Last Land

Quinto Dia - Verdadeiras Intenções

Capítulo 19 - A Causa de Uma Ânsia


Voando a uma velocidade considerável, passando entre florestas mortas e acima de fendas no solo estéril.Os shakitis dos guardiões celestiais carregam as duas Guerreiras Mágicas em direção à Fonte Eterna.

Primera continua nos ombros de Leiga, segurando-se em sua ombreira.

Leiga, observando o estado de Zefir, pensa:

- Está me lembrando alguns momentos em que o mundo celestial passou. É muito ruim que isso também esteja acontecendo aqui.

Os shakitis então dão uma guinada para o lado, para desviar-se de uma pequena montanha que ergue-se do chão, devido a um terremoto.

- Ai! - grita Shurato, na hora da curva.

Passada a montanha os shakitis retornam à rota correta, após outro movimento brusco.

- Ai! - volta a exclamar Shurato.

Marine se aborrece:

- Eu, hein?! Por que você grita toda vez que dá curva com o shakiti?

Shurato:

- É que a Sandhye belisca meu ombro nessa hora.

A novata está com uma expressão de medo indescritível.

Sandhye:

- É muito assustador voar assim!

Leiga para Marine:

- Não é por nada não, mas acho que você reclama demais!Marine, irritada:

- Ah, sim!? Só porque você falou isso, gostaria de saber porque você pinta tanto a cara! Você é drag-queen, por acaso?

- O que é isso? -pergunta ele.

Primera, apontando o dedo em direção ao nariz de Marine:

- Não sei o que você disse, mas exijo respeito com o Leiga, entendeu? Ele é uma pessoa muito boa!

Sandhye:

- Não poderemos ir mais devagar? Não precisa de tanta pressa... eu tô ficando tonta...!

Shurato:

- Hã?! O que vocês acham, pessoal?

Marine:

- Meu Deus! Que garota é essa que Brafma escolheu? Eu não sabia que deuses ficavam esclerosados ou bêbados!

Leiga:

- Aconselho você a ter mais respeito a Brafma. Deve ser terrível se ele começar a castigá-la!

Marine desdenha:

- Até parece! Eu tô fazendo um favor pra ele. Então ele tem que me aturar!

 

Na caverna escura, o grande gênio vermelho Rayearth, continua imobilizado, enquanto a energia parece escorrer do seu corpo como uma luz tênue e deposita-se na mão do ex-núcleo de Zefir.

Lucy fala nervosa:

- Rayearth! Rayearth! Como você está se sentindo?

Rayearth:

- Estou ficando cada vez mais fraco, minha Guerreira Mágica. Temos que sair.

Por mais que a garota e seu gênio usem suas forças conjuntas, nada além de uma tremedeira no corpo gigantesco do gênio em forma de robô ocorre, mas nenhum movimento é realizado.

Lucy, apelativa:

- Por favor! Deixem-nos largar Hyoga! Ele não tem nada a ver com isso!

Seikiakko:

- Quanto mais energia, melhor.

Cisne continua preso na mão gigantesco do grande gênio. Ele está com uma expressão enfraquecida e faz um esforço inútil para sair dali.

Seikiakko continua também a lançar a energia para os quatro animais paralisados, e esses, aos poucos, vão sofrendo transformações em seus corpos. Alguns tornam-se, lentamente, mais bonitos e outros mais feios. Novos membros vão surgindo, outros somem, mais pelos, menos pelos, maior estatura, maior robustez.

Seikiakko:

- Animais sagrados! Agora é o que vocês são! Recebam o poder da criação sobre seus corpos e espíritos!

Hyoga:

- Afinal, o que você está fazendo?

Lucy:

- O que você está fazendo! O que significa isso?!

Seikiakko:

- Mais rápido! Preciso ser mais rápida!

A mulher agora abre a boca, e com ela também passa a aspirar a energia dos três capturados.

Agora, de fato, Hyoga, Rayearth e Lucy sentem como se estivessem em estado terminal de uma doença debilitadora. Não têm forças para se esforçarem. A consciência vacila a todo instante.

Num segundo eles tomam consciência de que estão na caverna, noutro segundo sua mente vaga por diversos momentos de suas vidas.

Hyoga lembra-se de Asgard, de Freia lhe sorrindo enfeitada pela neve que caia ao longo da janela do palácio; lembra-se de sua mãe no oceano, congelada, com os cabelos balançando na água. De sua infância, com os amigos Seiya, Ikki, Shun, Shiryu e outros mais, no orfanato.

Lucy lembra-se de Lantis, quando ele quase toca-lhe a mão, no momento em que ela partia para a Terra, na Segunda vez. Das suas duas amigas, quando chegaram à Zefir e não tinham idéia do que fazer. De seu irmão mais velho afagando seus cabelos como se fosse uma criancinha. Do seu cão Hikari lambendo seu rosto.

Até o próprio gênio Rayearth lembra-se da vida no imenso vazio da dimensão paralela que habita. Da sua época de animal comum, junto à sua matilha.

Estas falhas na mente indicam a debilidade na qual os três se encontram.

Seikiakko, enfim, pára de lhes sugar as forças e retira a magia paralisante.

O gênio, com Hyoga na mão, despenca no chão.

Rayearth perde sua forma humanoide e torna-se um animal semelhante a um lobo, de pelos flamejantes e cai ao lado de Lucy.

Os três estão inertes.

Seikiakko agora usa ambas as mãos para lançar o poder sobre os quatro animais, os quais continuam tendo alterações no corpo.

A mulher pára de lançar energia.

Os Suzakos se aproximam:

- Estamos ansiosos!

Seikiakko para os animais:

- Vocês são as criaturas mais poderosas da nova ordem que surgirá neste mundo. Creio que agora vocês já têm uma consciência forte, o suficiente para me responder.

Uma voz telepata sai da mente das quatro criaturas mágicas:

- Temos consciência do valor da nossa existência.

Seikiakko diz entusiasmada:

- Bem vindos a seu mundo! Neo Mashins! Eis ali os seus companheiros.

A mulher aponta para os Suzakos. Quatro dos Suzakos aproximam-se dos Neo Mashins.

