Last Land

Sexto Dia - Lembranças, as Peças que Montam o Passado

Capítulo 26 - Mágoas Eternas


Muitas lembranças do passado. A presença do ex-núcleo de Zefir, Seikiakko, faz com que o passado de Zefir choque-se com o presente, apesar daquela mulher trazer bem mais lembranças ruins do que boas para Xarigan e, principalmente, Abner.

Ela, simplesmente, está ali, não fala nada; apenas sorri com uma naturalidade irritante para alguém, que deixou tanta gente em situação no mínimo confusa.

No corredor, Guru Clef sente aquela presença no castelo e, caminhando com a maior velocidade possível, vai ao salão do núcleo.

- Será ela? - indaga-se.

A mente do velho sacerdote regressa ao passado, lembra-se de anos atrás.

Sob os ventos que entravam pela janela do castelo, Seikiakko observava por ela, uma janela larga e baixa, enquanto seus cabelos esvoaçavam e ela se deleitava, contemplando o verde que predomina na paisagem de Zefir.

A mulher, com delicadeza acaricia as mechas loiras das crianças Priscila e Sierra, que estavam cada uma de um lado seu.

- Guru Clef, diga-me. Você que tem conhecimento de centenas de anos, qual foi o núcleo que mais tempo viveu?

Clef:

- Princesa Seikiakko, chegamos a ter uma mulher chamada Polizu. Viveu setenta e cinco anos como núcleo, sem crise alguma. Ela tornou Zefir um paraíso, só vindo a morrer de pura velhice.

- Velhice? - indaga Seikiakko.

- Talvez, se ela desejasse, sua juventude retornasse, mas possivelmente nem Brafma permita que ultrapasse demais o seu tempo natural de sua existência. Infelizmente somente as fadas, o sacerdote e seu primogênito podem alcançar um tempo tão longo de vida.

Seikiakko ouve, não muito satisfeita, e indaga:

- Guru Clef, você acha que meu governo é bom?

Clef:

- Princesa, por que pergunta? Você pode observar que nenhuma expressão de medo, tristeza ou ódio tem surgido no povo de Zefir, nos últimos anos.

Seikiakko:

- É triste que um dia terei que deixar tudo isso. Eu gostaria de poder ser núcleo para sempre. Não adianta vocês esperarem que Brafma escolha Abner para ser o próximo núcleo, é muito difícil disso ocorrer, mesmo porque Abner não poderá ser seu próprio conselheiro.

Clef:

- São regras da existência, Princesa. Seria o melhor para Zefir, depois que você deixar o nosso mundo.

Ela acariciou as cabeças das pequenas louras e disse:

- Eu não gostaria que Zefir se arriscasse em ter sofrimento de novo. Acho que só eu poderia dar estabilidade eterna para essa linda terra. Não acham?

As gêmeas louras abraçaram o núcleo de Zefir.

 

Na Grécia, Karasu enfim consegue chegar à frente da Casa Zodiacal de Touro e, ao ver o homenzarrão, que é o Cavaleiro de Ouro, pára repentinamente.

Aldebaran desafia o invasor:

- Eu sei que você passou por Áries e já sei o que você faz, então não creia em passar por esta casa, porque você não vai conseguir.

A robustez de Aldebaran é de meter medo mesmo, só que após segundos de receio, Karasu resolve avançar, tentando passar pelo Cavaleiro, mas este não é amante do diálogo como Mu e atinge o youkai com uma bruta ombrada, que o faz cair de volta, rolando por vários degraus da escadaria, até que ele consegue parar sua queda, ficando por uns momentos assustado e machucado, respirando forte, enquanto ainda está incomodamente caído de peito sobre os degraus.

Karasu, sem dúvida, fica abalado com o golpe, mas seu olhar não é de medo, mas de respeito para com o adversário, que tem consciência de que lhe dará trabalho.

Aldebaran diz, com sua voz grave:

- Diga, por que você quer passar pelas doze casas?!

Karasu ergue-se e se põe a subir os degraus mais uma vez, porém Touro está bem na beira da escadaria, para lhe atrapalhar.

Karasu:

- Por que quer saber? Acaso vai me deixar passar se eu falar?

O homenzarrão sorri com ironia e diz, cruzando os enormes braços:

- Certamente que não. Já que Mu quis impedi-lo, tenho certeza que ele tem muito mais discernimento que eu.

O Cavaleiro é tal qual uma muralha, à frente do outro, que, mesmo assim, lança sua tentativa, e atira várias bombas na direção de Aldebaran.

O guardião da casa, por um instante abre os olhos com surpresa, ao ver o estranho poder, mas nem descruza seus braços para aqueles explosivos, que são detonados, porém nem sequer arranham a armadura de ouro. E Aldebaran, espertamente, vigiou os lados, para evitar que ele passe por ali enquanto se distraiu com as bombas.

Mas o youkai veio correndo, e, durante as explosões, saltou por cima do grandalhão, aproveitando-se da pressão que as explosões causaram.

Aldebaran é enganado, como um goleiro que se afasta muito do gol, e, passando por cima do Cavaleiro, Karasu entra na Casa Zodiacal.

Contudo, Aldebaran não tarda a notar a situação e entra de volta na casa.

O Cavaleiro de Ouro sabe que, apesar de ser corpulento, isso não impede que ele alcance a vertiginosa velocidade padrão dos outros guardiões das casas zodiacais e corre para alcançar o invasor.

Karasu já sabe que sua velocidade é inferior a desses cavaleiros, apesar de ser grandiosa, mas ele vê que Aldebaran o persegue, como um touro, de fato sente-se seguido por um touro mitológico, que o alcançará, sem dúvida.

Para defender-se, o youkai deixa bombas energéticas no seu rastro, para que o grandalhão que o segue se fira ao tocá-las.

Contudo, Aldebaran toca em tais bombas. Elas explodem, e o Cavaleiro Dourado é protegido do impacto pela sua armadura sagrada, podendo continuar sua investida e, enfim, atingir com uma ombrada as costas de Karasu, que cai de rosto no piso da Casa Zodiacal.

Aldebaran põe o pé sobre as costas do inimigo e o prensa contra o chão, fazendo com que rachaduras vão se formando em torno do corpo do Youkai, no piso.

- Se você passou por Mu, foi por sorte pura, pois da casa de Touro não passará. Seja qual for o intuito diabólico que tem em mente, ele não vai prosseguir! - afirma, com firmeza o Cavaleiro.

A dor que Karasu sente é igual a que Seiya sentiu quando tentou, no passado, passar por esse guerreiro. O Youkai sente-se perdido por um momento, mas não pretende abandonar sua missão.

Sabendo desse confronto, Aioria está na Casa de Leão, aguardando, caso Aldebaran possa falhar, para interceptar o inimigo que chegará, quando então a serena voz de Shaka chama sua atenção em sua mente.

- Aioria, gostaria que me escutasse.

O Cavaleiro de Leão, com o seu pensamento, lhe responde:

- Sim, Shaka, escuto.

- Quero lhe pedir algo. - diz o Cavaleiro de Virgem.

 

No Mundo Celestial, em meio ao sofrimento do povo faminto de Deva, os guardiões voam em seus shakitis, vendo com impotência a situação.

Gente caída de fraqueza por todas as aldeias e vilarejos, alguns até esticam os braços para os guardiões lhes pedindo auxílio, mas tristemente, eles nada tem para dar.

Infelizmente são obrigados a passar direto.

Para alívio do grupo, chegam ao local indicado por Lengue, no qual um pobre agricultor está sentado na terra, com expressão de tristeza e angústia.

Lengue, apontando:

- É aqui. Nesta horta próxima ao monte Shumi.

O homem vê os guardiões celestiais já descendo de seus veículos mágicos, para se aproximar dele.

Agricultor:

- Muito obrigado, senhores guardiões, por ouvirem minhas súplicas. - e faz uma reverência.

Dan tenta apressar as coisas.

- Tudo bem, senhor, mas mostre-nos onde está essa coisa de que falou.

- Claro. - concorda ele, gesticulando para que os acompanhantes dele caminhem por um tempo na mediana horta.

Nem se dá para identificar que hortaliças seriam aquelas, pois todas estão murchas e marrons.

