Resident Evil: Experimento X

Capítulo 20 - Ryu Vs. Fei Long


O japonês estava impressionado. Nunca enfrentara um oponente tão forte e habilidoso. Fei Long defendia todos os golpes que Ryu lhe aplicava num perfeito balé de kung-fu digno do imortal Bruce Lee. O ator aparentava saber previamente todos os movimentos a serem executados pelo adversário, e assim se esquivava com formidável destreza.

– Você é bom! - elogiou Hoshi após tomar certa distância do astro, recuperando o fôlego. - Vejo que vem treinando arduamente há anos!

– A invencibilidade é fruto da experiência! - disse Fei Long, corpo suado. - As lutas são para mim alimento da alma! Minha felicidade é poder utilizar o que aprendi contra oponentes tão difíceis quanto você!

– Eu ainda tenho muito que aprender... E vencê-lo será uma lição muito gratificante!

Ken observava a luta de modo neutro, ora torcendo por um, ora por outro. Admirava os dois lutadores, e não podia negar que aquele embate estava sendo um verdadeiro espetáculo para ele e os demais espectadores na frente do cassino. Melhor que qualquer filme de ação e proezas. Eram dois exímios guerreiros, dois corpos suados e alertas, dois dragões até então adormecidos que agora haviam sido despertados...

 

Não muito distante, dois olhos assistiam à luta por meio de um binóculo. Atento a cada movimento dos orientais, o observador desejava poder ser tão leve e ágil quanto os dois aparentavam ser. Por fim abaixou o equipamento e, voltando a cabeça para seu superior, afirmou com sinceridade:

– Eles parecem ser muito bons, comandante!

O superior olhou fixamente para o semblante do garoto loiro de boina vermelha, que não aparentava ter mais de dezesseis anos, sendo assim um dos mais jovens do pelotão, e respondeu mordendo os lábios:

– Não se iluda pela falsa perfeição, Krauser... Esse set de filmagens é um alvo perfeito para nosso ataque, e esses dois supostos campeões não serão capazes de vencer um grupo de homens treinados por mim! Nossa investida mostrará aos chefes do crime desta cidade que não estamos de brincadeira!

O rapaz apenas assentiu movendo levemente a cabeça, e depois voltou a colocar o binóculo diante da face.

 

Àquela altura da luta, Ryu se perguntava se o nome “Fei Long” queria dizer “patas de fogo” ou algo parecido em chinês, já que ele jurara ter visto os pés do adversário envoltos por ondas flamejantes durante dois ou três de seus ataques. Estava cada vez mais difícil bloquear os golpes do ator, e logo o “não me toque” que prevalecera até então naquele combate mudaria para um “te peguei!” a favor dele.

Chegara o momento de ousar mais. Confiante, o japonês abriu a guarda de repente e investiu com uma seqüência de dois socos altos. Fei Long logrou esquivar-se do primeiro, porém o segundo acertou-lhe o peito, ocasionando breve recuo. Ryu acabara sendo o primeiro lutador a atingir seu oponente.

O astro de Hong Kong reagiu, tentando num impulso atingir o tórax de Hoshi com os dois pés ao mesmo tempo. Abaixando-se, o nipônico não só escapou da investida como acertou uma rasteira num dos calcanhares do adversário. Este afastou-se novamente num pequeno salto e exclamou:

– Era isso que eu esperava! Vamos lá, faça valer a pena, discípulo de Gouken!

Ryu compreendeu perfeitamente o recado: voltou a partir para cima de Fei Long, girando no ar duas vezes com as pernas visando o oponente. O praticante do kung-fu conseguiu desviar e, esticando os braços numa impecável sincronia, tocou fortemente o abdômen do japonês três vezes com a palma das mãos. A dor veio, unida a um intenso ímpeto de contra-ataque. Foi a vez de Ryu recuar. Cerrou os dentes.

Hoshi partiu correndo e ergueu o punho, tendo como alvo a face do ator. Ele porém se defendeu habilmente com os seus e, tão leve quanto uma ave, impeliu os pés contra o chão, girando o corpo no ar e atingindo o peito de Ryu com os sapatos, fazendo sua pele arder como se tocasse o fogo. De fato, os presentes viram que a extremidade inferior das pernas de Fei Long haviam sido envoltas por misteriosas chamas. Ao fim do ataque, o japonês cambaleou atordoado para trás, dando nova chance ao seguidor de Bruce Lee: num grito agudo, deslizou pelo concreto e atingiu o queixo de Ryu com a palma da mão direita. O amigo de Ken tombou fulminado.