Seikiakko:

- Unam-se e dêem origem aos novos gênios de Zefir!

O primeiro Suzako aproxima-se do animal semelhante a um louva-a-deus, que lhe diz:

- Sou Quitame! O gênio da Peste. Una-se a mim.

Um brilho toma conta de Suzako e Quitame; os dois se unem de forma semelhante as Guerreiras Mágicas e seus Gênios e tornam-se como um robô gigante.

Um gênio com asas de inseto, como as de uma libélula. Seus braços são achatados e serrilhados às suas bordas. Nas suas juntas, abaixo da armadura larvas parecem mexer-se, como vermes que passeiam por ali.

O segundo Suzako aproxima-se do animal semelhante a um unicórnio, que lhe diz:

- Sou Upain! O gênio da Fome. Una-se a mim.

Os dois se unem de forma semelhante ao primeiro, dando origem a outro gênio em forma de robô.

Seu único chifre ainda está na testa, sua crina tornou-se como um rabo de cavalo na cabeça de robô. Suas mãos são cascudas como se ainda fossem meio patas de cavalo. Seu ventre se contrai incrivelmente tornando-se muito fino e seus ossos são visíveis por baixo da pele do local.

O terceiro Suzako aproxima-se do animal semelhante a um polvo, que lhe diz:

- Sou Dwhell! O gênio da Morte! Una-se a mim!

Assim, num processo igual, surge mais um gênio robô.

Um gênio cinzento, com seis braços em vez de de dois, sendo que são finos, como se pudessem esticar-se e possuem apenas dois dedos em cada mão. Suas pernas são bem longas. Os olhos dele parecem não existir, dando lugar a dois buracos negros que parecem levar ao infinito.

O quarto Suzako aproxima-se do animal semelhante a uma foca, que lhe diz:

- Sou Oddbeast! O gênio da Guerra! Una-se a mim!

Logo surge um gênio robusto.

Seus braços são muito largos e suas pernas idem. Seus dedos parecem pontas de espadas, e algo tipo um imenso tubo fica preso em suas costas, como se fosse a bainha de uma espada, ou uma mochila militar.

E assim surge o quarto gênio da nova ordem de Zefir, de acordo com Seikiakko.

Os quatro são tão altos quanto Rayearth, mas a altura do teto é suficiente para que fiquem de pé.

Os três Suzakos restantes expressam orgulho, e mais ainda a estranha dama, que demonstra um sorriso quase psicopata.

Seikiako feliz:

- Enfim! Após anos de espera, este é o começo do fim de Zefir! Enfim este mundo se tornará de fato um paraíso!

Lucy, caída, com sua visão turva, tem noção do que acabara de ver. E pensa, querendo poder esmagar uma porção de terra no punho, para expelir sua revolta e nem isso pode fazer.

- Deus! Ela criou gênios! Por minha causa! Desde que cheguei eu matei a princesa Esmeralda, o coitado do Zagard, que apenas queria defendê-la. Deixe a terra sem núcleo, em decadência por muito tempo! Feri os sentimentos de Lantis por tirar-lhe seu irmão! Criei Nova, que causou tormenta para meus amigos e, por causa dela, Águia morreu! Aboli o núcleo inutilmente! Lantis está morto por se importar comigo e agora estes monstros foram criados por minha culpa. Zefir merecia uma ajuda melhor. Porque eu?! Porque alguém tão inútil assim?!

Pelo menos algumas lágrimas escorrem por seu rosto. Seu organismo ainda isso permitia.

Hyoga também com vista turva, tenta com todas as forças, emitir palavras de sua boca, mas está fraco demais até para respirar e frustra-se ao ver os olhos escarlates da garota perdendo a consciência.

- Lu... - É o máximo que consegue pronunciar, fazendo um esforço imensurável - Ela tinha que saber que Lantis não morreu! Tinha...! - lamenta-se em sua mente o cavaleiro.

Agora é tarde. Os olhos dela parecem opacos; com certeza ela está sem consciência e jamais o ouviria.

Ele tem vontade de gritar de agonia. Mas nesse estado é só uma utopia.

Do lado de fora da caverna, Botan muito triste, vendo tudo com sua capacidade de quase onipresença, mais uma vez fala com o irredutível demônio:

- Hiei! Koema vai saber disso! Se você não quer ajudar, vai lhe trazer pontos negativos no seu próximo julgamento e você será punido!

Hiei:

- Que se dane!

Botan:

- Que você tá pensando, Hiei? Só porque conseguiu...

Hiei interrompe-a, com raiva e bronqueia:

- Não me perturbe! Já fiz muito em avisar Hyoga sobre o risco que a garota corria! Além disso você não tem idéia do poder que eu sinto nessa tal Seikiakko! Dessa vez não tem jeito. Você vai cumprir o seu trabalho, com muita gente.

Botan olha desolada o ranzinza baixinho sair em direção às pedras, sobre o solo estéril de Zefir e o céu escuro, e sumir de sua vista.

 

Enquanto isso, sobre os shakitis as Guerreiras Mágicas continuam de carona dos Guardiões Celestiais.

Marine, sem que a outra perceba, dá rápidas olhadas para a novata e seus pensamentos nada otimistas:

- Essa garota, é lamentável, mas ela não tem o espírito de uma Guerreira Mágica! Ela vai ter que entrar na Fonte desarmada. Ela tinha que, pelo menos, despertar seus poderes mágicos.

Sandhye continua extremamente assustada. Em nenhum segundo ela está curtindo a viagem no veículo flutuante.

Marine fala para Leiga:

- Vamos parar aqui. Lembra-se do que eu combinei?

Leiga:

- Claro, minha dama nervosinha.

Marine ia responder, mas desta vez se conteve. O Rei Karla pára o shakiti, e Shurato logo após.

Todos vão descendo do veículo.

Sandhye, curiosa, pergunta:

- Já chegamos na tal Fonte?

Marine, com olhar malicioso:

- Não, mas não precisa! Você não vai mais para ela.

Sandhye:

- Ah! Então eu tô livre do trabalho?

Marine:

- Tá, claro! Você não vai mais pra lugar nenhum nesta vida!

