O Hóspede Maldito: Medusa

Capítulo 4 - Conversas


Eram seis horas da manhã quando Argol finalmente se deitou em definitivo. Não foi um sono tranqüilo. Alguns pesadelos o atordoaram, alguns fantasmas do passado, mesclados à terrível situação presente.

Despertou subitamente, assustado. Mas logo se acalmou ao constatar que estava em segurança. Sentada em uma cadeira, bem em frente ao seu colchão, estava a bela Jill Valentine com as pernas cruzadas, olhando para ele.

- Er... O que foi? – perguntou ele, sem graça.

- Nada... – respondeu ela tenramente – Estava apenas te olhando... Achei mesmo que seu rosto me era familiar.

Argol levantou-se, esfregou os olhos e se vestiu. Pôs a camiseta regata por cima da camisa azul. Jill continuou a falar, e suas palavras vieram a surpreender-lhe.

- Você não me reconheceu?

- Ahn? Como poderia? Nunca nos vimos antes...

- Achei mesmo que não ia se lembrar... – disse ela se levantando – Eu quase não me lembrei. Você estava coberto de sangue, com ferimentos enormes, queimaduras horríveis por todo o corpo.

Foi então que algo se acendeu na mente do cavaleiro. Imediatamente a imagem da moça veio-lhe à cabeça. Sua expressão preocupada olhando para ele.

“Rápido! Este homem precisa de um hospital!”

- Você? Você me salvou na ilha? – exclamou Argol.

Então Jill mudou seu tom de voz.

- Sim... Minha equipe te salvou. Rumávamos para Colosso, vimos a fumaça do avião que tinha caído e encontramos seu corpo. Não sabemos como sobreviveu ao acidente do avião... Você estava vivo, então o levamos para o hospital de Colosso...

O avião a qual Jill se referia é o que trazia os cavaleiros de bronze e que Spartam derrubou com seus poderes telecinéticos. Para evitar maiores explicações, Argol admitiu que sobrevivera mesmo ao desastre.

- Bem... Tenho muito que lhe agradecer... – respondeu o cavaleiro, não entendendo onde a moça pretendia chegar.

- Argol, quero que conte a verdade...

- A verdade? Olha, não sei do que está falando. Que verdade?

De súbito Jill sacou sua arma e apontou para o cavaleiro, que levantou as mãos. No instante seguinte vieram da sala ao lado Niklos e Pavlos armados e apontando para Argol.

- O que está havendo?

- Argol, a verdade! – exigiu Jill.

- Droga! Que verdade? Não há o que contar!

Jill engatilhou a pistola com nítido pesar. Lamentava ter que fazer aquilo. E questionava-se por que novamente caíra sobre ela a responsabilidade de fazer o trabalho sujo. Mas sabia que era para o bem dos demais.

- Não brinque conosco rapaz! Se estiver contaminado eu estouro seus miolos! – bradou Pavlos.

- Vamos Argol, conte-nos... Daremos um jeito... – disse em tom mais ameno Niklos.

- Merda! Contar o quê?

- Droga! Você acha que sou burra? – gritou Jill com os olhos se enchendo de lágrimas – Há dois dias eu te vi quase morrer em uma ilha deserta. Você sofreu um acidente de avião, estava com o corpo tão queimado que mal se podia reconhecê-lo! Ferimentos enormes abertos, havia milhares de pedaços de metal cravados em sua pele... E agora você está aqui na minha frente? Perfeitamente saudável, correndo e atirando?

- Mas eu...

- Você foi tratado com T-Virus Argol! Só isso explicaria uma recuperação tão rápida!

- Como é que é? – espantou-se o cavaleiro.

Xx

Juli e Milena estavam no terceiro andar do mercado, acima dos escritórios. Era uma área de convivência para os funcionários, com um refeitório, banheiro e vestiários. Adam tinha ido até o mercado buscar alguns produtos de higiene para a cientista e sua sobrinha.

- Aqui estão garotas – disse o loiro vindo com shampoo, sabonete e toalhas novas. – Por conta do Wal-Mart!

