O Hóspede Maldito Medusa

Capítulo 2 - Sacrifício


Ainda estava atônito, horrorizado com a cena diante dele. Como se já não bastasse tudo estar de pernas para o ar agora isso. Fora atacado por um homem que parecia que já estava morto. Faltava-lhe um pedaço da garganta e mesmo assim ele avançava como uma besta selvagem. Seu murro inflamado de cosmo atirou o homem dez metros para trás e incinerou seu corpo. Mas mesmo assim o homem, ou seja lá o que aquilo fosse, ainda insistia em se levantar.

Argol não ficou para ver. Saiu correndo.

Contornou a praça e entrou em uma rua estreita entre os pequenos prédios. Enquanto corria seus pensamentos se perdiam em infinitas conjecturas. Tudo que queria era acordar desse pesadelo. Mas tudo que conseguiu foi despertar de seus pensamentos, quando ouviu uma buzina de um carro. Virou-se e viu que um pequeno Volks vinha desgovernado pela rua, cantando pneus bateu no meio fio e de repente avançou contra Argol.

O cavaleiro saltou uns cinco metros por cima do carro, que avançou e enfim parou quando encontrou um poste. Quando aterrissou, pensou em correr, temendo encontrar outra criatura selvagem. Mas não correu. A porta do carro se abriu e dele saiu um homem cambaleante. Caiu no chão a alguns metros de Argol, que permaneceu em guarda até ouvir sua voz lamentosa:

- Ajude... – suplicou o homem. – Minha vizinha e a garotinha... Estão no carro.

O cavaleiro imediatamente correu até o carro. Havia dois corpos no banco de trás, estavam inconscientes. O carro se incendiou e o fogo avançava rápido.

Em um golpe rápido o cavaleiro arranca o vidro de trás. Com agilidade pega os dois corpos e se afasta do veículo. Coloca as duas na calçada oposta enquanto o carro se consome pelo fogo. Depois de se certificar que a mulher e a garota estavam respirando e com pulso, Argol foi até o homem que dirigia.

- Ei... O senhor está bem...?

Mas era tarde. Argol conferiu sua pulsação e respiração. O homem morrera.

Era um homem de meia idade, calvo e robusto. Seu corpo estava cheio de arranhões. E uma ferida enorme no braço.

- Mas o que é isso? – Argol olhou com curiosidade para o ferimento – Parece uma... mordida?

O cavaleiro interrompeu-se quando ouviu a mulher tossir. Correu para acudi-la.

- Senhora, está bem? – perguntou o cavaleiro.

A mulher parecia apavorada. Olhou aflita para os lados procurando a menina. Assim que a viu pegou-a no colo.

- Milena! – gritou ela – Acorde! Milena!

- Acalme-se senhora. A garota está bem!

Lentamente a menina, de cerca de 13 anos abriu os olhos, parecendo deslocada.

- Ai... O que houve? – indagou a garota.

- Ah! Graças a Deus! – exclamou a mulher abraçando-a.

A mulher enfim se acalmava. Ela vestia uma blusa bege com calça e sapatos brancos. A princípio Argol a tomou por médica, mas o jaleco que ela vestia não trazia nenhum símbolo da medicina ou de hospital. Havia apenas em seu ombro um pequeno símbolo circular, dividido em segmentos coloridos alternadamente em branco e vermelho. Parecia-se muito com um guarda-chuva visto de cima. A mulher tinha cabelos ruivos, até o pescoço, seu rosto de traços simples, apesar do semblante desesperado, exibia uma beleza notável.

A garota guardava semelhanças com a mulher. Talvez fosse filha dela. Tinhas cabelos longos e castanhos, a pele bem branca, rosada nas maçãs.

- E Jeróme? – perguntou a mulher para Argol, se referindo ao homem que dirigia.

- Ele... Morreu... – lamentou o cavaleiro.

Os olhos da menina se encheram de lágrimas.

- Tia... quero ir embora...

- Calma querida... Vamos achar um lugar... – ela voltou-se pra o cavaleiro – O senhor poderia nos ajudar? Tem algum esconderijo? Poderia nos abrigar?

Argol balançou a cabeça confuso.

- Ei... Espere aí! Eu não sei nem o que está acontecendo! O que eram aquelas coisas?

A mulher virou-lhe um olhar admirado.

- Onde o senhor esteve nos últimos três dias?

