergei era checado. Assim que a verificação foi concluída, uma parte da superfície se moveu, revelando uma passagem secreta.

O capitão seguiu o aclamado coronel para dentro do que parecia se tratar de um elevador. A porta oculta se fechou atrás deles, e em seguida, depois de um tranco do maquinário, começaram a descer. Tudo aquilo era estranho e simultaneamente fascinante para Nicholai, uma jornada rumo às profundezas do desconhecido, em busca de informações com as quais nunca entrara em contato até então.

A descida terminou sem demora. Os dois eslavos deixaram o transporte, adentrando o que evidentemente era um laboratório de pesquisas subterrâneo. Homens de jaleco circulavam pelo local com pranchetas nas mãos e máscaras cirúrgicas nos rostos, alguns sentados diante de computadores de última geração. O que Zinoviev demorou um pouco a notar foi a presença de um peculiar símbolo em quase tudo ali presente: um guarda-chuva vermelho e branco. E, voltando a observar Vladimir, só então percebeu um broche com o mesmo emblema preso próximo do pescoço do coronel.

– Umbrella... - oscilou o capitão.

– Sim, camarada - sorriu Sergei. - Uma ou outra parceria escondida dos olhos daqueles malditos burocratas de Moscou pode nos beneficiar mais do que pensa...

Nicholai também sorriu, admirando o trabalho dos pesquisadores, e vendo que alguns deles injetavam algo em ratos através de seringas. Sim, sem sombra de dúvida seu superior tinha razão...

 

Com um forte golpe de seu bastão, Rolento fez voar uma mesinha que continha garrafas de água mineral, os recipientes se rompendo ao tocarem o chão e o líquido vazado deles formando pequenas poças. Seus comandados também contribuíam na disseminação do pânico e da destruição no set de filmagens, quando os três adeptos das artes marciais ali presentes começaram a reagir.

Saltando habilmente, Fei Long deu um grito no ar e acertou dois inimigos, acertando a cabeça de cada um com um pé. A dupla de invasores tombou de imediato, enquanto um outro adversário se aproximava do lutador oriental girando uma corrente com um dos braços.

– Covardes e suas armas... - riu o astro. - Eu digo a você: a agilidade é a mais letal arma que pode haver!

O integrante da gangue Mad Gear tentou lançar os nós metálicos sobre Fei Long, porém este deu uma cambalhota para a direita, conseguindo se esquivar. Logo depois surpreendeu o oponente pelas costas, dando-lhe um soco perto dos ombros. Aturdido, o criminoso jogou a corrente para trás na esperança de acertar o chinês, mas ele apanhou a ponta da arma no ar e, aplicando o máximo de sua força, atirou-a de volta ao dono, sem que ele a houvesse soltado. Atingido na coluna, o bandido caiu sem sentidos.

Enquanto isso, Ryu e Ken cuidavam de mais alguns daqueles arruaceiros que eram evidentemente amadores. O primeiro derrubou dois deles de uma só vez com um gancho, e o segundo, girando as pernas tão rápido como se estivesse no centro de um tornado, botou mais outros para dormir, o impacto dos golpes arrancando os botões de suas fardas.

Nisso, chegou perto deles um oponente que aparentava estar um pouco mais à altura: o mesmo jovem loiro que Rolento chamara pelo nome de Krauser. Com a face contraída e os músculos sempre prontos para o combate, ele tirou uma afiada faca de seu cinto e, colocando-se com ela em posição defensiva perante os dois lutadores de karatê, ameaçou, voz soturna apesar da pouca idade:

– Vou rasgar vocês em pedaços!

Ryu e Ken tomaram fôlego. Aquilo estava cada vez mais desafiador. E eles adoravam.

 

O grupo de Guile e Nash tinha de se livrar logo daquele blindado antes que reforços viessem de dentro do condomínio.

Foi quando o segundo pensou em algo, mas não tinha certeza se seria mesmo capaz de conseguir. Correndo para escapar dos projéteis explosivos lançados pelo canhão, os quais já haviam transformado o espaço ao redor do prédio num campo de batalha digno de filmes de guerra, Nash lembrou-se dos ensinamentos de seu mestre cambojano e procurou concentrar-se ao máximo possível. Logo seus olhos deixaram de captar qualquer luz, seus ouvidos se fecharam para qualquer ruído. Deixou que a energia tomasse seus músculos o mais depressa possível, pois tinha conhecimento de que se ficasse parado por muito tempo seria pulverizado pela torre de tiro.

Sentindo-se preparado e surpreso em relação a seu próprio potencial, o amigo de Guile estendeu um dos braços fazendo uma curva no ar e gritou para que todos ouvissem:

– SONIC BOOM!!!

A onda de energia se dirigiu até a blindagem do veículo, atingindo-a numa explosão e perfurando-a como uma lâmina afiadíssima. Assim que a luz começou a se dissipar, o autor do poderoso ataque pôde constatar, num sorriso, o resultado obtido: agora havia uma fenda de quase um metro de comprimento na couraça do tanque, estreita, entretanto com espaço suficiente para permitir a passagem de uma granada...

Nash olhou para Barry Burton e nem precisou dizer qualquer palavra. O membro do S.T.A.R.S. retirou da cintura uma bomba, arrancou o pino com os dentes e, fazendo uso de sublime pontaria, arremessou o artefato para o interior do veículo, sendo que foi possível ouvir inclusive o explosivo saltitando e os espantados ocupantes gritando antes da explosão...

KAAABOOOOOMMMM!!!

O blindado foi domado, tomado pelas chamas enquanto alguns guardas sobreviventes, corpos pegando fogo, corriam aos gritos rolando pela grama na vã esperança de conseguirem manter o coração batendo. Os invasores, procurando ignorar aquela cena horrenda, ao mesmo tempo em que algumas explosões secundárias consumiam a carcaça do veículo, correram rumo à porta de vidro que levava ao interior do condomínio. Àquela altura dos acontecimentos, todos dentro da construção já deviam saber da presença deles, então atrapalhar os planos de Bison não seria tarefa nada fácil...

 

Krauser cortou o ar com sua faca, e teria ferido Ryu se ele não tivesse recuado saltando para trás. O rapaz era muito habilidoso com aquela arma, impossível negar. Habilidoso, mas não infalível.

Enraivecido, ele tentou repelir seus atacantes com um par de chutes, porém falhou, tendo que arcar com o peso do contra-ataque adversário: Ken efetuou uma violenta seqüência de golpes com as mãos, sendo que seus punhos pareciam tão quentes quanto fogo. Ao final, Krauser desabou desacordado, queixo banhado em sangue.

Ken e Ryu olharam para Fei Long, que imobilizava mais um inimigo no chão. Todos já estavam liquidados, e as pessoas indefesas haviam corrido para longe dali. A polícia provavelmente também já se encontrava a caminho. Restava apenas um oponente, que girava seu bastão nas mãos de modo zombeteiro: Rolento.

– Prontos para sucumbirem perante anos de perfeito treinamento militar? - exclamou ele, mostrando os dentes.

Os três outros lutadores se colocaram em posição. Aquilo acabaria ali, naquele momento.


Capítulo 22

Capítulo 20

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