O Hóspede Maldito: Medusa

Capítulo 3 - Companhia


Um homem quase dormia sobre seu rifle apontado para a rua deserta e mal iluminada. Estava com a arma apoiada no parapeito de uma janela no segundo andar de um mercado Wal-Mart. Trajava uma farda de aspecto militar e coturnos. Em seu ombro havia um brasão onde se lia: Z.E.U.S.

E então algo surpreendente despertou-lhe de sua sonolência. A rua subitamente se cobriu por um tapete negro de ratos. Em seguida duas mulheres passaram correndo gritando.

- Meu Deus – exclamou ele – Ei! Pavlos, Georgious! Tem gente viva lá fora! – gritou o homem, chamando outros dois que também estavam no cômodo.

Juli corria o máximo que conseguia, suportando a dor do tornozelo torcido. A pequena Milena ajudava sua tia servindo a ela de apoio.

Argol ainda digladiava com as criaturas usando o bastão de ferro. Desferia poderosos golpes que rasgavam os zumbis ao meio e conseguia, até certo ponto, impedir que avançassem. Mas estavam vindo cada vez mais. Eles se amontoavam uns por cima dos outros para tentar agarrar o cavaleiro, que se esforçava em mantê-los longe. A situação começou a ficar crítica. Agora as criaturas fizeram um círculo em torno de Argol e o têm como único alvo. O cerco começou a se apertar cada vez mais...

- Vamos tia Juli... Mais rápido... – incentivava Milena.

Quando as duas passaram pela frente de um Wal-Mart viram alguém gritando pela janela.

- Ao portão! Vão para o portão!

Então um grande e pesado portão de ferro, ao lado do mercado, começou a abrir. Tratava-se do estacionamento subterrâneo do mercado.

Argol se viu cercado pelas criaturas. Não poderia derrotar todas elas. Só havia uma coisa a se fazer.

O cavaleiro abandonou o bastão e deixou os zumbis se aproximarem. Então inflamou seu cosmo e saltou. Elevou-se cerca de vinte metros no ar. De cima podia ver que havia centenas de criaturas, uma verdadeira multidão de morto-vivos. Ainda no alto fez seu cosmo inflamar e concentrou-o nas mãos.

- Seaaahhh!

E então disparou uma enorme rajada de energia contra a multidão. Como um cometa que ilumina a escuridão em seu trajeto, a energia explodiu no meio das criaturas, abrindo uma enorme cratera na rua. Mas aquilo só pararia os zumbis por alguns instantes, logo os que vinham atrás continuariam a avançar.

- O que foi isso? – exclamou Milena, há alguns metros da entrada do portão.

- Não sei... Pareceu uma bomba. Será que ele... Santo Deus!

- Ele está vivo! –gritou Milena ao ver o homem que as salvara correndo na direção delas.

- Vamos para o portão! Agora! – ordenou Argol.

Os três passaram pelo portão, que logo se fechou atrás deles com um estrondo metálico.

Silêncio.

A escuridão era absoluta.

-Estão bem? – perguntou Argol.

- Sim... E você? O que fez? Tinha uma granada? – perguntou Juli.

- Hmm... Mais ou menos, depois eu explico. – limitou-se Argol.

Os três vieram descendo a longa rampa até atingirem o plano. Tateando o espaço vazio o cavaleiro foi à frente, sempre dando cobertura às mulheres. Apenas o som dos passos era ouvido.

De súbito Argol parou e pediu silêncio.

- Uma de vocês gemeu? –perguntou ele.

- Não... – respondeu Juli.

Então um longo e gutural gemido ecoou por todo o local. E depois um outro parecido com o rosnar de um animal. E então o som de alguém rastejando. Vinha na direção dos três, avançando rápido. Impossível saber exatamente de onde vem. A escuridão era total e o som ecoava, parecendo vir de todas as partes.

Milena abraçou sua tia e começou a chorar. Argol pediu para que elas ficassem mais próximas dele, enquanto tentava aguçar seus sentidos ao máximo.

Então ao longe uma porta se abriu e revelou o brilho de duas lanternas sobre eles. O gemido e os passos pararam.

- Estão bem? – gritou uma voz.

- Venham para cá! Aqui é seguro! – disse outra voz.

Dois homens mostraram-se carregando metralhadoras com lanternas acopladas. Vieram de um outro cômodo iluminado além da porta que se abriu. Um deles entrou no pátio escuro do estacionamento e foi caminhando rente a uma parede.

- Deixe-me achar o painel de força... Vou ligar as luzes. – disse o que se afastou.

- Cuidado! Tem criaturas aqui dentro! – gritou Argol.