- Dormindo numa cama de hospital. Não sei nem onde estou.

A mulher retraiu-se e se desculpou. Levantou-se envolveu a menina nos braços enquanto voltou a conversar com o homem.

- Olhe, estamos em Colosso. Uma ilha grega... Não sei bem o que houve. Sei que estava chegando em casa do trabalho, hoje cedo, exausta caí na cama e dormi uma ou duas horas até meu irmão deixar a filha dele lá em casa para eu cuidá-la. Bem, nós almoçamos e então aquelas... Coisas, não sei o que são, começaram a nos atacar. Jeróme estava de carro e nos ajudou, mas ele foi atacado e...

Argol fez sinal para a mulher parar e a interrompeu.

- Como é que é? Está se referindo àquelas pessoas que parecem mortas... ou sei lá? Tem mais daqueles?

- Está brincando? – respondeu ela admirada – A cidade está infestada deles.

Argol suspirou ao ouvir a mulher. Suas palavras soaram como golpes fulminantes. Seria aterrador ter que encontrar mais daquelas criaturas medonhas. Pousou a mão sobre o rosto desejando acordar de uma vez por todas deste pesadelo horrível. Mas não seria possível. O grito agudo da garota despertou o cavaleiro de seus devaneios. A mulher parecia horrorizada e escondia a garota atrás de si, protegendo-a com o próprio corpo enquanto apontava para algo atrás de Argol.

O cavaleiro poderia imaginar do que se tratava. Imediatamente veio-lhe à cabeça a manchete do jornal: “Os mortos não morrem”

- Mas que merda...

Ele não estava errado. O homem que dirigia o carro, que Argol vira falecer, agora estava de pé. Tal qual o outro senhor, ele parecia uma besta selvagem, rosnando e gemendo. E então mostrando os dentes e com os dedos arqueados como garras avançou para cima do grupo.

A mulher e sua sobrinha gritaram apavoradas.

Argol correu na direção oposta. Frente à criatura, suspendeu-se no ar e disparou um poderoso chute no peito dela, arremessando-a metros adiante. O corpo atingiu e varou uma parede, indo parar dentro do estabelecimento adiante.

- Vamos embora! – gritou Argol puxando as duas.

Os três desceram a rua correndo. Sabiam que não estavam livres do zumbi. Ouviram-no gemer, mesmo depois de ter sido arremessado com tanta força que derrubou uma parede de tijolos.

Correram pela estreita rua até alcançarem uma larga avenida. O sol ia se pondo e nem as estrelas nem a lua apareciam, denunciando a noite escura que viria.

Pararam no meio da avenida. A mulher e a garota ofegantes. Argol sequer transpirava.

- Hmmm... Precisamos de abrigo... – Conjeturou o cavaleiro – Conhece um lugar seguro?

A mulher fez sinal pedindo uma pausa para respirar. Ofegante ela disse.

- Calma aí! Espere um pouco... Como é seu nome?

- Ra´s Al Ghul.

A mulher fez uma expressão de quem não compreendera. Algo que o cavaleiro já se acostumou a ver no rosto das pessoas quando se apresenta.

- Me chame de Argol...

- Ah sim... Eu sou Juliane, pode me chamar de Juli. E esta é minha sobrinha Milena.

A garota exibiu um sorriso tímido e assustado, cumprimentando-o.

- Encantado... Vocês são daqui? – perguntou ele. Juli respondeu que sim – Sabe onde podemos encontrar abrigo?

- Olhe, podemos ir até... – Mas ela foi bruscamente interrompida por Argol.

- Silêncio! Ouviram isso?

Juli e Milena aguçaram os ouvidos, mas não escutaram nada.

- Ah! O que é aquilo? – gritou Milena apontando ao longo da avenida.

Despontando do horizonte vinha crescendo uma nuvem negra. Avançava rápido para cima dos três e gradativamente se revelava não uma única massa, mas sim milhares de pequenos corpos.

- São ratos...

Dezenas de milhares de ratos corriam pela avenida, formando um verdadeiro tapete negro de roedores. E vinham para cima deles.

A garota começou a gritar e pisotear os animais quando passaram por eles, Juli também se assustou, mas tentou manter a calma.

- Acalmem-se – disse Argol – Eles não vão nos atacar! Estão passando direto pela gente, vêem?

