O Hóspede Maldito: Medusa

Capítulo 7 - Estadia em Umbrella Tower


- Vão! Vão! – gritava Niklos, assim que pisou no 63º andar.

O grego dava cobertura aos demais, atirando e abrindo caminho entre alguns zumbis de terno e gravata que perambulavam pelos corredores.

Seguiam à frente Jill, armada com as duas Desert Eagles, e Argol com suas Uzzi. Logo atrás vinha Carlos, carregando Milena às costas.

- Já posso abrir os olhos? – perguntou Milena.

- Não, princesa. Ainda não... – respondia Carlos.

Logo atrás vinha Juli, seguida de perto por Niklos. Dando cobertura.

Percorreram alguns corredores até encontrarem o outro elevador. Entraram aliviados. Antes que chegasse ao 70º andar o computador pediu o passe. Argol inseriu o cartão que pegou de Izael e o acesso foi liberado.

Todos tiveram a impressão de entrarem em outro estabelecimento. Luxo como o desse andar só foi encontrado no saguão da Umbrella Tower. Todos os outros andares eram padronizados, corredores longos e iguais, pontuados por portas com plaquetas indicando nomes, tal como se espera de um prédio de escritórios administrativos.

Mas estes últimos dez andares eram diferentes. O 70º era como um novo saguão, luxuoso, decorado com obras de arte e até mesmo uma pequena fonte. A partir do 71º tinham-se inúmeras salas, para diretores, presidente, gerentes e todos os cargos do alto escalão. Várias e amplas salas de convenções, todas munidas de copa e cozinha para servir aos executivos. Havia ainda uma pequena praça comercial. Com uma lanchonete, um café e algumas papelarias e gráficas. Ao que tudo indicava as pessoas passavam muito tempo por ali.

O último andar parecia ser o provedor dos demais, destinado apenas àqueles que serviriam os poderosos executivos. Encontraram ali uma grande cozinha; uma sala de vigilância com monitores das câmeras de segurança de todo o prédio, computadores que controlavam o clima, as entradas e saídas e os sensores de alarme; uma sala de convivência para os funcionários do edifício com um pequeno dormitório e um vestiário anexos.

- É... Encontramos a senzala. – comentou Argol sobre o último andar.

Enfim os sobreviventes puderam experimentar um pouco da deliciosa sensação de respirarem aliviados. Ali estariam seguros de fato.

Mas por pouco tempo...

Xx

Sentindo-se segura pela presença forte de Argol, Jill finalmente cedeu à sua insistência e resolveu dormir um pouco. Ele ficou na cama de baixo do beliche, transmitindo-lhe segurança até que ela adormecesse.

Não foi um sono absolutamente tranqüilo, mas desta vez deixou-se aprofundar-se e descansar. Estava de fato mais relaxada e deixou-se embalar pelo toque firme e aconchegante das mãos de Argol ao massagear.

Acordou de sobressalto. Estava sozinha no quarto. Luzes apagadas.

Saltou da cama de cima. Estava enrolada no lençol, apenas de lingerie. Buscou sua saia e a blusa. E suas pistolas

Com a mão no coldre andou pela área de convivência, passou pela cozinha e pelos corredores. Ninguém. Viu luzes acesas na sala de vigília. O soldado grego dormia, sentado aos monitores, com o rosto apoiado nas mãos.

- Niklos.

- Hã? – acordou ele sobressaltado – O quê...? Jill? Sim, o que houve?

- Onde estão todos?

O grego esfregou os olhos e consultou os monitores.

- Vejamos... Argol, está no terraço. Carlos, Milena e Juli desceram no 75. É onde tem aquelas lanchonetes. Foram buscar comida.

- Estão andando por aí, à vontade? – espantou-se a moça.

- Aham... Não tem perigo. Como Izael falou, o alto escalão estava em recesso. Não tinha ninguém nesses andares quando o contágio começou. Veja esses monitores. – Niklos mostrou a Jill uma série de plantas do prédio em um monitor de computador, que exibiam inúmeros pontos.

- Todos os andares estão mapeados, e possuem sensores de movimento. Veja por exemplo o 10º andar. – o monitor exibiu então uma nova planta, repleta de pontos azuis movendo-se lenta e aleatoriamente pela planta – Cada ponto desses é um corpo. Vê? O 10º Andar está infestado de zumbis. Agora veja, a partir do andar 70 não nenhum corpo. Veja o 75 – haviam três pontos na planta deste andar – são Carlos, Milena e Juliane. Estes dois aqui no 80 somos nós.

