O Hóspede Maldito: Medusa

Capítulo 5 - Fuga


Não precisaram explicações para que Argol e os demais compreendessem o que acontecera. O cavaleiro pôs-se à frente dos demais, tomando atitude antes que o pânico tomasse conta dos outros.

- Onde estão? – indagou ele.

- Passaram... Passaram pela escada de incêndio... – gaguejou Carlos, trêmulo e suando frio – Adam desceu no estacionamento para verificar alguns barulhos estranhos... Quando voltou estava com um ferimento no braço... Ele implorou, mas não tive opção...

- Fez certo Carlos... Então Adam deixou a porta do subsolo aberta?

- Sim... Eles estão por todo o térreo!

Todos os presentes sobressaltaram-se exclamando.

- Como deixaram isso acontecer? – berrou Izael.

- Sabia que não devia deixar esses americanos ignorantes fazendo vigília! – exclamou Pavlos.

- Vamos nos acalmar! Precisamos pensar em como sair daqui!

- Sair? – indagou Izael – Eles estão no primeiro andar! Vai sair como? Vamos todos morrer aqui!

- Morrer? Não... Não podemos... – Juli soluçava com os olhos encharcados de lágrimas, sua face ruborizada exibia a expressão de terror – não podemos! Não vou morrer aqui! – chorava.

- Merda! Americanos incompetentes! Incompetentes!

Então todos começaram a descontrolar-se, gritando ao mesmo tempo, brigando. Jogavam a culpa uns nos outros, acusavam-se tornando a discussão cada vez mais agressiva. Estavam a ponto de partirem para a violência. Jill tentava apaziguar a discussão, que no primeiro momento foi ajudada por Niklos, mas ele logo se descontrolou também com as grosserias de Izael e Pavlos. Juli recolheu-se em um canto e chorava. Argol mantinha-se à parte, apenas observando algo pela janela.

- Meu Deus! Ajudem-na! – Carlos viu Juli perder a cor e desmaiar escorada na parede em que tentou em vão buscar apoio. – Alguém pega um copo de água!

A cientista não chegou a cair, pois foi amparada a tempo por Carlos.

- Ótimo! Bela hora para passar mal! – ironizou Izael.

- Ei... Ninguém precisa de seus comentários inconvenientes! – reprimiu Niklos.

Carlos tentava fazer Juli recobrar a consciência. Ela se perdia em palavras vagas, respirando de forma ofegante.

Jill, cansada das discussões, guardou duas Desert Eagle carregadas nos coldres da perna.

- Chega de choradeira. Vamos sair daqui! – proferiu ela, engatilhando ainda uma HK5 de 9 milímetros.

- Enfim alguém sensato! – exclamou Argol, que se mantivera em silêncio até então, voltando-se da janela.

Estendendo uma das mãos pediu uma arma. Niklos jogou-lhe uma Uzzi. O cavaleiro conferiu a munição e engatilhou-a, depois voltou a falar.

- O prédio aqui em frente é um banco. Tem um carro forte parado em frente. O plano é esse: Eu vou pela janela, chego até o carro e entro com ele no mercado. Me esperem lá embaixo. Vocês embarcam e damos o fora daqui. Entenderam? Alguma objeção?

- Espere aí... – começou Izael – Como você vai descer a janela? Estamos no segundo andar...

Ignorando o comentário, Argol terminou.

- Nenhuma objeção? Ótimo! Encontro vocês lá embaixo! – dito isso saltou pela janela.

- O cara pirou? Beleza! Uma desmaiou e o outro pulou pela janela! Por que não atiramos uns nos outros agora?

Então se ouviram tiros de metralhadora vindos da rua. Izael não pôde conter sua expressão de surpresa ao constatar que Argol estava realmente levando seu plano adiante.

- Cala a boca! E tome isso! – disse Pavlos entregando uma pistola a Izael.

- Vamos então! – Carlos levou o corpo de Juli às costas e engatilhou a arma.

Apontando sua HK Jill tomou a dianteira junto com Pavlos, sendo seguido de perto por Izael. Atrás vinha Carlos carregando Juli e Niklos dando-lhe cobertura.

Ao descerem o primeiro lance de escadas depararam-se com uma das criaturas. Rosnando como um animal ela saltou sobre o grupo, avançando contra Pavlos, que descarregou uma rajada de tiros no peito, jogando-a para longe. Mas não foi suficiente, em seguida o zumbi levantou-se e voltou a investir.