A Guerreira Mágica veterana invoca sua espada, e aponta-a ameaçadoramente contra Sandhye, que arregala indescritivelmente os olhos e gagueja:

- U...uma e...es...es...pada! Você tá apontando pra mim!!

- Está na hora de morrer, sua garota inútil!

A voz de Shurato faz com que Sandhye vire-se para ele e Leiga, vendo seus olhares malignos.

A garota começa a tremer, sem parar.

Primera também, com expressão assustadora:

- Você não tem como escapar! Lute ou morra!

Sandhye, desesperada:

- AAI!! Que burra eu fui em vir para cá!

Marine:

- Pois é, não é? Que azar! Mas você já está partindo desta pra melhor.

Leiga e Shurato pegam suas armas e aproximam-se dela.

- Vamos te destruir.

Sandhye olha-os com os dentes cerrados, praticamente batendo-os uns contra os outros, de pavor. Suas tranças castanho escuras balançam, enquanto vira-se para os guardiões e para Marine.

- O que eu faço?! O que eu faço?! – pensa, temerosa, a garota. - Como posso me defender?!Marine, Shurato e Leiga avançam com as armas. Enchem seus pulmões e berram:

- MORRAAAAAAAAAA!!

As argolas de Leiga, a arma de Shurato e a espada de Marine param, respectivamente, no abdome, no rosto e no pescoço da garota, tocando bem de leve nela.

Tudo o que Sandhye havia feito contra esses ataques fôra fechar os olhos, apertadamente.

Sandhye:

- Por favor! Se for me matar, façam depressa!!

Shurato:

- Ela age como alguém que vai ser fuzilada!

Marine ira-se:

- Por que você não tentou nada? Ia deixar a gente te matar, numa boa?

Sandhye:

- O que eu posso fazer? Fugir? Pra onde, neste deserto se não conheço nada? – ela percebe – Então vocês estavam me testando?Marine:

- É... a gente tava te testando e o resultado é que você não tem nada de Guerreira Mágica! Você tá frita em Zefir!

Sandhye fica com os olhos úmidos:

- Não fala isso não!

Leiga:

- Não se preocupe Sandhye, eu já vi alguém mais desajeitado que você se tornar um ótimo Guerreiro.

Shurato:

- Tá falando de mim?

Leiga:

- Não, do Dan, quando ele era mais novo.

Sandhye:

- Estamos muito longe da Fonte, ainda?

Marine:

- Não! Tá lá!

Ela aponta em uma direção e Sandhye aperta a vista para ver melhor e comenta:

- Uma linha flutuante?!

Na imensa caverna, aproveitando a incapacidade de Hyoga, Lucy e até do Gênio do Fogo, os três suzakos aproximam-se das vítimas e preparam cada um uma esfera elétrica em suas mãos.

- Preparem-se para morrer de vez! - gritam.

- Você quer ajudá-los? – indaga a mulher adornada.Suzako pára seu ataque:

- Por que diz isso?

Seikiakko:

- Quando eles morrerem terão a paz. Se viverem até que Zefir tornar-se a nova terra, eles irão sofrer muito mais.

Os suzakos sorriem, e confirmam:

- Você está com toda razão.

Então a mulher move-se a passos lentos e diz:

- Neo mashins da nova terra! Vão e devastem o que ainda haja inteiro neste mundo!

Em poucos segundos os gigantescos gênios deixam a caverna pela imensa entrada e voando.

Seikiakko, juntamente com os suzakos dá mais uma olhada para os inimigos inconscientes e fala:

- Não há mais porque ocultar a verdade! Nossos objetivos foram concluídos com êxito.

No local da Fonte Eterna. A novata Guerreira é levada por Marine para o alto de uma pequena elevação no solo de Zefir, próxima à Fonte.

De lá, Sandhye pode olhar de cima a tal linha flutuante que avistara antes, mas agora não vê mais uma linha e sim a água da Fonte e pergunta:

- Só de cima a gente pode ver?! Que surpreendente! Posso tirar uma foto?

Marine:

- Que?! Você trouxe máquina fotográfica?!

Sandhye:

- É, eu imaginava que teria muitas coisas surpreendentes para se fotografar num lugar como esse.

Leiga, que também subira ali junto com Shurato, fala:

- Melhor deixar isso para depois! Acho que temos coisas mais urgentes! Seja lá o que for máquina fotográfica.

Marine olha para a nova amiga e, segurando seus ombros, diz:

- Sandhye, escute... você irá mergulhar na Fonte, tá bem? – ela vê a garota empalidecer de repente – Lá dentro você encontrará o mineral Escudo.Sandhye abraça Marine, assustada:

- Não, por favor! Eu... eu não sou boa em nadar! Aliás em coisa nenhuma! Se isso for fundo, eu vou morrer!

Marine fala mais duramente:

- Sandhye! Você precisa ser mais forte para poder sobreviver como Guerreira Mágica! Não pense que você veio parar aqui por acaso! Se o destino lhe escolheu, saiba que esta foi a melhor escolha.

Sandhye afasta-se da outra, chega à beiradinha do monte e observa aquela água ondular levemente lá em baixo.

- Pelo menos me diga o que há lá em baixo.

Marine:

- Você não irá se afogar! Dentro da fonte você pode respirar, como em outra dimensão, mas lá você terá que enfrentar uma dificuldade. O que é não sei dizer, porque varia de pessoa pra pessoa.

Sandhye:

- Você não pode dizer algo mais claro?!

Marine:

- Calma aí! É complicado! Éee... Lá você vai ter que enfrentar quem você gosta muito!

Sandhye, confusa:

- Como assim?

Subitamente, todo o chão começa a tremer. A garota novata permite que seu sapatinho escorregue na beirada e seu corpo é posto à mercê da gravidade.

Num grito agudo de pavor, Sandhye cai do monte diretamente na água da Fonte, sendo engolida por ela.

Os demais ali, também perdem o equilíbrio, porém, por não estarem à beirada, apenas desequilibram-se, ficando ajoelhados no chão.

O abalo sísmico passa e Marine expressa sua frustração:

- Ela caiu! Droga! Tinha que ter terremoto logo agora?!