Ryuma:

- O que é a coisa que você disse que viu em sua plantação?

O agricultor aponta um canto do terreno:

- Ali. Eu vi algo se mexendo, como se a terra inchasse.

Dan pensativo:

- Como se a terra inchasse...!?

Hiouga:

- Pode ser algo debaixo da terra.

Os guardiões trocam olhares de dúvidas entre si, até que Ryuma se aproxima do local indicado, agacha-se e coloca os dedos na terra, para cavar e o faz com grande facilidade. Logo nota que, basta tirar a terra de cima, para revelar um buraco muito maior lá em baixo.

- Vejam isso! - ele chama.

Os guardiões se aproximam e notam o profundo buraco, que há ali embaixo.

Hiouga:

- A camada da terra é fina, cobrindo o buraco.

Lengue:

- É maior do que parece.

Aquele monte de gente sobre o buraco oculto faz muito peso, para a fina camada de terra que os suporta e, repentinamente, a camada cede e os guardiões caem dentro do tal buraco.

Preocupado, o agricultor se aproxima do buraco:

- Vocês estão bem?

Os guardiões até que haviam conseguido cair de pé naquele profundo buraco, e se sujado bem pouco..

- Tudo bem. Está tudo certo.- Diz Hiouga.

Leiga olha ao seu redor e nota que o buraco é muito maior, pois ele se estende para dois lados, até.

- Não é um buraco. É um túnel!

Os guardiões ouvem isto com surpresa.

Dan:

- É mesmo! É um túnel!

Leiga:

- Mas eu nunca soube de algum túnel subterrâneo por aqui!

Hiouga:

- Ninguém sabia. Vamos vasculhar.

Leiga observa a expressão e quietude de Kenya nesse momento, e lhe indaga:

- O que foi, Kenya?

Kenya:

- Esse túnel é feito por magia.

Ryuma:

- Deve ser da coisa que o homem viu.

Kenya gesticula negativamente, com a cabeça:

- Não sei. Essa coisa é recente e a magia é antiga aqui. Foi feito há muito tempo, a alguns anos, eu diria.

Hiouga, desconfiado:

- Poderia ser Indra?

Kenya:

- Não vejo razão para não crer nisso.

Dan, irritado:

- E isso é mais uma das coisas que ele fazia, quando dizia que queria meditar isoladamente?! É um safado!

Lengue:

- Mas, por que ele faria um túnel?! - ele se surpreende - Será que leva até Zefir?!

Leiga:

- Pode ser, mas por que ele iria usar o Porto? Ou será que ele não usava o porto? De qualquer forma, só descobriremos se vasculharmos.

 

Na Casa Zodiacal de Touro.

Aldebaran mantém seu oponente abaixo de seus pés, esmagando-o contra o solo de pedra maciça .

Karasu parece totalmente subjugado, mas não é bem assim. Enquanto seu rosto rala-se no chão, sua mente cria uma possibilidade de fuga e suas mãos, enquanto tocam as rochas, aos poucos, vão liberando energia a elas, tornando-as, lentamente, brilhantes, o que provoca a curiosidade do Cavaleiro Dourado, que nota.

- Mas o que há?!

Mal ele terminara de falar e o chão energizado por Karasu explode como uma bomba de luz, não causando dano algum ao youkai. Todavia ergue o corpanzil de Aldebaran a considerável altura.

A vestimenta sagrada do Cavaleiro é encouraçada o suficiente para evitar alguma ferida significativa ao seu dono, mas o elmo, com a força da explosão, acaba por sair da cabeça de Aldebaran. E é isso que Karasu previa, e, notando o momento vulnerável da cabeça do inimigo, muito rapidamente, antes que o grandalhão se dê conta de seu plano, Karasu vira-se para cima e dispara uma esfera de energia diretamente na cabeça de Aldebaran, e o Cavaleiro de Touro só tem tempo de expressar pavor em seu rosto.

Diante dessa situação, Aldebaran, apesar de ter ferido o youkai, ao contrário de Mu, foi derrotado.

O demônio, após a explosão, cai ao lado do Cavaleiro inconsciente e perde alguns segundos ali, na intenção de recuperar parte de suas forças e aliviar-se de suas feridas.

O youkai levanta-se e estica sua coluna , ela dói, mas sua missão tem que continuar, e ele não demora voltar a seguir para próxima escadaria, em seu perigoso e difícil caminho.

 

Nos escuros e frios, apesar de belos, corredores do castelo, o Guru apressa-se para chegar à sala do Núcleo, onde crê que todos estão.

- Ela me parecia uma mulher que amava Zefir! As vezes até se preocupava demais.

O velho sacerdote agora relembra que Seikiakko, certa vez, invadira seu quarto durante a madrugada, nos tempos em que o dia se distinguia da noite e com olhos nervosos, inchados e úmidos, caiu de joelhos ao lado de sua cama, e falou:

- Guru Clef, eu sonhei coisas horríveis! Pessoas e criaturas sofrendo todo tipo de torturas! Era um lugar horrível!

O sacerdote que acordara num susto quando ela entrou, preocupou-se com o estado emocional dela e sentou-se no seu leito pondo os pés para baixo, mal tocando o chão pela sua baixa estatura.

- Calma, Princesa. Você teve apenas um sonho ruim.

Seikiakko, apertando nervosamente, a túnica que cobria as pernas do Guru , continua.

- Clef, era o pior lugar que poderia existir! Onde os novatos ali gritavam de agonia por torturas, os antigos que estava lá não mais gritavam, pois já não estavam sendo castigados mas sofriam porque não tinham esperança de sair dali nunca mais!

O Guru pôs suas mãos sobre os ombros da mulher e a aconselhou:

- Acalme-se, Princesa Seikiakko. Trata-se apenas de um pesadelo. Tudo está bem, vê?

Seikiakko, porém, sacode-lhe a túnica e fala, desesperada:

- E se isso que eu vi for Zefir? Será que eu vou deixar Zefir ficar assim? Não pode ser! Eu não acredito!

Retornando de suas recordações, Clef raciocina:

- Seus sonhos se tornaram freqüentes, mas ela passou a comentar cada vez menos sobre eles. Eu pensei que ela tinha se controlado, especialmente quando Indra passou a visitá-la. Como o grande sábio monge que ele era, achei que a tivesse ajudando a superar essa situação. Talvez eu tenha que aceitar o fato de que não fui um bom sacerdote pra ela. Mas como alguém que tinha pavor de que o povo sofresse, de repente reaparece com intenções tão obscuras e perversas?

Não só a obscuridade das ações de Seikiakko, mas também seu cinismo de sorrir, enquanto olha para todas aquelas pessoas próximas a ela, algumas as quais ela já demonstrou o quanto pode ser falsa e cruel.

Yusuke notando que está perdendo a atenção de Xarigan, pensa em falar suas conhecidas frases desagradáveis para ele, mas, com certeza, aquela mulher lhe parece uma preocupação maior para o rebelde, o que leva Urameshi a indagar:

- Ei! Quem é a perua? Tá todo mundo olhando! Eu já vi muita mulher mais gostosa do que ela!

Shurato:

- Yusuke, acho que ela é a Seikiakko.

Yusuke, zombeteiro:

- Ah... então é você a tal!

Nem todos ali têm paciência suficiente para aturar essa mulher e Xarigan parte para o verbo.

- Como ousou trazer pra nós com tamanha despreocupação, sua desprezível presença, mulher maldita?

- Eu ajudarei! Quero ajudá-lo a fazer com que este tenha sido o último erro dela! - berra Abner, em acordo com o outro.

Xarigan:

- Então vamos! E quem de vocês outros tiver algo parecido com consciência na mente, nos ajude a dar um fim na vida de Seikiakko!

Yusuke olhando-o com zombaria, cruzando os braços:

- Consciência? Eu nunca tive dessas coisas!

Shurato tenta adiantar-se, mas Urameshi o segura pelo suspensório, dizendo:

- Agüenta aí!

O ataque acaba tendo que ser realizado pela dupla de rebeldes.

Um Reigun é disparado pelo homem grisalho e o Cavaleiro avança para golpeá-la com a espada.

