O Hóspede Maldito: Medusa

Capítulo 9 - Revelação


Carlos atravessara a porta da cafeteria ainda rindo com Milena. Pararam de súbito ao constatar que Juli não estava lá. Um pressentimento ruim acometeu os dois simultaneamente, que trocaram olhares assustados.

- Tia...? – chamou a menina.

- Espere aqui Milena... – recomendou Carlos.

Com a mão no coldre da pistola foi cauteloso até a cozinha. Pé ante pé.

E sobressaltou-se aterrorizado ao ver todos os armários revirados. Imediatamente os piores pensamentos vieram-lhe à mente.

- Milena! Volte para o 80! Agora! – gritou ele sacando sua pistola.

A menina deu um grito agudo e correu em direção aos elevadores.

Carlos abriu a porta de serviço com um chute e saiu para o corredor com a arma apontada para o vazio. Analisou o espaço, procurando alguma marca de sangue, pegadas ou qualquer coisa que denunciasse a presença de mais alguém ali. Nada.

Correu até os dois elevadores no final do corredor. Admirado, ficou por um momento a observar o painel indicando o número 79, o andar em que Juli parou.

Milena esperava ansiosa pelo outro elevador, no pátio arborizado do andar 75. Olhava para trás inquieta. apreensiva pressionava o botão repetidas vezes, esperando que isso fizesse o aparelho vir mais depressa. Quando as portas se abriram ela saltou para dentro. E gritou amedrontada ao chocar-se com corpos. Mas logo se acalmou.

- Acalme-se! O que aconteceu? – Indagou Jill abaixando-se.

No elevador que chegou estavam Jill, Niklos e Argol. Todos armados.

O casal havia encontrado o grego quando voltavam do terraço. Ele revirava o quarto atrás de um rádio, sem, no entanto, encontrar um. Tão logo souberam do que aconteceu desceram todos para o 75, desistindo de achar o rádio.

- Onde está sua tia?

- Não sei... – respondeu a menina com voz chorosa – O Carlos foi atrás dela, pediu para eu correr... Me ajudem, o que está acontecendo? – A menina não mais conteve as lágrimas e chorou abraçada à Jill.

Os três entreolharam-se pesarosos. Não podiam contar o que acontecera.

O fato é que Niklos voltara à sala de vigilância e voltou a procurar o fantasma, desta gravando para mostrar depois à Jill e Argol. Ele acompanhara os passos de Juli e do fantasma. Ela perseguira o indivíduo até o andar 79, correra atrás dele até que o ponto do fantasma simplesmente desapareceu do mapa. E em seguida Juli desapareceu também.

Xx

Momentos antes dos últimos acontecimentos:

- Pare! Quem é você? – gritava Juli para o vulto que perseguia.

Ficara tão excitada em encontrar mais alguém no prédio que não percebia que se ia embrenhando nos corredores do andar 79. Eram todos iguais, brancos, cheios de portas de escritórios e se fundiam em rótulas e inúmeras esquinas idênticas. Juli não percebia que a cada passo perdia-se em um labirinto de escritórios.

Na verdade ainda não vira de fato quem ela perseguia. O máximo que conseguiu foi vê-lo de costas, por alguns instantes antes que ele virasse novamente em outro corredor. Mas, persistente, ela engajava-se na perseguição.

Ao virar uma nova esquina parou estarrecida. Um longo corredor sem saída. Ao final dele uma única porta de madeira, folha dupla, acabara de fechar-se. Aproximando-se com cautela chegou até lá. Ergueu a cabeça e com espanto vislumbrou a placa que dava nome ao escritório. Teve que tapar a boca para segurar um grito. A simples leitura do nome lhe provocara arrepios.

“Argand I. Menski – Diretor“

Xx

- E agora, para onde? – indagou Argol.

Após o elevador do andar 79 seguia-se uma pequena recepção. Logo adiante surgiam inúmeros corredores entrecruzando-se em todas as direções formando um verdadeiro labirinto.

Niklos coçou a cabeça por um instante, pensativo.

- Hum... Estamos nos elevadores de serviço, certo? Então o escritório que ela entrou está a leste daqui.

- Vocês viram para onde minha tia foi? – questionou Milena.

- Espere um pouco, fique comigo que vai dar tudo certo. – disse Jill trazendo a menina para perto de si.

Argol examinava algumas placas indicativas dos caminhos dos corredores. Confuso, acabou por desistir de tentar entender aquele monte de siglas. Parecia proposital que as indicações fizessem sentido apenas para os funcionários daquele departamento.