A pobre Sandhye, desta vez, os seus impulsos de medo a levaram a entrar em uma situação pior. É certo que o chão tremeu, mas o susto foi o que mais a desequilibrou.

Ela abre os olhos, sente que a água invade seus globos oculares, tendo a visão atrapalhada pelas bolhas de ar, que desprendem-se do seu corpo.

O lugar não é escuro, nem claro, não se vê o fundo nem parede alguma ao seu redor. Parece somente água, um mundo ilimitado de água. Seus olhos demonstram um certo desespero em estar ali. Arrisca bater os pés e puxar a água para baixo com as mãos, na intenção de retornar para cima, para onde olha, mas quando sua visão nota que lá em cima não há superfície, arregala mais ainda os seus olhos. Parece que não veio de lugar algum e o pior, é que também não vai para lugar nenhum.

Com o seu coração excessivamente medroso, lhe custa mais a lhe passar a fase que para outras Guerreiras só foram alguns segundos. Contudo, finalmente, a Quarta Guerreira encontra-se agora em solo firme. Seus pulmões voltam a funcionar, como se aquela água fosse respirável e menos densa que a normal, e é tão fácil de se movimentar como se estivesse no ar.

Ela olha ao seu redor; não vê nada a não ser um tom amarelo, preenchendo o infinito.

Fica estática por alguns segundos. Nada ocorre, nada vê, nada ouve, nada sente. Isso a incomoda. Começa a caminhar, chamando:

- Marine! Alguém! Tem alguém neste lugar? Shurato! Leiga! Primera! Alguém está me ouvindo?

Lá fora.

Leiga, Shurato e Marine nada podem fazer no momento, além de esperar que a garota tenha sucesso em sua missão. Eles ficam ali parados, sem ter muito o que falar, sentados sobre pedras.

Shurato curioso, fica olhando a "linha flutuante" que mostra-se na verdade ser a famosa Fonte; ele chega perto e afasta-se como um cachorrinho frustrado em seus intentos.

Marine:

- Por que vocês não falam alguma coisa? Contem uma piada, sei lá!

Shurato:

- Você não fica curiosa em saber porque esta Fonte é assim?

Marine:

- Eu fico, mas imagina se vou querer entender essa Fonte Eterna maluca! Tem tantas outras coisas que não entendo até hoje...!

Shurato:

- Eu também não.

Chamando a atenção dos três ali, ao longe no imenso horizonte nublado dos céus escuros, as nuvens percorrem em lenta velocidade por todo o espaço, assemelhando-se a um mar de algodão negro.

Todavia, no horizonte uma parte das nuvens parece estar sendo riscada. Uma linha delas sendo movimentada em grande velocidade, como se algo passasse por lá. Algo varava as nuvens e vinha se aproximando, mas não exatamente em sua direção, contudo ia chegando de forma a permitir uma visualização melhor.

E os três podem ver que algo semelhante a um robô, por lá passa. Seus membros, como braços e pernas, surgem temporariamente abaixo das nuvens e são cobertos novamente.

Tudo isto leva Marine a crer numa coisa somente.

- Um gênio! – fala a si mesma.Shurato:

- São suas amigas?

Marine:

- Não sei, vou lá.

Leiga:

- Espere, Marine! Algo de errado está havendo!

Marine:

- Claro! Está tudo errado por aqui.

Shurato fica pensativo, de repente.

Leiga:

- Talvez você não esteja percebendo, mas sinto algo que faz tempo que não sentia.

Shurato:

- Sei... o somma negro. É...agora notei. Ele parece longe, mas é muito poderoso.

Marine:

- Somma negro?

Leiga:

- É! É uma energia que quem costuma ter não são pessoas boas.

- Sentiram no gênio? – indaga ela.

- Nele também, mas é outro somma bem maior. – diz Leiga. Primera irritada:

- Ei! E você não vai fazer nada, não? E que gênio é aquele? Não vai olhar? Sua missão é proteger Zefir!

Marine, irritada:

- Sei muito bem disso e faço muito bem. Por isso pára de dar palpite, tá legal? Baixinha!

Para implicar, Marine coloca as palmas das mãos, a fim de medir a estatura da Fadinha, a qual fica aborrecida.

Marine:

- Leiga, Shurato, levem a minha aluna para Priscila, tá legal?

Shurato:

- Tudo bem! Vai lá, Marine!

Marine invoca sua espada, coloca-a para o alto e grita:

- CERES!

O corpo da mais bela das Guerreiras é erguido no ar e, em segundos, o gigantesco gênio vem tomar seu lugar.

Marine:

- Vamos, Ceres.

Ceres:

- Minha Guerreira Mágica, sinto algo de ruim com Rayearth, assim como com sua amiga.

Marine preocupada:

- O que quer dizer? Elas foram com Esmeralda!

Ceres:

- Não, minha Guerreira, você foi enganada. Eles estão beirando a morte e há novos gênios em Zefir.

Marine nervosa:

- Morrendo?! Ceres, me ajuda! Me leva lá!

Ceres:

- Vamos.

O gênio parte para o alto, também para as nuvens, mergulhando nelas.

- Anne! Proteja o castelo! Aquele gênio ia pra lá. Eu sei disso!- pensa Marine

Shurato, ao lado da fonte, indaga:

- Algo aconteceu? Ela ficou mais nervosa.

Leiga preocupado:

- Deu pra perceber.

Primera reclama:

- Mas ela foi pro lado errado!

No interior da Fonte a garota continua a chamar os amigos, mas nada ouve em troca.

Suas exclamações não são respondidas com palavras, porém o lugar mágico lhe responde, fazendo com que o nada de tom amarelo comece a tomar formas geométricas.

Sandhye olha assustada aquelas mutações.

Parecem surgir aos poucos, paredes, portas, objetos ao redor da garota.

Surge um pequeno criado-mudo, um relógio bege sobre ele e bonecas sobre o relógio. Esta visão faz sair de sua boca as palavras:

- Minha casa! Meu quarto!

Sandhye vê que tudo está igual a sua casa, e isto a faz muito feliz. Ela olha para a janela. Vê o mundo lá fora, correndo normalmente, sendo que à noite. Alarga então o seu sorriso.