Com gestos simplórios de mexer dedos das mãos, uma energia azulada, que é a magia de Seikiakko, consegue impedir a aproximação de ambos e seus ataques, uma barreira de somma negro existe em volta dela como uma força de repulsão, frustrando a investida deles.

Seikiakko:

- Não se iludam! Vocês só se aproximam se eu permitir.

Yusuke está sentado recostado, sonolento, numa das paredes do recinto, se abstendo do confronto à sua frente.

Shurato, irritado, pergunta:

- Você não vai fazer nada? Vai ficar aí só admirando?!

Yusuke:

- Os dois são nossos inimigos. Se eu atacar um vou ajudar o outro; prefiro ver os dois se quebrarem.

Shurato:

- Ah, eu não posso ficar só olhando. Vou fazer alguma coisa.

Shurato tenta partir para a luta, mas Yusuke usa seus pés para agarrar o pé de Shurato, fazendo-o cair de nariz no piso.

- Fica aí, panaca! O assunto não é nosso! Não tá vendo que se um der um fim no outro, é melhor? Depois dá uma surra no que sobrar! Senta aí e aguarda!

Shurato, esfregando o nariz:

- Você é um cara muito frio.

Yusuke, impaciente:

- Alô, galera! Parte logo pro cacete, pra decidir quem eu vou ter que arrebentar a cara depois.

Todos resolvem ignorar as palavras do folgado Urameshi.

 

Karasu já chega na Quinta casa Zodiacal, e o youkai foi prevenido sobre o seu guardião. O Cavaleiro de Leão havia sobrevivido à luta no santuário a algum tempo e era certo que será um trabalhoso adversário.

O sinistro Karasu passa a dar cautelosos passos em meio as duas estátuas de leões, que ficam aos lados da entrada do templo.

O youkai não tem outra alternativa, senão entrar na casa, e faz isso, tentando logo captar a presença do inimigo, seu cosmo dourado.

Karasu olha para cada canto do local, continua a passos lentos, vasculha com a visão, desde o chão ao teto, esperando, talvez, um ataque surpresa.

Os únicos sons ouvidos ali são os dos passos do demônio, que ecoam por todo o recinto e ele logo vê que a saída está próxima. Ele vê a grande chance de sair dali e começa a correr novamente.

Karasu, porém, continua atento ao seu redor e não vê nada além da magnífica arquitetura grega, e então passa pela Casa Zodiacal.

Logo se vê na saída da Casa de Leão.

Ele olha para trás, para confirmar se havia mesmo conseguido, mas estranha um Cavaleiro não estar em sua casa, e deixá-lo passar.

 

No Mundo Celestial, os guardiões estão todos impressionados olhando para cima. Estão ainda naqueles túneis, mas vêem que acima deles está um velho monumento com inscrições, em ruínas.

Dan:

- Taí, agora já temos a prova da ligação de Indra com as cavernas. Este é o monumento onde estava presa a tríade do demônio, não?

Hiouga:

- Tenho que concordar. Ele deve ter feito os túneis.

Leiga já tendo suas desconfianças:

- Sozinho, creio que não.

Ryuma:

- Gostaria de lembrar que estamos aqui pra descobrir o que, atualmente, está agindo nessas cavernas.

Leiga:

- Parece que a resposta veio até nós, amigos.

Só então eles percebem um som estranho no túnel, um relinchar similar ao de cavalos.

Dan:

- Vamos! - instiga ele.

Todos usam seu shakiti na forma de veículo e seguem o tal som e em pouco menos de um quilômetro de cavernas eles vêem a criatura que emitiu o som, Upain, o Gênio da Fome. Está agarrado a raízes no teto da caverna. Ele parece sugar esses vegetais, de forma a ficarem cada vez mais secos e finos.

Lengue revoltada:

- É esse monstro que está destruindo as plantações do Mundo Celestial! Vamos eliminá-lo já!

Leiga:

- Espera! Cuidado! Ele não é um monstro! É um Gênio!

Ryuma:

- Gênio? De Zefir?

Leiga:

- Temo que sim.

Dan fica furioso.

- Sabia que Zefir tinha alguma coisa com isso tudo. Agora esse monstro vai ver que o Rei Ribba não vai permitir que bagunce no Mundo Celestial!

 

Enfim, Karasu chega à Casa Zodiacal de Virgem.

Nesta ele sabe que o Cavaleiro pode estar lá, apesar de que, intimamente, ele preferiria que a inusitada situação da Casa de Leão se repetisse.

Novamente o youkai adentra numa Casa Zodiacal, mas neste caso ele vê, diretamente, o seu oponente. O Cavaleiro dourado de Virgem está sentado em posição de lótus e parece fazer uma meditação, aparentemente não nota sua chegada.

Mas o demônio sabe que isso é um engano, porém ficar parado, esperando uma reação seria tolice. Então começa a invocar energia na palma de sua mão.

- Não perca tempo. Isso não vai me afetar em nada. - diz o Cavaleiro Dourado, provando que não está alheio ao que ocorre, apesar de não abrir os olhos.

Karasu:

- Só testando pra ver!

Ele então dá um salto e lança várias esferas de energia contra Shaka, o qual, simplesmente, aponta a palma de suas mãos, para que elas se desfaçam no ar.

Shaka:

- Não perca tempo. Diga a verdadeira intenção de vir ao Santuário de Atena!

Karasu:

- Eu direi. Para Atena.

Karasu novamente volta a criar energia na palma de sua mão, mas agora a retém, para formar uma só esfera, muito maior e mais destrutiva, e não bastasse isso, começa a correr para o seu oponente.

O youkai salta por cima de seu inimigo e lança sua esfera de energia, que tem o tamanho de uma bola de praia , sobre a cabeça do Cavaleiro.

Se Karasu puder, explodirá a cabeça de Shaka e livrar-se-á logo desse empecilho.

O youkai move seus braços para lançar seu ataque, quando sente que não pode concluir a ação. Seus músculos estão desobedientes e Karasu começa a se contorcer em pleno ar, deixando-se cair no chão, involuntariamente.

Já a esfera energética erra totalmente o seu alvo, indo simplesmente causar um estrago no piso, a metros do Cavaleiro.

- O que... que está ... havendo comigo? Meu corpo não obedece...! Sinto meus músculos dando um nó.

O Cavaleiro, a passos tranqüilos, aproxima-se do caído e lhe diz:

- Você é uma criatura sanguinária, que age como uma besta descontrolada, aniquilando tudo ao seu caminho... e não vou hesitar em livrar o mundo de alguém como você!

Vendo a superioridade do Cavaleiro Dourado próximo a ele e sentindo como seus músculos estivessem todos sendo torcidos, nem seus olhos Karasu consegue direcionar para o oponente.

 

Abner e Xarigan já estão bastante ansiosos com a presença da ex-núcleo de Zefir, e o chefe dos rebeldes decide desabafar tudo o que estava contido de revoltoso em seu peito.

Xarigan:

- Naquela época não pude falar, mas pelo menos hoje sei que minhas palavras a atingirão. A você, sua maldita e ao Guru incompetente de nossa Zefir!

Xarigan, olhando para a inimiga, lembra do passado.

- Eu sabia, desde que fui enviado para o castelo, que a criatura em contato com as trevas seria o núcleo de Zefir.

Há anos atrás, no corredor próximo ao salão do Núcleo, Xarigan estava aguardando algo.

Logo, do salão saíram as duas meninas louras, que iam caminhando pelo corredor, parecendo satisfeitas.

Xarigan abordou as crianças, assustando-as de leve.

- Desculpem, Sierra e Priscila. Quero perguntar algo pra vocês.

As duas se olharam, mas não deram resposta positiva nem negativa, num gesto de desconfiança.

Xarigan, porém, indagou assim mesmo:

- A Seikiakko, o que vocês fazem com ela? Ou melhor, o que vocês a vêem fazendo?

Priscila:

- Não sabe que ela nos ensina a forjar coisas com magia?

Xarigan:

- Disso eu sei, crianças. Mas nunca viram nada estranho junto a ela? Nunca ensinou magias obscuras?

Sierra não gostou do tipo de comentário sobre sua amada mestra e reage:

- O estranho aqui é você! Que quase matou o Guru e o Abner e ainda tem coragem de vir morar um tempo aqui no castelo.