- Ah, obrigada! – agradeceu Juli.

- Tudo que preciso é de um banho! – disse exaurida Milena.

- Fiquem à vontade, vou ver como estão os outros lá embaixo. Ah, usem apenas o vestiário feminino! Encontramos um corpo no masculino e então acho que é melhor não entrar lá...

As garotas fizeram cara de nojo, certas de que não iriam nem chegar perto do vestiário masculino. Assim que Adam desceu Juli juntou os produtos e chamou Milena.

- Vamos? – e a garota assentiu.

Mas assim que Juli entrou no vestiário parou assustada.

- Ah! – exclamou ela.

- Mas hein?

Carlos estava no vestiário ainda vestindo suas calças quando Juli entrou. Sem jeito ele apressou-se em vesti-las de uma vez e ela correu para fora puxando Milena pelo braço.

- Nossa ele é bonitão, hein tia! – exclamou Milena.

- Que isso menina!

- Oras! E não é? Tem um corpão! Ai... – suspirou a garota se abanando, fazendo graça para a tia, depois riu.

Um instante depois Carlos saiu do banheiro, já de calças e coturno, sem camisa com uma toalha no pescoço.

- Erm... Desculpe meninas, é que o banheiro masculino está...

- Tudo bem, Adam nos contou! – interrompeu Juli – Desculpe entrar daquele jeito. Erm... Vamos Milena?

- Que vamos o quê! – exclamou a garota – Eu não sou mais criança, quero tomar banho com privacidade! Espera aí que eu tomo banho rapidinho. – a garota pegou os produtos e foi para o banheiro, piscando para a tia antes de entrar.

Ficaram Juli e Carlos do lado de fora. Ela sentada em um banco e ele terminando de se secar e se vestir.

Xx

- Que história é essa de T-Virus? – indagou Argol.

- O T-Virus reanima células mortas. Usado em doses corretas e sob orientação ele pode promover maravilhas. Vi uma garota que era paraplégica andar normalmente depois do tratamento. Argol, você estava à beira da morte quando o achamos, foi um milagre ter sobrevivido. Para ter se recuperado tão rápido os médicos do hospital só podem ter te tratado com T-Vírus. – explicou Jill.

Os homens engatilharam suas armas, ergueram-nas no ombro e miraram a cabeça do cavaleiro. Jill esticou o braço, deixando o cano da arma a poucos centímetros da cabeça de Argol.

- Sinto muito Argol. Não posso pôr em risco todo o grupo por você – uma lágrima desceu pelo seu rosto que ela apressou-se em enxugar – Vou ter que fazer isso...

O cavaleiro permaneceu em silêncio.

Penosamente Jill puxou o gatilho.

Xx

Na área de convivência no piso superior Juli e Carlos conversavam sem jeito.

- Sabe, essa idade é difícil mesmo. – contava Juli – Os pais dela vivem brigando e eu acabo sendo o refúgio dela.

Carlos assentia com a cabeça e deixou-a continuar.

- Acho que vamos ficar aqui por algum tempo, né? Ela sempre foi muito agitada. Ficar trancada naqueles escritórios não vai fazer nada bem para ela... E não podemos nem descer sozinhas até a loja, com todas aquelas criaturas batendo no vidro, tentando entrar...

- Hmmm... – fez Carlos – Acho que tive uma idéia. Há uma praça de alimentações no Wal-Mart, nos fundos do mercado. Há várias lanchonetes, algumas lojinhas, inclusive uma de eletrônicos. Aposto que tem DVDs, vídeo games e tudo mais...

- Seria ótimo! Mas para chegar lá não precisamos passar pelo mercado?

- Não... Há um elevador de serviço que desce direto nessa praça... Podemos ir até lá depois que tomarem banho.

- Ah! Que ótimo!

O barulho do chuveiro e as portas grossas da área dos banheiros não deixaram Juli e Carlos ouvirem o tiro dado no andar de baixo enquanto conversavam. Continuaram animados e descontraídos, falando como se estivessem em uma mesa de bar, se conhecendo.