- Eu voltei pra casa! Me mandaram de volta pra casa! Muito obrigada, gente! Eu agradeço muito!

Ela olha para o relógio digital às 01 da manhã.

Sandhye:

- É... o tempo tinha que passar por lá. Acho que vou tomar banho. - Olha para suas roupas. Não são as que levou a Zefir. É aquele quimono estampado com bichinhos, que havia ganho da mãe.

- Que sede eu senti de repente...! - comenta ela.

Sandhye caminha e sai de seu aposento. O caminho não é muito longe para a cozinha, afinal sua casa não é muito extensa.

Ela procura ir devagar, vai silenciosamente para não acordar ninguém.

- Posso falar com meus pais amanhã. - pensa.

A garota procura ser cuidadosa, enquanto caminha, mas seu pé pisa em algo que faz um ruído de papel.

Sandhye olha. É um bilhete que estava em baixo da porta do quarto dos seus pais, num papel de caderno, dobrado.

Quando a menina olha aquele pequeno pedaço de papel, um imensurável temor é exibido em seus olhos.

- E...esse papel! Eu...eu estou naquela hora de novo! No momento mais terrível da minha vida! Essa hora de novo!? Essa hora de novo!?

Sandhye abaixa-se para pegar o papel, corre direto pelo corredor. Lágrimas desprendem-se de seus olhos a cada passo, que ela sente como se fosse uma eternidade.

- Esse momento de novo, não! Eu vou pra fora! Não posso ver isso de novo! – berra a garota, já esquecendo a sua discrição sobre o barulho de madrugada.Ela vai até a saída da casa, abre a porta, sai e fecha a porta às suas costas.

Não há ninguém na rua. Tudo está escuro nas casas vizinhas.

- Me ajudem! Eu não quero ver isso de novo! – berra Sandhye.Sua cabeça vira-se de um lado para outro. Ela sente-se como se todas as suas ações ocorressem em câmara lenta.

Com ansiedade demasiada, ela olha para todos os lados, procurando ajuda, mas ninguém dá sinal de existência.

- Me ajudem! – berra ela mais estridentemente, ainda – Eu não quero ver de novo!A menina teme muito a cena que está por vir, mas ninguém aparece. Ela começa a chorar mais.

Nervosa, desdobra o pequeno papel e com olhos trêmulos começa a ler o que há ali.

"Minha amada Megumi,

quando você ler esta carta já terei tomado a decisão mais difícil de minha vida.

Quando nos casamos e tivemos nossa pequena Sandhye, eu dava o que vocês mereciam, conforto e uma boa condição financeira. Minha empresa me rendia o suficiente para eu pagar o amor de vocês.

Hoje não sei porque Deus permitiu, mas eu falhei. Com isso vocês estão passando sufocos que não merecem por causa da falência da minha empresa. Por isso minha Megumi, eu não não tenho mais honra para estar ao seu lado e estou deixando este mundo, para que, quem sabe, alguém mais honrado possa vir a cuidar de você."

Amassando o papel na mão, encostando a cabeça na porta e chorando sem parar, Sandhye murmura:

- Pai! Não faz isso! Eu vi esta cena horrível! Foi ruim! Muito ruim! Mas eu...pai!

Ela engasga-se com as próprias lágrimas. Seus olhos estão ficando mais tristes.

- Se eu não for lá o perderei! Pai! Não faz isso! – berra a garota.Sandhye volta a entrar na casa e, com passos apressados, vai em direção da porta do banheiro.

Ela empurra a porta com toda a força, a qual não está trancada e a escancara, batendo-a na parede num alto som.

Ali dentro, Sandhye vê uma imagem aterradora. Seu pai, com uma arma apontada para a própria cabeça, junto à pia.

O homem tem uma imagem deprimida; nem notara quando a filha havia entrado.

Sandhye corre na direção do seu pai, e dá um forte tapa em sua mão, fazendo com que o revólver caia no piso do banheiro.

Ao conseguir salva-lo, Sandhye abraça o pai, chorando.

- Pai! Eu li sua carta! Você não pode fazer isso conosco!

Pai entristecido:

- Desculpe filha, eu não mereço o amor de vocês. Eu perdi todo o respeito da nossa casa. E por ser incompetente, eu tentei isso!

- Pai! Você não tem que pagar por nosso amor! Nós o damos de graça! Porque o amamos! Só o que queremos é que você nos ame também, sempre! – exclama a garota, encharcando a manga da camisa do pai com suas lágrimas.A Guerreira é abraçada pelo pai, que aperta-a com carinho:

- Perdão pela minha covardia, filha! Perdão!

Sandhye pensa:

- Foi esse o momento mais triste da minha vida! E eu estou passando ele agora do novo. Por que? Por que tocaram nesta minha ferida? Eu sei que não deve ser real, mas é... tão convincente...!

Uma das mãos do pai é colocada sobre os olhos da filha, passando o polegar sobre eles limpando as lágrimas, enquanto ele fala:

- Perdoa minha covardia, filha.

A outra mão do homem apanha o revólver no piso.

A garota, com os olhos tampados, imaginando ser uma espécie de carinho, só percebe a realidade ao ouvir um estampido forte.

Ela sente os braços de seu pai enfraquecerem e logo seus olhos são liberados, o que permite que ela, movendo os olhos em direção à pia, veja as manchas vermelhas do sangue espirrado.

Ela está em estado de choque, não se vira e nem olha para baixo para conferir, pois só olhando os respingos já imaginava. Seus olhos estão fixos na pia respingada, bem como no espelho, no qual ela pode ver seu espantado rosto, e ao fundo o reflexo de seu pai.

- Não! Isso não terminou assim! Ele ouviu o meu apelo e nós vivemos juntos, com dificuldade, mas juntos! Porque então essa fonte mostrou esse acontecimento desta forma?

Ao piscar dos olhos úmidos da moça, ela já se encontra em outro lugar. De volta ao nada amarelado.

- O que isso significou? Que, por mais que eu me esforce, isso vai acontecer? O destino está selado?

Os olhos cor de mel da menina sentem uma luz vindo de cima, não tão forte. Ela pode olha-la.