Assim que a luz se acendeu, iluminando o imenso estacionamento, o horror tomou conta de todos os presentes.

- Merda! – berrou o homem que fora acender a luz. Uma criatura o espreitava e assim que a luz se acendeu ela pulou sobre ele mordendo-lhe o braço.

Imediatamente o homem disparou a arma sobre o zumbi, abatendo-o.

O homem que ficou à porta mirava sua arma em todas as direções, não sabia onde atirar primeiro. Dezenas de criaturas surgiram do estacionamento, até então encobertas pela escuridão.

Vinham se arrastando, gemendo, como doentes agonizando momentos antes da morte. Mas jamais morriam. Vagavam de um lado para o outro, sem rumo, batiam-se umas contra as outras e voltavam a vagar arrastando os pés.

Um novo silêncio. Aparentemente as criaturas não perceberam a presença dos homens, de Argol ou das meninas. Cuidando para não fazer movimentos bruscos, o cavaleiro foi conduzindo Juli e sua sobrinha até a saída do pátio.

O homem fardado que fora mordido praguejou em grego, e o outro imediatamente pediu-lhe silêncio.

- Ah! Vou acabar com esses demônios! – e então ele engatilhou sua metralhadora e desatou a disparar para todos os lados.

- Não faça isso! – gritou o outro homem.

- Vamos, rápido! – ordenou Argol, correndo com Juli e Milena.

Os zumbis pareceram ficar nervosos. Seus gritos agora soaram como o de animais selvagens, e percebendo a presença dos vivos avançaram famintos.

- Merda... – disse o atirador.

- Eu falei Georgious! Venha!

Todos atravessaram até a sala adjacente ao estacionamento. Fecharam a porta à centímetros das bocas famintas dos zumbis. Um dos homens fardados passou a chave na porta e se afastou dela. As criaturas batiam com força do outro lado tentando arrombar.

- Acha que conseguem passar? – indagou Argol.

- Creio que não... – respondeu o homem ferido – É à prova de fogo. Acho consegue segura-los.

- E vocês, quem são? – indagou o outro.

Argol apresentou-se e às meninas, que assustadas cumprimentaram.

- Eu sou Niklos, – apresentou-se um jovem de cabelos castanhos bem cortado e rosto quadrado. – e aquele – apontou para o homem ferido, um pouco mais velho, com uma barba por fazer. – É Georgious.

Então uma voz gritou do alto de uma escada espiral de incêndio.

- Ei! Estão bem? – perguntou um homem ruivo.

- E aquele é Pavlos. Estava guardando a entrada para o mercado.

- Há mais refugiados aqui? – perguntou o cavaleiro.

- Sim, estamos desde cedo aqui. Temos bastante água e comida. Podemos ficar aqui por um bom tempo... Vamos lá para cima.

É claro que Argol não tinha a mínima pretensão de ficar ali por tanto tempo quanto o homem sugeriu ser possível. Queria o mais rápido possível se ver livre desta cidade infernal. Ainda tinha esperanças de poder acordar ferido em algum lugar. Ou ainda preferiria ter sido morto por Shiryu e gozar finalmente do paraíso...

Subiram a escada de incêndio e chegaram até o mercado. Cruzaram o longo espaço preenchido por estantes reviradas. O som ambiente ainda funcionava. Milena não resistiu e encheu os bolsos de seu casaco com biscoitos e Juli não teve coragem para reprimi-la, ao contrário valeu-se de uma garrafa de suco do freezer.

Longas portas de vidro transparente separavam o interior do mercado das ruas caóticas lá fora. Os zumbis andavam a esmo e vez ou outra batiam contra a porta de vidro. Quando Milena percebeu se assustou e correu para trás da tia, também assustada.

- Não se preocupem – explicou Georgious – São vidros blindados. O pessoal do Wal-Mart investiu em segurança...

Finalmente atravessaram o mercado, subiram mais um lance de escada para chegar ao segundo andar. Uma placa escrita em grego dizia: “Somente pessoal autorizado”

Havia um curto corredor forrado com carpete cinza e iluminado por lâmpadas frias. E diversas salas se abriam ao longo dele. Estavam nos escritórios administrativos do mercado.

- Ali montamos vigília – mostrou Niklos, apontando para uma sala em cuja janela havia um rifle montado. – Foi de lá que vi vocês.

Chegaram então à última sala do corredor. Uma ampla sala de reuniões, a qual foi transformada em acampamento improvisado.

