O Hóspede Maldito: Medusa

Capítulo 13 - O Experimento M3D - U54


Argol começava a perder a paciência. E esta nunca foi uma virtude do cavaleiro. Tratava-se de um homem enérgico, que busca sempre soluções rápidas e eficientes. E a cada instante parecia que o destino brincava com ele, impondo condições cada vez mais adversas, como se quisesse testar sua capacidade de resolver problemas e cumprir seu dever primordial: salvar as pessoas.

Porém, quando seu plano começava a funcionar surgia uma nova adversidade. E toda estratégia tinha de ser remodelada. E agora, frente à palidez de Argand, a pior das adversidades se mostrara.

- O que foi agora? – indagou Argol agarrando o cientista pelo colarinho.

- Já era... Não há mais escapatória! – balbuciou ele.

- Sempre há uma chance! Esperança é uma virtude dos verdadeiros homens... Agora explique o que aconteceu!

Argand soltou-se das mãos de Argol e suspirou fundo. Alisou seus cabelos e tomou um novo fôlego. Então se dirigiu à Rainha.

- Rainha, o experimento M3D está solto?

Correto, Dr. Argand.”

- A liberação do biotério U-54 foi acidental?

Errado. Liberação intencional.”

Foi então que o homem até então passivo e sereno explodiu em raiva. Levou alguns segundos para processar a informação, chegou a pensar que o computador estivesse errado, mas isso seria menos provável ainda. Seu rosto avermelhou-se de uma vez e uma veia pulsava em seu pescoço, parecendo prestes a explodir.

- Ficou louca?! Por quê liberou o experimento M3D ?!

Enlouquecer é exclusivo de seres orgânicos, Dr. Argand. Minhas decisões são baseadas em raciocínio lógico e análise de variáveis.”

- E o que levou essas merdas de variáveis a apontarem que o experimento deveria ser liberado?!

Análise de capacidade predatória”

O cientista levou a mão à testa fria. Sua face perdeu a cor e as pernas cambalearam. A respiração ficou dificultada enquanto seu corpo caía para trás, escorregando pela parede.

Argol já sem paciência ergueu o corpo magro do homem no ar e o chacoalhou.

- O que havia no biotério U54? É perigoso?

- Estamos perdidos... – balbuciou ele.

Argol coçou nervosamente os cabelos enquanto respirava fundo e tentava se acalmar. Argand, pelo contrário, cada vez mais se desesperava.

-Tá bom! Chega de diplomacia... – o cavaleiro envolveu o pescoço do cientista pelo braço e o arrastou pelo depósito – Vocês! Esperem aqui!

Niklos seguiu os dois.

-O que aconteceu?

-Mandei esperar aqui! – gritou Argol. O grego parou imediatamente em silêncio.

O cavaleiro atravessou para uma sala adjacente e bateu com força a porta atrás si.

Os demais ficaram no depósito em silêncio trocando olhares de indagação.

Xx

Em um dos muitos corredores iguais da Colméia, alguns andares acima, um grupo de zumbis brigava por um pedaço de carniça. Uns dois de jaleco e mais um de terno. Todos mutilados e com a face desfigurada rosnavam e se debatiam. Vez ou outra, um abocanhava a carniça e era logo surrado pelos demais. Rosnavam e gritavam alto, como que para afugentar o outro.

De súbito pararam atônitos. A briga foi interrompida. As criaturas ergueram as cabeças como animais farejando algo.

Seguiu-se então um estrondo. As paredes tremeram e as luzes piscaram. Algumas lâmpadas frias ao final do corredor se apagaram.

Havia mais alguma coisa ali.

Esquecendo o pedaço de comida e as rivalidades, as criaturas adotaram uma postura de alerta. Rosnavam e mostravam dentes e unhas para a silhueta que crescia logo adiante no escuro. Avançavam pé ante pé, preparando um bote.

De súbito uma das criaturas avançou rosnando até desaparecer na escuridão. Seguiu-se um gemido. Ossos se quebrando e carne sendo rasgada.