- E Argol?

- Está no terraço. Lá não tem sensores de movimento, mas podemos vê-lo pelas câmeras de segurança. Veja... – Niklos apontou para um monitor, em preto e branco mostrando a imagem de Argol ajoelhado no terraço.

- Mas... – Jill aproximou-se do monitor – O que ele está fazendo?

- Hmm... – Niklos intrigou-se também – rezando?

Xx

O 75º andar possuía alguns poucos escritórios. A maior parte do andar era ocupada por uma grande praça. Uma construção bem ousada, com uma fonte e pequenas árvores, gramado e arbustos. Havia um som ambiente com cantos de pássaros. A iluminação era de ultravioleta, dando a impressão de que o sol iluminava o lugar.

- Maneiro! – exclamou Milena ao sair correndo pelo gramado.

- Caramba... Tudo tão real! – foi a vez de Carlos se impressionar.

- A Umbrella usa muito desses artifícios. – explicou Juli – O pessoal aqui trabalha demais, se uma hora ou outra não tiver pelo menos alguma sensação do mundo real, acaba pirando. Os laboratórios, no subterrâneo, têm janelas com paisagens falsas...

- Nossa... – impressionou-se Carlos.

Enquanto a garota corria descontraída pelo pequeno parque artificial, Juli e Carlos procuravam uma lanchonete entre os estabelecimentos próximos. Encontraram uma cafeteria. Com um pesado chute ele arrombou a porta trancada.

- Não deixe Milena aprender isso... – riu.

Procurando na cozinha Carlos e Juli acharam alguns biscoitos, café e suco. Chamaram Milena e fizeram um bom lanche juntos.

Enfim um momento feliz e descontraído. Riram bastante. Conversaram a toa, conheceram-se, sem nem mesmo uma vez mencionar o inferno que estavam vivendo. E agradeceram por, finalmente, sentirem-se seguros.

Xx

- Que horas são? – perguntou Jill a Niklos

- Hm... Está entardecendo...

- Nossa! Dormi bastante!

- Que nada! Te fez bem!

- E você não dormiu? Também precisa! – aconselhou Jill.

- Não preguei o olho...

- Não force... – Jill apertou-lhe o ombro, compreensiva – Sei que não é fácil. Mas você não pode desistir. Vá, coma algo e procure descansar.

Os dois se abraçaram e Niklos admitiu que precisava ao menos comer alguma coisa. Jill foi até a copa com ele e depois saiu.

Niklos revirou alguns armários em busca de algo para comer, sem êxito foi até a dispensa. Mexeu nas estantes até encontrar alguns biscoitos.

- Esse pessoal só come bolacha de água e sal? Ahá! Torradas...

Quando encontrou as torradas algo mais abaixo lhe chamou a atenção.

- Mas o que...

Não pôde conter um grito de surpresa ao constatar o que era. Apanhou imediatamente as baterias e saiu correndo, deixando para trás as torradas.

Xx

A noite vinha caindo deixando um rastro avermelhado no céu, dividindo-o entre o claro do dia e o negro da noite, começando a ser pontuado pelas estrelas. Voltado para a beleza do sol poente, próximo à borda do terraço, Argol ajoelhava-se perante quatro velas acesas. Fazia constantes reverências curvando-se até encostar o chão enquanto recitava versos em árabe.

Sob cada uma das velas lia-se um nome: Georgious, Adam, Pavlos e Izael.

- Interrompo algo? – indagou Jill, aproximando-se.

Argol não respondeu de imediato, primeiro terminou de orar, em seguida levantou-se.

- Não... Apenas algumas orações para que Alá acolha bem os que se foram.

Jill admirou a bela atitude de Argol e, tomada por respeito póstumo, fez um minuto de silêncio e o sinal da cruz.

- Está bem? – perguntou ele, puxando-a para um passeio pelo terraço.

- Sim... Só acho que dormi demais. O que você fez quando me massageou? Dormi sem nem perceber.

Argol deu um sorriso satisfeito.

- Massoterapia oriental. Mas não se preocupe, não dormiu demais. Você estava precisando. Temos que aproveitar que encontramos um lugar seguro e descansar um pouco. Nunca sabemos quando teremos que sair... – Jill assentiu.