Vê, então, descer do alto, lentamente, a sua frente, uma grande pedra amarelada, em formato poligonal, pairando no ar, em frente ao seu rosto.

Na entrada da Fonte mágica.

Como uma libélula sobrevoando um lago, Primera paira sobre a Fonte Eterna, enquanto resmunga:

- Vamos! Vamos! Quanto tempo você ainda vai demorar pra sair daí, garota?

Leiga:

- Calma, minha Fadinha! Você vai acabar caindo dentro.

Primera:

- Vou nada! Sei voar melhor que você, viu?

Leiga:

- Duvido, Fadinha!

Shurato:

- Depois ficam falando mal de mim! Vocês é que estão de papo furado nessa hora tão séria!

Leiga, apontando:

- Agora eu confesso que você tem razão, queridinho. Por que não coloca sua armadura? Olha lá longe!

Previsivelmente, Leiga vê uma criatura ao longe, vindo em direção a eles. Parece um lagarto humanóide, com uma grande cauda, que balança de um lado para o outro, enquanto caminha pesadamente.

- Ohn Shura Sowaka!

- Ohn Karla Sowaka!

Shurato e Leiga vestem seus shakitis.

Ambos ficam a postos para lutar.

Primera:

- É um monstro! Criado da instabilidade de Zefir! Cuidado!!

Shurato:

- Pode deixar.

Contudo, repentinamente, o monstro pára de andar ao ver os dois ali.

Shurato:

- Ficou com medo?

Primera:

- Os monstros não sentem medo. São feitos disso!

Subitamente a pança escamosa da criatura começa a inchar, a ponto de assemelhar-se a um balão e encostar no solo desértico.

Shurato observa confuso.

Leiga:

- Cuidado, Shurato.

Subitamente, a criatura volta a emagrecer, no momento em que abre a boca, da qual sai um raio.

Uma rajada luminosa clareia todo o seu caminho.

Não crendo no poder da criatura, o Rei Shura coloca-se à frente do raio, esticando sua arma para a frente, aguardando, bravamente.

Leiga, bem mais prudente que o amigo, usa uma de suas argolas e passa sobre a cabeça de Shurato, puxando-o pelo pescoço para que ele caia para o lado.

Esta ação evita que Shurato seja atingido, e o raio passa ao seu lado, atingindo em cheio uma rocha imensa atrás, a qual, imediatamente, deixa de existir, sendo feita em poeira, que espalha-se pelo ar, a ponto de provocar tosse em Shurato, Leiga e Primera.

Shurato:

- Virou... cof! Cof ... virou pó!?

Leiga:

- Eu não sabia que os monstros do medo eram tão poderosos!

Primera:

- Assim nunca foram!

Shurato:

- Aah! Então vamos acabar com ele agora mesmo! NAWMAK SAMMANDA BODANAN ABELAUM KEN SOWAKA - e ataca - O PODER DE SHURRAAAAAAAAAAAA!

A luz dourada do poder do Rei Shura cruza o ar em direção à criatura, que não tem tempo para desviar.

Mas ela não precisa. Em frações de segundos ela incha e encolhe sua pança outra vez, liberando rapidamente seu destrutivo raio, o qual penetra a magia de Shurato, atravessando-a, como se fosse algo macio e facilmente quebrável.

Leiga novamente tem que intervir e empurra Shurato, que apenas tem uma de suas ombreiras destruídas.

Leiga:

- Cada vez mais inconseqüente, não é?

Shurato ergue-se do chão e esbraveja:

- Se é assim... vamos ver como ele luta de perto!

O rapaz corre em direção a criatura , a qual também avança contra ele e os dois esbarram-se e rolam pelo chão medindo forças.

Shurato tenta dominar a criatura, passando o braço por seu pescoço, mas a criatura crava suas unhas no antebraço do guardião, e volta a encara-lo de frente.

Primera pasma:

- Ele é doido!

Leiga zomba:

- Você ainda não sabia?

A criatura, enfim, após pararem de rolar, coloca Shurato contra o solo e segura seu pescoço, colocando seu rosto à frente de sua boca. Sua barriga incha outra vez.

Leiga, mais uma vez, mete-se na briga, e atira uma pena na pata da criatura, fazendo-a largar Shurato.

Antes que o raio fosse disparado, o Rei Shura tira o rosto da "mira" do monstro e abraça-se à criatura.

- Ele não é doido de atirar agora!

Shurato estava enganado. O monstro atira, acertando o chão que os ampara, atirando os corpos de ambos para o alto, acompanhados de poeira e pedras por todos os lados.

Primera e Leiga vêem a cena estupefatos.

Shurato e o monstro estão atordoados e feridos pela explosão abaixo deles.

Novas rachaduras surgem no shakiti.

Ambos vêem aqueles pouquíssimos segundos com imensa lentidão. Sabem que voam por instantes e têm que voltar ao solo.

Shurato move-se, força seu corpo para a frente e evita cair de costas contra o solo. Cai de frente, quando se desequilibra ao pisar o chão.

A criatura também move-se para evitar uma queda de cabeça, contudo suas patas voltam-se para baixo, mas não pisam em nada sólido. Afundam-se rapidamente, pois o monstro cai dentro da Fonte Eterna e desaparece.

Por tamanha surpresa a todos, ninguém faz nada a não ser arregalar os olhos.

Shurato, com os olhos grudados na Fonte, senta-se sobre o pequeno monte que há ali e pergunta:

- O que acha que vai acontecer?

Leiga, preocupado:

- Não tenho idéia.

Primeira:

- A garota vai ter que enfrentar a criatura sozinha.

Shurato agita-se:

- Que?! Temos que entrar para ajudar!

Primera repreende:

- Vai com calma! Você não seria uma pessoa escolhida como uma Guerreira Mágica corre risco de morrer ali.

- Mas... mas... - tenta argumentar Shurato.

Leiga:

- Sei que é perigoso, minha fadinha, mas vou ter que correr o risco.

Primera quase cai de susto.

Shurato, abismado.

- Como é?! Você vai entrar?! Você sempre gosta de fazer esses tipos de sacrifício e deixar eu e os outros preocupados!