- Não desperdicem munição! – Jill mirou e pressionou o gatilho e disparou uma rajada curta, explodindo a cabeça da criatura com três balas. – Mire na cabeça! Se não acertarem na cabeça eles levantam de novo! Entenderam?

O grupo voltou a avançar, agora mais alerta. Desceram o último lance de escadas para se depararem com uma cena nauseante.

Dezenas de morto-vivos estavam espalhados pelo mercado. Homens, mulheres e crianças. Ainda se podia reconhecer suas feições humanas transfiguradas em olhares selvagens e animalescos. Muitos deles tinham ferimentos expostos e pareciam não se importar, alguns já tinham suas carnes escuras, em processo de putrefação. Vagavam a esmo, tropeçavam, caíam e levantavam. Os gemidos guturais eram constantes. Gemidos agonizantes. Vez ou outra um deles atacava o outro, agarrando com as unhas e arrancando-lhe pedaços com os dentes, sendo imediatamente imitado pelos mais próximos.

Todos sentiram o estômago revirar e a náusea tomar-lhes conta.

- Vamos em silêncio... – sussurrou Jill.

Em fila indiana, com passos lentos e cautelosos foram atravessando o mercado, rumo às portas de vidro. Izael notou que uma pequena garota, com metade do rosto em carne viva, olhava-o fixamente, com dentes à mostra e a boca ensangüentada. Olhava-o como um animal encara sua presa. Então ela rosnou. Izael engatilhou a pistola e a sacou, cautelosamente. A garota então começou a gritar e correu em direção ao grupo. Em seguida todos os demais perceberam a presença dos vivos e avançaram como animais famintos.

- Disparem! – berrou Jill.

Todos formaram um semicírculo convexo, voltado para os morto-vivos, disparando suas armas contra as cabeças. Abateram ao menos uma dezena deles quando então já não foram tantos os que continuaram a avançar.

Então ouviram um estrondo. Um enorme carro forte atravessou as portas de vidro do mercado, derrubando-as em placas inteiras. O carro avançou vários metros dentro do mercado, parando próximo aos caixas.

- Vamos dar o fora daqui! – gritou Argol da janela do motorista, empunhando sua Uzzi fumegante.

Dezenas de outros zumbis agora vieram da rua para dentro do mercado. Começaram a cercar o carro e eram repelidos pelos tiros de Argol, enquanto os demais entravam na traseira do carro.

Então um grito infantil ecoou, vindo dos fundos.

- Meu Deus! – exclamou Carlos – Milena!

Todos voltarem-se atônitos. Na hora da aflição não se lembraram da garota, ela não estava no aposento.

Sem hesitar Carlos pôs Juli na traseira do carro e engatilhou sua arma, disposto a voltar.

- Argol! Dê a volta no quarteirão e entre de novo no mercado, se eu não eu estiver aqui dê ré e suma desse mercado.

O cavaleiro fixou o homem por alguns instantes, admirando a bravura que há tempos não via em um mortal comum. Apenas assentiu com a cabeça, entrou no carro novamente arrancou, e, patinando no sangue que cobria o piso de mármore, sumiu na rua escura.

Carlos suspirou fundo quando se viu acompanhado apenas das criaturas. Pôs a arma apoiada no ombro e, atirando como um louco em tudo que se movesse à sua frente, atravessou os corredores em socorro à Milena.

Xx

A garota estava estirada no sofá da loja de eletrônicos, mudando tediosamente os canais. Toda sorte de programas estava disponível: filmes adultos, desenhos animados, jornais e esportes. Apenas não encontrou os seriados de adolescentes que tanto gostava. Achou estranho o fato de não ter nenhuma notícia ou menção ao ocorrido em Colosso. O grande assunto do momento parecia ser a baixa do euro e o acidente em uma usina nuclear americana. Também notou que não estava sendo transmitida a programação local, ao invés dela a televisão exibia apenas estática.

Entediada deixou-se escorregar pelo sofá.

Milena era mais miúda que suas colegas, porém muito mais esperta que elas. Aprendia com facilidade a matéria da escola e compreendia o que acontecia ao seu redor, surpreendendo muitas vezes os adultos com suas observações, inesperadas para uma menina de 13 anos. Sua beleza também se destacava das meninas de sua idade, sua silhueta começava a ganhar contornos de mulher e seu rosto chamava atenção das pessoas, com traços delicados, pele alva, rosada nas maçãs, e cabelos castanhos, quase loiros.

