Blood & Iron

Capítulo XII - Coração Negro


Aquela era a Câmara Daemite. Uma grande sala em formato hexagonal, feita também de pedra. No alto, vinha uma estranha luz. Do outro lado da câmara havia uma outra porta, e no centro, algum tipo de altar de pedra, com entalhes representando criaturas demoníacas. Em cima do altar, havia alguma coisa embrulhada em um velho tecido.

A porta do outro lado da câmara se abre. Era Klaus Wulf, vestido em um traje cerimonial.

- Bem vindos!---disse Klaus Wulf, com sua habitual voz rouca e grave ao mesmo tempo---Vocês assistirão o nascimento de uma nova era!!

- Cale a boca seu idiota!---disse Leon---Nova era uma ova!

- Vocês humanos são tão insolentes---disse Wulf, indo em direção do altar, Rayne e Leon indo também---Não sabem o quanto poder eu terei em minhas mãos… Não sabem quanto poder eu já tenho!

- Não se aproxime desse altar, Wulf!---disse Rayne, a ruiva estava quieta até agora.

- Ahahaha---Wulf soltou sua risada sarcástica---Você, BloodRayne. Você deveria permanecer quieta. Sabe, fostes um tormento para mim e para minha família á anos! Já está bem na hora de teres o que merece!

- Babaca nazista---Disse ela---Eu corto pessoas como você em pedaços todos os dias!

- O controle total dos daemites---Wulf pareceu ignorar os dois que estavam ali, na mesma distancia que ele do altar---Meus preciosos daemites!

- Eu já disse pra não se aproximar!---repetiu Rayne, sua língua passando entre os dentes, as mãos presas ás espadas.

- Hey idiota!---Leon apontou Matilda bem na direção do rosto dele. O agente federal atirou, mas bala pareceu “explodir” em pleno ar, á alguns centímetros da cara dele---Mas que diabos!?

- Eu já lhe disse que não sou um mero mortal---disse Wulf, apontando sua mão na direção ao altar---Eu sou o começo e o fim! Eu não sou mais Klaus Wulf! Eu sou O MESTRE DOS MESTRES, O PAI DOS DAEMITES, EU E A MATRIARCA SEREMOS UNOS!!!

De repente, o velho tecido em cima do altar começou a chacoalhar. E de dentro dele, saiu um negócio avermelhado, a outra metade do coração da Matriarca. Atraído pela outra metade que estava no peito de Klaus, a segunda metade levitou na direção das mãos do nazista.

Rayne tentou impedir, mas sentiu uma força poderosa que a impediu de se mover.

As duas metades do coração estavam unidas novamente. Unidas no peito de Klaus Wulf. O nazista maníaco sentiu em seu corpo um fogo percorrer, uma energia estranha, sentiu o seu novo coração ganhar vida, prender seus nervos aos dele, a carne unindo-se, retalhando-se…

De repente, Klaus soltou um berro. Estranhas garras saíram de dentro do peito dele. Sua pele começou a se esticar, e seus braços aumentaram de tamanho, chegando a tocar o chão e suas mãos viraram lâminas feitas de pele e osso, pontiagudas. Mais dois braços saíram por detrás das costas dele, semelhantes aos outros. Suas pernas aumentaram de tamanho, mas pareciam dobradas no joelho. Klaus estava mutando…

E a visão erra horrível. Leon teve que colocar a sua mão na boca para não vomitar. Ambos, ele e Rayne recuaram, enquanto Klaus continuava a mudar sua aparência.

E em seu peito, onde havia um coração daemite completo-O Coração da Matriarca-agora haviam dentes pontudos e circulares, que pareciam serras.

Os cabelos dele foram engolidos pela carne, que continuava a aumentar. Seus olhos ficaram negros, seu nariz aquilino regrediu, até restar apenas as cavidades nasais.

- NÃO HÁ MAIS KLAUS WULF---A voz do nazista estava diferente, como se tivesse algum líquido em suas cordas vocais, era como a voz dos daemites, mas numa versão mais feminina---AGORA, A MATRIARCA RETORNA!