Leiga dá uma piscada para ele e fala:

- Trabalho de guardião celestial, queridinho. Se Sandhye sair, você a leva para Priscila.

Logo ao dizer isto, o Rei Karla salta para a água mágica da misteriosa fonte, logo sendo engolido por ela.

Primera berra:

- Leiga!!

A Fadinha tenta se jogar, mas Shurato pega-a pela perna.

Shurato:

- Peraí! Você pode morrer!

Primera se sacode, pendurada como num peixe sendo pescado, mas de cabeça para baixo:

- Me solta! Me solta! Não quero ficar sem o Leiga! Ele não!

Shurato sério:

- Não vai.

Primera continua se agitando, girando o corpo e gritando:

- Me solta! Eu não quero ficar sozinha! Não quero ficar sozinha! Só ele me dá atenção!

Uma lágrima escorre da pequenina, a qual escorre por sua testa, pelos cabelos azuis e pinga, abastecendo, infimamente, a água da Fonte.

Shurato, vendo aquela dor da Fada, deixa-a cair, e, com felicidade, ela penetra a clara água.

Shurato lamenta:

- Acho que sou eu que vou ficar só, agora.

No mundo psicodélico da fonte, a candidata a guerreira está a frente da pedra flutuante.

Sandhye estende as mãos em direção a ela, enquanto pensa:

- Este é o mineral! Consegui?! Eu não compreendo o porque! Mas agora, eu tenho que guarda-la?

Porém, novamente seu coração palpita com pavor. Ela vê, através da transparência do Escudo, do outro lado, uma criatura, semelhante a um lagarto, mas que pode ficar de pé, com as patas traseiras, ou seja, o mesmo monstro avistado pelos outros, fora da Fonte.

Sandhye, assustada, dá passos para trás; por sorte o Escudo transforma-se em energia e é absorvida pela pedra na luva da garota.

A criatura, nada amistosa, vai em direção a Sandhye, andando. Parece faminta.

Sandhye:

- O que eu faço?!

A garota começa a correr, e a criatura também.

A candidata a Guerreira corre com todas as suas forças, e, para sorte sua, é mais veloz que o monstro, o que a impede de ser pega. Porém ela pensa:

- Por quanto tempo poderei correr? Pra onde eu irei correr?! Corro lá pra fora?! Não tem saída! Serei pega de qualquer jeito.

Ela, então, pára e vira-se para o monstro.

A criatura dá aparência de cansaço, ofega, assim como a garota e em vez de persegui-la, abre sua boca e com ela produz uma espécie de bola de energia em seu interior. Enquanto sua pança incha.

Sandhye não sabe o que fazer.

- Devo aceitar a morte? – questiona-se.O monstro, enfim, dispara uma rajada luminosa de sua boca.

- Ainda não! – exclama a menina, esticando o braço para a frente, e de sua pedra mágica o mineral escudo aparece e coloca-se à frente dela, para defende-la.Contudo, o resultado é que, ao raio atingir o mineral, este é feito em pedaços minúsculos, que se tornam um pó, que espalha-se pelo local.

- Este é o mineral que me fizeram buscar!? – indaga-se Sandhye – É muito frágil!A criatura formada das trevas e medo dos corações de Zefir, aproxima-se mais uma vez para realizar a força de seu intento: matar. Só isto lhe preenche a limitada mente.

Dessa vez ele aproxima-se para um ataque corpo a corpo.

Talvez assim sangre mais e ele goste mais.

A garota agacha-se no chão, com a cabeça apoiada ao joelho.

Fraca demais para lutar corporalmente, sem magia para mantê-la à distância e nem espada para lhe dar uma possibilidade de reação, a pobre menina apenas treme de pavor, encolhida.

O monstro urra, disposto a causar violência gratuita. Irritado, ele vira-se e, com sua cauda, atinge a garota, fazendo-a rolar pelo chão, e parar de costas tocando no indefinido solo. Como uma boneca, está inerte pelo medo. Seus olhos castanhos nem querem olhar o monstro.

- Pai! – pensa ela – Acho que sou como você! Pelo menos você tinha a mim naquela hora para faze-lo desistir da morte, mas eu estou só e vou ter que deixar vocês sós, também. – sua mente vaga por alguns instantes – Deixar vocês sós? E... e se eu morrer, vocês vão sentir o que eu sentiria se vocês, mamãe e papai morressem? Sentiriam-se mal, não é? Mas o que eu posso fazer para continuar a viver?A criatura pouco liga para os momentos delirantes da jovem e, sem piedade, crava a pata no abdome da garota.

Sandhye sente dor a ponto de forçar e fechar mais ainda os olhos e demonstrar seus dentes, firmemente cerrados.

A criatura retira a mão da barriga ferida da menina. O sangue da jovem pinga de sua garra.

- Isso é dor! Muita dor! Será o prólogo da minha morte? Que sensação estranha... sinto meu coração pesado, parece... uma pedra... uma rocha no meu peito. Isto é a morte?! Isto é o que eu sinto! Estranhas palavras estão se formando em minha mente. O que é isso?

A garota não abre os olhos, mas ergue um braço, como se pedisse a aquela criatura ali, ajuda-la a levantar-se.

O monstro não hesita e agarra sua pequena mão, não para auxilia-la, mas para aperta-la, com violência.

Sandhye sente a dor do aperto, que parece rachar seus ossos. Porém ela esperava por essa dor. Sabia que seria assim, mas só o que queria naquele instante é pronunciar no funda da alma:

- Mutação da terra! De acordo com o meu coração!

Ela nem sabe o que significa isso que acabara de dizer. Só nota que a criatura a larga na hora e começa a apresentar uma inquietação.

Finalmente, a medrosa garota abre os olhos e vê a criatura afastar-se, parecendo desequilibrada nos seus passos.

O monstro olha para seu próprio corpo, nervosamente. Começa a apresentar-se cada vez mais transparente. Seus movimentos estão mais rígidos, como um robô e vão ficando mais e mais dessa forma.

- O que houve? O que aconteceu? – murmura a garota, observando o inimigo.O monstro então começa a tomar um tom amarelado e em alguns segundos depois da transformação, a criatura torna-se uma sólida estátua de mineral amarelo.