Alguns colchonetes estavam estirados no chão e vários pacotes de alimentos e um galão de água retirados do mercado estavam sobre a mesa. Na sala estavam mais quatro pessoas. Um homem moreno, robusto fardado e portando armas pesadas. Sua farda era diferente da dos outros três homens, em seu braço estava um símbolo onde se lia S.T.A.R.S., e em seu peito um plaqueta com seu nome: Carlos Oliveira. Havia um último homem com farda, também da S.T.A.R.S., loiro, alto e igualmente robusto, seu nome também à vista: Adam Prescott. O último homem no quarto encontrava-se sentado, mais distante dos demais, vestia roupa social, agora desalinhada e amarrotada. Gravata frouxa, camisa aberta e para fora da calça, seus cabelos negros estavam despenteados. Tinha um rosto comprido e um olhar penetrante, agora perdido no vazio.

A quarta pessoa no quarto chamou atenção de Argol, lhe pareceu muito familiar. Uma bela mulher. De cabelos negros, curtos até o pescoço. Vestia uma blusa azul, sem mangas, sustentada apenas pelo busto e uma saia preta curta. Em cada um dos ombros havia um cover com uma pistola, e mais outra atada à perna. Ela foi a primeira a se aproximar do grupo, caminhando com um balanço de cintura naturalmente sensual.

- Estão feridos? – perguntou ela.

- Não... Estamos bem, se é pode-se dizer assim... – respondeu Argol.

- Eu e minha sobrinha estamos muito atordoadas com isso tudo... – disse Juli – Ela está em choque, acho...

- Tudo bem, estão seguros aqui. Fiquem à vontade. Comam algo e procurem descansar. Carlos, Adam ajude-as com o que precisarem.

Os rapazes assentiram. Argol buscou alguns biscoitos para comer. Logo depois chamou a morena, os gregos e o outro homem em uma sala ao lado.

- Muito bem, longe das meninas... Quem são vocês e o que está acontecendo aqui?

A morena suspirou fundo e olhou para os outros homens. Como nenhum deles fez menção de falar, ela começou.

- Eu sou Jill Valentine da polícia de Rancoon City, nos Estados Unidos.

- Estado Unidos! – exclamou o cavaleiro surpreso.

- Sim... Houve um incidente na base de pesquisas da Umbrella em Rancoon. Um vírus letal, o T-Virus foi libertado e o sistema de contenção do laboratório foi ativado, trancando todo o complexo. O grupo de mercenários da Umbrella nos Estados Unidos, o S.T.A.R.S, foi acionado e, inadvertidamente, invadiu o laboratório libertando o vírus. Bem... Tentamos conter a contaminação, mas foi em vão. A Umbrella decidiu por usar artefatos nucleares e varrer a cidade do mapa.

Argol espantou-se com a história.

- E é esse T-Virus que transforma as pessoas naquelas... coisas?

- Não... – respondeu o homem que até então permanecera calado.

Todos então voltaram os olhares para ele.

- E você, quem é? – indagou Argol.

- Ahn... Sou Izael, executivo da Umbrella aqui em Colosso. Assinei alguns documentos aprovando pesquisas com uma variação do T-Virus, o T-Medusa.

- Hmmm... – Fez Jill – Bem que suspeitei. Essas criaturas são diferentes. São rápidas, agressivas...

- Então você é o culpado disso tudo? – Argol avançou sobre o homem, mas Jill interpôs-se.

- Acalme-se! O incidente em Rancoon foi há trinta horas. Izael provavelmente sequer sabia do que o vírus é capaz. A liberação dele foi um acidente!

Jill nem desconfia de que o acidente é uma farsa, e agora Argol passou a acreditar nela.

- Mas como o vírus foi liberado? – voltou a questionar Argol – Não disseram que o sistema de segurança da base a tranca se o vírus for liberado? Vocês não cometeriam o mesmo erro de abri-la à força, certo?

Jill Valentine lançou um olhar gélido para os três gregos. Abaixaram o olhar, fugindo da acusação. Vencendo o constrangimento Niklos começa a falar.

- Quando ocorre um incidente como este a Rainha Vermelha, o cérebro eletrônico da base, envia um sinal de emergência às tropas de armadas da Umbrella. A Z.E.U.S., tropa aqui na Grécia, recebeu o chamado e veio imediatamente para Colosso.

- Exato! – exclamou Jill, passando a um tom de acusação – Nós também recebemos o sinal e voamos imediatamente para cá. Mas estes ignorantes não nos deram ouvidos e invadiram! Eis o resultado.

- Ei mocinha, – interveio Pavlos, o ruivo, aumentando o tom – Apenas seguíamos ordens do comandante!

- E onde está ele agora? – perguntou Argol.