Era verdade. Os ratos passaram direto por eles, até mesmo tentavam se desviar dos pés.

- Que estranho isso... Para onde será que estão indo? – comentou Juli.

- Muito estranho... – ponderou Argol – Parece que eles estão... – e então o cavaleiro se interrompeu atônito, algo terrível acabara de lhe ocorrer – Acho... Acho melhor sairmos daqui.

- O que foi?

- Droga... Corram! Agora! – berrou Argol.

O cavaleiro viu surgir ao longe, logo atrás dos ratos, algo que as duas não viram. Imediatamente ele pegou a jovem Milena nos braços e a pôs no ombro, puxando as mãos de Juli começou a correr na mesma direção dos ratos assustados.

- Vamos!

Foi então que a cientista percebera. Os ratos não estavam correndo atrás de algo, mas sim de algo. Eles estavam fugindo...

- Ah Meu Deus! Eles estão vindo! – berrou Milena que enfim viu do que os ratos fugiam.

Centenas de zumbis corriam feito animais atrás dos ratos. Pulavam uns sobre os outros para tentar agarrar os pequenos roedores, e quando conseguiam destroçavam os animais na hora. Eles estavam atrás de comida, e os três sobreviventes seriam um prato cheio.

Argol e Juli corriam desesperados. Mas as criaturas eram mais rápidas, e cada vez mais a distância entre eles diminuía.

O cavaleiro queria poder disparar à velocidade do som, mas para isso teria que largar a mulher e sua sobrinha para trás. Apesar de ter cogitado a idéia, jamais se permitiria fazer isso. Foi então que a mulher ficou para trás. Ela tropeçara em algo e ficara caída no chão. Imediatamente ele pôs a garota no chão e foi ajudar a mulher.

- O que houve? Levante-se! Eles estão vindo!

- Não posso! Torci o tornozelo! – lamentava-se ela derramando-se em choro – Vá! Continue e proteja Milena.

Não havia tempo para discussões e conversas de motivação. Era preciso agir imediatamente. Olhou adiante e viu uma garota chorando em meio a um mar de ratos, prestes a ser alcançada por uma horda de criaturas canibais. Ela, sem dúvida, precisava de ajuda. À sua frente uma mulher desesperada pedia que seguisse em frente e ajudasse a garota. A mulher não podia mais correr, e se fosse carregada no colo atrasaria a todos.

Inúmeras vezes ele se viu frente a este dilema. Já deixou companheiros feridos para trás. Se fosse carregado colocaria em risco a sobrevivência dos demais, então a única solução é deixar o peso morto para trás. Doía muito em quem abandonava, mas aquele que ficava para trás sabia desde o princípio que corria esse risco. Por que era um cavaleiro...

E aquela mulher? Ela não é uma amazona, não sabe como se defender, não é justo que ela fique para trás. A segurança dela devia ser colocada em primeiro lugar. Afinal, o grande dever de um cavaleiro é proteger os humanos.

- Levante-se de uma vez! – Argol pegou Juli no colo e a levou para perto de sua sobrinha.

- Ei garota, vai ter que ser forte agora! Ajude sua tia a correr. Preciso que saiam daqui. Vão para o mais longe que conseguirem, entendeu? Tentarei fazer alguma coisa...

A garota, com os olhos cheios de lágrimas, afirmou com a cabeça, e segurando o braço da tia começou a levá-la adiante.

- Não! – protestou Juli – Não pode fazer isso!

Argol afastava-se, indo em direção à horda de zumbis. Armara-se com um pedaço de ferro que encontrou na rua. No rosto um sorriso típico dos que riam na cara do perigo. Na mão a firmeza de quem segura uma espada. E na mente uma vontade louca de acabar com aqueles demônios.

Para as súplicas de Juli, Argol apenas respondeu:

- Não se preocupe, é meu trabalho proteger vocês... Sigam em frente e não olhem para trás...

E as duas seguiram, em meio a ratos, adiante pela avenida. Os postes começavam a se acender iluminando fracamente a escura noite que caía.

E Argol enfrentou, quase como um suicida, as centenas de criaturas. Armado apenas com uma barra de ferro, empunhada como uma poderosa clava.

Não é à toa que lhe chamam de Ra´s Al Ghul. Em árabe, Cabeça do Demônio.


Capítulo 3

Capítulo 1

Index

Hosted by www.Geocities.ws

1