Xx

No terraço do mercado, Izael esticava-se em uma cadeira de praia sob a sombra de um guarda sol, subtraídos da seção de artigos de praia. Com o rifle que lhe fora dado praticava tiro ao alvo nos zumbis que vagavam sem rumo nas ruas lá embaixo. Atirava usando a munição abundante que tinha na seção de caça.

- É... As coisas não estão tão mal... – recostou-se depois de mais um tiro, abrindo uma latinha de cerveja que trouxera em uma caixa térmica – Ah... É incrível como pude perder tudo nessa desgraça... Amigos, casa, emprego, imóveis. E mesmo assim ainda saí no lucro! – recostou-se na cadeira e riu longamente dando tapinhas em sua inseparável maleta preta – Fenomenal!

Mas súbito saltou da cadeira assustado ao ouvir um tiro vindo de baixo e estourando uma janela.

- Hmm... Já começaram a se matar? Vamos muito longe assim... – disse ironicamente antes de mais um gole da cerveja.

Xx

Jill apertara o gatilho com as mãos trêmulas. Odiava ter que matar mais uma pessoa para a sua própria segurança. Mas no caso de Argol era diferente, foi mais dolorido faze-lo, muito mais. Ela nem teria tomado esta decisão se não tivesse pensado nas outras pessoas que estavam com ela. Não podia sacrificar todos ali só por que tinha se afeiçoado por ele.

Ela deu uma curta piscadela ao disparar a arma. E quando abriu os olhos sentiu o cano ainda quente de sua própria arma encostar-lhe nas têmporas.

Argol viu a bala vir em sua direção como em câmera lenta. Jogou a cabeça para o lado. Ouviu a bala zunir ao passar paralela a seu ouvido. Tomou a arma de Jill, imobilizou seus braços e encostou a arma nas têmporas dela. Então a bala varou a janela de vidro que estava atrás dele.

- Merda, o que você fez?

- Velocidade do som... – disse Argol. – Abaixem as armas ou estouro a cabeça dela!

Os dois homens obedeceram deixando as metralhadoras no chão e chutando-as para perto de Argol.

- Você também, Adam! – gritou Argol.

No instante seguinte o loiro surgiu detrás da porta, com as mãos para cima e também largou sua arma.

- Muita calma cara, vamos conversar... – Niklos tentou dialogar – Não faça besteiras, ok?

- Você acha que vai conseguir o quê, cara? Você vai matar todos nós aqui! – berrou Pavlos.

- Cala boca! Eu não vou apertar o gatilho...

E então ele jogou a pistola para trás, depois recolheu as armas dos outros homens e as colocou fora de alcance. Soltou Jill e antes dela se afastar alisou seus cabelos.

- Não ia te fazer mal... Só quero a atenção de vocês.

- Então... Agora que a tem – disse ela – Nos conte o que há com você...

- Tudo bem, mas peço que acreditem em mim. Eu confiei em vocês ao largar a arma, se quiserem podem pegar as de vocês, não vou reagir.

Os homens se entreolharam, duvidando da palavra de Argol. Depois que o cavaleiro os encorajou mais uma vez eles finalmente foram buscar as metralhadoras.

Agora todas as atenções estavam voltadas para Argol.

- A minha recuperação dos ferimentos, que não foram do acidente de avião, mas isso não vem ao caso explicar, e a velocidade com que me movi, podendo desviar da bala... Essas habilidades se explicam por que eu não sou como vocês... Já ouviram falar de Athena e seus lendários cavaleiros?

Jill e Adam se entreolharam, ambos jamais ouviram falar em tal expressão. Pavlos exibiu um sorriso de deboche enquanto Niklos fitou Argol sério.

- Athena é a deusa da sabedoria, e para protegê-la dispõe de 88 cavaleiros. São como soldados, que a protegem e a seu Santuário. E eu sou um deles.

Pavlos começou a rir debochando do cavaleiro.

- Ah sim! Temos um homem que pode rasgar o céu e fender a terra? Certo! E qual a sua constelação? Palhaço!

- Espere, Argol. Explique isso direito. É como uma organização para-militar? – indagou Jill.