Sentia falta de seus pais, e temia muito por eles. Mas não se deixava abater na frente da tia para não preocupa-la, sabia que Juli costumava desmaiar quando muito nervosa. Milena achava que não podia chorar na frente da tia. A garota não gostava de chorar, e quando sentia vontade procurava outra coisa para fazer. Como assistir televisão.

Enfim achara algo que valesse a pena. Uma reportagem sobre um acidente nuclear nos Estados Unidos. O que lhe chamara atenção foi o nome da cidade, Rancoon. Era a cidade que Jill mencionou. Um acidente nuclear em uma cidade infestada de zumbis? Será que a cidade não foi destruída propositalmente? Afinal a Umbrella precisaria esconder as evidências do acidente com o T-Virus.

Suas suposições foram interrompidas subitamente quando algo bateu com força contra o vidro da loja. Milena saltou assustada e acendeu as luzes. Não conseguiu segurar um rápido grito de pavor quando constatou do que se tratava, logo se controlando, tapando a própria boca.

Um garoto, pouco mais velho que ela, batia com força contra a porta de vidro. Sua pele estava escura e flácida, retorcendo-se em seu rosto enquanto ele rosnava como um animal, exibindo sua boca ensangüentada. Com agilidade Milena saltou o sofá e os móveis, saindo pela porta lateral da loja. O garoto disparou a correr atrás dela, que voava pelo corredor, desesperada.

Contornou a praça de alimentação em disparada, mas teve que deter-se abruptamente quando se deparou com uma mulher, debruçada sobre um homem, arrancando-lhe pedaços com os dentes. Com a parada brusca Milena patinou no piso escorregadio e caiu no chão, quando então gritou por socorro. A mulher abandonou sua última refeição e, com um enorme pedaço de músculo preso aos dentes, avançou contra Milena, que rapidamente levantou-se e disparou a correr novamente. Porém teve que recuar ao defrontar-se com o garoto que iniciara a perseguição.

Fim da linha. Acabou encurralada em uma parede. De cada um dos lados vinha uma criatura. Milena não pôde mais segurar o choro e gritou por socorro, fechando os olhos com força.

Há menos de um metro de sua presa a mulher abandonou o pedaço de músculo, visando a carne fresca de Milena. Quando avançou para enfim cravar os dentes em sua presa, sua cabeça explodiu em pedaços, cobrindo a garota com sangue e pedaços do encéfalo. O outro zumbi virou-se para constatar o que aconteceu, mas antes que pudesse compreender qualquer coisa sua cabeça também foi atingida por uma munição 9 milímetros, explodindo em pedaços.

- Carlos! – Milena correu e pulou nos braços de seu salvador.

O soldado amparou a menina e alisou seus cabelos.

- Está bem? Foi atacada? – perguntou ele com a voz trêmula de tensão.

- Não... Eles não encostaram em mim... Mas você viu? Dois deles entraram aqui! Será que tem mais?

Carlos não respondeu. Seu olhar amedrontado respondeu por ele.

- Venha, vamos sair daqui.

Ele pediu para que a garota subisse às suas costas e segurasse firme com os braços em torno de seu pescoço e pernas ao redor do abdome.

- Feche os olhos Milena... Haja o que houver, não abra os olhos... – disse ele trocando o pente da arma.

A garota escondeu o rosto no ombro de Carlos, que, apontando a arma, avançou novamente contra as criaturas.

Novamente atravessou os corredores infestados de morto-vivos, mas desta vez engoliu seu grito de pavor para não assustar a garota que levava nas costas. Atirava sem pensar. Qualquer criatura que surgisse em sua frente era alvejada por duas ou três balas certeiras na cabeça.

Depois do que pareceu uma eternidade Carlos atingiu a entrada do mercado. Agora muito pior que antes. Quase todas as criaturas que estavam vagando pelas ruas convergiram para ali. Uma multidão de zumbis estava entre eles e a saída. Sem outra alternativa, Carlos trocou o pente da arma mais uma vez e avançou disparando para todos os lados, abrindo caminho.

Quando enfim chegaram à rua começaram a ser cercados pelas criaturas, que pareciam cautelosas.