Puxou a irmã pelo braço e ambas saíram, correndo.

Xarigan ficou sem palavras.

Em outra ocasião, Xarigan reuniu-se com Clef, e o chefe da guarda, o pai de Rafaga, o qual fez questão de trazer os pequenos Zagard, Lantis, Abner e Rafaga para a reunião, numa sala privativa do castelo, todos em cadeiras de madeira.

Clef:

- Então foi por isso que pediu para vir ao castelo, como agradecimento por salvar Abner? Para realizar uma missão espiritual? - o Guru disse essas coisas com desconfiança, duvidando da espantosa estória da morte, julgamento e ressurreição de Xarigan, feita por Koema.

Taflon (pai de Rafaga) começou:

- Difícil de acreditar, Xarigan! E, por acaso, você desconfia exatamente da princesa Seikiakko?

Xarigan:

- Mas eu só estou pedindo pra verificar o seu quarto e pertences, nada mais que isso.

Clef:

- Ouça. A princesa tem mantido a paz em Zefir; se a situação fosse diferente, nem assim eu teria direito a violar a privacidade da princesa.

Taflon:

- Você sempre foi conhecido por ser contra o sistema do Núcleo, e agora vem com esta estória, que você pode muito bem ter inventado, pra criar intriga.

Xarigan (irritado):

- Não inventei nada!

Lantis:

- Você é mentiroso!

Xarigan olhou duramente para o menino de cabelos pretos lisos, o qual não se intimidou e retribuiu também com um olhar austero.

Abner foi o único que discordou.

- Não acho que ele é mentiroso! Eu não gosto muito dela, também.

Taflon:

- Crianças, eu os trouxe aqui para aprenderem a distinguir quando alguém tenta enganá-los. Espero que aprendam, pois vocês serão responsáveis pela segurança de Zefir no futuro.

Xarigan:

- Eu resolvi contar isso, porque todo mundo no castelo já sabe que eu tenho essa cisma contra Seikiakko! E vocês nem pensam sobre o que eu disse? E quanto a estas visitas desse tal de Indra? Que intercâmbio cultural é esse, com o Mundo Celestial, que ela nem comenta com os outros. E ainda deixam ele sair com ela para sabe-se lá onde!

Clef:

- Indra! É visita pessoal dela. Não temos que interrogá-la por isso. E não podemos permitir que você os siga.

Abner:

- Eu também não gosto desse Indra.

Taflon para o menino:

- Escute rapaz, Xarigan pode muito bem ter armado aquele seu acidente todo, para te salvar e ter direito de pedir pra ficar no castelo e tentar tomar o Núcleo.

Xarigan já não tinha mais paciência e caminhava a passos largos para sair, quando Taflon ainda lhe apontou o dedo e bradou:

- Xarigan, saiba que eu e os outros, desde que chegou, estamos vigiando seus passos. Qualquer deslize seu será punido severamente! Não deixaremos que você incomode a princesa!

Após a saída brusca de Xarigan, Taflon virou-se para as crianças e falou:

- Viu como gente como ele pode ser ardilosa? Mentem sem titubear. Por isso fiquem atentos a esses truques sujos.

Rafaga, Zagard e Lantis receberam as instruções de Taflon, prestando atenção, com interesse, olhando para seu ídolo, atentamente. Somente Abner estava disperso, olhando para a porta por onde Xarigan havia saído.

Era noite em Zefir. Xarigan estava sem dormir, na sua cama. Ele olhou pela pequena janela arredondada, observando o céu estrelado, e a lua que apareceu quase transparente.

Mas sua mente estava vagando nos fatos que lhe haviam ocorrido, sempre visto com maus olhos, sempre sob suspeita e sempre sob vigilância, até que de fato eles tinham uma certa razão, pensou, mas desta vez o Rebelde não estava simplesmente mentindo.

Ele remexeu-se e virou de costas para a janela, agora olhando para a porta do quarto.

- Ficando aqui, apenas comprovei que essa elite que toma conta de Zefir é, exatamente, o que eu pensava. - murmurou ele.

Um som baixinho, foi ouvido pelo jovem Xarigan. Algo do outro lado da porta.

- Estão vigiando até meus roncos! Pra ver se eu revelo meus planos malignos!? - disse Xarigan, em voz alta, irritada e irônica.

Ele resolveu tomar satisfação. Foi até a porta e abriu-a, na intenção de reclamar dessa discriminação sem limites.

Quando percebeu que sua intuição o havia traído.

Ali, olhando para ele, estava o garoto Abner.

Xarigan:

- Abner! Mas você! A esta hora! Como...

Abner:

- Eles te vigiam e eu vigio eles. Vem agora; o guerreiro que estava rondando no corredor deu uma saída.

Xarigan:

- Isto pode trazer problemas pra você também!

Abner:

- Eu já disse. Eu não gosto da Seikiakko. Ela não é nada daquilo que dizem que ela é.

Xarigan:

- Está certo. Vamos salvar Zefir dessa mulher!

Ambos saíram do aposento cautelosamente, pelo corredor.

Abner:

- Vem. Posso te guiar para você chegar ao local onde ela trabalha, sem ninguém te ver.

Num outro corredor, estava um homem gordo, de cabelos lisos e verdes, vestindo uma roupa de guerreiro e carregando uma espada estilo árabe na cintura.

Ele estava comendo uma espécie de fruta de cor azul, a qual ele apertava a casca macia e um esguicho de sumo de cor rosada atirava-se contra sua boca.

Com seu rosto gordo, cheio de satisfação, ele jogou a fruta no canto do corredor. Abriu lentamente, uma porta e viu no quarto, uma mulher loura, grávida de cerca de 9 meses, dormindo profundamente, numa luxuosa cama de casal, com rendas incomuns, tricotadas em suas bordas.

Junto àquela cama estava um berço, com um formato triangular e feito de algo similar a bambu, e uma criança pequena, de cabelos louros, que pela roupa delicada com detalhes sensíveis, podia-se notar que se tratava de uma menina.

O homem pensou alto, olhando carinhosamente para a mulher.

- Será que vai ser menino dessa vez? Se for, se chamará Ferio, assim como meu avô.

A mulher loura acabou acordando, com o murmúrio do marido e vendo-o ali, comentou:

- Querido, você está aqui? Você não devia a esta hora estar...

- Eu só vim conferir, pra ver se você está bem. Eu estou ansioso pelo meu segundo filho. Eu já vou voltar pra vigiar o tal Xarigan.

Ele aproximou-se mais da mulher e sentou-se ao lado dela, na cama, falando:

- O mais interessante pra mim é ver vocês... - disse, dando um rápido beijo em sua esposa, a qual o abraça pela larga cintura. -Além do mais, aquele tal de Xarigan não me parece mal intencionado.

Nesse ínterim, Xarigan e Abner já estavam próximos de onde queriam, sem medo de cruzar a tênue linha da tolerância que o rebelde tinha no território inimigo. Mas ele estava disposto a provar que o verdadeiro mal era Seikiakko, apesar de que não tinha provas disso.

Abner parou diante de uma porta.

- É aqui, na sala das armas, onde ela quase nunca permite que alguém entre.

Xarigan, desconfiado:

- E não tem ninguém defendendo isso aqui?

Abner:

- É... estranho, né?

Xarigan:

- Não importa. Vou aproveitar e verificar o local antes do dia raiar.

Xarigan tentou abrir a porta, mas ela não o obedeceu, deixando-o frustrado.

- Vocês não podem entrar! Vão embora daqui! - uma voz feminina vem de dentro do local.

Xarigan:

- Droga! Ela está aí a esta hora...!

Abner:

- Desculpa! Eu não sabia!

Xarigan olha para a porta e pensa:

- Agora não adianta. Pelo jeito que ela falou, sabe que somos nós, aqui fora. Então... dane-se as regras!

Xarigan desembainhou sua espada, rapidamente, já sacando-a contra a porta que foi partida e desabou, provocando um barulho alto, que logo despertara a atenção de todo o castelo para o local. Xarigan sabia que dessa vez provaria a sua intenção, ou seria posto para fora do castelo, ou mesmo poderia pegar uma condenação pior. Ele só pedia a Brafma para estar correto em sua ação.