- Não... – disse Niklos, sério – É um exército de homens divinos, com poderes magníficos provenientes dos cosmos...

- Qualé! – protestou Pavlos – Isso é historinha de criança!

- É mitologia! – Niklos reprimiu o amigo – É a cultura de nossos ancestrais e deve ser respeitada. Nem você devia debochar e nem Argol devia mentir! – concluiu o grego de forma enérgica.

- Não estou mentindo! Jamais desrespeitaria a cultura grega! – encarou Argol.

- Pois está desrespeitando sim!

- Eu sirvo a ela!

- Prove! – desafiou Niklos

Com um soco Argol enterrou o braço na parede a seu lado.

Todos fizeram silêncio e encararam estupefatos o homem que dizia ter poderes divinos.

- Claro que isso não é nada. – começou a falar tirando seu braço do buraco e mostrando-o sem ferimentos – Vitalidade e resistência superiores é inerente a qualquer um que seja destinado a ser cavaleiro. O que explica a minha recuperação. O poder do cosmo pode dar muito mais... Controlar elementos, armas, mentes e até mesmo dimensões.

- Você... Faz tudo isso? – perguntou incrédulo Niklos.

- Não tudo... Sou bom em criar ilusões e explosões de impacto. E também tinha sobre meu poder a mais perigosa e temerosa das armas... Mas ela foi destruída no “acidente”. – suspirou penosamente ao se lembrar do escudo da Medusa.

- Espere aí... – interrompeu Jill – O que é cosmo?

- E como assim controlar elementos e mentes? – perguntou Adam.

Argol respirou fundo. Havia muitas explicações a serem dadas. Então começou a contar o que precisavam saber sobre os cavaleiros e o poder dos Cosmos, sem se aprofundar nas batalhas já travadas e detalhes que não seriam úteis.

Foi difícil que todos entendessem, principalmente os americanos. Argol teve que dar mais algumas demonstrações exibindo a aura de seu cosmo e mostrando como usa-lo para produzir impacto.

Ainda muito admirados acabaram por se convencer. Depois de verem mortos voltarem à vida suas mentes passaram a ser mais toleráveis a acreditar no fantástico, embora no fundo ainda tivessem esperanças de estarem em um terrível pesadelo e poderem acordar em segurança em suas casas.

No final da tarde se reuniram na praça de alimentação do mercado. Tentavam se descontrair, mas o assunto acabava por voltar à situação.

- Então, você é cientista da Umbrella? – perguntavam à Juli.

Apenas Milena não estava presente quando sua tia começou a falar da Umbrella e do vírus. Ela fora para a loja de eletrônicos assistir a alguns filmes. Argol, Jill, Niklos, Pavlos, Adam e Carlos estavam ao redor da cientista ouvindo suas explanações, enquanto Izael estava atrás do balcão do bar, servindo-se de todas as iguarias disponíveis, mas ainda mantinha o ouvido atento às palavras de Juli.

- Sim, sou biomédica. – começou a ruiva – Trabalho com virologia e fui convidada pelo Dr. Edward Armein para trabalhar em sua equipe. Os trabalhos dele visavam alguns testes audaciosos com o T-Medusa.

- Então Edward foi o criador desta variação do vírus? – indagou Jill.

- Não. Foi obra do Dr. Argand I. Menski. Ele era integrante da equipe de Willian Birkin e Albert Wesker, responsáveis pelo T-Virus. Mas Argand tinha intenções diversas das de seus companheiros e abandonou a linha de pesquisa. Dizem que ele persuadiu os diretores da Umbrella para conseguir a liberação da sua linha de pesquisa. Como é um homem muito influente no meio científico, conseguiu vários investidores para financiá-lo. O resultado foi o sucesso absoluto do projeto com o desenvolvimento do T-Medusa e o enriquecimento da noite para o dia de Argand e seus investidores. Ganharam milhões ao ceder a concessão da patente científica do vírus para Umbrella. – Juli terminou sua explicação fixando os olhos de em Izael, atrás do balcão com uma caneca de conhaque.