Um jato de sangue escuro e fétido foi jorrado manchando as paredes e pedaços da criatura foram lançados contra as outras.

E então um terrível e gutural rugido. Um bradar grave e ressonante de uma besta mitológica. Os zumbis pareceram por um instante novamente humanos. E amedrontados, fugiram.

Xx

No depósito de armas os demais sobreviventes ficaram atônitos. Em absoluto silêncio ouviam as vozes graves de Argol e Argand abafadas pelas paredes metálicas. Há algum tempo os dois conversavam na sala adjacente. E a tensão que já parecia ter atingido o seu limite, cresceu ainda mais. Mãos e pernas não se aquietavam, e o perturbador silêncio permitia que se ouvissem as respirações nervosas entrecortadas por suspiros de ansiedade. A tensão beirava a margem entre a sanidade e a loucura.

E pouco antes que alguém explodisse em nervosismo o cavaleiro e o cientista voltaram.

- Adivinhem! Mais problemas! – gritou Argol.

- Meu Deus! – exclamou Jill – O que está acontecendo agora?

- Ouçam o doutor aqui! Parece que ele e uns amigos andaram brincando de ser Deus.

Todos os olhares voltaram para a face nervosa de Argand. As expressões iradas acusavam-no mais uma vez, ainda que em silêncio, aguardando por explicações.

- Eu... hã...- Argand respirou um pouco enquanto buscava as palavras. Por fim apertou os olhos e disse, vencendo um medo – Há um tyrant solto nas instalações.

De imediato os demais o bombardearam com perguntas. Argand pediu silêncio e voltou a explicar.

- Um tyrant é um organismo criado artificialmente com técnicas de embriologia programada e engenharia genética.

- Vocês fizeram um animal em laboratório? – perguntou alguém.

- Exato. Não um animal qualquer. Usamos DNA recombinante de diversos tipos de predadores a fim de criar uma máquina biológica de caça. E conseguimos.

Uma agitação de exclamações explodiu novamente. Insistindo para que fizessem silêncio Argand prosseguiu.

- Trata-se do experimento M3D-U54. Ou como o batizamos: Medusa. Não é um animal qualquer. Trata-se de uma criatura criada artificialmente com todas as características e mecanismos para a caça. Maximizamos ao ponto ótimo sua força, agilidade, sentidos e defesas. Ela foi criada para caçar e não ser detida por nada, a não ser um sinal eletrônico que seria recebido por um dispositivo implantado em seu cérebro.

- Então podemos pará-la?

- Não...Claro que não! Trata-se de um protótipo. O dispositivo eletrônico não está em funcionamento. Ela foi liberada pela Rainha Vermelha a fim de nos caçar e assim coletar dados sobre o desempenho da Medusa.

- Este computador é louco! Eu avisei! Vamos morrer! – berrou Niklos.

- Acalme-se! – interveio Jill – Mas por que diabos a Rainha soltou essa coisa?

- A lógica dela é simples... Nós abrimos mão de nossa sobrevivência. A Colméia está trancada e os experimentos que eram realizados aqui dentro foram perdidos. Nós passamos a ser potenciais alvos-teste para a Medusa. A Rainha viu então a chance de aproveitar a situação. Ela liberou o biotério U54, vai deixar que a Medusa nos cace, coletará dados sobre o desempenho e vai enviá-los à Umbrella.

- Seremos caçados?

- Exato.

- E... Quais as nossas chances?

- Eu diria... Praticamente nulas.

Seguiu-se um silêncio tão mórbido que quase se poderiam escutar as batidas nervosas dos corações.

E o inebriante desespero se desfez com o engatilhar de uma arma. Os olhares assustados voltaram-se para um homem em cuja figura as esperanças foram depositadas mais uma vez: Argol.

- Nossas chances acabaram de aumentar... Eu tenho um plano!


Palavras do Autor: "Pois é, voltando das férias eis mais um capítulo! Aproveitem! E no próximo capítulo a temida medusa! Oh!! perceberam o lance com M3D U54 e o nome medusa? xD Abraços!"

Capítulo 14

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