Os dois continuaram a caminhar, conversando descontraídos, se conhecendo. O terraço não era exatamente a mais bela das paisagens, mas não seriam as antenas, caixas d’água e casas de máquinas dos elevadores que estragariam o crescente encanto e atração entre os dois.

- Sua descendência é árabe mesmo?

- Sim. Na verdade sou natal de outro país, Ramat, era um reino independente na Arábia Saudita. Mas... – Argol desviou o olhar por alguns instantes – Ramat não existe mais. Minha terra não passa de ruínas em uma província Saudita.

- Guerras?

- Sempre elas...

- Sim. Sempre elas! Temos em comum isso. Nossas terras-natais não existem mais. – Jill resmungou revoltada – Acidente nuclear! Pff! Os militares varreram a cidade com artefatos nucleares e encobriram tudo.

Os dois sentaram-se sobre uma escada de concreto. Dali podiam contemplar o belo pôr-do-sol.

-Ás vezes, o passado é melhor ser deixado de lado. – disse Argol – Se ele te machuca, te magoa, não há por que ficar remoendo-o.

Jill suspirou profundamente e deixou-se abater cabisbaixa. Ainda parecia inacreditável tudo que acontecera nas últimas horas. Mortos caminhando, sua cidade sendo infestada, as pessoas matando umas às outras. E tudo acaba com uma bomba, e em um clarão sua cidade desaparece. Tudo que ela viveu acaba engolido por uma luz ofuscante e radioativa.

Emergindo de suas lembranças sentiu a pesada e reconfortante mão de Argol envolvendo-a em um abraço caloroso.

- Há um ditado árabe... Diz mais ou menos assim: Para que saber meu nome? Saber do meu passado? Sou igual a tantos. Amei e fui amado...

- Tem razão... Todos já amamos e fomos amados.

- Sim. As dificuldades estão sempre por aí... Não podemos carregá-los conosco... Deixa-los nos impedir de amar. Por que se nem isso mais pudermos, de que vale a vida?

Um último olhar. Profundo. Flamejante. E sem mais resistências as duas bocas se colam em um ardente beijo. As línguas se tocam, sedentas. As mãos se encontram, percorrem o corpo, sentem o calor. Tocam nos lugares certos, fazem arrepiar. Fazem esquentar.

Os corpos se aproximam ainda mais. Parecem ferver. A respiração acelera e a vontade aumenta. Bocas no pescoço, em beijos carinhosos. Mãos vigorosas tocando, sentindo, acariciando. O fogo queimava, e ambos queriam mais.

Os corpos se deitaram um sobre o outro. Queriam estar cada vez mais próximos.

- Argol, na escuta? Niklos chamando! – chiou o walkie talkie na cintura de Argol.

O cavaleiro ergueu a cabeça incrédulo.

- Argol, está na escuta? Niklos chamando!

- Pô, agora você? – berrou o cavaleiro no rádio.

- Eu o quê? – respondeu ele.

- Nada... – bufou o cavaleiro. Jill apenas endireitou as roupas novamente, com um sorriso no rosto.

- Venha com a Jill para o 75. Achei baterias! Vamos ouvir a mensagem!

- Tudo bem! Estamos indo... Mas... Como você sabe que ela está aqui?

- Tem câmeras aí no terraço! – respondeu ele pelo rádio antes do câmbio final.

Xx

Todos estavam reunidos em torno da mesa na cafeteria. Estupefatos ouviam a mensagem assustadora repetir-se inúmeras vezes. Juli abraçou a sobrinha com força, ambas aterrorizadas.

- O que faremos? – indagou Niklos.

- Eu... – balbuciou Argol – Ainda não sei...

O rádio sobre a mesa continuava a repetir...

- Atenção, resgate para Argand Mesnki, cinco horas da tarde no dia 15 deste mês. Um helicóptero da Z.E.U.S. descerá no estádio Olympia, esteja presente ou deixe sinal visível de sua localização. Às cinco e trinta iniciará o procedimento Apolo e a cidade será incendiada. Prioridade máxima: resgatar Argand Mesnki. Repito: A cidade será incendiada... Atenção, resgate para(...)

Continua...


Palavras do autor

"Esse até que não demorou né? Espero que tenham gostado, e aos ávidos por cenas mais quentes... paciência uhuhaiuha Não deixem de comentar! Abraços!" Pingüim.Aquariano

Capítulo 8

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