Fim de luta. Fei Long vencera.

– Você só precisa treinar um pouco mais, amigo! - disse o astro do cinema de ação, estendendo um braço para ajudar o oponente a se levantar. - Lutou muito bem!

Hoshi sorriu, erguendo-se. Ainda recobrava o fôlego quando percebeu junto com Fei Long que os dois não eram mais o centro das atenções ali. Repentinamente, um grupo de jovens que aparentavam ser militares adentrou o set em grande número, aparentemente liderados por um homem de farda bege, boina vermelha e uma cicatriz no rosto.

– Mas o que vocês estão fazendo aqui? - berrou o diretor, já se dirigindo aos inusitados visitantes num misto de susto e inconformismo. - Estamos gravando um filme! Não podem ir chegando assim e...

A resposta do líder, Rolento, foi, como de costume, violenta: num veloz rasante com sua barra de ferro, o criminoso atingiu o meio das pernas do cineasta por trás, e o estalo decorrente, junto com o grito do pobre sujeito, revelaram que diversos ossos haviam sido quebrados. Perini ficou imóvel de joelhos e o agressor concluiu o ataque subtraindo-lhe os sentidos com um golpe na cabeça. Alguns seguranças correram até os invasores prontos para um embate sangrento, e Ryu, Ken e Fei Long igualmente se colocaram em posição de combate.

– Está na hora da diversão, homens! - riu o membro da gangue Mad Gear, girando o bastão nas mãos.

– Ih, olha o cara, aí! - Masters zombou, punhos cerrados.

 

A noite estava quieta como de costume. O vigia Ted, armado com seu rifle M16, circulava próximo ao muro pelos arredores do prédio, suas botas tocando a grama baixa sem causar ruído. Quando aceitara trabalhar para o senhor Sagat, não pensava que sua rotina seria tão monótona. Agora desejava freqüentemente voltar para a base aérea norte-americana na Turquia onde antes operava, pois lá ao menos tornaria a conviver com seus amigos e...

– Quietinho ou vou transformar sua garganta numa ducha de sangue, meu caro!

O guarda gelou e estremeceu, largando a arma instintivamente. A voz viera num sussurro ameaçador, e ao sentir os dentes de uma grande e afiada faca tocarem a pele de seu pescoço, percebeu que aquele intruso era mesmo um profissional e não podia falar mais sério.

– OK, fique calmo... - pediu o empregado da Shadow Law, falando extremamente baixo.

– Estou calmíssimo, saiba disso... - o invasor afirmou num sorriso maligno. - Agora bote seu rádio e sua pistola no chão também antes que minha faca resolva perder um pouco da tranqüilidade!

Ted obedeceu bem devagar. Sabia que qualquer movimento brusco significaria um corte profundo abaixo de seu queixo e uma cascata vermelha que levaria sua vida embora. Logo depois o vigia foi empurrado para o chão pelos ombros, caindo sentado. Só então viu o fantasmagórico semblante de seu inimigo, Decoy Octopus, branco como cera e trajando negro, que rapidamente amarrou-lhe as mãos e os pés e amordaçou-lhe com um pedaço de fita, enquanto mais um vulto descia pelo muro bem perto.

O integrante da Fox-Hound realmente era como um espírito, um espectro.

Ao mesmo tempo, numa posição oposta àquele local, do outro lado da guarita da propriedade, Nash, Barry e Vulcan Raven também haviam escalado o muro e adentrado o interior do condomínio. Silenciosos, averiguaram o local com binóculos de visão noturna, confirmando a maioria das informações fornecidas por Campbell anteriormente. A área estava mesmo bem vigiada, mas nada que fosse impossível de transpor.

– Guile, entramos! - reportou Nash via rádio.

– Eu e Decoy também - respondeu William, fora do campo de visão dos companheiros devido a algumas árvores. - Primeiro vamos cuidar da guarita, e em seguida do resto dos guardas!

– Entendido.

O grupo avançou pelas sombras, escapando à luz das escassas lâmpadas no exterior do lugar. A guarita, em contraste, estava bem iluminada, os raios brancos formando um perímetro nítido sobre o concreto ao redor. Os três invasores, sempre junto ao muro, fizeram pequena curva e se viram a poucos metros do posto de vigilância. Era possível avistar um guarda dentro dele, aparentemente distraído. Mais alguns passos e a primeira impressão se confirmou: ele ouvia música num radinho, lendo um gibi. Nenhuma dificuldade.