Xarigan invadiu o local, pronto a entrar numa grande batalha. De sua cabeça a má impressão sobre a mulher, chegava a ser demasiada.

Todavia o que ele e o menino viram foi Seikiakko cercada de objetos esculpidos em metal. Nesse momento, magicamente, ela estava esculpindo, como uma oleira, uma taça de três alças, cor roxa e verde. As mãos dela brilhavam fortemente, emanando um força mágica, que lhe permitia modelar metais. Existiam vários objetos esculpidos pelo núcleo de Zefir, inclusive armas, o que serviu de motivo para Xarigan tentar explicar sua invasão.

Xarigan:

- Vamos, explique! Para que esculpe tantas armas, se não estamos em guerra?

Ela virou-se para ele, como se tivesse certeza que ele sabia a resposta. Ainda assim falou:

- Sabe que fabricar armas é tradição dos ferreiros de Zefir.

Enquanto os adultos trocavam palavras, Abner ia andando pelo recinto, observando cada objeto ali dentro como a criança curiosa que era.

Não demorou para Abner desconfiar de algo no canto de uma das paredes, no fundo do recinto. Era algum objeto grande, coberto por um pano.

Abner também queria intimidar o núcleo de Zefir.

- E isto aqui? Por que está escondido?

Seikiakko:

- Menino, isto é apenas um presente para Indra. Se eu pedir para que você não veja você atende?

Mal ela acabara de falar e o menino fez questão de contraria-la. Abner puxou, enraivecidamente, o pano que cobria o objeto. Se viu perplexo diante daquilo e a luz dourada que aquilo emitia era ofuscante.

Surpreso com a tal reluzência, Xarigan ficou curioso para se aproximar e ver também, mas antes disso ele reparou na reação da mulher.

Seikiakko:

- Muito bem, Abner. Saiba que agora você, infelizmente, se condenou, e, por isso, vou poder matar dois coelhos com uma só cajadada!

Xarigan:

- Como é?! - Diz, sem compreender a intenção dela, mas sabia que um golpe de espada poderia ser uma boa resposta, contudo seu golpe acabou bloqueado por um escudo flutuante, construído pelo núcleo de Zefir, que colocou-se sozinho para defende-la. E uma espada também criou vida própria e jogou-se contra o rebelde, que esquivou-se e usou sua espada para proteger-se.

Após presenciar aquele objeto luminoso, Abner ficou com um semblante perdido. Ele estava desorientado. Começou a olhar tudo em volta e até suas mãos, pés e roupas, como se fossem, para ele, uma novidade.

Seikiakko aproximou-se do menino e sorriu para ele.

Abner:

- Moça. Onde estou? Quem sou eu?

Seikiakko acariciou a cabeça do garoto e, com seu falso sorriso, lhe disse:

- Você não lembra? É porque eu preparei tudo pra você.

Nesse momento três espadas atacaram Xarigan, simultaneamente. Ele viu a mulher perto do menino; ficou preocupado e tentou deixar aquela luta bizarra para ajudá-lo, mas uma das espadas encostou sua lâmina na frente do pescoço do rebelde. As outras duas colocaram-se nos lados do pescoço do jovem Xarigan, que forçosamente parou.

Seikiakko segurou o menino pelas mãos, o qual a olhou com curiosidade.

- Sabe quem você é? Alguém impiedoso, malévolo, para o qual a vida alheia não vale nada! Não esquecerá disso!

Ele, naquele instante de mente confusa aceitou aquilo como verdade absoluta. Sua expressão de nervosismo demonstrou isso.

Seikiakko fez a sua tiara brilhar e um raio de luz foi disparado dela, sobre a testa do garoto, que logo foi envolvido por uma luz.

Xarigan, cercado pelas armas, tentou mexer-se e uma das lâminas das espadas causaram-lhe um ferimento quase fatal em seu pescoço.

- Não! Não faça isso com o garoto! - berrou.

Abner foi sendo consumido pela luz.

Seikiakko murmurou:

- Adeus, primogênito do sacerdote!

A mulher, então, virou-se para Xarigan e este, irado, a ameaçou:

- Quando você tirar estas espadas do meu pescoço, eu a farei em pedaços!

Seikiakko fez exatamente isso. As espadas e o escudo moveram-se, rapidamente e recolocaram-se nas paredes. Já o pano voltou sozinho a recobrir o tal "presente para Indra".

Xarigan viu o drama da luz já fraca, onde podia-se distinguir a silhueta do menino Abner, e, com a calmaria expressa pela mulher, ele berrou:

- Está duvidando de mim! Maldita!

Tomado pela fúria, sem refletir na situação, Xarigan deu um golpe energético com sua espada, e, para sua surpresa, Seikiakko colocou-se à frente e foi atingida pelo ataque.

A ferida era considerável, o que fez Seikiakko inclinar-se em dores, e Xarigan sentir satisfação.

Mas nada mais era que parte da idéia da mulher, pois nesse instante ao recinto chegaram os castelões.

Taflon, Clef e outros chegaram no momento exato em que a silhueta de Abner desaparecia, juntamente com a luz que o havia levado.

Clef:

- Abner!!

Xarigan resolveu tomar a palavra:

- Guru Clef, eu acho que seu filho...

E foi interrompido por um berro revoltado de Taflon:

- ASSASSINO!!

Os olhos de Xarigan arregalaram-se, mas no fundo sabia que ele deduziria logo aquilo.

Seikiakko nem precisou falar. Os castelões logo cariam em sua arapuca.

Taflon radicalizou:

- Vamos decapitá-lo!!

Xarigan viu, então, que não havia como argumentar com tais cegos.

O guerreiro gordo, de cabelos verde e outros estavam ali, junto com Taflon partem contra Xarigan, o qual subtraiu um dos escudos da parede para defender-se dos inúmeros golpes.

Seikiakko fingindo-se a vítima lançou-se em falsos prantos, nos braços do Guru e choramingou:

- Clef! Me perdoe! Seu filho veio com ele até aqui, mas quando esse homem começou a me ameaçar, Abner viu quem era, verdadeiramente mau. E... quando esse homem tentou me destruir, o pobre... menino se colocou na minha frente para defender-me como um pedido de desculpas, e ele... morreu! Perdão, Guru Clef!

Clef ficou emocionado, e, com tristeza, uma lágrima lhe escorreu pela face.

- Abner...! - murmurou.

Xarigan não deixou de ouvir a mentira descarada da outra, e uma vontade de lhe cortar um braço fora, lhe passou pela cabeça. Desvencilhou-se do guerreiro gordo e seus companheiros fracotes, mas, ao tentar desferir uma espadada energética contra Seikiakko, Taflon lhe bloqueou com uma braçadeira de metal e revidou com um golpe que partiu o escudo de Xarigan no meio.

O rebelde sabia que Taflon não era tolo. Era muito perigoso; poderia encara-lo, mas num espaço maior e sem os seus companheiros, que apesar de fracos, eram perturbadores. Sua única esperança de viver, então lhe parecia ser fugir daquele local.

A porta ele não iria alcançar. Ia alcançar a janela, mas ela era muito pequena. Então, após levar um corte de raspão no rosto por Taflon sua esperança era no poder ainda mal treinado que recebeu do mundo espiritual, o Rei Gun, o qual disparou contra a parede de rochas atrás de si, abrindo um caminho de queda livre, o qual ele não desperdiçou e lançou seu corpo a esse desafio, saltando para fora, junto com os destroços da parede.

Em queda, o vento com o sereno da madrugada, açoitavam o rosto e o corpo do rebelde, que em segundos chegaria ao chão.

Xarigan, porém, sabia que isso poderia ter sido fatal; em outras palavras, um suicídio. E ele, com sua espada em punho, tentou fazer algo para impedir sua morte certa. Tentou cravá-la na parede do castelo, mas só conseguiu foi produzir uma quantidade imensa de faíscas, pelo contato da arma com a parede, que chegou a lhe queimar a mão, levemente e ele continuou a cair.