- Morto, junto com o resto da equipe. A Z.E.U.S. era composta de oito homens. Restaram três!

- Também tivemos baixas! – protestou Jill – Quatro agentes da S.T.A.R.S. morreram na invasão.

E então se seguiu uma calorosa discussão entre Jill e os três agentes gregos. Argol tentava conter os ânimos, mas em vão.

Izael permanecia indiferente à discussão. Até notar algo que fez o sangue gelar-lhe. Sua face empalideceu-se e com passos lentos foi se afastando do grupo. Apontava para Georgious horrorizado e tentava balbuciar algo. Argol percebeu o horror nos olhos do homem e interrompeu a discussão para ouvi-lo.

- Ele... foi mordido... – balbuciava Izael.

Todos os olhares se voltam então à ferida no braço de Georgious.

- Isso? Nem está mais doendo – diz o grego com desdém.

Assim que constata o ferimento, Jill saca suas duas pistolas e as aponta para a cabeça do homem.

Pavlos e Niklos imediatamente erguem suas metralhadoras e apontam para Jill.

- O que pensa que está fazendo? – gritam os outros dois. Georgious permaneceu imóvel, com os braços levantados.

- Ei gracinha, devagar, foi só uma mordida...

Segundos depois surgem da outra sala Carlos e Adam apontando as metralhadoras para os gregos.

- Ei, o que está havendo aqui? – indaga Carlos.

Um círculo tenso se fechara. Jill apontava duas pistolas para a cabeça de Georgious. Pavlos e Niklos apontavam as armas para Jill, e eram alvos das armas de Carlos e Adam. Se um deles se descontrolasse e apertasse o gatilho, seria o fim de todos ali na sala.

- Ei! O que é isso? – gritou Argol, fazendo sua voz sobressair-se sobre as demais, e enfim conseguir atenção. – Jill, pode explicar o que houve?

- Não tenho tempo! Esse cara foi mordido! A qualquer momento ele vai virar um deles!

- Merda! Atira logo! – berrou Izael.

- Que conversa é essa? – indagou Pavlos – Desde quando você sabe como o vírus se transmite?

- Cacete! – berrou Jill – Minha cidade foi tomada por essas criaturas! Matei centenas delas! Se for mordido ou arranhado você vira um deles!

- É verdade? – perguntou Adam, que não presenciara o incidente em Rancoon.

- É claro que é! – berrou Carlos – Pavlos, Niklos abaixem as armas!

- E deixar um companheiro nosso morrer?

- Antes ele do que nós! Pelo amor de Deus! Aperta a porra do gatilho! – berrava desesperado Izael.

O clima de tensão tornou-se insuportável. A qualquer momento um desfecho se faria.

Jill engatilhou a pistola. Os gregos também o fizeram com suas armas, e em seguida os membros da S.T.A.R.S. também.

- Não faça besteiras... – disse Niklos – Vamos todos morrer aqui...

Pavlos então mirou sua arma bem na cabeça de Jill. Seria um tiro rápido e ela morreria na hora, Carlos e Adam não poderiam impedir. Então tudo estaria acabado. Seu dedo começou a pressionar o gatilho quando...

- O que ele tem! – exclamou Argol.

- Eu falei! Alguém acerta ele! – berrou Izael.

Georgious começa a demonstrar estranhos sintomas. Seu corpo começa a tremer compulsivamente e cai de joelhos no chão. Seus olhos se reviram nas órbitas e de sua boca começa a escorrer uma espuma vermelha de sangue. O homem estava morrendo. E quando isso acontecesse, ele voltaria.

Antes de qualquer um tirar alguma conclusão ouve-se uma saraivada de tiros. E então estalos de uma arma descarregada.

Jill descarregara os pentes de duas pistolas na cabeça de Georgious e continuava a apertar o gatilho compulsivamente com as mãos trêmulas.

Argol pousou suas mãos sobre as dela e levemente as baixou. A garota parecia em choque, olhava fixamente o corpo estirado no chão. Mesmo sob a mira de duas metralhadoras ela atirou. Preferia a morte à encarar uma criatura daquelas.

O cavaleiro envolveu-a em seus braços e foi levando-a para o outro cômodo.

- Ele estava morrendo... Logo voltaria... – tentou se justificar.

- Sim... Você fez certo. Se não atirasse ele mataria todos nós.

O cavaleiro a conduziu para o outro aposento. Carlos logo se retirou. Adam, Pavlos e Niklos ficaram pasmos, ainda incrédulos que viram um deles começar a se tornar um zumbi e ser executado friamente. Foi então que perceberam como as coisas funcionariam. Em uma batalha não se admitiria ameaças.

