- Argh! Isso dói! – exclamou Argand
- Dá pra ficar quieto? Preciso limpar esse ferimento. – pediu Juliane.
A bala que havia ricochetado na porta do laboratório atingira Argand na altura da orelha, pegando de raspão na cabeça. Juliane fez um curativo no cientista, deixando-o com ataduras brancas enroladas na cabeça.
- Pronto!
Então um ruído pesado causou um baque nas estruturas do laboratório.
- O que foi isso? – indagaram alguns.
Argand sabia. Engoliu em seco e ficou em silêncio. Longe dali, porém no mesmo andar, Argol levantava-se de alguns escombros. Cuspia sangue.
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A Medusa arremessara o cavaleiro contra uma parede de concreto, derrubando-a. Com dificuldade o cavaleiro levantou-se novamente, ainda que cuspindo sangue, mostrava-se forte. Com um movimento brusco arrumou seu ombro esquerdo, deslocado no choque com a parede.
O experimento avançava com passos cautelosos, as garras apontando para frente, parecia tatear no escuro. A postura sempre envergada.
Argol chutou um enorme pedaço de concreto para cima de Medusa, que num ato reflexo imediato o dilacerou com as garras. E na fração de segundo em que ela fazia isso, o cavaleiro rolou por debaixo de suas pernas. Pulou em suas costas e com dois movimentos montou no lombo largo de Medusa. Apertou com toda força as pernas em torno do pescoço dela. Com uma das mãos segurou-se nas dobras da pele na face, e com a outra socava a cabeça da criatura.
Medusa começou a ficar atordoada. Movia de forma frenética e selvagem, como um touro irritado. Rosnava e buscava com a cabeça o cavaleiro, na intenção de arrancá-lo das costas com os dentes.
E então seu rabo começou um movimento ondulatório. E, sibilando no ar, atingiu as costas do cavaleiro como um rígido chicote. Um enorme vergão ficara marcado nas suas costas, e ainda que a dor fosse quase insuportável, manteve-se firme golpeando a cabeça de Medusa.
A besta começa a se agoniar. Por mais que tentasse, não se livrava do incômodo cavaleiro. Chicoteou-o com a cauda mais algumas vezes, em vão. Optou então por um outro golpe.
Com cauda pegara uma viga de metal dos escombros, e usou-a como bastão. Atingiu o dorso do cavaleiro lateralmente arremessando Argol há vários metros, até arrebentar-se contra uma parede.
Caiu no chão atordoado.
Mostrando um pouco tonto, levantou-se. A visão ainda estava turva, mas pôde ver a criatura avançando mais uma vez com ferocidade.
O cavaleiro relutou por um instante. Mas acabou por decidir usar uma perigosa estratégia. Não havia alternativa.
Seu corpo começou a ser envolvido por uma aura arroxeada, que rapidamente se intensificou, tomando conta de sua silhueta.
Com um salto o corpo do cavaleiro ergueu-se no ar, inflamado pelo cosmo.
- Aaaah! Demônio Górgone!!
Como um cometa desceu com fúria e velocidade contra a Medusa. O pé esticado, pronto para acertar o mais poderoso chute contra a criatura.
Com um estrondo enorme acertou o golpe na cabeça da Medusa. O monstro veio ao chão e Argol, sem interromper o trajeto, continuou com o impacto.
Monstro e cavaleiro atravessaram o piso e caíram os dois para o andar de baixo. E todo o chão do salão em que estavam no andar de cima caiu sobre eles.
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No laboratório Argand misturava dois reagentes dentro de uma capela fechada, manipulando-os com garras robóticas. Então veio um tremor ainda maior que o primeiro. O cientista perdeu o domínio e por pouco não derruba os frascos.
- Merda! – exclamou ele afastando-se da capela – Se eu perder estes reagentes já era!
Andou um pouco pelo laboratório respirando fundo, tentando se acalmar. Os demais estavam esperando em uma sala adjacente. Concordaram em deixar Argand trabalhar sozinho.