Sandhye pasma:

- Eu o transformei em... uma estátua de Escudo!

Sandhye sente agora uma transformação nela mesma. É a armadura dada por Clef. Ela se havia alterado.

Sandhye só então, esforça-se para levantar, e, olhando a armadura, comenta:

- Será que isso é evoluir?! Se... se eu consegui, então realmente posso ser uma Guerreira Mágica.

A estátua de Escudo torna-se uma energia e entra na pedra da luva da garota.

Sandhye sente seu corpo perder todo o peso novamente e sua consciência esvair-se para quase zero. Mesmo assim percebe que foi lançada para outro lugar.

Ela abre lentamente suas pálpebras e seu sentido da visão lhe revela o que ela não imaginou que viesse a acontecer. Ela está fora da Fonte. Vagarosamente, ela observa Shurato lhe olhando curioso, e olha em torno de si, vendo a devastada terra escura e abaixo de si, vendo a água.

Nota que está flutuando sobre a água. Seus sapatinhos nem chegam a tocá-la, e o pavor volta a lhe correr pelas veias.

- Que é isso?! Tô flutuando?

Shurato:

- Você saiu?! Mas e o ...?

Sandhye:

- O que?!

Shurato:

- Nada.

Sandhye.

- Cadê a Marine e o Leiga?

Shurato se remói para não dizer:

- Tiveram que sair! Depois a gente encontra com eles.

Shurato transforma seu shakiti em veículo e, dando a mão para traze-la para o carona, diz:

- Vamos lá. Priscila está te esperando. Você conseguiu o Escudo, não é?

Sandhye:

- Claro. Até agora não tô acreditando.

A garota obedece e sobe no shakiti.

Shurato :

- Você poderia me beliscar menos desta vez?

Sandhye:

- Desculpa. - diz, sem graça.

Seguindo aquele ritual de quem entra na Fonte Eterna, Leiga sente-se exatamente como num lago, porém logo percebe-se no ambiente psicodélico da fonte mística, com um horizonte disforme.

Leiga calmo, mas precavido, começa a dar lentos passos no local. Olha então alguém vir daquele estranho horizonte, aproximando-se, batendo as pequenas asas. A fadinha vai ficando mais evidente à sua vista.

- Primera?! - diz surpreso.

Neste ínterim, Primera também sente-se envolta em muita água, o que não é bom para suas asas, mas de súbito sente-se normal outra vez e num local estranho, onde não parece nada ter forma alguma.

Contudo, uma forma surge a sua frente, de um homem alto, de cabelos louros, espichado para cima.

- Leiga! - exclama ela, com felicidade.

Com toda velocidade que lhe é possível usar, Shurato carrega a Quarta Guerreira Mágica para o castelo.

Ela olha para a feia paisagem de árvores secas passando junto a seus olhos e mais uma vez dúvidas lhe vêm.

- Você acha que eu consigo ajudar Zefir?

Shurato:

- Você tem que confiar em você mesma! Essa é a base para viver em Zefir e no Mundo Celestial. Acredito em você e em Brafma.

Sandhye:

- Me falaram vagamente que você é do Mundo Celestial. Lá também precisa de ajuda?

Shurato:

- Não, ainda bem! Lá tá tudo certo.

Sandhye:

- Sabe, eu ainda tô meio descrente de estar num lugar como este. Eu não imaginava que isso podia existir.

Shurato:

- Eu também me senti assim no início. Depois acostumei.

Sandhye:

- Escuta, por que eu preciso tanto desta espada?

Shurato:

- Acho que é pra despertar o seu Gênio.

Sandhye:

- Meu Gênio?!

Shurato:

- É, desculpa... é que tem acontecido tanta coisa ao mesmo tempo, que ninguém pode conversar direito com você. Mas que você fazia lá? Você gostava de ver filmes de luta? Eu via muito lá na terra.

Um demorado silêncio indica a falta de resposta.

Shurato:

- Já sei. Você é como todas. Preferem aqueles filmes de romance, que até me dá sono, né?

Sandhye:

- Ele está me chamando.

Shurato:

- Quem?!

Shurato vira-se para olhar a menina. Ela está estranha. Seu olhar parece em transe, e, de repente, ela, sem mais nem menos, salta do shakiti, caindo de mal jeito no chão.

Shurato pára o shakiti e retorna.

A garota se levanta, sem reclamar a dor da queda. Começa a caminha para uma direção, que não aparenta ter nada além de um deserto.

Shurato:

- Sandhye, o que foi?

Ele vai se aproximando, quando, por baixo do shakiti a terra levanta e forma algo semelhante a uma rampa, que arremessa o shakiti para alto, de modo que Shurato perde o equilíbrio e fica pendurado nele, quase caindo.

Lá em baixo, Sandhye vai caminhando. Os grãos do solo estéril que estão abaixo dela se mexem como se fossem vivos e vão fazendo uma espécie de esteira rolante à sua frente. Ao lado dela rochas com formas geométricas de paredes se formam. Um teto vai se solidificando ali, após duas ondas de pedra se erguerem, das paredes e se lançarem uma contra a outra.

Sandhye assiste a tudo, mas não demonstra expressão alguma no seu rosto, que agora está num local mais escuro ainda, onde nem os raios que cortam o céu sem pausa, podem lhe iluminar a face.

Shurato, vendo a arquitetura monumental que aquelas rochas haviam tomado, comenta, enquanto voa, vendo de cima.

- Um templo!

Dentro do monumento construído em tempo recorde, Sandhye está só, lá dentro, agora pisando no piso liso do local, com olhar absorto para a frente, ao fim do templo, onde não há nada.

Não havia nada, até que, saindo do solo, sem quebrar o piso, como se esse fosse uma pasta, surge um gigantesco gorila. O Gênio Landover.

Mesmo assim, Sandhye continua a olha-lo sem dizer palavra alguma, sob o poder hipnótico característico dos gênios.

Assim, a Quarta Guerreira, apesar de suas dificuldades intensas havia conseguido superar a Fonte Eterna, mas agora está diante do Gênio Landover. Aquele que nunca se uniu a uma Guerreira Mágica por orgulho.


Capítulo 20

Capítulo 18

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