De repente, Klaus Wulf---A Matriarca---atacou Rayne com os seus tentáculos pontiagudos, mas ela recuou, saltando para trás. A Matriarca voltou a atacar a dhampir, utilizando ainda de seus tentáculos, tentando golpeá-la e ao mesmo tempo enfiar a ponta afiada das garras na carne da ruiva.

Dessa vez, Rayne decidiu dar o seu ataque. Armada com suas lâminas duplas de aço, a ruiva as lançou na direção das pernas da Matriarca, golpe que foi inútil, pois a mesma “dobrou” as pernas, de forma que fosse quase impossível atacar.

Foi então que Leon começou a atirar na Matriarca, ao mesmo tempo em que corria ao redor dela. A criatura notou a estratégia de Leon e algo estranho começou a ocorrer com a Matriarca. Chamas incandescentes foram surgindo em seus braços, e ela apontou-os na direção de Leon.

O agente federal jogou-se no chão, pouco antes das chamas quase atingirem ele.

- Bom Deus… ---disse Leon, enquanto levantava-se rapidamente.

Agora Rayne e Leon estavam em lados opostos da sala, com a Matriarca entre eles. Rayne pegou as Carpathian Dragons e começou a atirar feito doida na Matriarca. As balas pareceram não ter efeito sobre ela, e o mesmo fenômeno que ocorria com Klaus ocorria com a Matriarca: a munição estourava antes de atingir a carne podre da criatura.

A Matriarca saltou pra cima do altar e começou a mudar novamente: aumentou o seu tamanho, e os dentes em seu peito também alargaram-se, formando um tipo de boca. Os braços que saiam das costas dela também aumentaram de tamanho, chegando a dar uma volta por seu corpo. A criatura soltou um berro estridente, e de repente, Daemites Parasitas começaram a sair da boca que ela tinha em seu peito.

As crias da Matriarca foram em ambas as direções: a maioria pra cima de Leon, que receberam tiros logo de cara, enquanto alguns outros foram pisoteados pelo salto metálico de Rayne.

- Leon!---Gritou Rayne---Continue atirando! Nas costas!

Obedecendo as ordens da dhampir ruiva, Leon descarregou toda a munição restante acertando as costas da Matriarca, que parecia ser o seu ponto fraco.

Rayne apertou firmemente suas mãos e sentiu a Raiva do Sangue fluir em seu corpo, quase que naturalmente. Ela canalizou todo o ódio, todo o sentimento de raiva e vingança que possuía, transformando-o em força, em energia.

A dhampir começou a correr na direção da Matriarca, e saltou. Em pleno ar, ela manuseou as suas lâminas de modo que atravessassem a carne da criatura, numa tentativa de cortar-lhe os braços pontiagudos. Depois do salto, Rayne jogou-se no chão, mas ergueu-se num novo salto.

Os braços dianteiros da Matriarca forram arrancados. Sangue por todos os lados. A mãe dos daemites soltou outro grito. Leon sentiu uma ligeira dor nos ouvidos com o grito estridente.

- Essa vadia não cala a boca!---Disse Rayne.

- Rayne!---disse Leon---Estou zerado de munição!

- Droga…

O som que Rayne ouviu não foi muito convidativo. Ela e Leon ouviram sons de sirenes, de alarmes, em todo o complexo.

Sistema de Autodetonação em cinco minutos…

Cinco minutos para autodetonação…

4:59

4:58…

- Merda---Leon sussurrou---Isso é o que eu acho que é?!

Rayne sabia que agora era a hora de agir. Eram os seus últimos momentos, a sua ultima chance. Ela iria dizer para Leon sair, antes que acabasse o tempo, mas ela também sabia que ele iria negar no ato.

Sentindo as ultimas gotas de sua Raiva do Sangue, Rayne saltou novamente na direção da Matriarca…

- Rayneeeeeee!!!!!---Gritou Leon.

Rayne estava em cima da Matriarca. Suas botas fixas nos “ombros”---ou o que pareciam ombros---da criatura. E suas lâminas duplas profundamente enfiadas bem onde era o coração da Matriarca. A fonte de sua energia.

- Vadia!---disse Rayne, ao saltar novamente no chão.

