O Hóspede Maldito Medusa

Capítulo 14 - A Medusa


Não foi exatamente um plano bem elaborado o que se seguiu no andar 65 da Colméia.

Neste andar estava o laboratório onde poderiam buscar o antídoto para Juliane, Milena e Argand. A idéia é que eles seguissem acompanhados dos demais pelos corredores até o laboratório. Apenas Argol se separaria do grupo, seguindo um caminho oposto para encontrar e neutralizar o experimento M3D-U54, o tyrant que estava solto à caça dos sobreviventes. Este era o plano do cavaleiro. E por falta de opções melhores o que seria colocado em prática.

E então se seguiu a correria. Argol seguiu para leste. Os demais para noroeste. A separação se deu assim que saíram do elevador. Algumas criaturas estavam no saguão de recepção do andar e avançaram ferozmente contra o grupo. E graças aos reflexos rápidos de Jill e Argol foram abatidas.

Os tiros chamaram atenção de mais criaturas. Às dezenas elas surgiram de todos os corredores. Algumas mancando, outras se arrastando. Mas todas mutiladas, com as carnes em decomposição e rosnando como animais.

Ouviram-se gritos de medo e desespero. E então muitos tiros. Atiravam com fúria contra tudo que se movesse. Apenas Milena não participava da chacina, agarrada às costas de Carlos, apertava os olhos com força.

Com pesar Argol deixou os outros partirem.

Os tiros e gritos ficaram a ecoar pelo corredor.

Havia um forte instinto de proteção do cavaleiro para com os demais. Ele sentia-se na obrigação de estar à frente do grupo, abrindo caminho, abatendo as criaturas e permitindo que os demais pudessem chegar em segurança ao destino. Queria carregar todos, nas costas se necessário, e tirá-los dali. E a incapacidade frente à situação o atormentava. A ponto de pensar em voltar a cada grito que ouvia do outro corredor. Mas não podia, tinha agora um desafio maior: impedir que a criatura M3D-U54 alcançasse os demais. E devia então confiar a Jill que conduzisse os demais com segurança.

De fato, depositara sua confiança na jovem e bela policial. Ela tinha capacidade, e Argol sabia disso. Tendo a consciência de estariam seguros com ela, resolveu definitivamente seguir adiante.

Respirou fundo. Engatilhou suas armas. Mirou com ferocidade seus alvos e disparou contra as criaturas. Como um guerreiro bárbaro munido de metralhadoras automáticas, avançava contra um exército de mortos e abatia-os um a um. Com enormes descargas de adrenalina, a eletricidade corria pelo seu corpo fazendo sentir na cabeça guitarras distorcidas a todo volume de heavy metal.

Xx

- Não atirem na porta de vidro! – alertara Argand diversas vezes enquanto corriam. Já avistavam, ao final de um corredor, o laboratório.

Mas o aviso foi em vão. Tomado pela tensão da situação Niklos sequer ouviu o cientista. E disparou contra a enorme porta de vidro, na intenção de quebrá-la. Mas não foi o que aconteceu.

As balas ricochetearam na porta, depois na parede metálica e voltaram para o grupo.

- Argh! Merda! – gritou Argand, caindo ao chão.

O cientista levou a mão à cabeça, que sangrava muito. Jill, que vinha logo atrás dele, rapidamente ajudou-o a levantar e a continuar na corrida.

O pequeno atraso deu alguma vantagem às criaturas, que avançavam rapidamente. Jill e Argand ficaram para trás, enquanto os outros ganharam distância. Até que Juliane se deu conta e voltou para ajudá-los.

- Não volte! Corra! E se joguem no chão! – berrou Jill.

A policial puxou uma granada de seu cinto, arrancou o pino e a lançou. Imediatamente jogou-se ao chão e puxou Argand consigo.

A explosão fez tremer toda a estrutura. Pedaços dos mortos se espalharam em toda extensão do corredor e um cheiro de carne queimada invadiu as narinas de todos.

- Estão bem? – perguntou Jill levantando-se.

O corredor agora estava vazio. Ao menos por enquanto.

Argand foi ajudado por Jill, segurando o ferimento em sua cabeça que sangrava bastante.

Com um pouco mais de calma chegaram à porta do laboratório. Argand programou a abertura da porta, e todos se afastaram. Centenas de litro de água saíram do laboratório que havia sido inundado quando a Colméia foi isolada. E junto com a água dois corpos. Um homem e uma mulher.

Com a pele toda arroxeada e enrugada os dois levantaram-se e avançaram para cima do grupo. Argand sacou sua pistola e abateu os dois com um tiro na testa de cada um.

Os outros olharam assustados com a ferocidade do cientista ao atirar, que sem se dar por contente, aproximou-se do corpo do homem e descarregou a arma em seu peito.

- O vírus era meu, Edward! – gritou para o cadáver.

Em seguida voltou-se para o grupo.

- Vamos logo! Tenho um antídoto a fazer!

E entraram para o laboratório, trancando-se lá dentro.