Nos desesperadores segundos seguintes, ele olhou ao seu redor, vendo pedras caírem junto com ele, mas também uma espada, que estava na parede que fora rompida. Ele não tardou em esticar-se agarrar essa outra arma e, com toda força em seus braços, tentou cravar as duas lâminas na parede. Contudo, para seu azar, ele havia se distanciado demais da parede, quando agarrara a outra espada, e agora não havia mais o que fazer para impedir que o chão o esmagasse. Chão gramado esse, que ele olhou, temeroso.

Repentinamente, Xarigan sentiu que sua queda fora detida, já próximo a dois metros do solo. Surpreso ele olhou pra ver onde teria se prendido e viu que aquela espada que havia pego há pouco, estava parada, flutuando no ar, presa em algo inexistente ou sendo suspensa magicamente.

Então a espada cede e ele cai no chão, mas já próximo ao solo, não sentindo dano algum. Ao contrário das pedras que o acompanharam na queda, que viraram quase pó.

Xarigan, porém, ficou intrigado porque aquela espada o havia salvo. Isso não havia sido feito por Seikiakko? Então é improvável que ela o tenha salvo, mas o fez. Talvez tivesse sido um erro.

Mas isso não lhe importou mais. Xarigan aproveitou, e, largando a tal espada ali na grama, correu para deixar a Ilha Voadora do castelo, o mais rápido possível, carregando somente a sua espada.

O rebelde também recorda de uma ocasião tempos após sua fuga do castelo.

Era numa espécie de pomar, onde ocultou-se no cimo de uma árvore, enquanto o guerreiro gordo de cabelos verdes o procurava pelas imediações.

Quase havia sido visto, pois o homem não deixou de olhar para a copa da árvore, mais por gula na procura de uma suculenta fruta, do que para cumprir o seu dever.

Xarigan havia escapado descendo rapidamente para o lado oposto do tronco ao que o castelão estava.

E ainda houve uma vez que Xarigan, ferido por uma flecha no braço, teve que lançar-se na correnteza de um rio, par evitar ser pego por Taflon e seu grupo. Fuga que rendeu ao rebelde muitas escoriações e alguns dias de febre alta.

- E a perseguição durou anos. Pelo menos, enquanto Taflon chefiava a guarda deste castelo. E é bom ver que ele não está mais por aqui.- afirma o rebelde.

Retornando ao presente, e com as coisas que foram lembradas, Shurato resolve levantar a questão.

- Um presente para Indra? O que era esse presente? Indra enganou o Mundo Celestial por muitos anos. Só há pouco tempo é que nós descobrimos que, na verdade ele era um inimigo.

Aquela notícia soa como novidade para todos os castelões ali. Não sabiam que Indra havia se revelado um inimigo no Mundo Celestial.

Shurato:

- O que foi? Vocês não sabiam?

Xarigan:

- Vocês do castelo são tão ignorantes, que nem pra se manter em dia com os acontecimentos em torno de Zefir! E o resultado da incompetência de vocês são essas constantes instabilidades em Zefir!

A essa altura Clef já havia ouvido evidências suficientes para perceber que sua atuação como sacerdote e conselheiro de Zefir, fora, no mínimo, fraca.

Clef:

- Nós já sabíamos que havia tido uma guerra contra o povo de Asra e o Palácio da Transformação.

Shurato:

- E Indra fazia parte deles.

O guardião celestial então vira-se para Abner e lhe indaga, ansioso:

- O que foi que você viu lá? Diz pra gente!

Abner, porém, ainda guarda muita mágoa dos castelões e de seus aliados também e responde:

- Isso não interessa vocês.

Shurato:

- Você tem que falar!

Yusuke, já de pé, esfregando as dobras dos dedos da mão:

- Eu acho que vou ter que arrancar isso da sua boca junto com uns dentes.

Seikiakko:

- Não adianta falar! Isso não vai mudar nada! Tudo já está perfeito!

Xarigan:

- Perfeito! Porque somente um Guru sem sabedoria acharia que eu salvaria a vida de um garoto para depois matá-lo!

Seikiakko:

- Isso aconteceu, porque você não tinha confiança de ninguém, Xarigan. Você era um bandido que deixou de roubar somente depois do acontecimento da carruagem. Eu sempre tive a confiança de todos e nunca quis, até hoje, o mal de ninguém! Tudo que fiz e farei é apenas o necessário.

O ex-Cavaleiro Dourado ira-se com as palavras da inimiga.

- Como disse?! Você é uma hipócrita maldita!

Abner novamente põe-se a atacá-la, mas uma espada surge para defende-la, bloqueando o golpe do ex-Cavaleiro.

Essa espada que surgiu, assim como escudos, lanças e outras coisas repentinamente. Não são empunhados por ninguém; estão no ar, completamente sozinhas, flutuando.

Clef:

- Estas são... as armas construídas por Seikiakko!

Seikiakko:

- Exatamente. Eu apenas as estou usando para me defender da incompreensão de vocês.

Clef:

- Agora me responda, Seikiakko. Por que você enviou Abner para outra dimensão? Foi só para prejudicar Xarigan? Você os odiava tanto assim?

Seikiakko:

- Não interprete errado.

Xarigan, impressionado:

- Interpretar errado?!

Abner vasculha em sua mente e lembra-se de seu próprio rosto, segundos antes de ser enviado para o difícil planeta Terra. Sua expressão facial apresentava um misto de surpresa e admiração, enquanto uma tênue luz amarelada iluminava seu rosto.

Abner:

- Ela me mandou para a Terra! Me fez sofrer muito lá, numa terra que não era minha! Eu sempre me sentia deslocado e não sabia o porque!

Seikiakko:

- Abner, não pense ter usado sua passagem para a Terra de forma errada. Eu apenas estava preparando-o.

Abner não consegue suportar aquele comentário cínico e não evita que seu lado sombrio volte a toma-lo, erguendo um braço com um dedo indicador para cima.

- E eu vou lhe dar uma passagem, Seikiakko, justamente para o Yomotsu! ONDAS DO INFERNO!

 

Na Grécia.

- Mas que poder é esse!? Sinto-me um pedaço de trapo velho sendo torcido! - pensa Karasu.

Shaka, confiando em seu poder, aproxima-se do inimigo se retorcendo no chão.

Shaka:

- Eu sinto que várias energias estão preenchendo o seu corpo, mas eu sei o que você é, youkai.

Ao término desta frase, Karasu surpreende-se com a perspicácia do Cavaleiro em adivinhar sua origem e também com o fato de Shaka, enfim, abrir os olhos.

Todavia Karasu continua imobilizado pelas torções involuntárias no seu corpo, que lhe provocam gemidos de dor.

Shaka:

- Eu sei que você é um demônio, youkai. Habitante do Makai, um dos seis mundos, também chamado Mundo da Luta, onde as lutas não têm fim e sangue é derramado a cada segundo. E eu quero saber a razão de um ser maldito como você subir as sagradas Casas Zodiacais. Por isso vou liberar seu corpo do meu cosmo e vou te dar a chance de responder.

De repente, Karasu, enfim, num movimento brusco, sente ter controle sobre o seu próprio corpo outra vez. Ele senta-se no piso de lajotas de pedra e observa suas mãos, as quais ele fecha e abre, num teste de funções. Porém Karasu olha para Shaka com expressão dura e diz, asperamente:

- Minha conversa será com Athena e não com seus subordinados.

Shaka:

- Saiba que sua ousadia me leva a tomar medidas mais drásticas. Vou tomar-lhe gradualmente a sua capacidade de se comunicar com o mundo, usando o Tesouro do Céu.

Karasu sente uma impressão estranha naquele instante.

O Cavaleiro, com as mãos faz gestos próprios do Budismo, e do seu corpo coberto pela armadura, uma energia praticamente divina é expelida.

Shaka faz um pequeno raio de seu cosmo ir contra o youkai, atingindo-lhe o nariz.

- A partir deste momento, invasor, você perdeu o seu olfato; jamais voltará a sentir o cheiro de sangue das suas vítimas, o que tanto lhe agrada. Enquanto ainda lhe restam quatro sentidos básicos, diga para que veio ao Santuário.

Shaka dispara mais do seu poder contra Karasu, que sente-se lançado para trás por um instante, como se uma fortíssima rajada de vento o empurrasse.