O corpo da Matriarca despencou no chão de pedra maciça. A carne da criatura começou a derreter, seu sangue vazar por todos os lados. E no fim, havia apenas no chão pedaços podres de pele e ossos, um coração seco e…

- Wulf?---disse Leon, ao ver o corpo frágil e esquelético do nazista, nu, jogado no chão, respirando com dificuldade.

- Vocês… não… sabem… o que fizeram!---Klaus Wulf disse as palavras enquanto se levantava lentamente, seu corpo imundo de sangue. Agora ele não passava de um nada, um rato sujo em um esgoto.

Mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa… a lâmina afiada de Rayne transpassou-lhe o pescoço…

Leon não podia esquecer-se de sua missão. Relutantemente, ele pegou a seringa em seu bolso e recolheu uma amostra do Coração da Matriarca. Naquele momento, Rayne tentou ignorar o ato que o agente federal fizera.

Para Rayne, a missão terminara… ou não.

***

Um agente federal loiro e uma dhampir ruiva corriam pelo labirinto que era o subterrâneo do complexo. Passando pelas câmaras, pelos corredores, estourando as portas, eles estavam exaustos, mas continuavam a correr contra o tempo.

Finalmente chegaram no elevador.

Os dois jogaram-se pra dentro dele, enquanto Leon pressionava alguns botões. Rapidamente, o elevador subia alguns andares.

- Anda logo, anda logo---Leon estava impaciente.

As portas do elevador abriram-se. Leon e Rayne saltaram pra fora dele, continuando o percurso, procurando por alguma saída.

De repente, eles chegaram até as docas internas, e viram um barco.

Em cima dele, havia uma pessoa que estava um pouco suja de sangue, uma loura, que gritava:

- Kennedy!---gritava Sherry Birkin---Rayne! Por aqui! Rápido!

- Sherry?---Leon parou por um instante. Ela estava viva?

- Rápido, subam no barco!---Sherry auxiliou os dois a subirem, embora Rayne preferiu subir na embarcação com um salto. A ultima coisa que ela queria era encostar na água e sentir sua pele queimando.

Rapidamente, Sherry ligou o barco, e apertou um botão, que abriu uma comporta. O jet-ski foi acionado com toda a sua velocidade, possibilitando que eles fugissem á salvo.

Alguns instantes depois, toda a montanha, todo o complexo explodiu. Tinha fogo por todos os lados e a terra sendo engolida pelas câmaras subterrâneas, que foram soterradas.

Rayne jogou-se no jet-ski, esgotada e exausta. Ela olhou para o céu, ainda não havia amanhecido. Devia ser umas seis horas, por ali.

- Sherry---disse Leon---Obrigado… Por nos salvar… Mas, por que nos ajudou?

- Você me ajudou, salvou minha vida uma vez, esqueceu?---disse ela, limpando uma gota de sangue em seu rosto---Vocês dois…

- Você veio aqui para uma missão, não era?---continuou Leon para Sherry, a montanha explodindo ao fundo deles---O que Wesker vai dizer quando descobrir que você…

- Que eu falhei? Eu não sei---Sherry suspirou---Especialmente por que a partir de agora, eu não trabalho mais pra ele.

Leon apenas fez um sinal positivo com a cabeça, enquanto Sherry observava a paisagem ao fundo. O destino dela agora era mais incerto do que nunca. Wesker jamais deixaria ela escapar. Ela teria de ser bem esperta, e mover bem as suas peças agora, se quisesse sobreviver.

- Garota!---disse Leon para Sherry, enquanto pegava os controles do jet-ski---Você tem um talento natural para retornar dos mortos, sabia?

Sherry sorriu. Era a primeira vez que Leon vira ela sorrir.

***

O jet-ski havia sido ancorado em uma praia deserta na costa da Argentina. Não havia ninguém por perto apenas a água do mar, a areia e algumas árvores próximas. Sherry havia sumido, entrado nas matas para então seguir seu destino, seja lá qual fosse.

Foi a primeira vez que Rayne se dirigira a Leon desde que escaparam do complexo. Os dois estavam sozinhos na areia da praia, os primeiros raios de sol surgindo.

- E sobre nós?---Perguntou Leon.

- Eu acho que “nós” vamos seguir nossos caminhos agora, Leon---respondeu Rayne---Você e seu governo, eu e meus vampiros.

- Tem certeza?