Izael ficou vomitando em um canto.

 

A noite já avançava. Todos ali estavam muito cansados, para nenhum deles o dia havia sido fácil. Todos comeram e se preparam para deitar.

- Sugiro que os homens façam a ronda. – disse Argol com certo tom militar na voz, quando todos estavam reunidos – Enquanto três rondam os outros três dormem. Como Izael não tem experiência com armas fará a ronda com Pavlos e Niklos, que já sabem atirar. Eu, Adam e Carlos seremos a outra equipe. Vamos alternar a ronda de três em três horas até o amanhecer. Objeções?

- Ei! – protestou Jill – Eu aposto que sei atirar melhor que esse cara – referiu-se a Izael – Por que não faço a ronda?

- Por que não é coisa para mulher. – respondeu Argol secamente.

Jill inflamou-se de raiva.

- Ronda exige um preparo físico masculino. Pode precisar correr, lutar. Homens fazem isso melhor que mulheres. Você será mais útil aqui em cima cuidando de Juli e Milena. Use sua habilidade de tiro se alguma daquelas criaturas subir aqui.

- Sou perfeitamente capaz de correr ou lutar como vocês!

- Ei Jill! – disse Carlos – Ele tem razão. Lembra-se da academia? Homens têm prioridade para ronda e mulheres para a vigília.

- Me parece machismo! – reclamou ela.

- Não – respondeu Argol – É tática de guerrilha.

Ela sabia que o cavaleiro estava certo. Mas não admitiu isso, ainda que a determinação e ímpeto de liderança dele lhe chamassem a atenção. Então aceitou a estratégia.

Decidiu-se que Niklos, Pavlos e Izael fariam o primeiro turno. Os homens buscaram alguns colchões na loja nos quais os demais se acomodaram para dormir. Juli e sua sobrinha dividiriam um colchão de casal, os outros se arrumariam com colchões de solteiro. Argol pusera o dele sobre a grande janela de vidro e debruçado sobre ela olhava o céu. As nuvens começavam a se dissipar revelando as estrelas.

- Gosta de estrelas? – disse Jill, aproximando-se.

- Sim... – respondeu ele – Elas me protegem...

- Também gosto de olhar o céu. As estrelas parecem me dar forças...

Argol sorriu para ela.

- Não só parecem... Você não faz idéia da força que podemos tirar delas...

Os dois trocaram sorrisos e olharam-se profundamente por alguns instantes. Então Jill deixou escapar um bocejo. O cavaleiro riu da forma inusitada como o clima fora quebrado.

- E ainda queria fazer ronda... Mas é uma teimosa mesmo... – disse ele achando graça.

- É... Estou mesmo cansada. Há dois ou três dias que não durmo. O incidente em Rancoon, a viagem para cá e tudo mais...

- Pois então... Descanse.

A moça concordou. Puxou seu colchão para perto da janela também, deitou-se e cobriu-se com um lençol.

Argol ficou olhando-a serenamente enquanto dormia. Já presenciara a bravura e sabia o quão destemida aquela mulher era. Mas agora, adormecida, parecia tão delicada quanto se espera de uma bela mulher.

- Argol... – disse ela.

O cavaleiro rapidamente desviou seu olhar para a janela e corou-se. Achou que Jill já tivesse dormido.

- Sim? – disse ele envergonhado.

- Prometa que se eu for mordida por uma daquelas coisas... – suspirou – Prometa que vai acabar comigo antes que eu me torne um deles...?

- É claro que não! – disse ele secamente – Não vou deixar que eles cheguem perto de você...

- Mas e se...

- Shiiu... Não se preocupe com nada. Vou proteger você. Confie em mim...

Satisfeita, Jill fechou novamente os olhos e adormeceu.

Ainda contemplando o céu sentiu-se aliviado por ter finalmente encontrado um abrigo seguro. Agora teria que arrumar um meio de tirar essas pessoas da ilha, de levá-los a um lugar a salvo. Mais cedo ou mais tarde teriam de deixar o mercado, não poderiam ficar indefinidamente ali.

Queria sentir a brisa da noite, mas se abrir a janela só sentiria o cheiro de carne podre. Baixou o olhar e viu com asco as criaturas medonhas devorando-se umas as outras. Tudo o que queria era se manter longe delas.

Enquanto sua cabeça se enchia de indagações acerca do que ocorrera de fato na base da Umbrella, o cavaleiro lembrava-se da frase que viu pichada no muro. Aquela lhe parecia ser a melhor e mais horrenda explicação para tudo.

“Quando não houver mais espaço no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra...”


Capítulo 4

Capítulo 2

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