- O que foi? – indagou ele sob a mira dos demais olhares – Não é por que ganhei dinheiro com essa loucura que sou responsável por ela!

- Você financiou a idéia daquele louco!

- Ei! Mexo com negócios, investimentos. Não sei nem a diferença ente vírus e bactérias, quem dirá entender o que aquela coisa faz. Pode ter destruído a cidade inteira, mas me rendeu uns bons milhões de dólares... – e ignorando os olhares atravessados dos demais bebeu um gole do conhaque.

Os presentes sentiram certa repudia do modo frio como Izael falara, mas de qualquer forma ele estava certo. Não tinha culpa nenhuma, e não podia saber de que forma seriam conduzidos os experimentos. Por mais que não seja o que os outros gostariam de pensar, até ali Izael é, assim como eles, mais uma vítima do incidente em Colosso e da loucura de Argand Menski.

- Qual é exatamente a diferença entre o T-Virus e o T-Medusa? – questionou Jill retomando a conversa.

- Bem, não me inteirei muito sobre os dois vírus, pois recusei o convite de Edward. Mas pelo que sei ambos derivam do G-Virus, porém o T-Medusa não degenera tanto o sistema nervoso, deixando os instintos mais acentuados e agressivos.

- Por isso aquelas criaturas querem arrancar pedaços da gente? – questionou Argol – Elas estão atrás de comida!

- Exato.

- Mas eles são diferentes das criaturas de Racoon – observou Carlos – Estas correm, são rápidas e muito mais agressivas.

- Pois é... Este é o diferencial. E por isso recusei entrar no projeto. Achei que ele era muito agressivo às células. Ele reanima células mortas ou deficientes e potencializa suas capacidades, e com essa sobrecarga se elas não estiverem constantemente estimuladas acabam por definhar. É o que acontece com o cérebro. Aquelas criaturas são neurologicamente mortas, agem apenas seguindo o mais primordial dos instintos...

- Procurar comida?

- Sim. E se proteger. Por isso são agressivas.

- Tem algo que não entendi – ponderou Adam, quebrando o silêncio breve que se instalara – Dr. Argand desenvolveu o vírus, certo? E por que Edward ficou com o projeto dele?

- Creio que tenha sido um jogo de interesses. A Umbrella forneceu o laboratório para a pesquisa de Argand e pagou milhões de dólares pela concessão, o que a permitiria conduzir a etapa de testes e aplicação. Li suas teses e achei que as intenções em testar o vírus eram demasiadamente radicais, creio que os diretores pensaram o mesmo e passaram esta etapa para as mãos de Edward, o que deixou Argand furioso. Mesmo tendo passado a concessão ele ainda esperava estar à frente do projeto. Mas o tiraram da coordenação. Isso foi há alguns dias. Desde então ninguém mais viu Argand pela Colméia...

Todos exclamaram.

- Olha, eu já achava muito perigoso o tipo de teste que Edward fazia, mas as intenções de Argand eram muito piores! Ele era daqueles cientistas obstinados... Para mim era louco. E perigoso. Não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, mas os que o conheciam diziam que ele tinha um olhar meio fanático. Tenho medo de saber o que ele poderia fazer com esse vírus em mãos.

Alguém pigarreou ao fundo. Todos se voltaram para Izael, atrás o bar, com a caneca de conhaque na mão.

- Com licença... A senhora conseguiu compreender as intenções de Argand? Li os trabalhos dele e achei que ele tinha bons objetivos. Ele visava o avanço da medicina, seus experimentos eram pioneiros e sugeriam tratamentos para doenças hoje consideradas incuráveis. Acha que isso é loucura?

Os olhares então se voltaram novamente para a cientista.

- Sim, acho. O senhor é leigo no assunto, pode não ter entendido os procedimentos descritos por ele. Ele sugeria testes em humanos, o que é extremamente perigoso e arriscado. As conseqüências são imprevisíveis.

- Não acha que alguns sacrifícios são válidos pelo avanço da ciência?

- Sacrifícios humanos? Não, não acho. – respondeu Juli secamente.