- Temos que seguir para leste certo? – obtendo a confirmação do grego, Argol pediu que todos se afastassem por um momento.

Em silêncio concentrou-se, fazendo surgir em torno de seu corpo uma aura arroxeada que iluminou o local.

Todos olharam admirados.

- É... Cosmo! – exclamou Niklos.

Estalou os dedos e o pescoço. Em seguida saltou contra uma parede e, com apenas um golpe de punho, a atravessou. Não restaram sequer escombros sobre o chão, a parede fora pulverizada, jogando para frente uma espessa nuvem de poeira de gesso e concreto. A parede, antes absolutamente inteiriça e sólida, possuía agora uma enorme abertura de quase três metros de altura por dois de largura.

Argol atravessou primeiro para o escritório que se abriu, convidando os demais.

- Vamos?

Jill, Niklos e Milena ficaram boquiabertos a observar com admiração com tamanho poder. Mas, como na demonstração anterior de Argol acabaram por se convencer. Depois dos acontecimentos nas últimas horas suas mentes passaram a ser mais toleráveis em relação a eventos fantásticos. Com mortos voltando à vida como canibais selvagens, qualquer se tornaria suscetível a crer no que mais lhe fosse mostrado de inimaginável.

Ao invés de susto, passaram então a admiração. E valendo-se do poder do cavaleiro, seguiram em frente, atravessando todo o andar, sempre para leste.

Xx

Momentos antes dos últimos acontecimentos:

Ela própria não sabia explicar o porquê daquele nome lhe causar tanto arrepio. Sabia que era um homem obstinado pelo seu trabalho, sem escrúpulos, capaz de qualquer coisa por suas pesquisas. Mas mesmo assim jamais o vira. Não o conhecia pessoalmente, e sendo assim não havia motivo para temê-lo.

Mas ela temia.

Em seu íntimo tinha a desconfiança de que Argand teria liberado o vírus propositalmente. Pensando desta forma acabou por relacionar a ele a imagem de louco, assassino. Afinal este cientista louco era o responsável por todo aquele pesadelo.

Tão logo se viu tomada por tais pensamentos, Juliane logo tratou de afastá-los. Era uma cientista também, devia pensar com a razão. Por que haveria Argand de liberar um vírus tão mortal como o T-Medusa?

Percebeu então que criara um certo misticismo em torno da figura de Argand. Ele não era mais do que um cientista, pelo que soube viciado em trabalho e obstinado. Típico de pesquisadores que trabalham para grandes corporações. O que havia de errado em entrar em sua sala? Mesmo por que Argand devia estar no laboratório quando da liberação do vírus, e a esta hora já deve estar apodrecendo. Muito provavelmente algum funcionário assustado refugiara-se nesse escritório. Não seria nada demais.

Convencida de que não haveria problemas, pousou a mão sobre a gelada maçaneta e a girou. A porta de madeira abriu-se suavemente e Juliane deslizou para dentro. Neste momento o ponto que a representava, no mapa dos sensores de movimento, desapareceu.

Xx

- Merda! – gritou Carlos.

Era a terceira vez que passava pela “sala de reuniões 3”.

- Este lugar é um labirinto! – exclamou sozinho.

Assim que chegara ao andar correu atrás de Juli, seguindo sua voz. Mas não encontrou ninguém. Em determinado momento a voz ficara tão distante que não pôde mais saber de onde vinha. Agora se via perdido em um emaranhado de corredores iguais. E sempre topando com a maldita “sala de reuniões 3”.

Andava a esmo pelos corredores, apressado cruzava-os correndo até achar uma placa indicativa. Gastava algum tempo tentando decifrar as siglas e logo desistia. Voltava então a correr.

Cansado deixou-se escorar em uma parede e caiu sentado no chão.

Alisava os cabelos de forma aflita. Sua mente fervilhava tentando entender o que se passava. Desesperado buscava uma solução. E sua maior preocupação não era consigo mesmo. Era com Juliane. Por que ela saiu da cafeteria? Teriam levado ela? Atrás de quem ela corria? Perguntas para as quais não tinha resposta. E não havia nada no mundo que pudesse incomodá-lo mais do que sua incapacidade frente a uma situação. Tinha uma função, que por força das circunstâncias trouxe para si, que era a de proteger os civis. E nem isso conseguia fazer. Cada vez mais se sentia incapacitado. E uma agonia cada vez maior lhe acometia.

Foi então que notou.

O corredor em que se deixara cair era um pouco diferente. Não havia nenhuma câmera voltada diretamente para ele. Não haviam outras salas, além da última, ao final. Desconfiado de algo, levantou-se. Com cautela foi-se aproximando da sala ao fundo.