- Eu acho que sim. Oh, por favor, não faça disso um momento melodramático. Odeio despedidas assim. Mas… você vai mesmo entregar a amostra do Coração para o governo?---Rayne sentia que isso não seria um ato seguro, pois a amostra poderia cair em mãos erradas---Sabe, pode ser perigoso demais… coisas que pessoas más poderiam querer a todo o custo… Aquilo que foi começado aqui não deve sair daqui…

Foi então que Leon pegou a seringa em seu bolso e jogou no mar, bem distante.

- Que amostra?---disse Leon, o que fez Rayne sorrir. Ela tinha um sorriso bonito, mesmo com dois caninos maiores do que a média.

- Ah Leon… É melhor eu ir indo. O sol está nascendo, e digamos que minha metade vampira não curte muito o sol.

- Então é adeus?

- Não, não é adeus. Não ainda.

Rayne aproximou seu rosto do de Leon e beijou os lábios dele. Permaneceram unidos por alguns instantes, até que a própria ruiva quebrou o ato.

- Até mais, Agente Kennedy!---quando Leon abriu novamente seus olhos, a misteriosa ruiva sumira, da mesma forma que aparecera, de lugar nenhum para lugar nenhum.

- Kennedy, droga, atenda isso!---Era o comunicador de Leon.

- Hunningham?

- Por onde você esteve?---Ingrid Hunningham parecia meio furiosa.

- Nem te conto, Hunningham.

- Informe sua situação.

- Klaus Wulf está morto, os daemites foram destruídos.

- E a amostra? Conseguiu?

- Não… infelizmente, a amostra se perdeu. Foi destruída.

- E os militares que estava com você?

- Todos mortos. Sou o único que restou.

- Ok. Já consegui triangular a sua localização, estarei enviando um helicóptero em meia hora… fique bem onde está.

- Leon desliga.

 

Cerca de três meses depois

O sol nem tinha nascido ainda. Talvez nem fossem seis horas da manhã e Leon estava na sua habitual caminhada de 5 quilômetros. Ele nem se importava mais em acordar cedo, embora estivesse fazendo um pouco de frio naquela semana, o que o impulsionava a dormir mais um pouco.

Ele encostou-se em uma árvore do parque para retomar um pouco de fôlego. Enquanto tirava os fones de musica dos ouvidos, pegou sua garrafa de água e bebeu um gole do precioso liquido.

De repente, seu pager, que estava preso á sua cintura, vibrou.

LEON AGENCIA AGORA.

Leon sabia que era uma mensagem de Ingrid Hunningham. Ela o estava requisitando naquele exato momento, e se Leon conhecia-a bem, ele sabia que deveria estar lá o mais rápido possível.

Ingrid não era uma pessoa “fácil”. O gênio forte dela havia encantado Leon uma vez, mas desde que o agente conhecera a ruiva sequer olhara para as pernas-as famosas pernas-de Ingrid. Que avanço, pensou ele.

Era um pouco estranho Ingrid ter chamado Leon naquela hora da manhã, mas…

***

- Eu já disse que não preciso de um parceiro novato!---disse Leon.

- Kennedy… escute---Ingrid estava tentando convencer Leon a aceitar o seu novo parceiro, um novo agente do governo que fora contratado á pouco tempo---A nossa mais nova contratação não é qualquer novato. Na verdade, ela já tem muita experiência. Você e ela…

- Espere um pouco, ela?

- Sim, é uma mulher, se é isso que você quer saber. Você e ela serão enviados para uma missão de treinamento na zona rural da Alemanha.

Ótimo, pensou Leon, querendo sumir daquele escritório, a última coisa que eu preciso é de uma novata me incomodando. Leon imaginava que sua parceira seria alguma filha-ou-prima-de-político, sem experiência qualquer, um tanto atrapalhada e para piorar as coisas, feia.

Ingrid saiu por um momento, dizendo ir buscar a nova agente. Alguns minutos depois ela voltou.

- Leon---disse Hunningham, ajeitando os óculos---Me permita lhe apresentar…

Tudo o que Leon viu foi uma ruiva sensual, roupas de couro e vinil negro, lâminas de aço, e dentes caninos.

- Rayne?

FIM


Capítulo 11

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