Seguiu-se silêncio chato e desconfortável, mas Izael parecia indiferente a ele. Olhou fixamente à Juli por alguns instantes, depois tomou um gole e por fim disse:

- Tem razão doutora. Esse homem é louco. Se o vírus é capaz de transformar as pessoas naquelas coisas, então não devia ser usado nunca.

Xx

Jill dormia profundamente. Assim como os demais não tinha noites confortáveis de sono, sempre agitada, mexia-se muito no colchão e freqüentemente acordava assustada durante a noite. Sob seu travesseiro estavam suas pistolas, carregadas e travadas.

De súbito ela acordou e ao abrir os olhos viu alguém sobre ela. Com reflexos rápidos tentou sacar sua pistola, mas foi impedida por uma mão firme que a segurou.

- Psiu... – pediu Argol levando o dedo indicador à boca.

- Que susto... – sussurrou, preocupando-se em não acordar os demais. – O que está fazendo em cima de mim? – perguntou ela desconfiada.

- Não é o que está pensando... Não teria graça nenhuma com você dormindo.

Jill corou, fingiu não ter ouvido a provocação de Argol e insistiu na pergunta.

- Vim pegar o pente de balas aqui ao lado do colchão. Vi que você estava agitada e ia sacar a arma. Te segurei para que não desse um tiro em si mesma. Não é bom ter uma arma sobre o travesseiro quando se tem um sono agitado. Pode ser perigoso...

- Hunf... Entendendo. Muito obrigada, mas não preciso que fique vigiando meu sono... – disse ela com certa rispidez.

- Não estava te vigiando, como disse queria pegar o pente da arma. Minha ronda vai começar em quinze minutos.

- Tudo bem, não precisa explicar... – interrompeu ela, de forma seca.

Argol não mostrou reação alguma à agressividade da mulher, ao contrário, continuou a encará-la. Olhando fundo em seus olhos enxergou o que ela, com sua pose indefectível e intocável, tentava esconder.

- Erm... pode sair de cima de mim, agora? – disse ela com um disfarce de rigor.

- É claro que posso... – respondeu Argol aproximando-se do rosto dela. E quando sua boca tocou levemente seu ouvido, terminou num sussurro – Mas é isso que você quer?

A resposta pareceu óbvia em suas reações. O calor que queimava em seu peito não pôde mais ser contido e fluiu para todo seu corpo, tomando-a de um furor enlouquecido e selvagem, deixando todo seu corpo eriçado e sua respiração ofegante. Suas vontades finalmente se libertavam.

Então seus lábios e corpos se tocaram com uma intensidade explosiva e, por forças das circunstâncias, silenciosa.

Mas todas as expectativas foram bruscamente interrompidas por um estrondo. Carlos acabara de atravessar com um violento chute a porta do recinto, fazendo todos saltarem assustados.

Sua expressão estava aterrorizada. Seu corpo coberto de sangue.

- Temos problemas! – gritou o soldado.

- Onde está Adam? – perguntou imediatamente Argol.

Carlos olhou para o bico de sua metralhadora. Estava fumegante.

- Acabei de descarregar minha arma nele... Ou no que ele se tornou...

Vindos das escadarias gemidos guturais ecoaram por todo o andar.

- Temos que sair daqui... Agora! – proclamou Carlos.


Palavras do autor

Olá! Vou explicar algo que muita gente tem me perguntado. O bendito nome do Argol. O Masami Kurumada, quando criou o personagem, deu o nome baseado na estrela que, na constelação de Perseu, representa a cabeça do demônio Medusa. O nome da estrela é Ra´s Al Ghul, que em árabe (que por sinal é a nacionalidade do Argol) quer dizer “cabeça do demônio”. Como Saint Seiya passou por inúmeras traduções o nome chegou aqui como Argol ou Algol. O original é Alghul (demônio). Na fic eu justifiquei a discrepância entre o nome original (Alghul) e o nome pronunciado (Argol) com a dificuldade dos estrangeiros pronunciarem seu nome. Entenderam? Não tem nada a ver com o personagem do Batman! Uheuheuheu Abraços e reviewem!

Capítulo 5

Capítulo 3

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