– Acho que o Bison deve selecionar melhor o pessoal que contrata... - murmurou o melhor amigo de Guile, seguindo em frente.

Mais silencioso que uma brisa, o trio prosseguiu. O vigia, imensamente entretido com as aventuras coloridas e repletas de ação do “Paladino Urbano”, sem mais nem menos sentiu algo gelado e fino ser encostado em suas costas. Era o cano da Magnum de Burton. Compreendeu tudo numa fração de segundo, largando o rifle M16 e erguendo os braços.

– Obrigado pela cooperação! - sorriu Raven, já amarrando as mãos do sentinela.

Enquanto isso, Guile e Decoy também haviam caminhado junto ao muro e aguardavam discretamente do lado de fora da guarita. Logo viram Nash sair acompanhado pelos demais e fazer um sinal de positivo com a mão direita. Era hora de abrir caminho até o interior do prédio.

Mais uma vez as informações de Campbell mostraram-se válidas: inúmeras patrulhas de dois homens cada, boa parte delas com cães da raça pastor-alemão, rondavam pelo local portando rifles e lanternas. A entrada do condomínio em si era constituída por uma porta de vidro situada num corredor externo, o qual possuía arquitetura proveniente da antiga Espanha muçulmana, com arcos e pilastras remanescentes da região de Andaluz, provavelmente requisição do castelhano Vega. Tal passagem se encontrava bem no centro da construção, a uns bons metros da atual posição do grupo de Guile.

A um sinal deste, os intrusos começaram a se mover uma vez mais. De início foram ocultados por uma série de árvores e arbustos, porém numa dada posição o trajeto tornou-se pura grama baixa, com uma ou outra trilha de cimento. Havia duas patrulhas próximas, somando no total quatro guardas e um cachorro. Decoy pediu silêncio com um gesto e sacou lentamente sua pistola com silenciador. Era matar ou morrer.

O mestre dos disfarces mirou por poucos segundos e efetuou dois disparos seguidos, os estampidos praticamente inaudíveis. Os dois vigias que compunham uma das patrulhas caíram mortos sem nem tomarem conhecimento do que os atingiu. Os outros invasores respiraram aliviados, já que os cadáveres estavam num trecho escuro e ninguém mais percebera o assassinato... Por enquanto...

Novo avanço. Só então notaram um holofote instalado no quinto andar do prédio, a luz projetada compondo um grande círculo que se movia por uma parte do jardim para lá e para cá. Não era tão complicado evitá-lo, mas o maior obstáculo eram as patrulhas. Raven notou algo a mais, num dos cantos junto ao muro: um discreto depósito que provavelmente continha armas.

– Vamos com calma e... - sussurrou Nash, prestes a dar mais passos.

– Hei, vocês! Parados!

A ordem veio num grito alto e firme, e o guarda que avistara os cinco intrusos estava tão surpreso que só faltava um ponto de exclamação brilhando sobre sua cabeça. Mas aqueles bravos indivíduos prefeririam perder a vida a se entregar. Já que haviam sido descobertos, agora teriam de abrir caminho à força para dentro do prédio.

Octopus, que ainda tinha sua arma em punho, disparou contra um dos joelhos do vigia. Atingido, ele caiu contorcendo-se de dor, derrubando o rifle. Todavia, outros estavam a caminho, e o rosnar dos cães, somado às palavras de ordem dos soldados, podiam ser ouvidos até fora dos muros. Nash levantou-se, sua atenção voltada para quatro inimigos e um cachorro que corriam até eles. Concentrou-se e fez um rápido movimento com um dos braços...

– Sonic Boom!

A onda de energia deixou um rastro luminoso no ar, dirigindo-se em velocidade supersônica até os adversários. Acertando o chão bem diante deles, ocasionou uma forte explosão que fez com que voassem para trás. Terra e grama foram lançadas para o alto. Terrivelmente assustados, os guardas ergueram-se o mais rápido que puderam e debandaram dali aos gemidos, o pastor-alemão ganindo com o rabo entre as pernas.

Guile sempre ficava admirado ao ver Nash conseguir aplicar aquela técnica utilizando apenas um braço, sendo que ele ainda precisava usar os dois e mesmo assim a onda não saía tão forte. Sabia que era uma questão de treino, mas freqüentemente duvidava que um dia fosse capaz de se igualar ao amigo...

