Blood & Iron

Capítulo XI - Lembranças do Passado


“Flashback”

Em algum lugar da Europa

1932

Uma rua sombria e silenciosa. Carros estacionados, portas e janelas trancadas. Sobre as casas, em suas ombreiras e suas entradas, cruzes penduradas, sinais religiosos marcados com tinta.

O único barulho era de um cachorro uivando em algum lugar da cidade.

No alto de um edifício, no terraço, na altura de uns três andares, dois homens encapuzados conversavam. Seus rostos escondidos sobre suas vestes negras, mas suas vozes eram misteriosas.

- Diga-me de novo---disse um deles---Por que você me trouxe aqui depois do pôr do sol?

- Preste atenção---disse o outro---Espere. Olhe---Ele apontou para a rua estreita.

Um casal de jovens namorados assustados corriam no beco escuro. Seus passos chocando-se contra o chão rapidamente, suas respirações desesperadas.

A moça caiu, o rapaz de boina, seu namorado, ajudou-a a se levantar, rapidamente.

- Vamos!---disse o rapaz, sua voz estava trêmula.

Quando a moça levantou-se, uma corrente prendeu fortemente o pescoço do rapaz de boina para o fundo do beco, escuro que nem breu.

A única coisa que a moça ouviu foi o barulho de uma lâmina de aço. Alguns ratos correram, amedrontados.

De repente, a cabeça do rapaz foi jogada em frente a moça, que horrorizada colocou as mãos em frente ao rosto… amedrontada.

- Isso é porque eu o trouxe aqui---disse um dos homens de capuz ao outro.

Das sombras do beco, da noite escura, surgiu um vulto: uma ruiva, de pele pálida, em seus braços estavam duas lâminas de aço, extremamente afiadas. A roupa de couro apertado deixava-lhe mais bonita do que já era. Seus olhos verdes fitaram a moça.

- Nós não temos uso para uma vampira em nossas mãos, isso é perda de tempo---disse o primeiro homem encapuzado, em voz baixa.

- Não é uma simples vampira---respondeu o outro---É apenas meio vampira. Sem as fraquezas dos vampiros… Ela quer destruí-los.

A ruiva estendeu suas lâminas diante da moça horrorizada, que se ajoelhou, colocando as mãos diante do rosto e chorou. De repente, a moça revelou sua verdadeira face: seu rosto era cheio de pelos, seus olhos verdes sobrenaturais, seus dentes caninos longos… a ruiva sabia que aquela era uma vampira. Era por isso que ela estava ali.

A vampira atacou a ruiva, dando-lhe um soco no rosto. A ruiva recuou, para então começar a contra tacar.

- Ela escolheu um lugar diferente para lutar---disse o primeiro homem, meio cético, analisando a luta entre as duas.

- Ela quer alguma coisa… ela procura… pelo pai dela---o outro homem disse, crente na misteriosa dhampir.

A ruiva derrubou a vampira no chão, e colocando suas botas nas costas dela, pegou o braço da oponente e o quebrou.

- A Sociedade Brimstone… ---O primeiro homem, incrédulo e desconfiado sobre a ruiva, foi interrompido.

- A Sociedade Brimstone precisa dela---o segundo homem terminou a frase com sua própria idéia---Nós iremos estender o convite… hora de ir.

Os dois foram saindo. Mas antes, um deles colocou um pequeno medalhão sobre uma estátua que estava ali em cima do edifício.

As duas continuaram a lutar, até que a ruiva enfiou uma de suas lâminas no peito de outra, erguendo-a do chão. A criatura vampira começou a gritar, um grito não de dor, mas de alerta…

- Onde ele está, sua vadia?---A ruiva tentou arrancar a informação preciosa da vampira, mas essa só gritava.

Para calar a boca da vampira, a ruiva cortou-lhe a cabeça com a outra lâmina.

O alarme da vampira fora ouvido. De repente, todas as portas e janelas estouraram, e por elas surgiram mais vampiros, cobertos por capuzes marrons, seus dentes visíveis na escuridão.

Mas a única coisa que eles viram… foi uma granada.

Uma explosão, que matou todos.