Xx

Argol seguia como se tomado por um espírito de guerra. Sem pensar muito avançava contra as criaturas de forma tão selvagem quanto elas próprias. As metralhadoras pendiam de sua cintura, pois a munição era limitada, e agora derrubava as criaturas com seus próprios punhos.

Seguiu com a carnificina corredores adentro. Perdera a noção do espaço e a esta altura já não sabia exatamente onde estava. E então interrompeu seu caminho.

Parou ofegando em um corredor vazio. Seu coberto de sangue e suor. Olhou a redor. Não havia mais criaturas. Caminhou lenta e cautelosamente.

Seguiu-se um baque metálico vindo detrás das paredes.

A atenção do cavaleiro se redobrara. Sabia que estava próximo do experimento. E ele era o responsável por não haver mais zumbis naquela área.

Um novo baque fez reverberar uma porta metálica em especial. Uma porta pesada com maçaneta horizontal em barra. Sobre ela uma placa que dizia: “Pátio de compressores de gás”.

Empurrou a barra e abriu a porta. Seguiu-se uma longa escada em espiral. Cercada por paredes amareladas e iluminadas por lâmpadas frias. Nas paredes avisos de acesso restrito.

A escada terminou em outra porta semelhante à primeira. O cavaleiro atravessou-a também.

Surgiu à sua frente um enorme pátio. O teto parecia ser mais alto, proposital para abrigar as dezenas de enormes cilindros espalhados pelo pátio. Estes cilindros agrupavam-se em grupos de cinco, tinham cada um pelo menos quatro metros de diâmetro por dez de altura. Todos tinham vários cabos e tubos, alguns deles, soltos, deixando vazar gases.

Do teto desciam, presas a correntes, compridas luminárias, cada uma com duas lâmpadas frias. Algumas falhavam, outras balançavam, deixando o local com uma iluminação sombria.

Ao longe o cavaleiro ouviu ruídos e o som de algo revirando metais. Sacou as armas e as engatilhou. Apontava para um grupo de cilindros mais à frente, de onde vinham os ruídos.

Um dos cilindros do grupo balançou para os lados, e veio ao chão. Provocando um ensurdecedor estrondo. Do cilindro começou a vazar gás com um chiado, logo subiu uma nuvem de fumaça branca, atrapalhando a visão.

- Mas o que...

Sob a luz pálida do local uma enorme sombra surgiu da neblina. Assustado o cavaleiro apontou as armas e começou a andar para trás.

Com enorme rugido o experimento dissipou a fumaça e mostrou sua forma monstruosa.

Tinha certos mais de três metros de altura, mantendo a postura encurvada. Bípede,os braços grossos encolhidos na altura do peito. À luz seu musculoso corpo refletia um tom metálico. Nas costas a coluna vertebral quase exposta descia até o lombo, dando origem à uma cauda afilada.

As pernas eram longas e grossas, sempre semiflexionadas, como em posição de ataque. Nos pés garras metalizadas arranhavam o chão de concreto do pátio. As mãos também possuíam garras, como as dos pés. Os braços seguiam musculosos e encolhidos, ainda que as garras apontadas para o cavaleiro.

A cabeça não era grande em relação ao corpo. Apenas a mandíbula fugia da proporção, sendo muito larga e proeminente. Não tinha lábios, os enormes e brancos dentes expostos. Eram todos pontiagudos e espalhados pela boca em várias fileiras sem uniformidade, como a dentição de um tubarão. Acima da boca haviam dois pequenos orifícios exalando vapor quente e úmido, as narinas. E acima delas e até a metade do crânio, a pele se acumulava em várias dobras e pregas. Não havia olhos.

O experimento M3D-U54, conhecido – talvez por ironia do destino – como Medusa, rosnava a avançava em direção ao cavaleiro. Sempre fungando, com a cabeça virando para um lado e para outro, como que curiosa, à busca da presa.

Argol recuava passo a passo. Armas em riste. Um rosnado.

Um cartucho inteiro descarregado sobre o monstro.

Em vão

As balas ricochetearam para todos os lados, produzindo faíscas na pele metálica, e acertaram apenas os cilindros e várias lâmpadas.

O lugar mal iluminado ficara ainda mais sombrio. Sob a luz fraca a Medusa rosnava com braveza. Estava prestes a avançar.

Não havia alternativa para o cavaleiro.

Argol abandonara as armas. Abriu a camisa até o último botão. Rasgou uma tira e prendeu os cabelos em um coque no alto da cabeça. Arregaçou as mangas. Estralou os dedos. Afastou as pernas. Ergueu os punhos cerrados na altura no peito. E como uma fera selvagem, tal qual seu oponente fazia, rosnou com fúria.

E de peito aberto avançou contra o tyrant Medusa.


Palavras do Autor: "Opa! Acho que este foi o capítulo mais intenso e rápido. Muita correria e tiro, sem tempo para respirar... o.O gostaram? Daqui até o final vai ser mais ou menos nesse estilo. espero que gostem! Comentem!

Abraços!"Pinguim.Aquariano

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