Mais guardas se aproximavam e, diante daquela demonstração de força por parte dos oponentes, vários deles já abriam fogo. Enquanto rolavam e saltavam para escapar das balas, os invasores notaram a súbita ausência de Vulcan Raven. O shaman desaparecera sem vestígios, e perguntaram-se até se ele não teria sucumbido aos tiros...

Negativo. O musculoso integrante da Fox-Hound, logo que ouviu os primeiros disparos contra si e os companheiros, correra até o depósito que avistara há pouco. Decidido, impeliu o corpo contra a porta de metal, abrindo-a num estrondo. Uma lâmpada velha iluminava o interior da pequena construção que, para sua alegria, abrigava mesmo uma enorme quantidade de armamentos. Um em especial, jogado aos pés de uma prateleira cheia de munições, chamou bastante sua atenção...

Decoy Octopus derrubou mais um guarda mirando na cabeça. O grupo estava agora relativamente disperso, sendo que cada membro buscara refúgio em determinada parte do jardim. Um jovem atacante tentou dar a volta pela pequena fonte atrás da qual Guile se escondera, para pegá-lo desprevenido, porém desmaiou ao levar um fortíssimo chute na face. Nash, que não podia dar “Sonic Booms” feito uma metralhadora, sacara uma pistola calibre 45 e respondia ao fogo inimigo junto com Barry. O tiroteio era árduo, e a vantagem dos sentinelas era evidente. Entretanto, a repentina aparição de uma ave no céu, pairando sobre o local, deu nova esperança aos combatentes...

Ao contrário do que muitos pensariam, não era uma pomba branca, nem uma águia imponente, e sim um corvo, grasnando como se selasse o destino daqueles vigias numa mortal maldição. Logo em seguida, um grito provocador foi ouvido. Os homens de Guile conheciam muito bem aquela voz. Era Raven.

– Então vocês querem atirar? Vamos, atirem!

A figura do grandalhão foi novamente avistada por seus colegas: estava equipado com uma metralhadora giratória enorme, tão potente quanto aquelas presentes em aviões de combate, acoplada a um imenso tambor às suas costas que lembrava um gerador ou algo parecido. Com a precisão de um carrasco, pressionou o gatilho e fez o cano começar a girar... Em seguida, emitindo som intenso, a arma passou a cuspir incalculável quantidade de balas contra os empregados da Shadow Law, as cascas voando em cascata sobre a grama.

Foi um verdadeiro massacre. Os alvos caíam feito peças de dominó, jorrões de sangue saltando de seus corpos perfurados antes de despencarem no chão totalmente vencidos. Alguns guardas tentaram escapar à fúria da metralhadora saltando para trás de supostos abrigos: os projéteis de grosso calibre penetravam através das superfícies mais espessas, atingindo homens que pensavam ao menos estarem um pouco mais seguros. O corredor de arquitetura árabe foi totalmente destroçado pela tempestade de disparos, as colunas se partindo como papel, mais furadas do que peneiras... Assim como os sujeitos que por ali corriam, falhando em fugir para dentro do prédio...

Atraído pelo cheiro de morte, o corvo acabou pousando no ombro esquerdo de Raven e ali permaneceu grasnando, enquanto o executor caminhava atirando por entre os vários cadáveres. Os demais intrusos deixaram seus refúgios e agora assistiam ao nefasto espetáculo sentindo uma bizarra mistura de triunfo e horror. Logo o último inimigo de pé, que tentava correr para fora dos muros, foi derrubado por uma última rajada da colossal arma. Ela parou de girar, um rastro de fumaça se erguendo do cano superaquecido. Estava acabado... Ou será que não?

– Cuidado! - gritou Barry, notando a nova ameaça.

Nenhum deles havia percebido que, durante o devastador ataque de Vulcan, uma garagem fora aberta e dela saíra um bem armado e protegido veículo blindado, cuja couraça era capaz de resistir até às balas da metralhadora giratória. Movimentando-se vagarosamente sobre um sistema de lagartas, a máquina de guerra entrou em cena de forma ameaçadora, a torre de tiro, dotada de um perigoso canhão, voltando-se na direção do grupo inimigo... E disparando num temível clarão...

Corpos saltaram para se esquivar, a explosão fazendo a terra tremer e uma grande nuvem de poeira ser erguida do chão...


Capítulo 21

Capítulo 19

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