Shaka:

- Agora você perdeu o sentido do tato. Isto também deve tirar um pouco do seu gosto mórbido por atacar suas vítimas. Agora fale o que quero saber.

Karasu está suando de nervoso. Sabe que é inútil, mas, num rápido movimento, tenta disparar suas bombas contra o outro, porém o Cavaleiro é ainda mais rápido e atira mais do seu poder contra o youkai, fazendo os olhos do demônio tornarem-se totalmente brancos e perderem sua função.

Karasu está desesperado. Agora está cego. Agora é que será impossível reagir.

Shaka:

- Agora lhe restam apenas a audição e o paladar; enquanto ainda puder ouvir, ouça e diga logo suas intenções por aqui.

Mal acabara de falar, o Cavaleiro acaba por retirar a capacidade de ouvir do oponente.

Karasu pensa:

- Que posso fazer agora? Sou praticamente um vegetal.

Uma considerável paciência toma conta de Shaka a partir daí, pois ele aguarda para que o incapacitado Karasu finalmente revele suas intenções. Contudo, ele não faz, apesar de Shaka esperar por minutos, então ele usa do seu poder e extingue o último dos sentidos básicos do outro, o paladar.

Agora, de fato, o youkai está fisicamente derrotado.

Shaka:

- Nada me resta a fazer, a não ser lançar sua alma para outro mundo, para um dos seis mundos.

Com mais alguns gestos do Cavaleiro o corpo de Karasu desaba no chão, como se de fato, sua alma o tivesse deixado.

Shaka:

- Youkai, consegui perceber sua energia original, apesar da mistura de forças que rodeiam você, mas não enviarei você ao Mundo da Luta. Por seu atrevimento, enviarei sua alma ao Inferno, o mar de fogo e enxofre e montanhas de agulhas.

Como uma estrela cadente, a alma de Karasu some da casa Zodiacal.

 

Enquanto isso, no Castelo de Cristal, Abner está usando o poder mais assombroso do Máscara da morte; um redemoinho escuro está no ar sobre sua cabeça, pronto a sugar a alma de quem o ex-Cavaleiro desejar.

Porém a expressão de Seikiakko é de tranqüilidade. Seus cabelos e roupas se agitam sob a ação daquele ar sobrenatural, mas ela não é puxada um centímetro sequer em direção ao Yomotsu, o que deixa Abner chocado.

- Por que não consigo pegá-la? Por que? - exclama ele.

Xarigan aproxima-se de Abner e, com educação pega de volta sua espada, que estava na mão do outro.

Xarigan:

- Dê-me minha arma, Abner. Com o fio de minha lâmina eu darei vingança a todos nós.

Abner resolve cancelar o seu poder, e medita pasmado sobre o ocorrido:

- Como pôde o Yomotsu nem a afetá-la? Para ela parecia uma brisa!

O velho Xarigan segura sua arma na altura de sua cabeça, ao lado de seu rosto, numa posição de espera.

Seikiakko:

- O que aguarda, Xarigan? Não quer me tirar a vida? Tente fazê-lo!

Duas lanças flutuam agora à frente da sinistra mulher alva.

Xarigan olha para Abner e lhe diz em voz baixa:

- Se eu morrer agora, você será o responsável por meu sonho.

Abner, surpreso:

- Xarigan, você não pret...

O espadachim avança contra a mulher. As duas lanças atiram-se contra ele, mas em majestosos movimentos, o chefe dos rebeldes usa sua lâmina para cortar as pontas das lanças, fazendo-as tornarem-se simples bastões, cujos toques de suas pontas não incomodam, e então, ao contrário do que supôs, ele consegue chegar até a mulher. E com toda a força que jamais usou para um ataque em toda sua existência, Xarigan crava a sua espada no abdome de Seikiakko, fazendo com que a ponta de sua lâmina saia pelas costas da mulher.

- Enfim, tens o que mereces. - diz Xarigan, ao lado do rosto da mulher coberto pelos seus longos cabelos.

Ela, porém, não solta um gemido sequer naquele instante e seu corpo está imóvel.

Xarigan estranha a situação e, com sua mão, abre uma brecha em meio às mechas de cabelos da mulher, para ver seu rosto.

Inesperadamente, Seikiakko agarra-o com seus braços em torno do pescoço de Xarigan e puxa o rosto dele contra o seu.

Ele não pode evitar que seus lábios tocassem os lábios azulados da mulher que ele tanto detesta.

Ela tem beleza, uma beleza sinistra, mas tem. Mas o ódio dele por ela é ainda maior, o que o faz tentar desvencilhar-se logo dessa situação, mas ela é forte, apesar dos seus braços não serem musculosos.

Enquanto Seikiakko dá um beijo intenso em Xarigan, ele sente uma sensação estranha, uma sensação de presença dentro dele, algo muito estranho. Um frio corre por sua espinha.

Yusuke só de implicância aplaude, berrando:

- O Amor é lindo!

Enfim o beijo termina, mas porque ela o soltou.

Xarigan chocado com a situação, não tem idéia de que tipo de mensagem ela quis passar com tal atitude. Só sente um gosto esquisito na sua boca, que o faz cuspir várias vezes no chão.

Todos ali nem têm idéia do que isso significou.

Xarigan, com expressão enojada:

- Que pensa que fez, mulher maldita? Você é gelada como um cadáver!

De repente, Seikiakko abre um largo sorriso e, após uma rápida gargalhada macabra, responde:

- Se sou fria como um cadáver, é porque não deixo de ser um.

Todos ali ficam espantados. Não esperavam algo assim, até mesmo Yusuke choca-se o suficiente para cessar com suas piadinhas fora de hora.

Seikiakko:

- Eu já estou morta há muito tempo, saibam vocês. Como acham que eu poderia abandonar o núcleo de Zefir?

Xarigan:

- Por Brafma! Você é um zumbi!

Seikiakko:

- Não, Minha alma está presa a meu corpo, apesar de eu já ter morrido envenenada.

Clef:

- Envenenada?!

Seikiakko:

- Sim, meu caro Guru.

O passado regressa à mente de Seikiakko. Ela estava em seu, razoavelmente luxuoso, aposento. No castelo recebia a presença de Indra.

Seikiakko olhou o homem de turbante com certa ansiedade e indagou:

- Trouxe o que prometeu? Saiba que não posso mais esperar. Criaturas de minhas instabilidade mentais já estão começando a surgir em Zefir.

Indra:

- Estão aqui. As folhas mais venenosas que existem no Mundo Celestial.

Seikiakko senta-se em sua cama e diz:

- O núcleo não pode acabar com sua própria vida, pois Zefir se destruiria junto, e este não é o momento. Por isso eu peço que você misture na minha bebida ali, sobre o móvel e dê na minha boca.

Indra:

- Confie que o mestre lhe abençoou com seu poder.

Seikiakko:

- Sim, sei que ele não me trairá.

Ele, então, pegou uma taça três alças sobre o móvel, derramou um pouco da água da garrafa redonda na taça, e após começou a esfregar as folhas nas palmas de suas mãos, para que elas começassem a pingar sua clorofila venenosa dentro da água para o núcleo de Zefir beber.

Seikiakko:

- Indra, por que você não quer a benção do Mestre?

Indra:

- Eu prefiro, se for o caso, encontrar o Mestre, antes dele iniciar seu império. Além disso preciso ainda trabalhar com Shiva.

Indra, agora, entrega a taça nas mãos de Seikiakko, que, um pouco receosa, olha as ondulações na água esverdeada da taça.

- Seja forte. Após isso, você se livrará deste incômodo de ser o núcleo e poderá reinar eternamente com nosso Mestre. Ele está muito grato com você e com sua ajuda ele poderá agir nesta dimensão, como nunca. - instigou o sacerdote do Mundo Celestial.

Indra guardou os restos de folhas amassadas dentro de suas vestes, para não deixar suspeitas.

Seikiakko, então, lentamente, com Indra ajudando a segurar a taça começa a beber o conteúdo, não temendo sentir o sabor da morte.

Indra então ajuda-a a deitar-se, e como um irmão, a arruma no leito, e antes de sair do aposente, fala:

- Seja forte.