Carlos gritava e mandava recuarem, apontando a arma e ameaçando atirar. Os zumbis hesitavam em atacar, mas ainda assim avançavam, mostrando certo receio. E Carlos continua a ameaçar.

O carro estava demorando a voltar. As criaturas já desconfiavam e duvidavam do perigo que a arma oferecia. Começaram a avançar com mais segurança. O cerco se fechava.

- Acabaram as munições...? – indagou Milena, sussurrando ao ouvido de Carlos.

- Psiu... Vai dar tudo certo. Confie em mim...

Carlos tinha para que não poderia mais ser salvo, mas o que mais lhe incomodava era não poder salvar a garota. Queria acreditar que ainda houvesse uma chance.

A noite escura difundia o medo, entoado pelos gemidos longos e guturais e rosnares animalescos. Mas eis que os terríveis sons foram abafados pelo ronco de um motor. Um enorme carro amarelo avançou contra o cerco de zumbis, atropelando dezenas de criaturas. E parou bem à frente de Carlos e Milena. No carro lia-se: Banco da Grécia.

- Vamos embora! – gritou Argol, pondo a cabeça pela janela do carro.

A porta do lado do carona abriu-se e os dois voaram para dentro do carro, que, antes que eles se acomodassem, arrancou e sumiu rua abaixo, cantando pneus e atropelando zumbis sem dó.

Xx

O carro forte era como um micro ônibus. Possuía dois assentos na frente e um amplo espaço na traseira, com dois bancos ao longo das laterais do veículo.

- Milena! – exclamou Juli, de trás. – Você está bem? Venha aqui!

A cientista esticou-se pela janela que comunicava a traseira e a dianteira do veículo e pegou a garota, trazendo-a para trás, junto com os demais. Na frente estavam Argol, dirigindo, e Carlos, no carona. O soldado estava pálido, estirado no banco, suando frio e trêmulo.

- Está bem, cara?

- Cacete... Passei por maus bocados em Rancoon, mas este... Passou perto! Minha Nossa Senhora!

- Ei... O que é isso?

- Nossa Senhora? É a mãe de Jesus. No meu país a maioria é de católicos e nós...

- Não me refiro a isso... Ouviu esse ruído?

- Que ruído? – indagou Carlos, apurando os ouvidos.

- Veja embaixo do seu banco.

O homem apalpou, encontrou uma pequena caixa preta e trouxe-a perto do ouvido. Ouvia-se um ruído fraco, como estática.

- Que audição hein!

- Pois é... Veja o que é...

Carlos tentava abrir a caixa quando o carro deu um forte solavanco, jogando o objeto contra o painel, que se abriu, esparramando duas pistolas e diversas balas pelo carro.

- Opa... Segurem-se! Passamos por cima de mais um.

- Ei... tem um rádio aqui. A estática vem dele. – Carlos girou os botões, tentando sintonizar algum canal. Parou quando reconheceu uma voz humana.

A mensagem estava ruim, não se podia ouvir alguns trechos, em que a estática ficava mais forte.

Seis horas da manhã... dia quinze... um helicóptero...no...esteja presente...Atenção, chamado... resgate para... Esteja às seis horas... helicóptero descerá... clube... esteja... cidade... incendiada...– Então a mensagem ficou inaudível. Era um mensagem gravada repetindo-se diversas vezes.

- Meu Deus! Ele falou em resgate! – exaltou-se Carlos.

- Merda! Sintonize isso aí! Dia quinze é amanhã! – exclamou Argol.

Os demais passageiros espremeram-se na janela para tentar escutar.

- Esperem... Silêncio! – pediu Carlos – O problema não é sintonizar. A bateria que está fraca. Pode acabar a qualquer momento.

Todos ficaram em silêncio. Então ouviram estarrecidos o último trecho da mensagem, antes que o rádio ficasse mudo.

...helicóptero descerá no estádio... esteja sem falta, ou deixe um sinal visível da sua localização... cidade será incendiada... resgate para Argand Mesnki. Atenção, resgate para Argand Mesnki...


Pessoal, bilhões de desculpas pelo gigantesco atraso desse capítulo. Me atolei de trabalhos e seminários e provas medonhamente escabrosas e fiquei sem tempo, mas aqui está mais um capítulo. Espero que gostem! E comentem!

Abraços! Pingüim.Aquariano

Capítulo 6

Capítulo 4

Index

Hosted by www.Geocities.ws

1