A ruiva surgiu no alto do terraço, observando a explosão. Mas havia alguma coisa sobre a estátua… um medalhão… um símbolo.

Agora ela deixava de ser só “Rayne”… e se tornava… BloodRayne.

QG da Sociedade Brimstone, 1939

O velho já estava agonizando quando Rayne encontrou-o, dizendo coisas estranhas e sem sentido. Havia bagunça por todos os lados, pessoas mortas, agentes da Sociedade Brimstone que haviam sido abatidos.

- Kagan---disse Rayne, sua voz tremendo ao falar esse nome---Onde ele está agora?

- Blood Library---Foram as ultimas palavras daquele agonizante velho.

Rayne abriu com todas as suas forças as portas duplas da Biblioteca. Segurando com força suas lâminas nas mãos, ela disse as palavras que sonhara em dizer toda a sua vida:

- Eu vou destruir você!

Lá dentro estavam soldados armados, nazistas. E próximo de uma estante, analisando um livro, estava ele… ele… aquele que Rayne procurara a vida inteira apenas para se vingar… Kagan… o pai dela… seu pai vampiro. Ele estava lá, ao lado de seus aliados nazistas. O próprio Kagan era um “colaborador” nazista, embora provavelmente queria ver todos mortos.

- Ah---disse Kagan, sua voz era grossa, autoritária---Uma de minhas… crias. Mas você cheira impura. Qual era o nome de sua mãe?

Rayne preferiu ficar quieta, em memória de sua mãe e da família dela.

- Não ligue, eu sou terrível com nomes---continuou Kagan, indo em direção da escrivaninha---Mas eu tenho certeza que ela deve ter morrido, com muita dor, assim como o resto da família dela…

O maldito vampiro jogou um livro na direção de Rayne, que explodiu em chamas.

- SEU NAZISTA BABACA, EU VOU TE…---Rayne tentou juntar nas palavras toda a sua raiva.

Kagan começou então um discurso desnecessário, falando sobre a sua glória, sobre o reino sangrento que ele tanto esperara. Ele então, abriu uma das gavetas da escrivaninha, parecia procurar alguma coisa.

- Oh… sim… ---a voz de Kagan tinha uma certa excitação, quando ele tirou de dentro da gaveta algum tipo de relíquia---Sim… sim… a Vésper Shard. Exatamente o que eu estava procurando… Agora, você irá me destruir? Irá provar de sua própria morte!

De repente, Kagan levantou do chão um velho, totalmente sujo de sangue, seu estomago estripado, o intestino arrancado em volta do pescoço dele, mas ainda vivo.

- Sir Trumain?---Rayne disse, espantada. Aquele era o homem que cuidara dela por muito tempo, que lhe tirara do lado das trevas, aquele que ensinara a Rayne que nem tudo é o que parece. Trumain foi o mais próximo de um pai que Rayne tivera.

- Ah, então vocês dois já se conhecem. Simples, isso facilita as coisas. Você andou tirando mais uma de minhas filhas, não é Professor? Cuidando dela como se fosse sua… criada para matar os da sua própria espécie.

- Rayne---a voz fraca de Trumain saia de sua boca com sangue---Corra… saia daqui!

- COLOQUE ELE NO CHÃO, SEU RATO MENTIROSO, CHUPADOR FILHO DE UMA…!!---Se Rayne tinha alguma raiva em seu corpo, ela foi colocada naquelas frases, suas mãos quase suando em contato com as lâminas de aço, o ódio em suas veias crescendo.

- Sabe o que ele e essa sociedade pretendiam fazer com essa relíquia?---Kagan tinha uma prepotência na voz, que só era acentuada pelo seu olhar maligno---Matar todos os de sangue vampiro, como eu e você!

De repente, Rayne percebeu que Trumain estava tirando algo de dentro de seu casaco… um pequeno objeto.

Enquanto Kagan continuava o seu discurso de vitória, nem percebia que Trumain puxava rapidamente o pino da granada…

Rayne correu na direção da janela, jogando-se nela, pouco antes de toda a Biblioteca explodir, uma explosão que consumiu Kagan, Trumain e os soldados.