Após isso, Seikiakko passou minutos de longos sofrimentos. Dores insuportáveis tomavam conta de sua cabeça, sua visão se turvava e se duplicava. Ela começou a imaginar coisas sem sentido, e sabia que aquilo era delírio, mas conseguiu suportar e não clamar por auxílio.

- Essa dor que sinto é temporária, nada comparada a dor eterna daquele povo.

Pouco tempo depois, Seikiakko volta a se sentir sem dores, mas não sente mais nada também. Ela ergue-se da cama, mas tem a impressão de que sua alma está presa por muito pouco ao seu corpo, como se seu corpo fosse apenas uma marionete de seu espírito.

- Meu corpo, é como se eu o controlasse de fora! Só para me manter em contato com o mundo físico. -comentou ela a sim mesma.

Ela então pôs as mãos na cabeça e devagar retirou a tiara de núcleo, que saiu sem resistência.

 

Na casa Zodiacal de Virgem, Shaka continua próximo ao corpo do demônio caído, como se estivesse aguardando algo acontecer.

De fato o Cavaleiro não espera muito, e logo o corpo do youkai levanta-se novamente, devagar, mas com segurança; ele volta à vida.

Apesar da situação, Shaka não solta nenhuma exclamação de surpresa, nem faz indagação alguma, mas sente uma voz que ressoa dentro da cabeça, a lhe dizer:

- Agora você já entendeu o que aconteceu, não é? Meu corpo está morto, mas eu consigo ter meus cinco sentidos através do meu espírito.

Shaka:

- Percebo quem o auxilia, youkai. Você tem apoio do Inferno.

Youkai:

- Exatamente! E sendo imortal e insensível, agora você e nem ninguém poderá barrar a minha passagem.

No youkai, em torno de determinadas partes do seu corpo vão surgindo manchas escuras, como se fossem sombras flutuando ao redor dele, que em pouco tempo, finalmente, tomam uma forma sólida, tornam-se uma armadura de cor escura, extremamente ornamentada, lâminas negras organizadas de forma que se assemelham a asas estão as costas, ombreiras duplas e longas ornamentadas feitos penas, no elmo quase triangular surgem chifres similares ao de um touro sendo que bem mais compridos, nas braçadeiras junto a mão estão pontas que se assemelham com garras de aves, o peitoral e abdome do youkai são divididos em linhas como as pernas de uma ave, e as quais prolongam-se até o joelho como uma túnica, já as pernas são feitas iguais a pernas de pássaros, terminado com pés iguais as de aves de rapina. Esta tão detalhada vestimenta é uma Sapuris .

Obrigado, mestre, pela honra de me enviar a Sapuris de Garuda. - murmura Karasu, em agradecimento à força oculta que o auxiliou.

Shaka mantém-se calmo, sem reação.

Karasu:

- Como viu! Nada pode fazer contra mim.

Shaka fica quieto por uns segundos e enfim fala:

- Venha comigo; vou lhe guiar para fora da casa.

O youkai acha tal comentário muito estranho, mas seu orgulho por ver-se em tamanha vantagem, lhe faz supor que o famoso Cavaleiro de Virgem tenha desistido e segue-o.

- Será que um ser de tamanho código moral seria capaz de mentir pra mim? - assim pensa Karasu.

Shaka vai para uma porta lateral da Casa de Virgem. Ao ver o que parece ser o tronco de uma árvore, o demônio considera como uma saída.

Karasu pensa:

- Talvez um atalho.

E logo que o Youkai entra, empolgado, no local, vem a decepção. Pois é um jardim, onde existem duas árvores gêmeas, sem saída. Inclusive, no instante em que Karasu cruza a porta, ela deixa de existir. E lá fica, junto com o Cavaleiro.

Karasu:

- Uma armadilha!! Como ousou mentir?!

Shaka:

- Eu não menti! Tirei-o da Casa de Virgem, evitando que sua presença continuasse a infectá-la. Isto é o Jardim das Salas.

Karasu já ouvira isso antes:

- Jardim das Salas! O lugar onde o corpo de Buda descansou, após a morte! História do povo da Terra! O que você quer dizer com isso?

Shaka nada fala; apenas retoma a sua, às vezes assustadora, posição de oração.

Karasu, irritado:

- Se está disposta a morrer, para me destruir, saiba que nunca serei morto!

Apesar do nervosismo do inimigo, o Cavaleiro continua com seu misterioso gesto introspectivo.

Fora de controle, pelo fato de saber que Shaka não é nenhum fraco, e o enganou, Karasu fica ainda mais nervoso, por não ver reação do outro.

O youkai, para forçar a atenção do outro, dispara uma pequena bomba contra Shaka, mas esta explode à toa, numa barreira invisível, criada pelo Cavaleiro.

Karasu

- O que planeja?

Enfim Karasu toma consciência e lembra de um velho truque seu. Ele arranca sua mascara do rosto e sorri cinicamente.

Sem aviso prévio, ele começa a sugar o ar com a boca, sem expirar; apenas inspira, como se seus pulmões não tivessem limites.

Logo, a cor negra do cabelo de Karasu vai clareando.

Shaka continua agindo da mesma maneira. Ele apenas viaja dentro de si mesmo. Uma viagem no mundo do seu próprio espírito.

Dessa forma, ele vê alguém. Alguém iluminado espiritualmente. Parece ser Buda.

O iluminado aproxima-se de Shaka e lhe diz:

- Nem sempre a morte é algo permanente. No passado, todos que eram chamados de santos, superavam a morte. Se você puder entender isso, poderá ser tornar um deles.

O semblante de Shaka agora está ainda mais sereno. Parece ter ficado aliviado com as palavras.

Enquanto isso, Karasu está agora flutuando ali na sala, com os cabelos espichados e louros reluzentes.

Um frio na espinha percorre todos ali no Santuário. Eles têm um mau pressentimento.

Mu:

- Shaka?! Você realmente pretende...?

De volta ao Jardim das Salas, o demônio decide, enfim, agir.

- Só quem tem a perder aqui é você, Cavaleiro. Prepare-se para morrer!

Como um asteróide, Karasu lança seu corpo ultra carregado de energia contra Shaka.

Parece haver uma guerra no Santuário. E há, mas só de dois, no momento. O fato é que o ataque de Karasu gera uma estrondosa explosão que chega a sacudir as casas de Peixes e Áries. Já as casas de Leão e Libra, simplesmente, têm várias fissuras nas paredes. E a Casa Zodiacal de Virgem é destruída pela metade. E do que havia sobrado de pé, só pode ser chamado de ruínas.

Em meio aos pedaços de rocha espalhados pelo chão, está Karasu, que nem cansado está, com seu corpo imortal, armadura intacta, e livre para continuar.

O Youkai observa os escombros em torno de si. Quase nada havia sobrado do Cavaleiro; apenas a armadura de Virgem, a qual remontasse em seu formato original que é de uma mulher de face angelical, que tem asas nas costas, ajoelhada e com as mãos unidas em posição de oração.

O Santuário já havia percebido que perdera Shaka. Estão perplexos.

Não imaginavam que o tal inimigo fosse ligado ao Inferno, que pudesse usar uma armadura do reino sinistro do temível Hades e que conseguisse passar pelo homem conhecido como a Reencarnação de Buda.


Olá pessoal,

Desculpem a demora; eu estava muito ocupado nos últimos meses. Estava bolando novos projetos que não são fanfics e espero que vocês vejam quando forem concretizados.

Breve eu falo mais sobre isso.

Está certo, faltou aparecer a luta dos Gênios neste episódio, mas ela continua acontecendo e Lucy, Seiya e Ikki ainda estão no mesmo local, e no próximo capítulo eu vou continuar com eles.

É que neste capítulo eu quis enfocar mais os fatos do passado para explicar parte do que vem ocorrendo em Zefir.

Ah, lembram-se dos seis mundos que Shaka apresentou na serie dos cavaleiros? Pois é, eu apresentei o Makai como se fosse o Mundo da Luta. De fato, luta é o que não falta no Makai.

Feliz Natal e ótimo 2003. Considerem que este episódio é meu presente para vocês que acompanham esta fanfic.

E agradeço novamente a ajuda do meu amigo Lexas que revisou este episódio e me deu umas sugestões.

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Capítulo 27

Capítulo 25

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