Foi então que sentiu a espinha gelar. Lera o nome a quem pertencia a sala.

“Argand I. Menski”

Um simples nome, porém um temor inexplicável estava atrelado a ele.

Empunhou a HK. Foi quando ouviu o grito. Disparou a correr e arrebentou a porta com um chute.

Xx

Momentos antes dos últimos acontecimentos:

Um carpete vermelho cobria todo o chão do luxuoso escritório. Móveis de mogno e pinturas finas decoravam o amplo lugar. Ao fundo erguia-se um pequeno patamar, e sobre ele estava uma comprida escrivaninha e uma poltrona estofada voltados de costas para uma enorme janela de vidro.

O céu tingia-se de um azul escuro, dando os primeiros sinais de claridade, ofuscando as estrelas.

Sobre a escrivaninha uma pequena placa indicava: “Dr. Argand Menski”

Os olhos examinadores da cientista correram por todo o lugar, captando seus detalhes e tirando suas impressões.

Intrigada com alguns objetos sobre a mesa, aproximou-se para examiná-los.

Haviam alguns papéis espalhados e migalhas de comida espalhadas. Um aparelho de rádio transmissão fora montado, mas seu alto-falante apenas chiava estática.

Distraída acabou por assustar-se ao pisar em algo. Verificou que era um pequeno frasco de vidro, pouco maior que um tubo de ensaio. Estava quebrado. Acabou por achar uma maleta preta sobre a mesa. Abriu-a. Estava cheia de seringas e frascos rotulados, contendo substâncias coloridas, presos a presilhas bem fixadas no interior da maleta. Retirou um dos fracos com cuidado e o examinou.

-Santo Deus! – exclamou aterrorizada, jogando abruptamente o frasco sobre a mesa.

Tamanho susto deu-se ao ler o rótulo: “T-Medusa – Vírus ativo”.

Ouviu então uma voz grave vindo de um aposento contíguo que acabara de se abrir. Dele veio em sua direção um homem. Tapando a boca com a mão, Juliane segurou um berro de pavor.

- Sabe, Juliane – dizia o homem, indiferente ao terror nos olhos da mulher – os cientistas têm uma particularidade. A curiosidade, a necessidade de obter respostas, desvendar mistérios. Isso é bom, claro, pois promovemos assim o progresso da ciência. Porém, este dom, às vezes, pode se tornar uma maldição.

-...

- Veja só o seu caso: Está aí, encolhida, pálida, amedrontada. Talvez achando que vá morrer, pois de fato vai – neste momento o homem sacou uma pistola preta e do bolso interno de seu paletó tirou um pente de balas, acoplando-o em seguida à arma. – Agora se pergunte: não teria sido melhor ter ficado quieta na cafeteria?

- Eu... eu não entendo... Como...? Como pode...? – balbuciava ela.

O homem mantinha-se indiferente. Por vezes parecia até mesmo se divertir com o temor da mulher.

- Não tente entender, Juliane. Acredite, você já sabe demais...

- ...

A arma apontou para a cabeça da cientista. Seu corpo estava enrijecido, paralisado enquanto sua mente se torcia em pensamentos confusos. Nenhuma lógica podia ser aplicada ali. E logo ela, uma mulher absolutamente lógica, se viu sem resposta nenhuma, por conseguinte sem nenhuma reação também. Naquele momento se entregara.

O homem sentia a cólera correr-lhe pelas veias. A indignação e a revolta lhe consumiam. Indignação pelo desprezo dos outros para com os verdadeiros homens de valor. Revolta por não ter conseguido se livrar ainda deste inferno, de ver seu plano fracassando cada vez mais. Revolta e desprezo pela frieza humana, capaz de abandonar alguém à própria sorte com criaturas canibais.

Dizimara uma cidade inteira. Tornou-se culpado por milhares de mortes. Por dar às pessoas destinos piores que a morte. A culpa também lhe consumia. Mas diante de tantos pecados seria irrelevante mais um.

Achou que, por já ter sido carrasco de tantos, era indiferente mais uma morte. A mente fria, calculista e cientifica de Argand Izael Menski julgou por necessária a morte de Juliane.

A mão trêmula hesitou.

Um grito agudo.

Três tiros e um silêncio momentâneo...


Palavras do autor: Espero que tenha conseguido passar um pouco de suspense neste capítulo. Surpresos com algumas revelações? Espero que sim, minha intenção foi essa uheuheue Não se preocupem que nada ficará sem resposta! Abraços! Comentem! Pingüim.Aquariano

Capítulo 10

Capítulo 8

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