O nervosismo do cientista era justificável. Não encontrara o laboratório do jeito que esperava. A água que inundara o lugar estragou muitos reagentes, e as máquinas estavam com defeitos. Estava tendo que improvisar muito, e temia não conseguir produzir as três doses do antídoto.
Aguardou alguns minutos, até achar que não ocorreriam novos tremores. E então limpou o suor e voltou ao trabalho.
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Um enorme buraco foi aberto e toneladas de concreto vieram abaixo junto com Argol e a Medusa. Fios soltos faiscavam pendurados no alto, encanamentos rompidos soltavam água e gás. E em meio a este ambiente destruído Argol levantava-se com mais dificuldades ainda. A densa poeira só piorava sua visão enturvescida.
Percebera que de um de seus olhos fora cortado e estava sangrando, por isso não estava enxergando bem. Palpou o dorso e sentiu duas costelas quebradas. Ao respirar fundo sentia um calor no peito e tossia sangue. Podia ter perfurado os pulmões. Com um movimento firme recolocara no lugar a rótula de seu joelho esquerdo, e três dedos da mão direita.
Procurava aflito nos escombros por sinais da Medusa. Nada. O mostro parecia ter sido soterrado.
Parou um instante aliviado. Abaixou-se um pouco, pousando as mãos nos joelhos. Respirou fundo uma vez. E então o susto.
Revolvendo os escombros a criatura surgiu aos urros. Com um único movimento agarrou o cavaleiro pela cintura, ergueu-o no ar e arremessou seu corpo com toda força para frente.
Sem tempo para reagir, Argol foi pego de surpresa e voou por cima dos escombros. Atingiu a porta metálica de um dos elevadores. Arrebentando-a caiu para dentro do fosso e desapareceu na escuridão.
Medusa farejou no ar procurando por sua presa.
Foi mancando em direção ao elevador que o cavaleiro havia caído. Na cabeça um enorme buraco na escama metálica deixa exposta um pedaço de carne viva. Do ferimento um sangue acobreado escorria por todo o corpo.
Com passos cautelosos, sempre tateando à frente, ela aproximou-se do fosso do elevador. Pôs a cabeça para dentro, farejando.
De súbito um enorme laço de cabo de aço subiu e caiu sobre seu pescoço. A criatura recuou imediatamente, e com esse movimento apertou o laço. Um puxão firme trouxe-a para frente, que não conseguiu se equilibrar na beirada e caiu fosso abaixo.
Instantes depois duas mãos se agarraram na beirada. E Argol voltou ao piso.
Olhou as mãos queimadas do cabo de aço. Respirou fundo e foi direção à escada que levaria ao andar superior.
Precisava saber se os outros estavam bem.
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Quebrando a tensão de todos que esperavam na sala adjacente ao laboratório, Argand surgiu. Os olhares cheios de expectativas por boas notícias se voltaram para a face amarrada de Argand.
- Juliane. Venha aqui, por favor.
A cientista levantou-se. E os dois atravessaram a porta para o laboratório. Os demais voltaram a esperar na sala.
Argand e Juli sentaram-se em torno de uma bancada. Sobre ela havia uma seringa cheia. Porém, apenas uma.
- O que houve Argand? – indagou a mulher.
- Serei direto Juliane. O espectrômetro de massa queimou antes que eu pudesse preparar todas as doses. Assim não posso separar a porção tóxica do meu extrato bruto de proteínas. Além do que, os reagentes estão todos comprometidos.
- Meu Deus... Só conseguiu produzir uma dose?
- Não... Produzi duas doses. Uma delas eu apliquei em mim.
- ...
- A outra está nesta seringa. Ou aplica em você, ou na sua sobrinha.
Palavras do Autor "Muita pancada e mais uma do Argand. Não o odeiem! u.ú O que fariam no lugar dele? Aposto que o mesmo! xD Comentem! Abraços!" Pinguim.Aquariano