Eu passei a minha vida inteira atrás daquele bastardo, apenas para ter esse momento de vingança, porque ele estuprou minha mãe e matou ela e a família dela. Mas agora tinha acabado. Ele estava morto… era o fim. Não, não era um fim, era apenas um começo.

Pois eu decidi passar os sessenta anos seguintes caçando e matando os servos do meu p… de Kagan.

***

Rayne lentamente abriu os olhos. Seja quanto tempo havia passado desde que caíra no sono, ela não fazia idéia. Ao invés de acordar nos braços de Leon, ela apenas sentira o frio da mesa de pedra. Ela ainda estava presa naquela sala.

Leon estava sentado em um canto, exausto depois da sexta tentativa de abrir a porta, mas estava bloqueada do outro lado.

- Por quanto tempo eu dormi?---Rayne levantou-se, pegando as suas lâminas.

- Quinze minutos, um pouco menos talvez.

- Pareceu uma eternidade.

Eternidade. Essa era uma palavra estranha para Rayne. Ela se perguntava: quanto tempo iria viver? Ou quanto tempo iria durar? Mas não importava quanto tempo isso durasse, ela passaria esse tempo todo, caçando e destruindo o mal… as trevas… vampiros… ou qualquer coisa que representasse uma ameaça.

Rayne foi até a porta bloqueada e chutou-a, na esperança de que conseguisse abri-la. Mas fora em vão, pois tudo o que vira foi a porta imóvel, e ouvira o som das pedras que impediam a saída.

Eles estava literalmente ferrados agora.

Leon permaneceu sentado no chão, com as mãos por cima dos joelhos. Uma das mãos estava visivelmente enfaixada, o que fez Rayne não só lembrar-se do sangue que bebera do loiro, mas também dos beijos que haviam trocados antes dela cair no sono.

Deviam faltar uns 45 minutos até a detonação do complexo. Era o tempo que lhes restava.

O fim da eternidade, para Rayne. Ela nunca estivera numa situação como aquela, sentindo-se sem saída, sem nenhum lugar para ir. Se houvesse um simples buraco na parede de pedra, alguma perfuração… seria só isso que Rayne precisaria. Mas não havia nada.

- Sem saída, não é?---Leon estava mais quieto agora, e quebrou o silencio com seu comentário.

- Totalmente---Rayne jamais dissera algo assim---A essas alturas, Klaus já deve ter encontrado a outra metade do coração…

- Acho que não. Eu espero que não.

Leon tentou rapidamente utilizar o seu comunicador, tentando entrar em contato com Ingrid Hunningham, mas não havia sinal naquele fim de mundo.

Por algum motivo, Rayne deitou-se sobre a mesa de pedra, seus braços jogados ao lado do corpo. Seus olhos verdes translúcidos olhavam fixamente o teto, a lâmpada, o duto de…

- O que?---Rayne levantou-se rapidamente---Leon… olhe!

- O que foi? É um… um duto de ventilação! Eu bem que havia sentido uma brisa antes!

Rayne ficou em pé sobre a mesa de pedra, e arrancou a pequena grade metálica sobre o duto.

- É largo o suficiente?---Perguntou Leon, enquanto passava a mão sobre a barriga, certificando-se que toda aquela malhação e treinamento não o deixaram gordo.

- Eu acho que sim.

Rayne percebeu que havia uma escada que subia no duto. Ela entrou primeiro, apressadamente, sendo seguida por Leon.

Os dutos de ventilação eram antigos, e pareciam um labirinto. Estranhos sons eram ouvidos dentro deles, como ecos e algumas vozes sinistras.

De repente, um daemite parasita surgiu e pulou pra cima de Leon, as suas garras tentando segurar o agente federal, seus dentes amarelados na direção da pele dele.

- Leon!---exclamou Rayne, pegando uma de suas Carpathian Dragons.

- Ahh---grunhiu Leon, segurando a criatura com as duas mãos, tentando impedir que o mordesse---Caramba!

No instante em que Rayne iria atirar, o duto de ventilação estourou, caindo. Ambos sentiram o impacto do duto metálico no chão, Leon bateu sua cabeça, enquanto continuava com a criatura em suas mãos.

Rayne pegou uma das Carpathian Dragons e apontou bem na cabeça do daemite. Ela atirou, e a cabeça explodiu, voando crânio e sangue por todos os lados, chegando a sujar o rosto de Leon.

- Argh---disse ele, passando a mão sobre sua cara suja---Que coisa mais nojenta…

Rayne deu um chute nas facetas metálicas do duto de ventilação, que abriram-se. Os dois conseguiram finalmente sair das malditas passagens de ar, e estavam em algum tipo de câmara de pedra, o que significava que eles ainda estavam nas minas.

- Vamos, Leon, rápido!---disse Rayne levantando-se e ajudando Leon.

- Sabe que direção seguir?

- Não sei direito. Esse lugar está muito diferente desde a ultima vez que eu vim aqui: eles reconstruíram muitas câmaras que haviam sido destruídas!

Leon e Rayne foram correndo na direção da porta, passaram por ela e foram seguindo por um corredor rochoso, até chegar em uma nova câmara. Havia alguns daemites no interior dela, que lançaram-se pra cima deles.

Rayne protegeu-se deles com suas lâminas, enquanto Leon colocou um novo pente de munições em Matilda, e começou a atirar. Um dos daemites ultrapassou as balas de Matilda, mas recebeu um chute na cara de Leon, um chute tão forte que estourou o seu crânio.

- Leon, por aqui, rápido!---Rayne apontou para uma outra porta.

***

Leon e Rayne finalmente chegaram em uma câmara muito alta, totalmente feita de pedra. Um portal de pedra estava erguido na parede mais alta, mas havia alguma coisa guardando ele.

- O que diabos é aquilo?---Leon segurava firmemente a sua arma nas mãos.

- É o Guerreiro Daemite… o Guardião…

Bem em frente ás portas de pedra, havia uma criatura imensa. Tinha três cabeças semelhantes aquelas dos daemites, mas possuía vários tentáculos ao lado de seu corpo. De suas bocas sobressaiam dentes afiados, e a pele era de uma coloração amarelada mais escura.

O Guerreiro Daemite veio na direção de Rayne, e atacou-a com um de seus tentáculos. A ruiva desviou, e ao mesmo tempo pegou uma de suas lâminas e transpassou o membro do Guerreiro, arrancando-lhe o tentáculo.

A criatura soltou um grito estridente, e Rayne voltou-lhe a atacar, dessa vez saltando sobre ele e enfiando a sua lâmina em uma das cabeças.

Foi então que Leon começou a atirar, o que desviou a atenção da criatura, que veio em sua direção. Naquele momento, com aquela monstruosidade vindo pra cima dele, o agente federal sentiu sua espinha gelar.

Aquele Guerreiro Daemite tinha a altura de dois homens adultos!

Mas quando Leon iria atirar, com sua mira bem entre os olhos da cabeça central, Rayne surgiu por trás, sua lâmina passou certeiramente pelas três cabeças, e com um outro golpe, atravessando o corpo do Guerreiro verticalmente.

A criatura despedaçou-se, e havia sangue por todos os lados.

- Algo me diz que Klaus Wulf está perto!---disse Rayne.

- Como consegue saber disso?

- Eu não sei. Só sinto isso. Intuição feminina…

Rayne chutou um dos pedaços do Guerreiro Daemite e disse:

- Essa é uma noite que esse camarada jamais vai se esquecer---voltando a olhar para Leon, e apontando com uma de suas lâminas o grande portal de pedra---Quer ir na frente?

Leon tentou abrir o portão, mas era muito pesado. Foi então que Rayne foi auxiliá-lo, colocando as suas mãos sobre a pedra e pressionando com força. Instante depois, as portas de pedra abriram-se e ambos entraram.

Rayne sabia que a luta final estaria começando.


N.A.

Nossa que emoção, em breve o último capítulo *.*

Jogadores de BloodRayne devem ter notado que essas cenas de flashback nada mais são do que cenas do game, “mas traduzidas e adaptadas”. O primeiro flashback é a cena de introdução de BloodRayne e a cena com Kagan é de um FMV em BloodRayne 2.

Outra coisa que eu queria colocar também, é sobre “A Raiva do Sangue”. No game, é uma habilidade da Rayne (BloodRage) que aumenta a força dela.

Capítulo 12

Capítulo 10

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